Localizado na Ponta do Farol, antiga Ponta-do-Chapeo-Virado, área onde, em 1872, fora instalado o primeiro Pharolete, o Hotel Farol é o mais antigo em atividade na ilha (desde 1931). Aos pés da baía do Marajó, sua posição geográfica privilegiada brinda seus hóspedes com uma belíssima vista do rio-mar, da praia que contorna a enseada de água doce e da pequenina “Ilha dos Amores” ali, bem perto, talvez a lembrar para sempre a história de amor vivida por Zacharias e Adelaide, naquele recanto paradisíaco, muito bem registrada no ano de 2006, por Lidiane Campos em “Testemunha ocular da história de Mosqueiro”:
Dr. Zacharias Mártyres Dona Adelaide de Almeida
“De origem lusitana, ela nasceu em Lisboa, no dia 05 de dezembro de 1908. Filha de Maria do Patrocínio Almeida e de José Manoel de Almeida, foi batizada na Igreja da Ajuda, em Portugal. Mas é em Mosqueiro que a história dela se completa. Chegou a Belém aos nove anos de idade, com o tio paterno Júlio de Almeida – detalhes que faz questão de lembrar. A viagem até a capital do Pará foi difícil. Foram 25 dias no navio Parquet Hillary onde ela só “via céu e mar.”
Aos 14 anos de idade, Adelaide conheceu o grande amor de sua vida: o doutor Zacharias Mártyres – doutor, aliás, tratamento indispensável para falar do marido. Eles se conheceram em uma tinturaria que pertencia à tia de Adelaide. Depois desse dia, Zacharias passou a freqüentar assiduamente o local. Vinte e quatro anos mais velho, dona Adelaide nem desconfiava que o motivo das visitas era apenas um: ela. No princípio, achou que fosse interesse na tia. Mas depois descobriu que ele tinha outras intenções: namorá-la. Uma vizinha, inclusive, fez o alerta: “Não é com tua tia... É em ti que ele está interessado.”
A partir daí, começaram a viver um grande amor. Quando ela completou 17 anos, ele fez o pedido de namoro e casamento ao mesmo tempo. A princípio, houve resistência da família dela – Zacharias era mais velho e estava separado. Mas o casamento aconteceu em 1929. Desse fruto matrimonial, nasceram 15 filhos. Para quem pensa que é muito, além desses, Adelaide adotou mais 12. Depois do casamento, eles ainda viveram dois anos em Belém. Mas, logo depois, escolheram o arquipélago de Mosqueiro, na praia do Farol, para morar e criar os filhos.
A princípio, Adelaide não sabe explicar muito bem, mas desconfia o porquê dessa mudança. “Eu suspeitava que ele tinha muito ciúme e queria me esconder aqui”, acredita. Quando chegaram a Mosqueiro, foram morar em uma pequena casinha, onde hoje é o centro do Hotel Farol. A moradia mais próxima do local era a casa do faroleiro.
Desde a sua chegada, o marido decidiu desbravar o local de ponta-a-ponta. Com o auxílio de 30 homens, construiu uma fazendinha, na qual criava cabras, cavalos, porcos e galinhas e transformou em bosque o que era mata virgem. Depois de muita tentativa, veio a luz elétrica, oriunda do Chapéu Virado. Para o consumo de água, tiveram que furar quatro poços, na esperança de achar um bom lençol freático.
Zacharias, que era advogado, tinha que trabalhar todos os dias em Belém. Ia de navio, pois na época, não havia ponte ligando Belém a Mosqueiro. De charrete, Adelaide sempre o levava até o trapiche da Vila. O percurso era muito arriscado, já que não havia estrada. Mas hoje, segundo ela, já existe outro caminho menos perigoso.
Para criar os filhos, Adelaide contou com a ajuda da mãe, que teve quatro filhos, se separou do marido e veio morar no Brasil. As crianças viviam livres: ”Eu só dizia para eles: ali é um buraco. Se cair, pode morrer”.
Hotel – Adelaide conta que o marido fazia muita propaganda do local onde moravam. Curiosos em conhecer a ilha, os amigos se hospedavam na casa de Zacharias. A partir disso, ele construiu um espaço para abrigar os hóspedes, batizado de “Casa dos Amigos”. Era o princípio do Hotel Farol. Mas Adelaide relutou em aceitar a ideia. “Ele insistiu tanto e aí foi construindo, sem ter recebido qualquer recurso. Com dinheiro próprio”, conta.”
