segunda-feira, 28 de março de 2011

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: CHINCOÃ

 

Dizem que, ao se aproximar as seis horas da tarde, principalmente nos locais ribeirinhos, não se deve brincar com os pássaros, pois algo muito ruim pode acontecer.

Na beira de um rio morava um senhor chamado Benedito, que trabalhava fazendo matapi. Certo dia, por volta das cinco e meia da tarde, um lindo pássaro chamado chincoã, que estava de passagem por aquela mata, passou bem próximo da casa deste senhor, cantando sua doutrina: “chincoã”, “chincoã”, “chincoã”; o senhor começou a xingá-lo e quando ele voltou de novo cantando a mesma doutrina, o homem falou:

-- Se fosse homem, vinha me ajudar.

E o chincoã se transformou em um lindo rapaz e pediu um copo de água ao seu Benedito, quando viu que o senhor estava precisando de ajuda e falou:

-- Posso ajudá-lo?

-- Sim.

E o rapaz começou a fazer matapi. Quando chegaram as seis horas da tarde ele parou de fazer e disse:

-- Eu já acabei. O senhor ainda tem alguns matapis para fazer?

E seu Benedito falou:

-- Não.

-- Agora estenda as mãos.

Ele estendeu e o lindo rapaz cortou as mãos de Benedito, dizendo:

-- Isso é para o senhor nunca mais mexer com os pássaros.”

(Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, p. 132)

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