quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A ILHA CONTA OS SEUS “CAUSOS”: A MENINA MOÇA QUE NAMORAVA O BOTO

(Texto construído a partir de narrativas dos moradores da Comunidade de Caruaru – ilha do Mosqueiro – e transcrito pela Profª Leila do Socorro A. Cunha)

“Era uma vez uma menina moça, bonita e curiosa. Gostava muito de um rapaz que aparecia muito, de vez em quando e era bonito demais. Vinha sempre de noite, sozinho, misterioso, e eles ficavam namorando a noite inteira. De manhã ele sumia. Certa noite, a lua estava muito clara, dava para adivinhar coisas. Depois de muito satisfazer seus desejos, a moça ficou alisando o corpo do rapaz e notou que debaixo dos cabelos tinha uma barbatana de peixe. Muito ingênua, ela perguntou:

-- Por que usa isso aí, enfeitando o seu cabelo?

Ele respondeu:

-- Isso é que falta a muita gente que morre afogada.

Depois dessa noite o Boto saiu da maloca e nunca mais voltou. A moça ficou triste e passava dias inteiros chorando na beira do igarapé, com o seu filho. Ficava vendo os botos que passavam, e as águas que subiam e tornavam a baixar.

Uma vez o rio encheu tanto, e foi tão depressa que ela não percebeu, não teve tempo de fugir e foram levados pela correnteza. No dia seguinte um pescador viu o Boto empurrando dois corpos para a beira; eram mãe e filho conduzidos pelo amor do boto encantado.”

(Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, p. 67)

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