sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DO OUTRO LADO DAS MARINHAS: ASSALTOS A ÔNIBUS EM SANTA BÁRBARA.

Neste mês de setembro, foi aberta a temporada de assaltos a ônibus que vêm para a ilha do Mosqueiro. Já houve registro de cinco com as mesmas características, o que leva a crer terem sido efetuados pela mesma quadrilha. O último de que se tem notícia aconteceu dia 21, com o ônibus das 19h, no município de Santa Bárbara. Sabe-se que a polícia local pôs as mãos em quatro criminosos: dois de menor idade foram soltos sem DATA para retorno e os outros aguardam reconhecimento das vítimas. Só assim passarão um tempinho atrás das grades, até que algum advogado-de-porta-de-cadeia encontre uma brecha no antiquado Código Civil Brasileiro – o que não vai ser difícil.

Para tornar poética a falta de segurança para muitos (sensação de insegurança para alguns), já que a arte imita a vida e vice-versa, apresentamos um poema de um grande escritor paraense:

ANTIPOEMA 9

Autor: João de Jesus Paes Loureiro

Uma aluna me diz:
Eu seguia de ônibus à ilha do Mosqueiro
o assaltante entra
encosta em minha fronte
o cano do revólver.
- “Passem o celular e dinheiro”.
Outro assaltante aos berros
intimida.
E recolhe o baixo preço
da liquidação de tantas vidas.

Uma freada brusca bastaria
bastaria o pânico de um grito
o forte ruflar bastaria das asas do destino
e o dedo do medo no gatilho
detonaria a bala.
Mais uma flor de juventude tombaria
numa poça de sangue e impunidade.

E o mundo continuaria a lamber
e a virar as páginas dos dias.
Os ônibus continuariam a levar
passageiros sentados a olhar o pânico
disfarçado na paisagem das ruas.
E o delinquente continuaria no crack da sarjeta
a jogar o vídeo game da espera de outro ônibus
de outro ônibus e mais outro e de mais outro…

http://paesloureiro.wordpress.com/page/2/

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: MOSQUEIRO, APOLLO 11 E A MÁGICA.

Autor: Carlos Barretto

clip_image001

 

Mosqueiro, 21 de julho de 1969.

Era mais uma manhã ensolarada de inverno amazônico.

Eu era apenas um tímido moleque de apenas 7 anos. Para minha alegria, os vizinhos habituais do Murubira estavam presentes com seus filhos. Eles eram a minha garantia de diversão nas férias escolares de julho. Vanvan, Carol, Avany, Tatá, Pinga, Cilinha, Tony, Ruizinho, entre tantos outros que se somavam para curtir a praia, bater uma bolinha e, à noite, brincar de "Cai-no-poço", "Pó, Ruge e baton", "Pira", "Esconde-esconde", etc. Ou então, em momentos algo mais reflexivos, olhar para o céu noturno e arrepiar os cabelos com histórias e suposições sobre outros planetas e extraterrestres, as enormes distâncias que nos separavam deles, e admirar a lua, sua beleza e seus mistérios.

Gorducho, retraído e criado em ambiente de rígida moralidade cristã, era mais ingênuo que a média das crianças de mesma idade. Claro que era alvo preferencial de inevitáveis "encarnações" que acabava absorvendo com naturalidade. Na época, nem existia o termo bulliyng da atualidade (muito embora a prática nefasta já existisse epidemicamente nas escolas e outros ambientes). Contudo, por alguma razão, nunca senti nada próximo a qualquer tipo de sofrimento com aquela turma querida. Era algo que rolava numa boa, sempre entremeado com manifestações de respeito e amizade, que terminavam por amenizar tudo.

Já encarava as primeiras paixões platônicas pelas garotas superhipermega lindas da turma. Uma tremenda ousadia para um gordinho com péssima autoestima. Daquelas que você em algum momento pensa: "te manca e vai procurar alguém pro teu bico, rapá!". De fato, somente bem mais adiante, já aos 15 anos, eu iria dar meu primeiro beijo na linda menina que nunca mais iria ver. Foi apenas uma noite e fim! Foi inaugurada então a primeira "ficada" da minha vida. 

clip_image003

Petromax

A ilha - que na época, mesmo em "alta temporada" ainda podia se chamar bucólica - estava com movimento acima do normal. Mesmo movimentada, não se via a barbárie que se vê hoje. Os poucos postes de iluminação pública existentes (ainda em madeira), geravam apenas um pequeno e tênue halo de luz amarelada logo abaixo. A energia elétrica fornecida por um gerador público só funcionava até às 22 h. Depois dessa hora, só velas, toscos candeeiros de querosene ou os modernos (e importados)"Petromax" das residências forneciam o mínimo de luz para as necessidades básicas. Dormia-se bem cedo. Nas praias e ruas, reinava a escuridão absoluta. Esta discutível precariedade, na verdade seria a responsável por uma das minhas mais belas lembranças de infância. Ela deu à todos o presente mais difícil de encontrar nos dias atuais: o céu mais estrelado que pude ver em toda minha vida.

Neste cenário, há exatos 43 anos atrás, uma pequena televisão ADMIRAL de 14 polegadas em preto e branco, conectada a um tosco "regulador de voltagem" e a uma indispensável antena externa, mostraria precisamente as imagens abaixo:

Olhava para aquilo tudo e não conseguia disfarçar minha excitação infantil. Aquele instante mágico, de alguma maneira, era também a realização de um sonho pessoal. A família toda reunida em torno daquelas 14 polegadas, não dava uma palavra. Estavam todos encantados!

Meu pai esforçava-se para responder todas as perguntas que fazíamos. Eram muitas. Eu já me incomodava com o fato de que havia um grande atraso entre o fato e a imagem que nos chegava. Indignado eu pensava: "sacanagem! Isso tudo já aconteceu e só agora estamos vendo"! Mal entendia o empenho tecnológico necessário para que aquelas imagens desfocadas e atrasadas chegassem aos mais variados e distantes rincões do mundo.

Se não me falha a memória, a transmissão iniciou por volta da hora do almoço. As famílias estavam todas em casa. Poucos possuíam televisão no país. Menos ainda na agradável ilha. Talvez muitos nem tenham tomado conhecimento da façanha. Pude comprovar isso cerca de 5 anos mais tarde.
Aficcionado do plastimodelismo, montei um kit da
Revell que constava de: 1 foguete Saturno, a cápsula Apollo 11 e o módulo lunar. Uma maravilha que montei com esmero e deixei em exposição no enorme quarto que dividia com meus três irmãos. O brinquedo não escapou da curiosidade de Antonio, filho da empregada de minha mãe.

Oriundo da cidade de Igarapé-Miri e apenas 1 ano mais velho que eu, ele tinha o típico perfil de caboclinho amazônico. Brincávamos muito enquanto sua mãe trabalhava. Um dia ele me perguntou sobre "aquela coisa". Espantado com a pergunta, com toda a paciência, descrevi todos os detalhes da missão Apollo 11, indicando o papel de cada um daqueles elementos. Para minha surpresa (e posterior indignação), ele simplesmente não acreditava!!

Desafiado, na sequência emprestei-lhe então uma edição especial da revista Veja (que guardo até hoje) dedicada a então designada "corrida espacial". Ricamente encadernada e ILUSTRADA. Não adiantou! Para minha absoluta irritação, ele não tirava da cara um riso maroto, (que tenho dificuldade em descrever). Mas, em síntese, eu traduziria aquele riso assim:

“Esse  almofadinha cara pensa que vai me enganar"?

