segunda-feira, 26 de abril de 2021

CURIOSIDADES: O MARACAJÁ E SUAS RUAS

Um dos mais populosos bairros da Ilha, o Maracajá surgiu nos primórdios do século XX, como expansão natural da Vila do Mosqueiro para o interior motivada pela necessidade de ocupação habitacional. A área onde o bairro começou era conhecida como Umarizal, evidentemente uma referência à grande quantidade do fruto comestível umari. Esse nome ainda era lembrado na década de 70 pela existência de uma casa comercial assim chamada, em cujo local seria construída, mais tarde, a quadra de esportes da Escola Honorato Filgueiras.

Sua atual denominação, que também designa a principal artéria do bairro (Travessa Maracajá), originou-se de um felino muito comum naquela área da Ilha; recoberta, na época, por densa mata: o gato maracajá.


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“O gato-maracajá (Leopardus wiedii) é um felino nativo da América Central e América do Sul. Tem como característica uma cauda mais longa do que seus membros posteriores.
Os pêlos são amarelo-escuros nas partes superiores e na parte externa dos membros. Tem manchas sob a forma de rosetas com uma região central amarela, por todo o corpo, da cabeça à cauda.
Dentro de suas habilidades, o gato-maracajá pode caminhar nas pontas dos galhos dos arbustos. Ele também possui grande capacidade de salto e suas garras são proporcionalmente mais longas do que as da jaguatirica. O período de gestação é de 81 a 84 dias, e a expectativa de vida é de cerca de 13 anos.
Tem capacidade de virar em 180 graus as articulações do tornozelo, o que o possibilita transitar com facilidade entre troncos e árvores. Seus hábitos são noturnos e alimenta-se de pequenos roedores aves, que caça nas árvores.
No Brasil, o gato-maracajá pode ser encontrado com mais frequência na Floresta Amazônica” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Gato-maracaj%C3%A1).

O bairro do Maracajá limita-se a oeste pela Rua Padre Manuel Raiol (5ª. Rua), ao norte pelo prolongamento da Travessa Pratiquara, a leste pelo Parque Ambiental da Ilha do Mosqueiro e rio Pratiquara e ao sul pela baía de Santo Antônio. Além da área urbanizada, existe ainda uma grande faixa de terra firme e, margeando o rio Pratiquara e a baía de Santo Antônio, encontra-se uma extensa mata ciliar onde predominam espécies de mangue, o que demonstra a necessidade de sua preservação, por ser uma das áreas mais frágeis da Ilha.

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Bairro do Maracajá (Google Earth)

Paralelas ao rio Pará e seguindo o sentido oeste-leste, foram surgindo as ruas Francisco Xavier Cardoso (6ª. Rua), homenageando renomado farmacêutico dos velhos tempos da Ilha e compositor do Hino do Mosqueiro; Francisco Xavier da Veiga Cabral (7ª. Rua), lembrando o Cabralzinho, o Bravo do Amapá, um dos heróis brasileiros na Guerra do Paraguai; João Tocantins Pena (8ª. Rua), recordando o nome do fazendeiro marajoara que foi o proprietário do primeiro Matadouro de gado bovino da Ilha do Mosqueiro; e Rua Tiradentes (9ª. Rua), homenagem ao Mártir da Independência.
Perpendiculares ao rio, estão a Travessa Pratiquara (lugar de peixe miúdo), lembrando o rio de mesmo nome; a Travessa Siqueira Mendes (a mais movimentada), para homenagear o Cônego que transformou a Ilha em Freguesia do Mosqueiro; a Travessa Maracajá (a mais importante do bairro).
Entre as Passagens, destaca-se a Passagem Padre Eduardo, homenagem ao Padre Edward James Hasker, pároco da Ilha que faleceu em acidente automobilístico e está sepultado na Igreja Matriz.

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sexta-feira, 23 de abril de 2021

CURIOSIDADES: A VILA E SUAS RUAS

 Apesar de não ter sido a primeira, a povoação localizada no sul da ilha do Mosqueiro foi a que progrediu mais rápido, pela proximidade da Capital da Província. Suas terras, que antes pertenciam a Benfica, passaram a constituir a Freguesia de Nossa Senhora do Ó, a qual foi elevada à categoria de Vila já no período republicano, indo à condição de Distrito de Belém no início do século passado. Essa evolução teve o seu primeiro momento marcado pela atividade pesqueira e pelo extrativismo vegetal, cujos produtos eram comercializados pelos nativos nos portos da cidade. O segundo momento, no final do século XIX, é caracterizado pela descoberta da ilha como balneário por estrangeiros e belenenses, que aqui construíram inúmeros casarões de veraneio, motivando o governo a executar, na ilha, uma série de melhoramentos, começando com a inauguração, em 1904, do bondinho puxado a burro, em 1905 do primeiro Grupo Escolar do Mosqueiro, em 1906 do Mercado Municipal e Subprefeitura e, em 1908, do Trapiche da Vila construído pelos ingleses. Esse deslocamento turístico foi decisivo para o progresso da Vila, que em 1885 – segundo o historiador Manoel Baena – tinha apenas quarenta casas de telha e algumas de palha, uma praça, duas ruas, uma igreja pequena, um cemitério, três casas de negócios, duas padarias, duas escolas públicas, uma fábrica de fogos, um engenho de cana-de-açúcar movido a vapor, quatro olarias e mais ou menos quinhentos habitantes.

