sábado, 21 de setembro de 2013

JANELAS DO TEMPO: TIDUCA, O BAZAR GUIOMAR E O CRESCIMENTO DA ILHA NO FINAL DOS ANOS 70

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BAZAR GUIOMAR – prédio à direita, na Praça da Matriz (FOTO:

Marco Antônio O. Chagas, 1993)

Autor: Augusto Meira Filho

Theodomiro Aragão (...), negociante da Vila do Mosqueiro, é um dos mais antigos, veterano em seu bazar que traz o nome de sua mulher “Guiomar”. É a casa de negócios mais curiosa de todo o Mosqueiro. Sempre abastecida de tudo que uma Vila do estilo do nosso excelente balneário necessita para viver e dar conforto a seus usuários, o Bazar Guiomar é a solução imediata para todos os problemas caseiros que as famílias belenenses precisam, muitas vezes, naquelas paragens, para atender a reparos, consertos, construções, material de cozinha, apetrechos culinários, peças próprias de armazém de ferragens, enfim, tudo o que se torna imprescindível para uma vida no “interior” sujeita às naturais dificuldades do meio, o nosso tradicional Bazar atende satisfatoriamente. Mestre Theodomiro, vulgarmente conhecido por “Tiduca”, honra-se de ter a mais antiga instalação no gênero e, no passado não muito remoto, quando a Vila dependia só do navio-da-linha, a Casa do Seu Tiduca representava uma força, um ponderável suporte na vida e no crescimento do Mosqueiro, em termos de balneário. Nada, absolutamente nada, se faria na Ilha sem o apoio do Seu Tiduca. Vendia de tudo, do alfinete ao rádio, do ralador-de-coco ao fogão a gás. Do prego ao cimento, às encanações, às louças sanitárias, às tintas finas, ao acabamento indispensável às novas construções que surgiam pelas praias, como um verdadeiro milagre. É verdade que seu prestígio cresceu bastante com as rodovias e a ponte, dando ao comércio local outras perspectivas e esperanças. Hoje, proliferam na Vila e no correr das estradas, novas instalações de comércio especializado, para atender aos reclamos do aumento crescente de edificações na Ilha. Não, apenas, casas comerciais, mas, sobretudo casas-de-pasto que surgem nos diversos bairros, permanentemente concorridas e cheias de freguesia alegre e disposta a gastar.

Não há dúvida de que o meio comercial e industrial do Mosqueiro tende a evoluir acompanhando o desenvolvimento do balneário, nas suas mais variadas praias. Embora, agora, seja mais prático e fácil levar-se o material e o pessoal de Belém para a execução dos serviços de obras particulares, contudo, ainda há quem precise adquirir muita coisa na própria Ilha. Madeiras, objetos de cerâmica, telhas e tijolos, tubulações de barro cozido, areia, pedra preta, cal e ferramentas diversas são originários do próprio Mosqueiro, às vezes, em condições e preços melhores que os da capital. É no processo construtivo que se alastra por toda parte, no litoral e no interior insular, que se observa cada dia o engrandecimento de um lugar que, antes do acesso rodoviário, seu progresso parecia preso àquelas condições antigas de dificuldades naturais da única ligação possível com Belém, o vapor dos SNAPP, do qual viveu condicionado o crescimento do Mosqueiro. A arrancada, hoje, é assustadora. Como prevíramos, em trabalhos efetuados sobre o Mosqueiro, sua prosperidade seria função direta do meio de acesso ou transporte de Belém até aquelas plagas, só positivamente garantido com a construção da Rodovia (inicialmente) e, depois, a da Ponte sobre o Canal das Marinhas, facilitando e aproximando a Ilha da Capital paraense..

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 100, 103 e 104.

 

MOSQUEIRANDO: Seu Tiduca já é falecido e o prédio onde funcionava sua casa comercial foi demolido há bastante tempo. Entretanto, é inegável a importância do Bazar Guiomar para a história da Ilha, cujo crescimento urbano – como previra Augusto Meira -- segue acelerado, não só motivado pela ligação terrestre com a Capital, mas, também, pelo movimento imigratório, que aumentou, consideravelmente, a população fixa do Distrito.

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