FONTE: http://blogflanar.blogspot.com.br/2012/07/mosqueiro-apollo-11-e-magica.html

O autor: Carlos Barretto

clip_image005

Médico formado pela UFPA em 1988, especializado em Medicina Intensiva em 1994 e fotógrafo amador nas horas vagas. Possuo 2 sintetizadores eletrônicos com os quais, faço minhas incursões amadoras no mundo da música. Confesso que me sobra pouco tempo para brincar com eles. Mas gosto de vê-los aqui e usá-los para alguns períodos de puro relaxamento aliviando as tensões de minha atividade profissional. Sou um entusiasta de informática, com enfoque em hardware. Hoje possuo um Mac e não tenho saudades do Windows e seus problemas. No mais, confesso-me um viajante contumaz. Mas daqueles que mete o pé na estrada e ainda usa uma mochila nas costas, se necessário for. Trabalho para educar os filhos e viajar. Sou Mosqueirense de coração e alma.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

MEIO AMBIENTE: PRINCIPAIS ESPÉCIES CAPTURADAS PELA FROTA PESQUEIRA DE MOSQUEIRO

Autor: Pedro Leão

clip_image001

 A valorização dos saberes locais sobre sistemas ecológicos vem se ampliando através de diversas áreas do conhecimento científico, dentre estas a do uso e conservação dos recursos pesqueiros em comunidades tradicionais, compostas de trabalhadores que possuem a arte da pesca, apoiada nas inter-relações ambientais, subjacente aos saberes, as decisões e práticas sobre o mundo da pesca.

clip_image003

Na Ilha do Mosqueiro, desde os primórdios de sua ocupação por grupos nativos até os dias atuais, a pesca ainda é uma significativa atividade responsável pelo abastecimento alimentar das comunidades locais e dos visitantes. Na atualidade garante a ocupação e gera renda a trabalhadores nativos e migrantes de outros municípios como Abaetetuba, Cametá e do arquipélago marajoara, que ali se instalaram para desenvolver a prática pesqueira.

clip_image005

Principal elemento dessa comunidade, o pescador, se por um lado ainda está excluído das principais decisões que envolvem seu trabalho e sua qualidade de vida, por outro lado detém uma cultura, um rico e complexo conhecimento, de importância impar, na garantia do abastecimento e segurança alimentar, fundamental para o manejo e gestão dos recursos pesqueiros no estuário amazônico.

clip_image007

Em Mosqueiro, além da captura de espécies de baixo valor comercial como o bagre, bacu, mapará, cangatá, uricica, mandií, acari, branquinha ou caratipioca/ pitipioca, jacundá, jandiá, cará, ituí-roxo, carataí, matupiri, timbiro ou pratchuira e cachorro-de-padre, outras conhecidas como “peixes do salgado”, têm ocorrência tanto nas águas costeiras da ilha, como nos principais rios, igarapés e furos que a recortam ou ainda nas áreas denominada de salgada, quando da chamada “pescaria de baixo”, realizada no período de maior salinização das águas locais, a partir da redução das precipitações (julho/dezembro). A frota mosqueirense captura tainha, pratiqueira, enxova, cação, corvina, uritinga, bandeirado, mero, camorim, cavala, gurijuba, peixe-serra, dentre outras espécies.

clip_image009

Segundo a pesquisa, diante da grande diversidade de espécies capturadas na Ilha de Mosqueiro, revela-se características de sustentabilidade da atividade. Destacam-se 9 (nove)  espécies, sendo que 19,25 % da participação, refere-se ao conjunto de 14 outras espécies capturadas pela frota mosqueirense.

clip_image011

Os dados apontam para captura em quase todas as áreas de pesca de três espécies principais: pescada branca,  dourada e piramutaba. No Cajueiro  representam respectivamente 16,7%; 23,3% e 20% das capturas. Destaca-se a presença do filhote (25%) na Praia Grande,  bacu (25%) no Ariramba,  camarão regional (25%), no  Furo das Marinhas e (20%)  no Carananduba.

clip_image013

Nas Ilhas, o mandií representa 8,4 % e na Baia do Sol a pratiqueira com a mesma representação. Por fim, os dados indicam que 19,25% representa uma vasta variedade de espécies de capturadas, como arraia (raia), camarão da Malásia (malasiano), jurupiranga (jupiranga), mandubé, pescada amarela, pescada curuca, sarda, serra, siri (siri azul), tainha, tucunaré, uricica, uritinga e xaréu.

clip_image015

Gráfico estatístico das principais espécies capturadas:

clip_image017

__

Fonte: LEÃO, Pedro da Silva. ILHA DE MOSQUEIRO: Práticas de Pesca Sustentável numa Comunidade Tradicional da Amazônia – Estudo de Caso. 2011.92 p. Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Tecnologia em Gestão Ambiental, Universidade Norte do Paraná, Belém-Pará, 2011. IN., http://mosqueirando.blogspot.com.br/

Imagens: Arquivo Mosqueiro Ambiental

terça-feira, 25 de setembro de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: A PONTE DO MOSQUEIRO

 

 image

 

Crônica da cidade (25/07/1967)

Autor: Nilo Franco

Na tarde bonita, dentro da beleza sem medida que está Mosqueiro, eu subia calmamente da praia maravilhosa do Farol, àquela hora esplendendo como se fosse um recanto gostoso do Arpoador. Subia na direção da sede soberba do Netuno Iate Clube, quando um “psiu” cordial me fez parar. Era a tarde da última sexta-feira e o chamado me vinha do velho e querido companheiro e amigo Dr. Augusto Meira Filho. Eu passava diante de sua casa, no começo da estrada do Diamante, bem em frente ao Netuno. Meira Filho queria conversar comigo. Conversar e mostrar coisas.

Por coincidência, eu escrevera naquele mesmo dia sobre a ponte do Mosqueiro, e era exatamente sobre a ponte que me queria falar o amigo Meira. Fez-me sentar e, ali, cercado da esposa e dos filhos queridos, abriu, diante de meus olhos, uma planta grande, um metro e tanto, quase dois de comprida por uns setenta centímetros de altura. Era a planta do que vai ser a ponte do Mosqueiro. Vi detalhe por detalhe, o confrade e amigo explicando tudo, falando sobre minha crônica, dizendo-me dos planos para que aqui tudo seja breve, esplêndida realidade. E falava, falava sem parar, incontido no seu entusiasmo, no seu grande e glorioso entusiasmo pelo empreendimento. Um entusiasmo assim como o que ele pôs na construção da estrada, já agora e graças, sobretudo, a esse entusiasmo, tornada uma bela realidade.

São mil trezentos e tantos metros de ponte, a planta vinda do escritório Noronha, do Rio de Janeiro, um dos mais autorizados realmente de todo o país. E Augusto Meira Filho me pôs a par dos detalhes de como vai ser construída a obra.

-- Este – diz ele – é o resultado do estudo a que você alude na crônica de hoje.

E conta-me que um grupo de entusiastas, cujos nomes vai desfilando para o meu entusiasmo, também estudou, cuidadosamente, a coisa. Analisou as dificuldades do Governo na hora presente, mediu a impossibilidade de o Governo tomar a si a tarefa neste instante, embora não se tratasse de empreendimento dispensável, mas, antes, de obra realmente indispensável e urgente, de grande benefício público.

Feito tudo isso, debatido assim o assunto, encomendados e trazidos do Rio o projeto, as plantas todas e o orçamento da obra, o grupo saiu para a tarefa de estudar como custeá-la.

Tudo pronto, custará a ponte três bilhões de cruzeiros antigos. Então, o grupo concluiu que esses três bilhões haveriam de ser obtidos através da contribuição popular. Seriam vendidas três mil ações a um milhão de cruzeiros cada. O comprador pagará esse milhão suavemente. Se dispuser de um capital maior, pagará em vinte prestações mensais de 50 mil cruzeiros. Se não, fará esse pagamento em quarenta prestações mensais de 25 mil cruzeiros. Em troca, considerando o trabalho de pioneirismo realizado, o portador da ação deverá ter trânsito livre na ponte, sem pagar pedágio, toda a vida. E estuda-se uma outra compensação, já que não precisa que o comprador tenha carro para se beneficiar do empreendimento. Assim, uma coisa como dividendos, a cada fim de ano, dos lucros do empreendimento, coisa que terá de ser autorizada, naturalmente, pelo Legislativo estadual.

O fato é que a ponte nada custará ao Governo e, pronta, ao Governo será entregue, para exploração, resguardados os direitos dos que contribuíram para essa realização.

Meira me conta que já conversou muita gente para adquirir ações e da parte de todos com quem falou encontrou a melhor receptividade. A colocação das ações vai ser rápida, senti isso, falando, depois, a diversas pessoas na Ilha, todas pressurosas em contribuir para tão grande empreendimento e ansiando por vê-lo já tornado realidade.

E justo, bem justo é que assim aconteça. A ponte é uma necessidade imperiosa, a obra mais bela e mais suntuosa que se terá realizado, para alegria e orgulho da população. Uma obra que perpetuará a lembrança de quantos para ela contribuírem.