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A Vila do Mosqueiro (Fonte: Google Earth).

Nesse começo de urbanização, é curioso como são nomeados os logradouros públicos, principalmente as ruas, que vão surgindo uma a uma. De início, considera-se uma sequência espacial: se paralelas ao rio, são chamadas de 1ª Rua, 2ª Rua, 3ª Rua e assim por diante; se perpendiculares, travessas. Algumas vezes, os nomes procuram designar vias de acesso a algum lugar importante: Rua da Igreja, Rua do Grupo, Rua da Pedreira (acesso à Ponta da Pedreira), Travessa Pratiquara (nos velhos tempos, o acesso mais fácil ao rio de mesmo nome). Outras vezes, são elementos paisagísticos que sugerem os nomes: Rua dos Tamarindos, Travessa das Mangueiras, Rua dos Jambeiros. Por fim, o Poder Público escolhe datas, fatos ou personalidades que marcaram lugar na História, para que o povo não os esqueça facilmente.

A Primeira Rua, conhecida como Rua dos Tamarindos (vegetais frondosos de origem africana plantados em fila ao centro), passou a chamar-se Conselheiro Delamare e, depois, Juvêncio Gomes da Silva, uma homenagem ao primeiro Carteiro da ilha. Para homenagear a Santa Padroeira do Mosqueiro, marcando também a localização do seu templo, a Segunda Rua recebeu o nome de Nossa Senhora do Ó. A Terceira Rua ou Rua do Grupo lembra o Tenente Coronel José do Ó, considerado um dos fundadores, pois foi o autor do Projeto da Freguesia e quem doou a primeira Imagem de Nossa Senhora do Ó. Enquanto a Quarta Rua assinala a data da Proclamação da República (Rua 15 de Novembro), a Quinta Rua recorda o nome do Padre Manuel Antônio Raiol, fundador da Freguesia e o primeiro Pároco do Mosqueiro, designado no dia 02 de abril de 1869 por Dom Macedo Costa, Bispo do Grão-Pará.

A Travessa Coronel Motta registra a passagem em nossa história do eminente político e Presidente do Partido Republicano do Mosqueiro Coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Motta. A Rua dos Jambeiros, assim chamada pela fila desses vegetais (jambo pêra) ali plantados entre a 2ª e 3ª Ruas, recebeu o nome de Avenida Getúlio Vargas, justamente em 1945 quando terminava o governo ditatorial. A Travessa das Mangueiras possuía, entre a 1ª e a 3ª Ruas, várias espécies dessa árvore frutífera ( cametá, rosa, comum...), as quais foram cortadas para a colocação dos trilhos do bondinho puxado a burro. Depois, passou a ser chamada de Travessa do Bispo (acesso à praia), até que recebeu o nome de Travessa Comandante Ernesto Dias, uma lembrança do infalível comandante do navio Almirante Alexandrino, por sua perícia nas atracações do vapor e por sua participação junto com os tripulantes na vida social mosqueirense. A Travessa Carlos Bentes, ao lado da Igreja Matriz, homenageia o Subprefeito que administrou a ilha de 1930 a 1942. No passado, era a Rua Nova cortando a área do antigo cemitério da Vila, depois de desativado. O acesso ao bairro do Maracajá é a Travessa Siqueira Mendes, uma justa homenagem ao Cônego Manuel José de Siqueira Mendes, Vice-Presidente da Capitania do Grão-Pará que, no dia 10 de outubro de 1868, assinou a Lei da Assembleia Legislativa Provincial nº 563, transformando o Mosqueiro em Freguesia de Nossa Senhora do Ó.

O interessante é que as ruas, além de guardarem lembranças de personagens reais e de características singulares, refletem a história daqueles que ali nasceram ou viveram por muito tempo. Sem dúvida, são cenários vivos de fatos e emoções, cuja memória latente parece atravessar os tempos para ressurgir diante de um olhar poético ou de um sentir nostálgico.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

JANELAS DO TEMPO: A FREGUESIA DO MOSQUEIRO


A Lei da Assembleia Legislativa Provincial nº 563, de 10 de outubro de 1868, sancionada pelo Cônego Manuel José de Siqueira Mendes, primeiro Vice-Presidente da Província do Grão-Pará, criou a Freguesia do Mosqueiro (Art. 1º: Fica criada na povoação do Mosqueiro uma freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Ó;). Os limites civis e eclesiásticos da nova freguesia foram definidos no segundo artigo da citada lei: “pelo lado do sul furo do Pinheiro em direção ao igarapé Fundão, abaixo do igarapé Piracatuba, até a Baía do Sol e pelo norte a margem esquerda do rio Tauá;”. 

