sexta-feira, 27 de setembro de 2013

JANELAS DO TEMPO: OS ANTIGOS CONSTRUTORES DA ILHA

Autor: Augusto Meira Filho

Pesquisando tempos antigos no Mosqueiro, encontramos obras de construtores portugueses e que ergueram, no correr das praias e na Vila, edificações típicas do século passado e do começo deste (séc. XX). Observem-se construções na Vila, exatamente inspiradas nas de Belém da mesma época. Nas esquinas de diversas artérias daquela comunidade primitiva da Ilha, há, ainda hoje, prédios comerciais absolutamente idênticos aos muitos existentes na capital. Mercearias e padarias, com azulejos externos, platibandas em balaustradas coroadas de pinhas, brancas, importadas de Portugal.

As residências mais nobres, no Chapéu Virado, naquele estilo campestre ou praiano, de casas de porão alto, habitável, prédio avarandado, fresco, enorme, com telhados em “chalets”, bordados de lambrequins e outros adornos em suas extremidades. Depois, viriam construções apalacetadas, ricas, em estilo curioso, modernizante, como se poderá ainda observar naquele “Retiro Irene” entre o Chapéu Virado e o Farol, que segundo consta foi edificado por Francisco Bolonha, para o colega Engº. Guilherme Paiva, superintendente da antiga empresa inglesa “Port of Pará”, hoje ENASA. Também a maioria dos grandes chalets do Murubira, alguns no Ariramba e muitos no Chapéu Virado obedeceram a um mesmo tipo construtivo que dominou, certo tempo, as edificações na Ilha.

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Vivenda do Sr. Guilherme de Paiva (FONTE: A. M. FILHO, 1978)

Também, na Vila, há dessas construções, já raras, demolidas com o correr dos anos. Uma bela representação posterior está na Vivenda “Canto do Sabiá”, dos Fechter. Outras mansões tipicamente luso-brasileiras se ergueram no início do século. Viriam, depois, obras do velho colega Alves de Sousa Azevedo que se instalou no Chapéu Virado com a família e daí daria ao Mosqueiro muitas construções em “estilo europeu”, que permaneceram.

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Vivenda “Canto do Sabiá” (FONTE: A. M. Filho, 1978)

Com o advento da administração Abelardo Conduru, nas décadas de trinta e quarenta, as obras no bairro do Farol tiveram vários construtores, entre eles o Sidrim (filho), o Arlindo Guimarães, o Judah Levy e o velho Zacarias que se arvorou a engenheiro de seu “Hotel” na ponta do Farol.

As dificuldades de transporte impediam que muitos profissionais fossem construir no Mosqueiro. Falta de materiais, fraca mão-de-obra, contudo belas residências se fizeram na Ilha e que ainda agora são patrimônio particular de muito valor, além de sua valiosa aparência histórica. Carlos Damasceno reconstruiu o hotel do Russo e fez outros serviços espalhados nas praias e na Vila.

Passada essa temporada, Rui Meira fez inúmeras construções residenciais em toda parte da Ilha. Nós construímos, apenas, o nosso “Diamante”. Ultimamente, deve-se ao Engº. Ocir Proença o prédio de apartamentos denominado “Líliam-Lúcia”, no Chapéu Virado, e no Farol a edificação do “Katolé”. O “Tralhoto” e o “Caramujo”, no Farol, são obras do Engº. Rodolfo Fiúza.

Construtores locais, o Noronha e o Waldemar, executam, também, vários serviços no interior da Ilha, na Vila e no litoral.

Uma Estância de Madeiras destaca-se. A do “Antonhão”, na 4ª. Rua e onde se encontram materiais para aplicação nas obras, quando faltam os remetidos de Belém. Antonhão é filho do velho José Bastos que possui família numerosa. No Mercado, a “Chica” e o “Pai-Avô” são seus filhos. E ainda há mais. Ele é um português, vive cuidando de gado e, salvo equívoco, é caseiro do colega Waldir Acatauassu Nunes, na Vila. Noronha tem muita freguesia e seus trabalhos são, preferencialmente, em madeira. É um técnico no assunto.

O Waldemar tem olaria e serraria, Casa de Materiais de Construção e serviço de transporte. Constrói para vender. É mais negociante do que construtor.

Agora – na era da rodovia – muitos são os profissionais que edificam no Mosqueiro. Colegas como Luiz Leite (levanta o Hotel Murubira e outras casas), Nicholas Chase, Milton Monte têm diversas obras no correr das praias. Uma firma subsidiária da Concasa promoveu a construção de um conjunto residencial no Murubira e a ENEL, igualmente, outro belo parque residencial à entrada do Ariramba. Com as facilidades do transporte via terrestre, o número de construções cresceu assustadoramente e são muitos, hoje, os profissionais que estão trabalhando na Ilha do Mosqueiro. No São Francisco, prédios excelentes vão surgindo à beira-rio e a EMBRATEL, também, fixou seu conjunto residencial, à sombra de suas torres, destinado a seus servidores. No fim da Praia da Conceição, na Baía do Sol, Medrado e Pina fundaram seus sítios e, um pouco antes, Rubem Lima mantém sua bela “Fazendola Paissandu”, numa demonstração evidente da propriedade das terras do Mosqueiro, para a cultura agropecuária.

Outras atividades no interior da Ilha são, também, dignas de menção. A Serraria do Benedicto Elias, a antiga Olaria do Velho Guzzo, a “Granja” da Mimosa Bechara e muitas outras indústrias nascentes que se estabeleceram em torno da Ilha do Mosqueiro, às proximidades da Vila propriamente dita.

Operários excelentes, especializados, encontram-se no Mosqueiro. Destacamos todos os membros da Família Cruz, carpinteiros e marceneiros que fabricam mobílias na Vila, apropriadas para casas de campo, e a Família Branco, que possui Oficina de Esquadrias e trabalha nesse mister com reconhecida competência. Há diversas olarias que fornecem material cerâmico às obras locais e algumas serrarias na Baía do Sol que, igualmente, atendem a esse comércio no Mosqueiro. Abrem-se Casas de fornecimento de Materiais de Construção, competindo com o tradicional e antigo “Bazar Guiomar” do “Tiduca”, o amigo número um do Mosqueiro. Sua casa de negócios é, realmente, um bazar. Compra-se do alfinete ao fogão a gás, do carretel de linha ao atoalhado fino, do prego às ferragens mais raras, do cimento e da cal até ferro redondo para concreto. Há de tudo. Sempre um tanto desarrumado, mas que ele, Tiduca, sabe o material onde está. É o negócio do Bazar uma constante na vida do Mosqueiro e até o identifica sob certo aspecto. No ramo, é e continua sendo o maior. Ele e sua Guiomar comandam, ainda, as grandes aventuras do comércio local da Vila do Mosqueiro.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 380, 381, 382 e 385.

3 comentários:

  1. 👏🏻👏🏻👏🏻Meu avô Noronha. Amava a ilha e sua gente. Cabeça branca, boa gente! Orgulho. 🙏🏻🙏🏻

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  2. 👏🏻👏🏻👏🏻Meu avô Noronha. Amava a ilha e sua gente. Cabeça branca, boa gente! Orgulho. 🙏🏻🙏🏻

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  3. 👏🏻👏🏻👏🏻, meu avô, Noronha. Amava a Ilha, cabeça branca , boa gente! Orgulho. Obrigada.

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