Foi pena que não pude ficar para o lançamento oficial da ideia, ocorrido domingo à tarde, na sede do Netuno. Meira reclamara minha presença ali. Ia convocar a nossa bela Sônia Ohana, para dar ao acontecimento o prestígio da Beleza da mulher paraense.

-- Tenho certeza – disse – que a nossa Sônia estará conosco, comandando o grande empreendimento!

Eu tenho, também, a mesma certeza. Apenas, não pude responder presente ao acontecimento. Precisava estar àquela mesma hora, já aqui na cidade, como de fato fiz. Mas, estou com o amigo Meira, estou com todos os que vão tomar a ombros a tarefa de construir a ponte.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 455 e 456.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

CANTANDO A ILHA: SÓ MOSQUEIRO NOS SALVARÁ!

Autor: SPERSIVO

clip_image002

 

Poemeto da promessa

Nem me importa se chova
Ou faça sol
Qualquer dia
Nos encontraremos sob as árvores
Do Hotel Farol
Para falar de coisas banais,
Pois, talvez o desejo
Já não exista mais
Ou um simples beijo nos traga a paz.
Não importa muito o tempo
Nem a razão
Se somente a loucura
Nos torna são.

O autor:

Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR. (Porto Velho – Rondônia).

clip_image004

FONTE: http://serpoeta.blogspot.com.br/2008/09/s-mosqueiro-nos-salvar.html

sábado, 22 de setembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: MOLECAGENS DO PASSADO 7

Autor: Augusto Meira Filho

Quando o Governador Magalhães Barata estava muito doente e sem esperanças, os políticos majoritários do PSD tomaram a iniciativa de eleger, na Assembleia, um Vice-Governador que pudesse, em qualquer emergência, assumir o Governo do Estado. Nesse tempo, o Poder Legislativo paraense funcionava no salão do palco do Teatro da Paz, pois havia ocorrido um incêndio nas instalações daquele poder, no Edifício do Palácio Municipal, onde funcionava, normalmente. Urgia – pelo mal crescente de Barata – a necessidade dessa providência urgente do Partido para não perder o comando pessedista da governança estadual. Muitos nomes, então, surgiram, influentes, entre eles, o do fazendeiro Rodolfo Chermont, alto prócer do PSD e também um virtual candidato a substituir Barata no Palácio Lauro Sodré.

Pois bem!

Os Farahzinhos sabiam de todo esse drama, pois o velho Raymundo tinha na vida três devoções: o Barata, o Remo e a França! Sabiam os garotos tudo quanto se passava nos bastidores do Partido, mesmo, porque o mestre Farah desfrutava de grande prestígio e da amizade pessoal do Governador. O que fizeram esses danados? Apreciemos a curiosidade do espetáculo digno de novela.

Um amigo e parente do casal Farah passava as férias e os fins-de-semana na velha residência de Raymundo e trazia, sempre, novidades. Desta feita, seria um moderníssimo aparelho VHF – a última palavra em transmissão de rádio – que cederia aos Farahzinhos para distraí-los no Mosqueiro.

Foi nessa altura que viram, como de hábito, Rodolfo Chermont e dona Cora, sentados à porta de sua bela mansão no Chapéu Virado, na calçada fronteira, recebendo a brisa do Marajó, naquela tranquilidade bíblica da Ilha que todos conhecemos. Joseph e Alexandre, liderando companheiros e sabedores dos acontecimentos políticos na capital, instalaram sob o arbusto da praia aquele formidável aparelho. Silenciosamente e sem serem vistos, sintonizam e entram na faixa da PRC-5, estação que Chermont, cuidadosamente, escutava à espera de notícias de Belém. Nessa altura dos acontecimentos, já o deputado Luiz Geolás de Moura Carvalho havia sido escolhido e eleito Vice-Governador.

Chermont e patroa continuavam serenos, ouvindo a transmissão da velha Rádio Clube do mestre Edgar Proença. Lá pelas tantas, Alexandre como locutor entra na onda e anuncia o prefixo da Rádio Clube do Pará“a voz que fala e canta para a planície” – dando em seguida tempo para um “informativo de Última Hora” – E anunciou com veemência: “Senhoras e senhores – Caros ouvintes – atenção: A Assembleia Legislativa do Estado acaba de eleger substituto do Governador Magalhães Barata, em caso de seu falecimento, o Sr. Rodolfo Chermont, conhecido político, militante do PSD e fazendeiro. Repetimos em primeira mão...”

Nessa ocasião viram os marotos de longe o pulo que Chermont e Cora deram na calçada anunciando logo a seus familiares que o chefe da casa havia sido eleito Governador do Estado. Na euforia (conta-nos, agora, o Joseph Farah), Chermont considerava-se já o 1º. mandatário do Estado. Procurava os vizinhos, comentava alto à porta de sua vivenda e começava a ter a preocupação de governar eleito e logo para substituir o grande chefe Barata, que agonizava.

O grupo moleque abria-se na praia, rindo a valer daquele espetáculo. A rádio do hóspede funcionara perfeitamente. Chermont rejubilava-se com os amigos que chegavam interessados na novidade. Logo fez-se uma roda e drinques foram servidos por conta da notícia.

Realmente, a posição do político estava certa. O que ele não poderia jamais supor era da trama urdida pelos Farahzinhos, fato esse que só muito mais tarde chegou ao seu conhecimento, tão bem planejada e com sucesso, contra a sua inocência da brincadeira de mau-gosto daqueles endiabrados do Farol. O país vivia período de desenfreada política partidária e para qualquer prócer seria procedente semelhante informação, vinda pela emissora mais antiga da cidade e de absoluta confiança.

Imaginemos a decepção do distinto mosqueirense e nosso velho amigo e companheiro de partido e de lutas pessedistas comuns. É evidente que, no mesmo noticiário, habitual informe das vinte e três horas, em nota sem disfarces, a querida PRC-5 diria a verdade sobre a escolha do Vice-Governador, que recaíra na pessoa do Coronel e Deputado Moura Carvalho. Mas Chermont, pela molecagem dos Farahzinhos e sua equipe, teria momentos de encantamento, julgando correta uma transmissão falsa e improcedente feita pela “sintonia” da tal estação que os mesmos haviam fixado na praia fronteira à residência do conhecido político e devotado simpatizante das coisas do Mosqueiro.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 370, 373 e 374.

ACESSE O BLOG MOSQUEIRENSE:

http://mosqueirense.blogspot.com.br/2012/09/abandono-e-invasao-ao-monumento-em.html

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CANTANDO A ILHA: BAÍA DO SOL


POESIA: Baía do Sol
Autor: Edinaldo Lobato


O autor:
image
Edinaldo Lobato, médico nefrologista e grande poeta paraense é divulgador de nossa cultura regional.

Autor: Manoel Gomes da Silva


Chegando à Baía do Sol
Vai se sentir deslumbrado
Com coisas da Natureza
Que dá pra ficar abismado
Vendo sempre praias lindas
Olhando pra qualquer lado.

Temos lá a Praia Grande
Onde a areia é vermelha
Antes tem a Praia do Anselmo
Que com ela se assemelha
Que banho em qualquer hora
Qualquer pessoa aconselha.

Tem a Praia do Trapiche
Da Camboinha também
Praia do Bacuri
Que dois quilômetros têm
É linda e vive cheia
Com aquelas ondas que vêm.

Essas são as grandes praias
Do nosso belo lugar
Pois ainda existem outras
Que eu mesmo não posso falar
Praias de pequeno porte
Que você pode encontrar.

O autor: Meu nome é Manoel Gomes da Silva, nasci em Mosqueiro em 1937, tenho orgulho de ser mosqueirense, amo o meu lugar, amo o meu torrão e por isso eu escrevo qualquer situação que eu acho necessário escrever para engrandecer o nosso lugar: Mosqueiro”. Manoel Gomes da Silva é poeta repentista e representante autêntico da literatura de cordel na Ilha do Mosqueiro.
FONTE: Gomes, Manoel. As Mais Belas Praias de Mosqueiro e História do Círio de N. Srª do Ó. 2006. Estrofes esparsas.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

MEIO AMBIENTE: PRAIA DE CARANANDUBA E MEIO AMBIENTE

Autor: Pedro Leão

clip_image002
Pescadores na área de Carananduba (FOTO: Pedro Leão)

As praias fazem parte de um sistema costeiro muito diverso, dinâmico e onde tudo interage.

