Autor: Claudionor Wanzeller
Sou rio,
Mas não rio
De dinheiro,
De lágrimas.
Rio – isso sim! –
Da insensatez humana.
Sou sério, mas não me levam a sério.
Sou tua estrada que caminha.
Tenho vida e sou a tua vida.
Nasço como tu nasces,
Cresço como tu cresces
E busco a amplidão como tu buscas,
Mas posso morrer como tu morres.
Se durmo tranquilo em meu leito,
Posso sonhar em ser mar.
Mas, embriagado pelas águas ardentes das enchentes,
Posso sonhar os pesadelos que tu vives.
E, nesses longos e inesperados pesadelos,
Posso levantar-me trôpego, desnudo e sonolento
Do meu leito
E rolar, às vezes em formidável fúria,
Pelo chão de várzeas do meu quarto.
Afinal, estou no meu íntimo espaço!
Aqui posso ser livre – pelo menos aqui –
Já que me prendes muitas vezes em tuas barragens
E me escravizas para mover tuas usinas
E me sujas com teu lixo e teus dejetos imundos.
Feito à semelhança de Deus tu foste,
Mas deus não és!
Tudo queres, mas nem tudo podes.
Se quiseres conviver comigo,
Acostuma-te com meu ronco perturbador
E com meu arranco assustador
Ou muda-te para terras altas.
Sou rio
E sorrio.
Continuarei a ser rio
E a rir da tua natureza humana
Que não quer ser Natureza.
Praia do Marahu: o rio reclama o seu espaço (FOTO: WANZELLER)
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