O artigo terceiro inclui nos domínios da freguesia as ilhas de CotijubaPaquetáJutubaTatuoca e outras menores adjacentes. O artigo quarto define como matriz a igreja pertencente à Irmandade de Nossa Senhora do Ó e o quinto estabelece futuras providências (“O governo da Província mandará examinar e avaliar a sobredita igreja, e se for julgada apta para servir de matriz efetiva, indenizará seu valor à Irmandade, e promoverá in continenti a sua conclusão;”). Em verdade, essa igreja era uma capela localizada na parte frontal do primeiro cemitério da Vila, cuja área estava delimitada pela 2ª Rua e pelas atuais Travessas Pratiquara e Siqueira Mendes, na época simples caminhos que conduziam ao igarapé Cariacanga. É bom lembrar que não existia a 3ª Rua. O artigo sexto refere-se ao cemitério (“Outrossim, mandará o governo avaliar a obra feita no cemitério da sobredita Irmandade e a indenizará de sua importância, se o julgar conveniente”;). Tempos depois, esse cemitério seria desativado e transferido para a Travessa Pratiquara. Ao lado da igreja, uma nova travessa surgiria: antes, Rua Nova; hoje, Carlos Bentes. Não é rara a descoberta, naquela área, de antigos ossos humanos em escavações de profundos alicerces.

A denominação de Freguesia de Nossa Senhora do Ó para as terras da ilha parece revelar a imensa relação entre o Mosqueiro e a sua Santa Protetora, uma relação mais antiga – acreditamos -- que a devoção da Irmandade local ou o trabalho catequético dos jesuítas da Missão Myribira. Talvez seja oriunda dos primeiros tempos de ocupação. Sabe-se que a devoção a Nossa Senhora do Ó teve início na Espanha e, segundo o historiador João Lúcio D’Azevedo, há fortes indícios de que aventureiros espanhóis sob o comando de Francisco de Orellana estiveram na Baía do Sol, em 1545, exatamente no dia consagrado à Santa, conforme relato do Frei Gaspar de Carvajal, escrivão da viagem.

São cento e quarenta e dois anos de uma Igreja em construção: não só a edificação do templo, mas, sobretudo, o soerguimento da fé cristã abalada pelo massacre dos indígenas nos tempos iniciais da colonização ou pela matança dos cabanos durante a Regência do Império. No decorrer desses anos, inúmeros foram os padres que, com denodo e perseverança, mantiveram num crescente a devoção a Nossa Senhora do Ó, a Padroeira dos mosqueirenses.

No dia 02 de abril de 1869, o Bispo da Província do Grão-Pará Dom Macedo Costa designava como primeiro Pároco da Freguesia do Mosqueiro o Padre Manuel Antônio Raiol, que assumiu no dia 23 de abril e permaneceu no cargo até 1875.

De 1875 a 1877, ficou como encarregado da paróquia o Padre José Joaquim de Castilho, Vigário de Benfica. Em 1878, ocorreu a volta do Padre Manuel Raiol, o qual faleceu em julho desse ano e, novamente, seria substituído pelo Padre Castilho no início de 1879. Em junho, assumiu o Padre Raimundo José Fonseca Gomes, Vigário de Colares, que, parece, foi o encarregado até meados de 1890, quando tomou posse o Padre Mâncio Caetano Ribeiro à frente dos trabalhos da paróquia até 1893, passando as atribuições ao Padre Francisco Domingues Marques, que permaneceu até 1895.

No dia 06 de julho de1895, a Freguesia do Mosqueiro era elevada à categoria de Vila pelo Decreto-Lei nº 324 sancionado pelo Governador Lauro Sodré. De 1895 até 1900, segundo consta, não havia Vigário nem encarregado da paróquia. Por ocasião de festividades, os padres vinham de Belém.

No dia 26 de fevereiro de 1901, a Vila do Mosqueiro passava à condição de Distrito da Capital conforme a Lei nº 753, baixada pelo Governador Augusto Montenegro. Nesse ano, assumia a Paróquia de Nossa Senhora do Ó o Padre Manoel José Távora dos Santos.

Assim, a antiga povoação de pescadores, que fora freguesia e vila, ingressava no século XX como Distrito de Belém e assistiria, por décadas, à transformação da ilha do Mosqueiro em um dos mais preferidos balneários do Estado do Pará.

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Praça da Matriz nos velhos tempos (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).

Dados disponíveis em:

http://paroquianso.hd1.com.br/crbst_1.html

Brandão, Eduardo. Mosqueiro: a história de um arquipélago singular no estuário Amazônico - parte 1 in__ Revista ILHAS amazônicas Ed. nº 01, 2006

Meira Filho, Augusto. Mosqueiro Ilhas e Vilas – ED. GRAFISA – l978.