Banhada pelas águas doces do rio Pará, que, sazonalmente, ficam salobras, por sofrerem influência do estuário amazônico, a praia do Carananduba, localizada no bairro com o mesmo nome, é parte dos 17 km de praias da Ilha Amazônica de Mosqueiro.

Composta por sedimento de areia, a praia possui uma extensão lodosa e um ambiente de mangue, de extrema importância para evitar erosões e também na reprodução das espécies ícticas e de alguns crustáceos como o camarão regional (Macrobrachium amazonicum).

Nas áreas próximas ao continente, há ocorrência de muitas espécies vegetais, como a paliteira (Clitoria farchildian), bambu (Bambusa vulgaris), coqueiro (Cocos nucifera), açaizeiro (Euterpe oleracea), mangueira (Mangífera L.), dentre outras. Também existem arbustos e gramíneas próximas às casas dos moradores da praia.

O bairro de Carananduba não conta com um sistema de esgoto sanitário que venha mitigar a contaminação dos mananciais superficiais, como rios e igarapés. Assim, a impactação antrópica é crescente, já que muitas casas se espraiam ao longo da praia, na faixa além da rua que separa a orla do continente.

As populações existentes:

A área de praia é composta por fatores bióticos (biocenose), de organismos autótrofos (produtores), de heterótrofos (consumidores) e fatores abióticos, onde é possível listar e contar as populações de algumas espécies na área, dentre as quais: humana, formigas, com uma espécie de saúva, cupim, aranha, besouro, ambuá, lagarto, sapo, cobra. Além do camarão regional, foi identificado o siri azul, tralhoto, sarará e algumas espécies de peixes, como o bacu, a arraia, a dourada, o bagre, etc., Algumas aves também habitam o ambiente, como o bem-te-vi, pardal, andorinha, garça, pelicano, maçarico, urubu, etc. Há forte presença de fitoplânctos e zooplânctos, pois se trata de área estuarina.

Equilíbrio e desequilíbrio ambiental:

Fator de desequilíbrio é qualquer acontecimento ou evento que venha a perturbar as características naturais de um ecossistema.

O equilíbrio de algumas áreas (biocenose), pode sofrer perturbações de ordem naturais (fatores naturais do desequilíbrio), como forte furacões, terremotos, tempestades, maremotos, vendavais, etc. Nestas circunstâncias, a natureza aciona os mecanismos de autorregulação (homeostáticos), que garantem a normalidade no ecossistema. Porém, podem ocorrer anormalidades, pela ação do homem, como pelo derramamento de óleo nos mares, desmatamento, queimadas, pesca intensiva (predatória), dentre outros. Na área da praia de Carananduba, o principal elemento que vem causando desequilíbrio ambiental é o homem, seja ampliando sua ocupação e uso em áreas como beira de igarapé e enseada da praia, constituindo também uma vila de famílias na praia, sem as mínimas condições de infraestrutura, como água potável e esgoto sanitário. A pesca artesanal de subsistência no local não é predatória, tanto no uso dos apetrechos, nos malheiros da rede utilizados e no esforço de pesca.


Concluindo:

A área de praia de Carananduba possui um elenco de populações, estabelecendo diversas relações ecológicas. Assim, se apresentam diversas cadeias alimentares na área. A principal condição para manter na área o equilíbrio ambiental é sua ocupação, uso e gestão ordenada de forma a contribuir na sustentabilidade ambiental da ilha de Mosqueiro.
Assim, tanto a administração pública local, órgãos ambientais, comunidade e visitantes devem assumir de fato a defesa dessa faixa de terra de grande importância para o desenvolvimento local sustentável.

FONTE: http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2010/07/praia-de-carananduba-e-meio-ambiente.html

terça-feira, 18 de setembro de 2012

CANTANDO A ILHA: MOSQUEIRO

Autora: Marília

Da tapioquinha da Vila,
do tacacá,
das praias de onda,
do rio-mar.

Do pôr-do-sol,
do raspa-raspa,
do Matapi
que a saudade maltrata.

Do caramanchão,
do Chapéu-Virado,
Hotel do Russo
tudo mudado.

Da Praia do Farol,
da ilha dos amores,
que une e abriga
dois sonhadores (eu e você).

A autora: Paraense, apaixonada por sua cidade natal Belém do Pará, Cidade das Mangueiras. Uma pessoa que busca sempre melhorar interiormente. Que acredita que a vida deve ser plenamente vivida de acordo com as leis da natureza e de Deus.

FONTE: http://descobertainterior.blogspot.com.br/2009/01/mosqueiro.html

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

NA ROTA DA HISTÓRIA: A PRIMEIRA BALSA PARAENSE PARA O FURO DAS MARINHAS

“QUERIDA”... NA BELÉM-MOSQUEIRO!

Autor: Augusto Meira Filho

O leitor sensível e inteligente que também vê e sente na beleza das praias mosqueirenses a confirmação da profecia: a “terra de Canaã”, e não vai atrás do canto das sereias, merece a homenagem de saber que a “Querida” vai chegar e, festivamente, ocupará seu trono no Canal das Marinhas. Não será ornada de pedras preciosas e nem possuirá casco de ostras ou de marfins. Mas, certamente, será a última caminhada nesse sentido – esperançosa caminhada que se fixou em 12 de junho de 1959 em memorável jornada – para a solução do conforto de milhares de pessoas e de veículos que se aprestarão à travessia da Belém-Mosqueiro pela PA-17 e BL-19, no próximo período de férias do mês de julho.

Sim, prezadíssimos leitores, que, como eu, não apreciam peixe “salpreso” e há tanto tempo esperam o “parto-da-montanha”, é verdade cristã o fato que hoje anuncio: a “délivrance” da esperança que muitos haviam perdido... Você, eu e todos os habitantes desta Belém “mangueirosa” iremos gozar a delícia de cinco minutos sobre as águas pardas do Furo que Deus marcou entre o Mosqueiro e o continente, como quem nos desafia e nos testa a inteligência.

A avançada não me foi surpresa. Testemunhei os entremeios da luta já que o destino me leva, sempre, ao campo dessa batalha vintenária, agora, parcialmente vencida por meia dúzia de bravos. A solução para o velho problema está decidida: a obra em fase final demonstra que a tão sonhada Balsa, denominada com a ideia feliz de “Querida”, poderá transportar dezesseis (16) veículos normais em poucos segundos, vencendo aquela reta de 1.500 metros que une a “Boa-Esperança” à “Flor das Marinhas”, no eixo fluvial da rodovia Belém-Mosqueiro.

Sim, companheiros de todos os tempos – das horas boas do presente às amargas do passado – chega à sua fase final a campanha para a melhoria daqueles serviços. Em breves dias, a “Querida” estará proporcionando a travessia do Canal, sem atropelos, sem ausências, sem momentos desagradáveis. Com esse passo à frente, para o acesso mais prático à Ilha do Mosqueiro, poder-se-ia fazer justiça, nessas quadrinhas improvisadas, que traduzem a significação do fato e o de sua aplicação:

“Vencendo dias tristonhos

E um passado de emoções

Vem a Balsa de meus sonhos

Ligando dois corações...!

Assim a história consagre

A presença de “Querida”...

Pedrinho... fez o milagre

Aliverti... deu-lhe a vida!”

Bem se vê não há mais motivo para descrenças e você, caro leitor, acabe com esse pessimismo de quem bebeu água do “Caranã”, barbaramente batizada com sal de “Andrews”...

É uma realidade, hoje, aquela “Balsa” que sonhei em 1948. Seus quatro possantes motores, sua rampa larga e automática, seu fácil acesso, sua velocidade permitirão a toda a gente alcançar o “oásis”, o “paraíso”, o “sanatório”, a ilha da felicidade dos belenenses bem formados.

Advogado da “ação” naquele sentido de Goethe, previ o sucesso da empreitada,

Para disciplinar o crescimento do balneário, função direta da rodovia e do processo na travessia do Canal das Marinhas, apresentei ao plenário da Câmara um projeto de lei estabelecendo normas técnicas que disciplinassem a evolução natural da Ilha. Aprovado, unanimemente, esse texto legal dará ao Prefeito de Belém poderes para contratar serviços especializados de firmas interessadas nos problemas de eletricidade, o poder público abrir novos logradouros, fixar locais para estacionamentos, construir escolas, melhorar as condições sanitárias das zonas mais populosas, zelar pelas praias e disciplinar as construções particulares e oficiais.

