quarta-feira, 5 de setembro de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: ANTES DA PONTE, AS BALSAS.

“A PROVÍNCIA DO PARÁ” de 05/07/1968:

“BALSAS PARA O FURO DAS MARINHAS

Mostrando a sua preocupação em assegurar que tanto o Governo do Estado como o DER estão realmente interessados com o problema das balsas, o engenheiro Alírio César de Oliveira reuniu em seu gabinete a imprensa, ontem à tarde, adiantando que a construção de uma ponte ligando Belém a Mosqueiro, “pelo menos por enquanto, é coisa fora de cogitações”. Segundo o que disse, estudos hidrográficos têm sido realizados na área e para mostrar que o Governo não está desinteressado do assunto, lembrou que foi o próprio Tenente-Coronel Alacid Nunes, quando ainda prefeito de Belém, que solicitou aos extintos SNAPP que esses estudos fossem processados ali, com o levantamento do rio em várias transversais.

Segundo o pensamento do engenheiro, que é idêntico ao do Governador, há problemas muito mais sérios, como por exemplo, a construção da estrada Belém-Marabá, a serem atingidos de imediato do que a construção de uma ponte ligando a rodovia, não se deixando, porém, de lado o assunto.

CARINHO DO DEPARTAMENTO

Munido de fartos dados estatísticos, o engenheiro Alírio César de Oliveira, Diretor do DER, durante hora e meia palestrou com os homens da imprensa, fazendo crer que o Governo e o Departamento nutrem invulgar carinho pela questão de travessia no Furo das Marinhas, ao contrário do que muita gente pensa. Garantia que a partir do verão de 64 foram dinamizados os trabalhos na rodovia e já em 1965 se realizava a primeira travessia, em caráter – é claro – de grande precariedade, mas com um pioneirismo fora do comum. Toma nas mãos o Decreto-Lei de número 4840, de 9-8-65, do Governo Jarbas Passarinho, que constituía um grupo de trabalhos para elaboração de estudos na Rodovia Belém-Mosqueiro. A comissão era composta dos engenheiros Fernando Guilhon, Alírio César de Oliveira, Luiz Baganha, José Rui Pantoja Pimentel e Raul Rodrigues Pereira. Após vários estudos, essa comissão apresentou seu relatório, em 22-9-65, demonstrando que a construção da ponte não envolvia imediaticidade.

De 1964 para cá, o problema tem sido atacado, diz o engenheiro-diretor. A construção de uma ponte, no momento, atingirá a fabulosa soma de 6 a 8 bilhões de cruzeiros e o DER não tem o menor interesse, pelo menos por enquanto, em atacar esse problema, quando há outros de maior seriedade e urgência que esse.

O engenheiro Alírio César, no entanto, abria um parêntese para avisar de que se aparecessem firmas particulares ou sociedades de economia mista com o firme propósito de, depois de uma concorrência, construir a ponte, não haveria nenhum impedimento por parte do Departamento, que também não se responsabilizaria por qualquer fracasso no empreendimento.

Continuou lembrando que a conclusão da Estrada se deu em 1966 e que nessa época o DER manteve um serviço gratuito de travessias através de balsas, pelo que foi muito criticado. Dessa data para cá, não mais deixou de se preocupar com o problema, adquirindo a balsa “Tamandaré”, no valor de duzentos e cinquenta milhões de cruzeiros. Para este ano, já tem outra balsa menor, pronta, no valor de cento e sessenta milhões, e já está adquirida uma balsa para 80 passageiros sentados.

De qualquer maneira, pelo que diz o engenheiro, a implantação do serviço de balsas para travessias no Furo das Marinhas já demonstra que o Departamento não está esquecido do problema e que pelo contrário, o enfrenta com invulgar carinho.

PONTE É PROBLEMA

O engenheiro Alírio César garante que “entre colocar o dinheiro do Departamento numa ponte do Mosqueiro, eu prefiro colocá-lo numa estrada para Marabá”. A solução é muito pesada e não seria possível ao DER lançar uma concorrência antes de um estudo meticuloso sobre o problema. Por exemplo, já foram consultados dois oficiais da Marinha, engenheiros, que, depois de demorados estudos na área, elaboraram um relatório afirmando que as balsas solucionam o problema e que a construção de uma ponte em caráter imediato é utópica. Não há rentabilidade suficiente para a realização desta construção.

Logo depois disso, um austríaco ainda chegou a Belém e igualmente foi fazer estudos no Furo, desinteressando-se totalmente pela empreitada e não mais falando no assunto. É claro que há necessidade de maior profundidade nesses estudos, segundo o que pensa o engenheiro. A ponte, no entanto, sairá mais cedo ou mais tarde, não resta a menor dúvida, e a vontade do Diretor do DER é de que se concretize ainda em sua gestão.

ESTATÍSTICA DO DEPARTAMENTO

Em 1965, atravessaram no Furo, sobre balsas, 288 veículos. Em 66, 5.108. Em 67, 17.021 e, no ano seguinte, até a presente data, 8.846, apresentando um total de 31.263 veículos atravessados. 140.000 passageiros atravessaram, também, sobre as balsas. E como arrecadação, de agosto a dezembro de 67, houve um total de 80.081,40. Em 68, a renda já atingiu a 53.307,20, dando um total de NCr$ 136.388,60. Houve, nesse período todo, uma despesa de 464.644,02. No último cálculo, segundo o que garantiu, não estão ainda computados os motores das balsas recém-adquiridos e duas lanchas adquiridas pelo SESP. Portanto, o DER já empregou, aproximadamente, NCr$ 700.000,00 nas travessias do Furo das Marinhas. Já estão sendo construídas estações de passageiros, um bar e até o fim do ano se pretende colocar em funcionamento balsas motorizadas para a travessia de veículos e uma de oitenta cadeiras para passageiros, um rebocador e duas lanchas.”

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1ª. balsa a cruzar o Furo das Marinhas com o carro oficial do Gov. Jarbas Passarinho, em 01/12/1965. Na foto, o Governador cumprimenta o Prefeito Oswaldo Mello.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 482, 483 e 484.

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