segunda-feira, 17 de setembro de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: A PRIMEIRA BALSA PARAENSE PARA O FURO DAS MARINHAS

“QUERIDA”... NA BELÉM-MOSQUEIRO!

Autor: Augusto Meira Filho

O leitor sensível e inteligente que também vê e sente na beleza das praias mosqueirenses a confirmação da profecia: a “terra de Canaã”, e não vai atrás do canto das sereias, merece a homenagem de saber que a “Querida” vai chegar e, festivamente, ocupará seu trono no Canal das Marinhas. Não será ornada de pedras preciosas e nem possuirá casco de ostras ou de marfins. Mas, certamente, será a última caminhada nesse sentido – esperançosa caminhada que se fixou em 12 de junho de 1959 em memorável jornada – para a solução do conforto de milhares de pessoas e de veículos que se aprestarão à travessia da Belém-Mosqueiro pela PA-17 e BL-19, no próximo período de férias do mês de julho.

Sim, prezadíssimos leitores, que, como eu, não apreciam peixe “salpreso” e há tanto tempo esperam o “parto-da-montanha”, é verdade cristã o fato que hoje anuncio: a “délivrance” da esperança que muitos haviam perdido... Você, eu e todos os habitantes desta Belém “mangueirosa” iremos gozar a delícia de cinco minutos sobre as águas pardas do Furo que Deus marcou entre o Mosqueiro e o continente, como quem nos desafia e nos testa a inteligência.

A avançada não me foi surpresa. Testemunhei os entremeios da luta já que o destino me leva, sempre, ao campo dessa batalha vintenária, agora, parcialmente vencida por meia dúzia de bravos. A solução para o velho problema está decidida: a obra em fase final demonstra que a tão sonhada Balsa, denominada com a ideia feliz de “Querida”, poderá transportar dezesseis (16) veículos normais em poucos segundos, vencendo aquela reta de 1.500 metros que une a “Boa-Esperança” à “Flor das Marinhas”, no eixo fluvial da rodovia Belém-Mosqueiro.

Sim, companheiros de todos os tempos – das horas boas do presente às amargas do passado – chega à sua fase final a campanha para a melhoria daqueles serviços. Em breves dias, a “Querida” estará proporcionando a travessia do Canal, sem atropelos, sem ausências, sem momentos desagradáveis. Com esse passo à frente, para o acesso mais prático à Ilha do Mosqueiro, poder-se-ia fazer justiça, nessas quadrinhas improvisadas, que traduzem a significação do fato e o de sua aplicação:

“Vencendo dias tristonhos

E um passado de emoções

Vem a Balsa de meus sonhos

Ligando dois corações...!

Assim a história consagre

A presença de “Querida”...

Pedrinho... fez o milagre

Aliverti... deu-lhe a vida!”

Bem se vê não há mais motivo para descrenças e você, caro leitor, acabe com esse pessimismo de quem bebeu água do “Caranã”, barbaramente batizada com sal de “Andrews”...

É uma realidade, hoje, aquela “Balsa” que sonhei em 1948. Seus quatro possantes motores, sua rampa larga e automática, seu fácil acesso, sua velocidade permitirão a toda a gente alcançar o “oásis”, o “paraíso”, o “sanatório”, a ilha da felicidade dos belenenses bem formados.

Advogado da “ação” naquele sentido de Goethe, previ o sucesso da empreitada,

Para disciplinar o crescimento do balneário, função direta da rodovia e do processo na travessia do Canal das Marinhas, apresentei ao plenário da Câmara um projeto de lei estabelecendo normas técnicas que disciplinassem a evolução natural da Ilha. Aprovado, unanimemente, esse texto legal dará ao Prefeito de Belém poderes para contratar serviços especializados de firmas interessadas nos problemas de eletricidade, o poder público abrir novos logradouros, fixar locais para estacionamentos, construir escolas, melhorar as condições sanitárias das zonas mais populosas, zelar pelas praias e disciplinar as construções particulares e oficiais.

Tais encargos e posturas são indispensáveis à Ilha do Mosqueiro, nesse ponto de renovação em que se encontra, após o advento de sua penetração rodoviária. Seu crescimento é de tal ordem que há urgência na solução dos problemas de circulação e de estacionamento de veículos em toda a área interna e litorânea das praias, propriamente dita, desde a Vila até a Baía-do-Sol. A Comuna, pelo seu departamento rodoviário (DMER) já está providenciando as linhas de penetração às praias recém-descobertas na face leste da Ilha (do Maraú à Queimada, totalizando mais sete recantos) e um ramal variante da BL-19, para a aproximação da Avenida do “Chapéu Virado” a BL-19, economizando ao visitante cerca de 10 quilômetros, em relação à atual estrada passando por Carananduba. Essa variante foi idealizada e levantada pelo saudoso engenheiro Rui Almeida, cujos levantamentos ofertou-me antes de falecer e que, agora, o DMER está executando como medida indicada e tecnicamente aconselhável.

Desta coluna, que não se esquece de exaltar os grandes feitos a favor do Mosqueiro, vai o aplauso aos planejadores e executores da construção da “Balsa Querida”. Aos técnicos dos SNAPP (estaleiros e oficinas) na pessoa do chefe engenheiro Pedro Coutinho de Oliveira e aos do DER-PA, na figura do engenheiro Oswaldo Aliverti, responsável por aquele serviço no “Tauarié”, ambos sob o comando de Fernando Guilhon (SNAPP) e de Alírio Cezar de Oliveira (DER-PA), o abraço sempre grato e despretensioso, amigo, sincero e fraternal do colega colunista que, lutando pela prosperidade do Mosqueiro, o faz desinteressadamente e, sempre, pelo bem comum.

Parabéns, pois, da Cidade de Belém, e que prossigam, com a mesma coragem e devotamento, os estudos para a solução definitiva da última etapa dessa guerra santa: a p-o-n-t-e!

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 493, 494 e 495.

MOSQUEIRANDO: Destacamos em negrito, no texto, a preocupação do autor com o progresso da Ilha, com o crescimento de sua população, com o irreversível processo de urbanização. O interessante é que isso foi escrito por Augusto Meira Filho no final da década de 1960, abordando uma problemática que se tornou real com o transcorrer dos anos. É atual e pode vir a ser dramática. Seria ele um visionário? Não. Era um homem de visão plena e futurista, que não se contentava com soluções paliativas.

Como seria bom, nesta época de eleições municipais, encontrar, entre os inúmeros candidatos, alguém que defendesse as ideias do Augusto Meira e os reais interesses da Ilha do Mosqueiro!

Nenhum comentário:

Postar um comentário