Tais encargos e posturas são indispensáveis à Ilha do Mosqueiro, nesse ponto de renovação em que se encontra, após o advento de sua penetração rodoviária. Seu crescimento é de tal ordem que há urgência na solução dos problemas de circulação e de estacionamento de veículos em toda a área interna e litorânea das praias, propriamente dita, desde a Vila até a Baía-do-Sol. A Comuna, pelo seu departamento rodoviário (DMER) já está providenciando as linhas de penetração às praias recém-descobertas na face leste da Ilha (do Maraú à Queimada, totalizando mais sete recantos) e um ramal variante da BL-19, para a aproximação da Avenida do “Chapéu Virado” a BL-19, economizando ao visitante cerca de 10 quilômetros, em relação à atual estrada passando por Carananduba. Essa variante foi idealizada e levantada pelo saudoso engenheiro Rui Almeida, cujos levantamentos ofertou-me antes de falecer e que, agora, o DMER está executando como medida indicada e tecnicamente aconselhável.

Desta coluna, que não se esquece de exaltar os grandes feitos a favor do Mosqueiro, vai o aplauso aos planejadores e executores da construção da “Balsa Querida”. Aos técnicos dos SNAPP (estaleiros e oficinas) na pessoa do chefe engenheiro Pedro Coutinho de Oliveira e aos do DER-PA, na figura do engenheiro Oswaldo Aliverti, responsável por aquele serviço no “Tauarié”, ambos sob o comando de Fernando Guilhon (SNAPP) e de Alírio Cezar de Oliveira (DER-PA), o abraço sempre grato e despretensioso, amigo, sincero e fraternal do colega colunista que, lutando pela prosperidade do Mosqueiro, o faz desinteressadamente e, sempre, pelo bem comum.

Parabéns, pois, da Cidade de Belém, e que prossigam, com a mesma coragem e devotamento, os estudos para a solução definitiva da última etapa dessa guerra santa: a p-o-n-t-e!

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 493, 494 e 495.

MOSQUEIRANDO: Destacamos em negrito, no texto, a preocupação do autor com o progresso da Ilha, com o crescimento de sua população, com o irreversível processo de urbanização. O interessante é que isso foi escrito por Augusto Meira Filho no final da década de 1960, abordando uma problemática que se tornou real com o transcorrer dos anos. É atual e pode vir a ser dramática. Seria ele um visionário? Não. Era um homem de visão plena e futurista, que não se contentava com soluções paliativas.

Como seria bom, nesta época de eleições municipais, encontrar, entre os inúmeros candidatos, alguém que defendesse as ideias do Augusto Meira e os reais interesses da Ilha do Mosqueiro!

sábado, 15 de setembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: MORCEGANDO O TRENZINHO DA HISTÓRIA

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

“A primeira pessoa entrevistada por nós é o Sr. José Brígido da Trindade, nascido em 1933, portanto, com 72 anos, residente na Av. Getúlio Vargas, nº. 738, Vila. Nascido em Mosqueiro, passou sua infância, adolescência e parte da juventude na Ilha. Viveu também em Belém durante algum tempo. Atualmente aposentado, como funcionário público municipal por Belém, trabalhou como datilógrafo, escriturário e tesoureiro. Estudou até a 5ª série e depois concluiu o Ensino Fundamental pelo Projeto Minerva. Apesar de mencionar que os fatos às vezes lhe fogem à lembrança, é pessoa de memória vívida, de conversa fluente e bem-humorada, que muito pode contribuir como informante em pesquisas futuras, pela gama de conhecimentos que salvaguarda em sua lúcida mente e sua bem organizada ‘pasta’ de documentos antigos. Reside com sua sobrinha, Neliza, que é também sua filha de criação, pessoa primeira contatada por nós, para nos apresentar de modo mais espontâneo possível (em benefício da entrevista) para seu pai, o entrevistado.”

clip_image002

SR. JOSÉ BRÍGIDO DA TRINDADE (Foto: Alcir Rodrigues)

“Transcrição da narrativa oral do Sr. José Brígido da Trindade

O Sr. Brígido, como é simplesmente conhecido na Vila do Mosqueiro, concedeu-nos uma entrevista em que nos relatou inúmeros fatos e prestou esclarecimentos relevantes, numa conversa fluente e amigável, na varanda de sua residência. É verdade que tivemos dificuldade na transcrição de seus relatos, visto sermos inexperientes no uso do equipamento de gravação, ficando a fita com trechos quase inaudíveis, por causa de problemas já mencionados nesta monografia. Desta feita, procedemos recuperando trechos de imprescindível importância, salvaguardando a fidedignidade das informações originais. As lacunas, claro, prejudicam a íntegra do trabalho, no entanto todo o esforço fizemos para que os dados correspondam aos originais, e a fala esteja transcrita quanto mais exato seja possível fazê-lo, respeitando as legítimas palavras e opiniões do entrevistado.

Seguem abaixo excertos das narrativas do Sr. Brígido:

Eu gostava de estudar. À noite, pegava a lamparina, acendia a lamparina, e ficava, sabe, estudando. Estudando mesmo. Quando chegava na escola, já tava tudo na cabeça. Então, ia fazer sacanagem... (...) rendia castigo pra gente, né. Por exemplo, no Grupo Velho... Eu comecei a ter raiva de terço, desde aquela altura, que era castigo você rezar o terço... e botava de joelho, que era aquele Cristo que ainda tá lá... desde o Grupo Velho. Botava lá de joelho a gente, sabe. Aquele negócio de ajoelhar no monte de milho, tinha também, aí. Não era fácil, não.

Agora, eles não me botavam de joelho porque... eu ia ter de ficar só com um joelho, o outro não tem nada... (Ele riu bastante, contagiando também o entrevistador.)

Então, tinha uma diretora... uma boa professora, professora Noêmia. Ela teve um problema que ela tinha uma bochecha maior do que a outra. Égua! Mas a mulher, sabe?, era muito inteligente. Mas ela era perversa também. Gostava de dar castigo pra gente. E um dia... o Grupo Velho, ainda... (...)

Aqui o Sr. Brígido conta uma ‘peraltice’ dos tempos de estudante, pela qual ele e seus colegas foram duramente castigados, e tiveram de ficar trancados no banheiro.

Outro trecho relevante:

Eu saí em 46. Tenho o diploma e tudo... guardado. Gosto daquele diploma. E, naquelas alturas, no interior, com 13 anos terminava a 5ª série. Era barra! Mas... Agora, Inglês de Sousa... Não sei por que botaram o nome de Inglês de Sousa. Se bem que eu tenho até um livro dele aqui. (...) Herculano Marcos Inglês de Sousa. (...)

O que passava pela frente era o trem, né, o trem: uma locomotiva movida a lenha, né, com três, quatro vagões. Um dia vinha com três, vinha com quatro. (...)

Então, ela passava lá. Ela vinha lá do Porto Artur, Chapéu Virado, passava pela 3ª Rua. Aí, entrava pela Pratiquara... porque onde é o atual mercado, lá era a estação da...da... porra da maria-fumaça... (...)

Ela vinha devagar, sabe? Dava vontade da gente morcegar... (risos) E terminava a aula e poder... Ela passava bem na frente do Grupo e ela sempre devagar, sabe. Dava pra gente pular... Sabe como é... (...)... estudante... moleque também... (...)

Tornou-se quase impossível prosseguir com esta transcrição, em vista dos problemas já explanados anteriormente. Todavia, cremos já ter do Sr. Brígido, aqui, material suficiente para proceder a uma rica análise.”

“Nas atividades de ouvir, transcrever e “ler” as narrativas pudemos sem quase esforço algum detectar nelas a presença de traços sócio-histórico-culturais que preservam a memória de Mosqueiro (no que diz respeito a aspectos tais como economia, relações sociais, fatos históricos relevantes, geografia local, hábitos cotidianos, eventos cíclicos festivos, variantes linguísticas, etc.). Por exemplo, a narrativa do Sr. Brígido, faz referência a “castigos” impostos aos alunos por causa de ‘indisciplina estudantil’. Um desses castigos era ficar ajoelhado sobre grãos de milho, ou rezar o terço, fruto de confusão entre educação e opressão, religiosidade/fé e temor. São traços típicos e marcantes de uma época e seus valores cotidianos.”

