terça-feira, 1 de maio de 2012

JANELAS DO TEMPO: PARTIDARISMO NOS PRIMEIROS TEMPOS DO DISTRITO

Autor: Cândido Marinho Rocha

A Vila possuía também tipos originais, populares, frutos da época, envolvidos pela bulhenta política partidária. Um destes, de nome Manuel Jovino, homem de cor, baixote, magro, era destemido capanga de um dos chefes políticos locais. Certa vez, obrigou um Coronel da Guarda Nacional a dançar nu na própria residência. Manuel Jovino encontrou-o escondido embaixo da cama, não o escandalizando devido aos aflitos pedidos da esposa. Mas cantou e forçou o homem a cantar também ali no quarto, em presença da mulher:

 

Eu estou nu

Não estou vestido

Nem remendado

Nem remendado

Estou dançando

Pra não morrer

Pra não morrer

Jovino era laurista e o tal político era conservador, dois grandes e intransigentes partidos que movimentaram a vida no Pará. Ninguém escapava: era laurista ou conservador. A punição deveu-se à circunstância de ter o homem declarado, no apogeu da campanha eleitoral, que se perdesse “tocava fogo no Mosqueiro”. Perdeu, foi punido, retirou-se da Ilha, onde nunca mais foi visto.

Como pelo resto do país, assim era, nos lugarejos distantes, o exercício da política partidária. Aquele que perdia a eleição perdia também o direito à cidadania, ao respeito, às amizades, pois tudo lhe era negado até o simples direito de fitar pessoas, na rua. Tudo se transformava em zombaria, insulto, represália, vingança, pancadaria. Na Ilha, todavia, um humor sombrio mas revelado claramente evitava crimes. Uma surra, um purgante, uma carreira, um susto, certa frieza social, exclusão do condenado ao ostracismo até nas participações de festejos religiosos como Juízes, Mordomos, Leiloeiros.

FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALANGOLA EDITORA. Belém-Pa, 1973- pp. 30 e 31.

MOSQUEIRANDO: lauristas: assim eram chamados os partidários de Lauro Sodré em oposição aos lemistas, simpatizantes de Antônio Lemos. Este e aquele foram os chefes das duas grandes facções políticas que dividiam o poder em Belém e no Pará, na época citada no texto.

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