sábado, 1 de setembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: NA PRAIA DO CHAPÉU VIRADO

Autor: Francisco Simões

“Em certos dias muito me atormenta a realidade em que tenho que continuar a viver sob o aspecto tanto nacional quanto global. Diria que o presente não soube construir o futuro com o qual, em meu passado, tanto sonhei.
Mas preciso viver e, apesar de tudo, continuar a alimentar meus sonhos embora o real os defina como meras utopias. Que seja, mas tento resistir para acreditar em mim mesmo, na vida, no amor, na poesia, ou eu seria um morto vivo.
Momentos há entretanto em que prefiro mergulhar no meu passado, reviver períodos de imensa felicidade com os quais a lembrança me premia em forma de saudade. Doce saudade, infância, família, paz, férias. Anos 40 a 50.
Algumas vezes meus pais nos levavam a viver deliciosas férias na praia do Chapéu Virado. Ela se localiza na Ilha do Mosqueiro, há alguns quilômetros de Belém (PA). Naqueles tempos a única forma de lá se chegar era uma viagem de cerca de 2 horas num pequeno navio. Ele cortava lentamente as águas doces da Baía de Guajará.

Hoje, pelo que sei, as pessoas podem chegar ao Mosqueiro por terra, de ônibus ou em seus próprios carros. Fico imaginando que a paz que tanto amei naquele paraíso deve ter-se mudado de lá atualmente. É possível que tenha levado o silêncio consigo.

O barco aportava no pequeno ancoradouro da Ilha. Dali nos dirigíamos em pequenos ônibus, antigos, ou em charretes, pelas ruas, todas de chão, até chegarmos à praia de Chapéu Virado. Confesso que não conheço a origem daquele nome, mas lhe caía bem.

Sempre nos hospedávamos no Grande Hotel do Russo, um senhor forte, grande, corado e muito amigo dos meus pais. Pela manhã acordávamos cedo, já nos trajávamos apropriadamente para a praia e, após o desjejum nos dirigíamos às areias de Chapéu Virado.

O Hotel tinha dois blocos, o antigo, mais confortável, localizado entre árvores, e o mais moderno, um tanto frio na estrutura e nos seus cômodos. Costumávamos ficar ora num ou no outro.

O nosso toque de recolher ocorria ainda muito cedo. Não havia TV e, ademais, a ansiedade na espera do sol para a manhã seguinte nos impelia ao sono logo nas primeiras horas de cada noite.

A praia ficava bem em frente ao Hotel e a pouca caminhada. Meu pai era um exímio nadador e eu um péssimo aprendiz de.

Afinal o “sêo” Mário fora remador dos bons da equipe de primeira da Tuna Luzo Comercial, e também campeão paraense de remo, por vários anos. Ele fazia questão de me dar umas aulas juntando sua técnica a uma paciência de Jó. Acabei aprendendo mesmo, apesar de aquelas praias serem todas de água doce o que facilitava a gente afundar mais rápido. Mas o professor era ótimo.
Na continuação da praia, para a esquerda, estava a praia do Farol. Ele se erguia sobre umas grandes rochas. Correr e jogar bola eram atividades indispensáveis, além de tentar nadar. Íamos até o Farol pegar alguns moluscos. Havia muitos por lá.

Após o almoço eu gostava de dar umas escapadas, sair sozinho do Hotel e ir até à praia enquanto o resto da família tirava sua sesta. Criança tem lá suas limitações impostas pelos cuidados maternos e paternos, claro, mas como eu não era de dar muito trabalho conseguia momentos de fuga para curtir sozinho a orla marítima.