“Análise da narrativa do Sr. José Brígido da Trindade

O Sr. José Brígido, tal qual nosso outro entrevistado que teve relato transcrito, oferece-nos dados de extrema riqueza a ser explorada, de natureza histórica, social, geográfica, pedagógica, religiosa, etc. Em sua narrativa, no início, reporta-se ao uso da lamparina para estudar à noite, o que nos permite a inferência de que energia elétrica não havia no Mosqueiro daquela época (década de 1940) em que ele era estudante. Só décadas depois éque seria criada, pelo Município de Belém, a Usina de Força, que funcionava irregularmente e deixava de fornecer “luz” após as 23 horas. A partir da energia vinda da hidrelétrica de Tucuruí, já na década de 1980, é que passaria a haver energia elétrica na Ilha 24 horas por dia.

Devido à carência generalizada de infraestrutura fornecida pelos governos (estadual e municipal), a educação só atendia a população até a 5ª série, dita ginasial, naquele tempo, no Grupo Escolar do Mosqueiro (do sistema estadual), chamado comumente pelo povo de Grupo Velho, que mais tarde receberia a denominação de Inglês de Sousa16, chamado de Grupo Novo. Essa escola ainda existe: fica na Vila, na R. Tenente Coronel José do Ó (ou, para o povo, 3ª Rua), e atendia toda a Ilha, tendo os alunos que se deslocar dos pontos mais distantes, quase sempre a pé, e tendo que sair bem cedo, para não perder as aulas. Uma enorme dificuldade.

O Sr. Brígido nos informa como era a ‘disciplina’ escolar na época. Sem quase liberdade alguma, aos alunos eram infligidos castigos físicos, como ficar ajoelhado no monte de milho, ou morais, como ficar rezando o terço, ajoelhado (a) em frente a uma imagem de Jesus Cristo. Claro que devemos evitar interpretações anacrônicas, contudo, não podemos deixar de opinar sobre o que pensamos ser equívocos educacionais (no que diz respeito à metodologia e didática de aplicação de medidas “socioeducativas” ‘daquele tempo’) e religiosa (no que diz respeito à mistura de religiosidade/fé e temor). Ambas − educação e religião − impunham valores por intermédio da opressão, do medo, do terror mesmo. Não poderia dar certo, nem em uma, nem em outra, mesmo em se tratando da religião católica, já que o Brasil é a maior nação católica do mundo; tanto que nosso entrevistado diz, numa passagem de sua entrevista: “[...] eu detesto esse negócio de terço [...]”. Diríamos ser, também, detestável a maneira de ‘estimular’ os estudantes por meio da sabatina: quem errasse o cálculo, ou uma data qualquer de um fato histórico, apanhava com a palmatória.

Nosso entrevistado faz alusão ao trenzinho, uma locomotiva do tipo maria-fumaça, que conduzia de três a quatro vagões, ligando a Vila ao chapéu Virado. Buscando apoio em Brandão & Dantas (2004:69), encontramos as seguintes informações:

O primeiro transporte oficial aproximando a ‘Vila’ do ‘Chapéu virado’ foi inaugurado em 1904, o Ferril-Carril, bonde com tração animal, propriedade de Arthur Pires Teixeira. Com o aumento de passageiros, provocado pela instalação da linha fluvial Belém-Mosqueiro, o Ferril-Carril é substituído por uma pequena locomotiva conhecida como ‘Pata Choca’ que se encarregava de levar quatro ou cinco vagões.

Sobre a denominação Chapéu Virado, de uma praia, de um bairro e de um antigo hotel, convém lembrar o seguinte: C. Wanzeller (2005: 47) explica a denominação deste modo:

“[...] Para aquele local, conhecido na época como ‘o lugar onde o chapéu vira’, convergiam vários caminhos, alguns vindos do interior da ilha e outros que levavam à praia, onde os pescadores moqueavam o peixe. O vento, canalizado por esses caminhos, chegava à clareira com grande violência, arrebatando os chapéus de palha da cabeça dos caboclos desprevenidos e lançando-os a distância.”

Já em Brandão & Dantas (2004: 65), encontramos os seguintes esclarecimentos:

Colonos portugueses fabricavam no local chapéus com abas denominadas beiras. Para alguns historiadores a expressão ‘chapéu beirado’ teria se convertido, com a pronúncia portuguesa, em ‘chapéu birado’ e depois ‘chapéu virado’. Outra possibilidade é a da corruptela cabocla que identificava a beira como a parte virada do chapéu.

Nosso informante refere-se a um topônimo: Porto Artur. Era um comendador que possuía um chalé em frente à praia que hoje recebe o nome de Porto Artur, por causa do porto que ficava em frente a sua casa, onde podia aportar o barco que trazia sua família para o aprazível fim-de-semana. Hoje, além da praia, um logradouro também tem seu nome: Trav. Artur Pires Teixeira. A razão de se dar importância a esse ilustre frequentador da Ilha é que foi ele fundador, além da linha férrea, do primeiro e único cinema de Mosqueiro: o Cine Guajarino, que, conforme Pedro Veriano (1999: 40), funcionou de 1912 até 1976.

O Sr. Brígido falou, ainda, de dois logradouros: a 3ª Rua e a Pratiquara. O nome oficial da 3ª Rua é Tenente Coronel José do Ó. É bem comum na Vila esse fato, pois a grande maioria dos moradores costuma nomear os logradouros de 1ª, 2ª, 3ª, etc., até a 8ª Rua. Porém, todas têm nomes oficiais de personalidades históricas que, de um modo ou de outro, foram relevantes para a história do Mosqueiro de outrora. Pratiquara é o nome de uma travessa importante na Vila, bairro mais antigo da Bucólica (que é outra denominação da Ilha). É de origem tupi o vocábulo e originou-se a partir do principal rio que banha Mosqueiro, o Pratiquara, que, em português, significa “rio das pratiqueiras”. Muitos outros topônimos no Mosqueiro são de origem tupi: Mari-Mari, Ariramba, Carananduba, Sucurijuquara, etc.

A expressividade de nosso entrevistado vem de sua espontaneidade ao falar, de seu ótimo humor, da coloquialidade de sua fala. Por exemplo, emprega a palavra ‘morcegar’ que, segundo Houaiss (2004: 1959), significa, no contexto usado, “[...] embarcar ou saltar de (trem, bonde etc.) em movimento.” E, de certa forma, sentimo-nos também com vontade de morcegar, tanto o trenzinho, quanto a narrativa contada, tamanha a vivacidade e importância de suas reminiscências.”

FONTE:http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAQssAF/narrativas-orais-ilha-mosqueiro-memoria-significado

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

CANTANDO A ILHA: TARDE EM MOSQUEIRO

Autor: Itamar Rabelo

Terra, doce terra. Uma ilha.
Ilha de rio, com ondas de mar.
Com suas praias tropicais sinuosas
e chalés rendados, tão coloridos.

Doce sabor de pecado,
cheia de formas femininas.
Divinas esculturas, sensuais,
pequeninas.
Jamais vi outras iguais,
jamais...

Meu coração enamorou-se de ti
e teus ares me aprisionaram.
Ai de mim, que não te esqueço.
Ai de mim, ai de mim,
que se não ver-te uma vez mais,
de desgosto e saudade padeço.

FONTE: http://poesiasitamar.blogspot.com.br/2006/12/tarde-em-mosqueiro.html

 

O autor:

clip_image002

Poeta, editor, cronista e numismata de Ourinhos (São Paulo). Autor de sete livros: "Aqueles Dias Felizes...", "Crônica de um pracinha", "Dinheiro Dinheirim, Moeda no Cofrim"; "O Dinheiro, de Cabral ao Real", "Pequenas Alegrias", "Contos Nada Plausíveis" e “Rimancim”. É editor do informativo cultural O Avesso, dirige um Videoclube e realiza a cada dois anos o Concurso de Poesias Cidade de Ourinhos.

