A devoção a Nossa Senhora do Ó começou em Toledo, na Espanha, no ano de 656 d.C., por ocasião do X Concílio presidido por Eugênio II, bispo metropolitano, quando a festa da Anunciação foi transferida para o dia 18 de dezembro. Ao assumir o cargo, Santo Ildefonso manteve o mesmo dia para a festa, porém mudou o nome para Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria. Segundo o Padre Martinho da Silva, foi o próprio povo que substituiu o nome de Nossa Senhora da Expectação, criando a denominação de Nossa Senhora do Ó, a partir da exclamação que introduz as antífonas maiores sempre proferidas nas vésperas do Natal: Ó sabedoria do Altíssimo; Ó Adonai, guia da casa de Israel; Ó Raiz de Jessé; Ó Chave de Davi; Ó Emanuel, Deus Conosco; Ó Rei e Senhor das Nações e Pedra Angular da Igreja; Ó sol da manhã, ó sol da justiça.
Em Portugal, conforme narra Frei Agostinho de Santa Maria, essa devoção mariana teria começado em Torres Novas, por volta de 1148, época de D. Afonso Henriques, o primeiro rei português, o qual reconquistou essa povoação, que estava sob o domínio árabe. Naquele momento, uma antiga imagem de Nossa Senhora da Expectação, a Rainha dos Anjos, passou a ser venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo, com o nome de Nossa Senhora de Almonda (referência ao rio que banha aquela povoação). Em 1187, quando reinava D. Sancho I, a Santa era conhecida como Nossa Senhora de Alcáçova, por ter sido achada em uma gruta onde os cristãos a esconderam assim que a região foi dominada pelos mouros (árabes). Somente em 1212, no reinado de D. Afonso II, quando se lhe construiu um novo templo, a imagem passou a ser chamada de Nossa Senhora do Ó, que, atualmente, é a padroeira de dezessete freguesias portuguesas.
No Brasil, o culto iniciou-se em Olinda, na Capitania de Pernambuco, com o donatário Duarte Coelho. Fundada a vila, ergeu-se a Igreja de São João Batista, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação ou do Ó. Conforme descrição de Frei Vicente Mariano, tratava-se de uma imagem pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de autoria e origem desconhecidas. A tradição assinala 28 de julho de 1719 como o dia em que os olhos da imagem verteram lágrimas, fato registrado como milagre. A partir desse fato e dessa imagem, a devoção se espalhou e várias cópias foram levadas para outros lugares como a ilha de Itamaracá e São Paulo. Nas terras pauistanas, as imagens eram veneradas na casa da família de Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto, o qual fundou a igreja e o bairro bem conhecidos até hoje. Os bandeirantes, por sua vez, levaram a devoção para Minas Gerais e, em Sabará, foi erguida a magnífica Capela de Nossa Senhora do Ó em estilo indo-português.
Na Região Norte do Brasil, Nossa Senhora do Ó é a padroeira da ilha do Mosqueiro, localizada no delta amazônico. Provavelmente, essa devoção religiosa chegou com os padres da Companhia de Jesus, ordem religiosa de origem espanhola, e, mais tarde, seria difundida pela Confraria que administrava a única igrejinha do local.
A denominação de Freguesia de Nossa Senhora do Ó para as terras da ilha, dada em 1868, parece revelar a imensa relação entre o Mosqueiro e a sua Santa Protetora, uma relação mais antiga – acreditamos -- que a devoção da Irmandade local ou o trabalho catequético dos jesuítas da Missão Myribira. Talvez seja oriunda dos primeiros tempos de ocupação. Sabe-se que a devoção a Nossa Senhora do Ó teve início na Espanha e, segundo o historiador João Lúcio D’Azevedo, há fortes indícios de que aventureiros espanhóis sob o comando de Francisco de Orellana estiveram na Baía do Sol, em 18 de dezembro de 1545, exatamente no dia consagrado à Santa, conforme relato do Frei Gaspar de Carvajal, escrivão da viagem.