Agradava-me muito andar calmamente pela rua em frente à praia, apreciando a beleza das casas, sentindo a brisa fresca e amena daquele horário, aspirando fundo o ar puro e me deleitando com o cheiro delicioso das inúmeras mangas rosa.
Além do mais deixava meus pensamentos voarem, e o ambiente era muito convidativo a meditar. Por outro lado eu já era um bom sonhador desde criança.
Entre as casas e a praia havia muitas mangueiras que também nos ofereciam sua sombra reconfortante. Quanta saudade daqueles maravilhosos momentos.
Nada havia a temer, apenas curtir e curtir muito aquele pequeno paraíso. Eu esquecia a hora e ia caminhando e parando, me deixando envolver pelo silêncio amigo enquanto minha mente de menino viajava por uma felicidade que parecia eterna.

Levava meus passos até o farol e de lá voltava no mesmo ritmo. Quantos anos se passaram, quantas décadas, uma vida quase inteira!

Ilha do Mosqueiro, praia do Chapéu Virado, um sonho real do passado que não voltará mais. Restaram essas lembranças maravilhosas que preenchem minha vida, ainda hoje, quando a realidade atual nos sacrifica ou desanima.

Francisco Simões. (Outubro / 2006)

FONTE: http://haroldobaleixe.blogspot.com.br/2009/04/mosqueiro-ilhas-e-vilas-in-post.html

O autor:

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“Aos 17 anos eu já trabalhava no rádio paraense (Marajoara e Rádio Clube do Pará) por concurso. Fui locutor, produtor de programas e escritor de crônicas diárias.
Durante cerca de 20 anos pertenci ao quadro da ABAF – Assoc. Brasileira de Arte Fotográfica (Rio). Naquele período ganhei mais de 1000 premiações nos salões mensais e anuais da ABAF. Destaco “Prova do Mês” e “Prova do Ano” que venci em várias oportunidades. Durante o auge da bitola super-8 produzi vários filmes de curta-metragem durante o regime autoritário. Participei de muitos eventos do gênero pelo Brasil, principalmente os realizados em Universidades e Centros de Treinamento Profissional como o CEFET de Curitiba. Logrei ganhar vários prêmios de destaque naqueles Festivais e Mostras com filmes basicamente apresentando crítica social e política. Algumas vezes tive problemas, mesmo sendo um trabalho amador, com a Censura da época.

Trabalhei por 30 anos no Banco do Brasil onde fui não só bancário mas também professor, coordenador e programador de cursos, chefe de um grupo que produzia módulos audiovisuais para palestras e aulas, Assessor no Gabinete da Presidência da PREVI do BB entre 1982 e 1986 quando me aposentei. 
Após a aposentadoria parti para exposições de minhas “Fotografias Artesanais” a um público maior que o da ABAF onde convivera com grandes mestres por 20 anos. Realço as seguintes Exposições: “Na Sala de Arte do Jardim Botânico (RIO); no Espaço Cultural do Planetário (RIO); no Salão de Arte da AABB-Lagoa (RIO); no CHARITAS, em Cabo Frio (RJ), uma individual mais duas no Espaço Cultural de lá em exposições coletivas de ARTE VERÃO e mais recentemente na Biblioteca Municipal Walter Nogueira com 20 fotos e 20 poesias; no transatlântico “Eugênio-C”, em viagem para a Europa, no Salão Âmbar e no Corredor de Arte daquele navio; na APAF-Assoc. Portuguesa de Arte Fotográfica, em Lisboa, Portugal; no Espaço Cultural da Prefeitura de Teresópolis (RJ); na Galeria de Arte da artista plástica Lenita Holtz, em Teresópolis, etc. No dia 11. novº. 2000 a Câmara de Vereadores de Cabo Frio (RJ) concedeu-me o título de “Cidadão Cabofriense” pela divulgação graciosa que faço há anos daquela cidade que tanto amo através de vídeos amadores, mas com toque de profissionalismo em sua produção bem como através de “Fotografias Artesanais” e exposições em Cabo Frio e fora dela. Em 1994 voltei a escrever poesias o que parara de fazer há muitos anos.

Francisco Simões”

FONTE: http://www.riototal.com.br/escritores-poetas/expoentes-021.htm

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