FONTE: http://www.blogger.com/profile/15582974320531029786

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CURIOSIDADES: PRAIA DO MURUBIRA



Segundo a História local, o nome dado à praia e ao rio que, nascendo às suas proximidades, corta a Ilha do Mosqueiro de noroeste a sudoeste, é registro da presença de nossos ancestrais morobiras, os pacíficos tupinambás que se dedicavam à pesca e ao moqueio.
Entretanto, esse topônimo ganhou outra explicação de cunho popular: estória jocosa bem ao gosto do mosqueirense, fielmente captada pelos versos do nosso poeta repentista Manoel Gomes da Silva e registrada em sua literatura de cordel:


“A praia do Murubira
É a praia da emoção.
Dizem que lá morreu
Um tal de Manoel João,
Que era neto legítimo
Do perigoso Lampião.


O tal de Manoel João
Tinha um filho holandês
Que se casou com uma jovem
Filha de um português,
Que se banhava na praia
Sempre uma vez por mês.


Um dia ela ia descendo
Pra na praia passear
E viu o sogro no muro
E viu que o muro ia virar.
E gritou: o muro bira!
Ainda pode te pegar.


E foi desde aquele dia
Que este nome pegou:
Praia do Murubira
Todo mundo o consagrou
E até em nossos dias
Este apelido ficou.”

FONTE: Gomes, Manoel. As Mais Belas Praias de Mosqueiro e História do Círio de N. Srª do Ó. 2006. Estrofes esparsas..

clip_image002
Praia do Murubira em 1976 (FOTO: Augusto Meira Filho)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

JANELAS DO TEMPO: FIGURAS INCONFUNDÍVEIS

Autor: Augusto Meira Filho

Sempre dissemos que há uma fisionomia mosqueirense predominante na Ilha”. Há gente com cara de mosqueiro, cuja presença recorda, imediatamente, as eternas lembranças do balneário famoso do paraense. Comecemos pelo serviço judiciário em mãos daquela figura especial de Theóphilo de Araújo Lameira, já falecido, e a de seu herdeiro, do nome e do lugar, Amilton Quaresma Lameira. Do foguista (ao tempo da Usina de Eletricidade) Raimundo Valentim e a do seu Chefe: Joaquim Agrassar. O Cecy (com seu posto) que poucos conhecem como Raimundo de Assunção da Cruz.

O conhecido Mário “Maracujá” que ninguém sabe ser Mário Pontes de Carvalho. Pois o “Sete” – carregador estimado e amigo – chama-se Raimundo Costa.

O Lemuel Lopes da Paz com sua mercearia-restaurante e o Rufino Magalhães, vendedor de caldo de cana. E José Maria Ribeiro que é o atual proprietário do antigo Bar “Elite” do Antônio – “aguadeiro”. Impossível faltar uma profunda referência política: a das irmãs Dora com sua corajosa Francisca Dora Puga.

Também assinalar a patriótica presença, na Vila, de Marieta Contente Melo, operosa dona da Farmácia Moderna, seguida de Rosa Custódio sua similar de Nossa Senhora do Ó.

Recordamos o amigo prestimoso Manoel Joaquim Luna e o Orlando, que começou revisor de ônibus e acabou como comerciante em seu Bazar, ao lado da Igreja, sempre delgado, solícito, amável.

E lá para as nossas plagas no Diamante, valerá ressaltar o Cabo Victor, emérito pescador, o Pantoja, o Peroba, o Zito (surdo), o Matias, o Aurino, o Levindo. Também a simpática D. Georgina (baiana), com seu velho André, o maior caseiro da Ilha, com a Joana e a Maria, suas filhas. Também seu filho Raimundo (calango) que um dia salvou de afogamento no Farol o nosso colega Alfredo Boneff. Destaquemos o compadre Capitulino Rabelo e sua mulher Raimunda. A filha Elza, do primeiro matrimônio, casada com o Tertuliano Souza, e da segunda, seus nove rebentos que cresceram à sombra dos nossos bambus e hoje progridem na cidade, alegrando e orgulhecendo seus genitores.

E o João Louchard com sua brava Maria, o Luiz Anselmo com sua Ovídia, tão conhecida lavadeira chamada de Vivi? Os Cohem, Isaac (empregado do Zacharias e honrado serviçal) e o irmão, macumbeiro, vendedor de tapioquinhas, o Daniel, vizinho e contador de prosa. O velho marimbeiro Amâncio, companheiro da Brígida Lamego. Esta Brígida ainda reside no mesmo lugar, com seis filhos três claros e três escuros. Mulher admirável! Pobre, humilde, vivendo em uma casinha de taipa, coberta de telha, ao lado do atual Netuno Iate Clube. Não tem nada além desses filhos. Trabalha, luta, cria, serve a uns e outros, lava roupa e vai levando a vida como Deus manda. Um dia – nas férias grandes de julho de 1977 – achou na estrada, em frente a seu terreno, uma carteira cheia de dinheiro e de papéis. E viu em cartão preso no seu interior o nome e o endereço de seu proprietário. Procurou uma vizinha séria, a Elza filha do Capitulino, morador no Diamante, e não sossegou enquanto não convenceu a amiga de mandar uma de suas filhas, a Maria, acompanhando-a a Belém, para fazer a entrega da carteira achada.

Indescritível, depois, vendo-a relatar o espanto do moço da cidade em receber seu objeto sem nada lhe faltar. Gratificou generosamente Brígida, agradecendo seu gesto, afirmando, mesmo, que não mais tinha esperança de ressarcir sua carteira, sobretudo, valiosa, pelos documentos que continha. Ao despedir-se fez questão de afirmar, com eloquência, que atitudes como aquela há muito haviam desaparecido da face da terra. O encontro foi emocionante, conforme nos contou Maria, filha de Elza, acompanhante de Brígida a Belém só com o fim de entregar a seu verdadeiro dono, o achado acidental, no Mosqueiro. Fazemos questão de assinalar o fato, pela sua grandeza e significação.

Relembramos o Adelino, erguendo sua casa com sacrifício, em frente à nossa e que possuía uma grande qualidade: dava, ou melhor, aplicava injeções de qualquer tipo e era enfermeiro. Com a meninada em casa, longe de Belém, os melhores serviços nos prestaria, sempre com boa vontade e simpatia. Era irmão de D. Adelaide, esposa do mestre Zacharias.

E por falar, outra vez, no Zacharias, devemos recordar aquela figura magra, esperta, segura e trabalhadora, de dona Maria, a sogra do dono da casa, que madrugava, acordando hóspedes, preparando café e dando início cedo à sua luta no Hotel. Trabalhou muito toda a vida e morreu de velhice, sem moléstia!

Havia, no hotel, também, um empregado cabeçudo (doente) e uma cozinheira tão feia que alguém dissera (sic) serviria para “pousar” no atelier do artista brasileiro Cândido Portinari...

O Capitulino Rabelo não era do Mosqueiro. Nascido na Vigia, contudo, se instalara na Estrada do Diamante (quando ainda era do Pau-Grande) onde o conhecemos. Teve uma filha, com a 1ª. Esposa Adélia Farias. Com a 2ª. Consorte, vieram nove rebentos: Wivaldo, Osvaldo, Aurivaldo, Lourival, José, Laurinéia, Inez e Lucineide, esta última nossa afilhada.

Excelente criatura humana, serviçal de absoluta confiança, sério e responsável, ainda hoje nos serve com dedicação e verdadeira amizade.

Também vemos na pessoa da Antônia (filha de Luiz Anselmo), casada com outro Zacarias, uma criatura dinâmica, braço direito do esposo, ambos explorando na praia do Farol um pequeno pavilhão, que serve de tudo ao veranista. Não sabemos se ele continua, ainda, como funcionário municipal. Residem às proximidades do campo de aviação e do novo “Camping” recentemente instalado pela Prefeitura, no correr da Av. 16 de Novembro, à ilharga daquele campo. É uma das novidades da Ilha, instituído agora, na administração do Prefeito Ajax Carvalho de Oliveira.

Na prainha do Farol, próximo já à Praia Grande, pontificava o Caranguejo. Tinha uma bodega, negociava ao pé da estrada e era muito procurado porque vendia peixe fresco, toda vez que suas barcas apanhavam um bom filhote nas marés altas. Com uma buzina feita de chifre de boi, anunciava aos quatro cantos do bairro a chegada do produto. Também possuía carroças, para o transporte de material de construção e outras cargas.

