Texto construído a partir de narrativas dos moradores da Comunidade de Caruaru e transcrito pela Profª. Leila do Socorro A. Cunha.
“No Sítio Esperança morava um casal. A mulher era doméstica e o homem era sapateiro. O homem trabalhava o dia todo e chegava cansado em sua casa. Sua esposa dizia:
-- Querido, venha jantar, pois precisa dormir cedo que estás cansado.
Ele obedecia e depois iam deitar junto, mas ela deixava ele dormir e saía para virar Matinta Perera. Numa bela noite ele desconfiou dela e fingiu que estava dormindo e ficou observando a mulher.
Ela levantou e foi até o quintal atrás de uma árvore onde havia uma bacia cheia de bruxaria. Enquanto isso, seu marido estava observando. Ela tirou a roupa e passou o banho e virou uma Matinta Perera.
Ela falou:
-- Por cima de tudo quanto é pau!
E saiu voando.
Seu marido fez o mesmo e disse:
-- Por baixo de tudo quanto é pau!
E saiu se batendo todo.
Ele chegou numa festa onde só tinha Matinta Perera e a música da festa era só “fit, fit, Matinta Perera!”
Uma certa hora acabou o vinho, alguém teria que ir roubar no armazém. Justamente eles dois foram o casal escolhido e saíram no rumo do boteco mais perto.
Só que quem vira Matinta Perera não pode chamar o nome de Deus. O casal entrou no boteco e encheu os garrafões de vinho, mas a tampa do barril arrancou e começou a derramar. Seu marido “desaparecido” disse:
-- E agora, meu Deus?
Ela disse:
-- Chamaste ariú, ficaste nu.
Ela pegou o garrafão de vinho e voou até a festa, mas ele ficou nu dentro do boteco sem poder sair.
Quando amanheceu, o dono do boteco abriu as portas e viu aquele homem nu sair correndo. Ele correu atrás gritando:
-- Pega ladrão, pega ladrão!
O homem pediu:
-- Pelo amor de Deus, pára, pára!
Então o homem parou para escutar o que estava acontecendo. Ele contou sua estória e quando acabou de contar, o dono do boteco deu roupa e comida e o Matintão não sabia voltar para sua casa, pois ele tinha atravessado sete cidades.
Moral da estória:
A gente nunca deve seguir os passos das outras pessoas, mesmo porque podemos cair no desespero.”
FONTE: (Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, pp. 97 e 98)
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