sábado, 22 de setembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: MOLECAGENS DO PASSADO 7

Autor: Augusto Meira Filho

Quando o Governador Magalhães Barata estava muito doente e sem esperanças, os políticos majoritários do PSD tomaram a iniciativa de eleger, na Assembleia, um Vice-Governador que pudesse, em qualquer emergência, assumir o Governo do Estado. Nesse tempo, o Poder Legislativo paraense funcionava no salão do palco do Teatro da Paz, pois havia ocorrido um incêndio nas instalações daquele poder, no Edifício do Palácio Municipal, onde funcionava, normalmente. Urgia – pelo mal crescente de Barata – a necessidade dessa providência urgente do Partido para não perder o comando pessedista da governança estadual. Muitos nomes, então, surgiram, influentes, entre eles, o do fazendeiro Rodolfo Chermont, alto prócer do PSD e também um virtual candidato a substituir Barata no Palácio Lauro Sodré.

Pois bem!

Os Farahzinhos sabiam de todo esse drama, pois o velho Raymundo tinha na vida três devoções: o Barata, o Remo e a França! Sabiam os garotos tudo quanto se passava nos bastidores do Partido, mesmo, porque o mestre Farah desfrutava de grande prestígio e da amizade pessoal do Governador. O que fizeram esses danados? Apreciemos a curiosidade do espetáculo digno de novela.

Um amigo e parente do casal Farah passava as férias e os fins-de-semana na velha residência de Raymundo e trazia, sempre, novidades. Desta feita, seria um moderníssimo aparelho VHF – a última palavra em transmissão de rádio – que cederia aos Farahzinhos para distraí-los no Mosqueiro.

Foi nessa altura que viram, como de hábito, Rodolfo Chermont e dona Cora, sentados à porta de sua bela mansão no Chapéu Virado, na calçada fronteira, recebendo a brisa do Marajó, naquela tranquilidade bíblica da Ilha que todos conhecemos. Joseph e Alexandre, liderando companheiros e sabedores dos acontecimentos políticos na capital, instalaram sob o arbusto da praia aquele formidável aparelho. Silenciosamente e sem serem vistos, sintonizam e entram na faixa da PRC-5, estação que Chermont, cuidadosamente, escutava à espera de notícias de Belém. Nessa altura dos acontecimentos, já o deputado Luiz Geolás de Moura Carvalho havia sido escolhido e eleito Vice-Governador.

Chermont e patroa continuavam serenos, ouvindo a transmissão da velha Rádio Clube do mestre Edgar Proença. Lá pelas tantas, Alexandre como locutor entra na onda e anuncia o prefixo da Rádio Clube do Pará“a voz que fala e canta para a planície” – dando em seguida tempo para um “informativo de Última Hora” – E anunciou com veemência: “Senhoras e senhores – Caros ouvintes – atenção: A Assembleia Legislativa do Estado acaba de eleger substituto do Governador Magalhães Barata, em caso de seu falecimento, o Sr. Rodolfo Chermont, conhecido político, militante do PSD e fazendeiro. Repetimos em primeira mão...”

Nessa ocasião viram os marotos de longe o pulo que Chermont e Cora deram na calçada anunciando logo a seus familiares que o chefe da casa havia sido eleito Governador do Estado. Na euforia (conta-nos, agora, o Joseph Farah), Chermont considerava-se já o 1º. mandatário do Estado. Procurava os vizinhos, comentava alto à porta de sua vivenda e começava a ter a preocupação de governar eleito e logo para substituir o grande chefe Barata, que agonizava.

O grupo moleque abria-se na praia, rindo a valer daquele espetáculo. A rádio do hóspede funcionara perfeitamente. Chermont rejubilava-se com os amigos que chegavam interessados na novidade. Logo fez-se uma roda e drinques foram servidos por conta da notícia.

Realmente, a posição do político estava certa. O que ele não poderia jamais supor era da trama urdida pelos Farahzinhos, fato esse que só muito mais tarde chegou ao seu conhecimento, tão bem planejada e com sucesso, contra a sua inocência da brincadeira de mau-gosto daqueles endiabrados do Farol. O país vivia período de desenfreada política partidária e para qualquer prócer seria procedente semelhante informação, vinda pela emissora mais antiga da cidade e de absoluta confiança.

Imaginemos a decepção do distinto mosqueirense e nosso velho amigo e companheiro de partido e de lutas pessedistas comuns. É evidente que, no mesmo noticiário, habitual informe das vinte e três horas, em nota sem disfarces, a querida PRC-5 diria a verdade sobre a escolha do Vice-Governador, que recaíra na pessoa do Coronel e Deputado Moura Carvalho. Mas Chermont, pela molecagem dos Farahzinhos e sua equipe, teria momentos de encantamento, julgando correta uma transmissão falsa e improcedente feita pela “sintonia” da tal estação que os mesmos haviam fixado na praia fronteira à residência do conhecido político e devotado simpatizante das coisas do Mosqueiro.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 370, 373 e 374.

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http://mosqueirense.blogspot.com.br/2012/09/abandono-e-invasao-ao-monumento-em.html

Um comentário:

  1. Ola Gostaria de saber mais a respeito sobre Luís Geolás de Moura Carvalho. Gostaria de saber data de sua morte, se ele teve filhos, nome da esposa, essas coisas sobre historia...como devo proceder?? pois no google nao ha quase nada sobre ele.

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