Residindo bem perto do nosso Diamante, muitas vezes, apelávamos à sua camaradagem, para um passeio pitoresco à Vila, pela “carroça-da-linha”!

Aquela região da Ilha é muito habitada e construída. Nos velhos tempos, a Praia Grande foi centro social da Vila, à mesma época em que as festas na Vila Faneca ficavam marcadas na história do lugar. Entre esta Faneca e a casa do estimado amigo Chedem Bitar se situava o terreno imenso, verdadeiro bosque, residência dos Maristas e que ali se reuniam nas férias ou fins-de-semana. Amigos, todos, muitas vezes os visitamos para um alegre encontro, à sombra do belo arvoredo, saboreando vinho de missa e alguns quitutes regionais. Recordamos as figuras dos franceses Edmundo Dansot e André Delpuech, os mesmos que, um dia, nos fariam a surpresa de levar ao Diamante o Bispo D. Ives Bossière que, de passagem por Belém, visitaria a aconchegante Vivenda dos filhos de Champagnat, na Praia do Bispo. Entre uns e outros a casa do Noronha, o construtor oficial do Mosqueiro. Na passagem, o tradicional retiro Escalhão de um velho português, amigo do Mosqueiro e dos melhores.

Na Quarta Rua, residia o amigo Luiz Lima, pioneiro de nossa maravilhosa avançada a pé de Belém à Ilha, em 1959, que já relatamos. Dona Lúcia, o afilhado Antonio Maria, sempre dispostos à caminhada pela estrada até o Farol, onde aproveitavam as lindas manhãs do Mosqueiro, num delicioso banho no Farol e, depois, invariavelmente, passavam no Diamante para um drinque e um dedo de prosa. Velhos tempos, bons tempos, belos tempos, quando o Mosqueiro só era mesmo uma ilha. Na casa avarandada da 4ª. Rua, o doutor José Luiz Sousa Ferreira, quase sempre, reclamava o silêncio, a paz eterna, o “nada-que-fazer” e se dispunha com a família numerosa a nos responder:

-- Estou cansado disto aqui. Só se faz dormir, tomar banho de praia, comer e dormir de novo. Não aguento mais o chamado dos meninos, para ir lá fora e ver mais uma vez o “cruzeiro do sul”, ponteando no céu como uma dádiva. Ver toda noite, ou melhor, todas as noites o cruzeiro cintilante, anunciando os caminhos do sul. Nada mais. Uma sueca ligeira e toma rede até amanhecer. A viagem para a praia, o retorno no sol quente abrasando a sola dos pés, o desgaste físico do percurso de perto de uma légua, e eis umas férias mortificantes para quem não sabia ter espírito esportivo.

Ma para o grande dermatologista, o Mosqueiro era a liberdade, a fuga da luta citadina, do inferno dos hospitais. Ele sempre soube ser um notável mosqueirense, mesmo quando se mudou para o Chapéu Virado, em seu tranquilo apartamento no Lilian-Lúcia.

clip_image002

Viagem pitoresca em carro de boi (FONTE: Augusto Meira Filho)

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 385, 386, 387 e 388.

domingo, 9 de setembro de 2012

MEIO AMBIENTE: ILHA DO MOSQUEIRO: TENSORES AMBIENTAIS NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO

Autor: Pedro Leão

clip_image002

Os tensores ou estressores ambientais podem ser descritos como qualquer fator ambiental que retira energia de organismos, restringe o crescimento e a reprodução deles, ou perturba o equilíbrio de um sistema mobilizando seus recursos e aumentando seus gastos energéticos (ODUM, 1988).

Nos ambientes aquáticos e seu entorno, muitos tensores ambientais têm se manifestado, decorrentes da supressão das matas ciliares, da excessiva exposição do solo associada a práticas agrícolas degradadoras, da introdução equivocada de espécie animais e vegetais, do lançamento de esgotos e lixo nas águas dos rios, da exploração inadequada de areia e argila, e em muitos casos, da falta de planejamento e cuidados com a malha viária local, causando carreamento de particulados para os leitos dos rios.

clip_image004

Estuários apresentam características ambientais únicas que resultam em elevada produtividade biológica. Esses ecossistemas desempenham papéis ecológicos importantes, como exportadores de nutrientes e matéria orgânica para águas costeiras adjacentes, habitats vitais para espécies de importância comercial, além de gerarem bens e serviços para comunidades locais.      .

Assentamentos urbanos e o desenvolvimento de atividades industriais, portuárias, pesqueiras, de exploração mineral, turísticas, entre outras, sem planejamento adequado, vem colocando em risco os atributos básicos dos estuários brasileiros e ecossistemas associados; resultando na diminuição da qualidade de vida da população local.

clip_image006

Tensores de origens antrópicas vêm pondo em risco os ambientes naturais e a vida no Estuário Amazônico, sendo este considerado uma das regiões mais produtivas do país, estimando-se que cerca de 40% da produção brasileira seja originária desta área. Esta riqueza faz com que o local seja um grande polo industrial de exploração de recursos pesqueiros.

As ilhas próximas à cidade de Belém como Combu, Onças, Mosqueiro e Outeiro, situam-se na área intermediária do estuário amazônico, ou seja, uma área de transição entre a água doce (ao sul da Baía de Guajará e à direita do Rio Guamá) e a água salgada (ao norte de Belém na altura da cidade de Colares). Dentre os ambientes que a integram estão os rios, igarapés, as florestas, a várzea, as baías, os campos alagados e as praias das ilhas.

clip_image008

Face a sua localização no Estuário Amazônico, a Ilha de Mosqueiro é influenciada ambientalmente pelo oceano atlântico.  A influência marítima do atlântico afeta as águas estuarina (salinidade), sobretudo quanto ao estoque pesqueiro e a dinâmica do sistema sustentável de pesca artesanal local.

Ao localizar-se no estuário Amazônico, a Ilha de Mosqueiro nas últimas décadas, vem sofrendo influência e recebendo impactos sócio-culturais e históricos de todas as ordens e em ritmo acelerado no seu espaço de ocupação e produção, pela ação de diversos atores sociais, pelo controle, uso e gestão de seus recursos naturais.

clip_image010

Na ausência de um plano de desenvolvimento local sustentável (PDLS) para as ilhas de Mosqueiro e políticas de gestão ambientais compartilhadas induzidas pela administração regional de Mosqueiro e em parcerias com outros órgãos de gestão e fiscalização em outras esferas, garantindo na forma da lei, uso, controle, promoção e gestão dos recursos ambientais, potencializam-se e desenvolvem-se tensores antrópicos na ilha, sobretudo na faixa litorânea e nos corpos d’águas que ali deságuam, trazendo fortes passivos ambientais ao local e comprometendo direta e indiretamente a qualidade de vida de sua população.

Baseado em literaturas da área cientifica e em observação in loco na Ilha de Mosqueiro, apresentamos o quadro abaixo, demonstrando os principais tensores, seus impactos e prejuízos.

clip_image012

Diante de sua dramática realidade, sobretudo sócioambiental, qual e como será o futuro desta comunidade tradicional da Amazônia, a bucólica Ilha de Mosqueiro?

clip_image014

Depende da responsabilidade de cada um... na vivência do presente e na construção de um futuro ambientalmente responsável para as gerações futuras! Moradores, visitantes e poder público, sobretudo da administração pública local!

clip_image016

REFERÊNCIAS:

Considerações Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável da Atividade Portuária: uma análise da interface porto-estuário. In.:www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/rct20art12.pdf

FIDELMAN, P.I.J. Impactos causados por tensores de origem antrópica no sistema estuarino do rio Santana, Ilhéus, Bahia.

www.aba-agroecologia.org.br/ojs2/index.php/.../6639

Procedimento Administrativo N°. 1.23.000.002652/2007-11- MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Procuradoria da República no Pará.

www.prpa.mpf.gov.br/news/2011/AR_Poluicao...Mosqueiro.../file

www.basa.com.br/.../Revista/.../Revista_Amazonia_9_Completa.pdf

www.ibcperu.org/doc/isis/13408.pdf

FONTE: http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2012/09/ilha-de-mosqueiro-tensores-ambientais.html

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2011/07/ilha-de-mosqueiro-praticas-de-pesca.html

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2011/09/pesca-na-ilha-participacao-das-mulheres.html