JANELAS
DO TEMPO: MOLECAGENS DO PASSADO 4
O SINO
DO OSCAR STEINER
Narrativa de Joseph e
Alexandre Farah (entrevista concedida a Coely Silva):
“Agora vou contar rapidamente o caso do sino
do Oscar Steiner. O Oscar Steiner era um homem muito fino, tradicional e
descendente de família parece que polonesa. Numa dessas viagens do Almirante
Alexandrino, nós demos inusitadamente com uma roda de irmãos maristas, senhores
da sociedade todos reunidos diante de um grande sino, e o Sr. Steiner no meio,
de vez em quando dava uma batidinha: bléim... bléim.
Era um sino muito bem decorado, com
gravações, da família dele, que ele tinha recebido da Bélgica e ele ia colocar
na casa dele, e vinha exibindo o brasão da família, e isso para alguns irmãos
maristas que eram estrangeiros, como o Paulo Beckmann, um franco-belga, irmãos
Oscar, Geraldo, Clóvis... como era aquele cabeçudo? Ah, irmão Hermann e vários
senhores. Naquilo atraiu a nossa curiosidade e, quando o navio chegou, o Oscar
Steiner mandou o carregador 7 – era tradicional, cada família tinha o seu
carregador preferido – e na viagem já viemos botando a nossa fértil imaginação
em funcionamento, para aproveitar aquele momento que se apresentava, o que nós
iríamos fazer com aquele sino. A primeira coisa que ele fez foi instalar o sino
na casa dele, com o auxílio do filho, o Rodolfo Steiner, colocou na porta da
mansão dele, e badalou bléim, bléim, e chamava aquelas famílias e comunicava a
chegada do sino.
Dizia que quem quisesse falar com o Dr. Oscar
Steiner que tocasse o sino. Quando foi à noite o Sr. Steiner, em companhia da
nora, Ruth Ribas de Faria e do filho, a família toda, sua esposa, dona
Arquimina, que foi talvez a mulher mais bonita que passou pelo Pará, e mais
elegante, hoje ela está no Rio. Então eles sentavam naquele serão familiar,
deliciando o sino. Nós passávamos, olhávamos... Altas horas da noite, com a
costumeira turma, nós fomos lá e o Joseph, com muito jeito, amarrou uma linha –
no Hotel do Zacharias, era o Rui, o Hugo, eles arrumaram um novelo grande de
linha – no badalo do sino e com muito jeito puxamos aquilo pra praia, e várias
famílias vinham assistir, as minhas irmãs.
Nós convidamos várias famílias para assistir,
tinha arquibancada, a galera.
Umas nove e meia pras dez horas começamos a
bater no sino, bléim, bléim, aí o seu Steiner, de óculos, lendo o jornal, aí
ele tirava o óculos, olhava na frente e não enxergava nada, ia até lá, olhava e
voltava, tornava a se concentrar na leitura do jornal. Daqui a pouco, já
estafado, indignado, mandou que toda a família entrasse, apagou as luzes, e nós
percebemos ele olhando entre as frestas da janela. Tornamos a bater, e ele foi
lá, atrás, chamou os empregados, o Anselmo, o Luís (ele tinha fazenda no Marajó
e um número enorme de empregados) que se colocaram estrategicamente entre os
arbustos, que era pra pegar aquele bandido, que estava desacatando sua família.
Quando ele botou os empregados, nós ficamos com medo e então descemos a praia e
ficamos próximos do hotel do Zacharias, observando a movimentação dos capangas
do seu Steiner.
Inadvertidamente vem passando uma família,
uma senhora que saía da casa do Sr. Oscar Santos e que morava na praça do
Farol, e mais duas moças. Elas tropeçaram no fio do sino, aquilo amarrou no pé
e começou a badalar o sino, e os empregados do seu Steiner saíram esbofeteando,
pá, pá e elas gritando “ai, ai, mas o que é isso?” e o se Steiner já vinha
gritando: “seus patifes, estão batendo o meu sino, não dão sossego pro meu sino”,
com a mão estendida, gritando, e quando ele foi chegando perto, e reconhecendo
a senhora, ele “ó minha senhora, queira me desculpar, foi um enorme equívoco,
esses meus empregados, não tem cabimento”, e enxotava os empregados: “vão
embora, vão embora!” E ele resolveu então tirar o sino e guardar na mesma noite
e nunca mais se ouviu falar no sino do Sr. Steiner.
FONTE: Silva Coely. Especial
de Férias de O Estado do Pará, de
julho de 1978.
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