Texto construído a partir de narrativas dos moradores da Comunidade de Caruaru e transcrito pela Profª. Leila do Socorro A. Cunha.
“Certo homem chegou no seu sítio doido para ver sua mulher e a mocinha sua filha. Elas estavam lidando com fogo, arranjando os peixes em cima do jirau. A mulher o viu chegando de longe e foi falando:
-- É, bem, chegando em boa hora, vai comer um peixe assado.
Nisso a mocinha foi saindo de mansinho, se escondendo, mas o homem percebeu sua ausência e quis saber:
-- O que a menina tem? Está doente?
-- É coisa de menina, porque você demorou demais a chegar.
A mulher ficou trabalhando e pensando num jeito de contar para o marido a enfermidade da menina, e não sabia como, mas tinha que contar. Nessa hora, o homem chamou a mulher para se deitar, a mulher foi e aí desembuchou de uma vez:
-- Sabe de uma coisa, meu bem? O boto pegou a nossa filha.
-- Que é isso que tu estás me dizendo, mulher?
-- Foi ela mesmo que me disse.
-- Você não botou reparo nela, já está com filho na barriga.
-- Não pode ser, a minha filha não, eu bem que avisei, mas ela não tem juízo, vivia na beira do igarapé. Taí, o Boto fez festa e não foi só ela; a filha do compadre também está prenha do boto.
O homem ficou com tanta raiva do Boto e não quis saber de mais nada.”
(Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, p. 68)
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