Hotel Farol (FOTO: Gerlei – 2010).
Segundo o site oficial do hotel, aquela ponta de praia “sediaria um simples, porém ambicioso complexo hoteleiro para a época, o qual seria a segunda hospedaria da Ilha do Mosqueiro até então.
Essa construção deveria se assemelhar a um grande transatlântico de onde a natureza como um todo pudesse ser admirada de seu convés, acompanhada pelo marulhar das ondas, tal a proximidade da água; os cantos arredondados do prédio seriam para quebrar a força incessante do vento naquela ponta e a arquitetura em si, sob a influência européia, com a qual Zacharias se identificava, possibilitava sob vários ângulos, o desfrutar da paisagem: de frente para a praia, o amanhecer; de frente para o farol de navegação, o crepúsculo; de frente para a Ilha dos Amores, a Ilha do Marajó; e de frente para a praça, mas com a segurança de "estar em terra".
Hotel Farol (FOTO: Eduardo Anselmo -2010).
Na década de 40, com a nova cozinha já dentro do hotel e a ala superior concluída abrigando apartamentos, quartos e banheiros externos, também à moda européia da época, a "casa de amigos", de fato, se tornou um hotel - chamado então Balneário Farol - que passou a ser freqüentado pela sociedade belenense que lá passava a época de verão, e até mesmo por oficiais militares americanos sediados na base aérea de Val-de-Cans na época da Segunda Guerra.”
Falando sobre a estrutura do hotel descrita por Adelaide, Lidiane Campos acrescenta: “Segundo ela, o salão nobre foi preparado para receber um cassino. “Mas acabou não acontecendo, porque o governo brasileiro proibiu o jogo”, explica. Mesmo assim, Zacharias logo arranjou outra função para o espaço. Feito de acapu, pau-amarelo e pau-nobre, o assoalho servia de palco aos visitantes que participavam de saraus, promovidos pelos filhos. “Os jovens dançavam valsa, quadrilha francesa... Mas com o passar do tempo, os homens só queriam saber de beber e esqueciam de dançar com as moças. Foi então que o meu marido cortou os saraus”, relembra Adelaide.”
Nas palavras de dona Adelaide, Lidiane Campos pôde constatar a importância do hotel para a história da ilha: “Inicialmente, o hotel era frequentado por muitas famílias de posse – Conduru, Athias, Meiras, Álvares, dentre outras. “Com o passar do tempo, essas famílias foram adquirindo as próprias casas em Mosqueiro, o que contribuiu para a ocupação da ilha” comenta, fazendo referência ao papel histórico que o hotel exerceu para a ilha.
Durante esse período, ela teve oportunidade de presenciar vários fatos marcantes. Um deles foi a passagem de um dirigível sobre a baía, em frente ao hotel. Na construção de Val-de-Cans, no final da década de 50, acompanhou a chegada dos hidroaviões, que traziam os ingleses. “Eles aportavam na praia do Farol e eram recebidos no hotel. Repousavam, tomavam café e partiam”, afirma.”
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Com o falecimento do Dr. Zacharias em 1958, sua esposa Dona Adelaide e filhos assumiam seu sonho. Em sua administração, Adelaide deu início à construção de um prédio de 12 faces, mais conhecido como “redondo”, que instalaria novos e modernos apartamentos tipo suíte, com sacada para praia.
Em 19 de dezembro de 2008, falecia Dona Adelaide, que completara 100 anos no dia 05, passando assim, a administração do complexo a seus filhos e a missão de continuar o sonho do casal, mas sem esquecer o clima familiar típico, clima este que faz, até hoje, clientes tornarem-se amigos, com os quais os herdeiros têm o prazer de conviver a gerações.
FONTES:
Campos, Lidiane- “Testemunha ocular da história de Mosqueiro” in __ Revista Ilhas Amazônicas: o arquipélago de Mosqueiro – parte 1, Ed. 01, JAN 2006)
http://www.hotelfarol.com.br/historia.aspx
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