As imagens de Nossa Senhora do Ó revelam o seu adiantado estado de gravidez. A mão esquerda encontra-se espalmada sobre o ventre, assim como, em alguns casos, ocorre com a direita. Algumas imagens mostram esta mão levantada ou segurando um livro aberto ou uma fonte, símbolos que significam a fonte da vida. Em Portugal, as imagens eram esculpidas, geralmente, em pedra e, no Brasil, em madeira ou argila. No começo do século XIX, muitas imagens de Nossa Senhora do Ó foram trocadas pela imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição ou pela de Nossa Senhora do Bom Parto, cujas vestes de freira disfarçavam o ventre avantajado. Mudanças no culto mariano que estimularam o dogma da Imaculada Conceição e um moralismo exacerbado acabaram retirando de muitos altares aquela Santa em estado de adiantada gravidez. E foi, sob o altar de diversas igrejas, que se encontraram enterradas imagens antigas da Santa, quando, no final do século passado, ressurgiram a discussão e a pesquisa sobre o assunto.
N. Srª do Ó- Catedral de Évora, Portugal. Imagem antiga na ilha do Mosqueiro.
Nova Imagem de Nossa Senhora do Ó:
No dia 05 de outubro de 2008, às 19h30, na Igreja Matriz, abrindo a Semana Comemorativa aos 140 anos de fundação da Paróquia, foi apresentada pelo então pároco Pe. José Maria da Silva Ribeiro e abençoada pelo Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Orani João Tempesta, a nova imagem de Nossa Senhora do Ó, a qual representa uma visão da Mãe de Jesus diferente da tradicional, porém sob a luz das Sagradas Escrituras. Sem dúvida, é uma inovação no culto mariano surgida na ilha do Mosqueiro, uma imagem que aproxima a Virgem Maria de todas as mães, para as quais é exemplo de amor e disponibilidade, elementos essenciais à base familiar.
Com 60 centímetros de altura e peso de 4,194 Kg, a imagem foi esculpida em cedro pelo artista plástico Afonso Falcão de Oliveira e apresenta aspecto físico de uma jovem mulher gestante (Maria aos 15 anos), nos seus últimos dias de gravidez (18 de dezembro: uma semana antes do Natal). O objetivo é retratar a alegria da proximidade do parto. O ventre dilatado assume a forma da letra “O”, o símbolo do infinito (Ela é a Mãe do Infinito.) e dentro do ventre da Virgem Maria estava a Palavra (“E a Palavra se fez carne e habitou no meio de nós.” (Jo, 1,14). Os cabelos longos e caídos sobre os ombros são um gesto de reverência para com o Senhor, ao qual se colocou inteiramente disponível: “Eis aqui a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa Vontade.” ( Lc 1, 38).
As vestes reproduzem de forma estilizada o traje típico das jovens da Galileia. Na túnica, predomina o dourado, com detalhes em branco e pedras preciosas (a pureza e a realeza do Filho de Deus). O Sol impresso à altura do ventre simboliza o próprio Messias, de quem falavam os profetas e os evangelistas: “Levanta-te, resplandece, pois chegou a tua luz, e a glória do Senhor brilha sobre ti! Sim, as trevas envolvem a Terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti brilha a luz do Senhor, sua glória sobre ti se manifesta.” (Is 60, 1 – 2); “Festeja, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Aí vem o teu rei: ele é justo e vitorioso, humilde, ...” (Zc 9, 9); “Graças ao coração misericordioso de nosso Deus, o sol do alto nos visitará, para iluminar os que estão sentados nas trevas e nas sombras da morte, e dirigir nossos passos para o caminho da paz.” (Lc 1, 78 – 79). No manto que a envolve, o azul- marinho (a grandiosidade do amor de Deus como o mar) e o vermelho (o sacrifício de Jesus na cruz, sinal de nossa redenção). Em seu antebraço, o azul-celeste simboliza a nossa meta: o Céu, destino do cristão batizado que segue Jesus (“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!”). A imagem não traz a coroa, pois representa Maria ainda em estado de gravidez, portanto na condição humana e terrena. Vale ressaltar que a Coroação da Virgem Maria como Rainha foi realizada pela Igreja Católica somente após a sua Assunção ao Céu.
É inegável que a nova imagem da Padroeira dos Mosqueirenses é um exemplo de modernidade, de ação pastoral inovadora da Igreja na Ilha. Humanizando a Santa, aproxima-a de todas as mães e de todos nós, porque a humanidade também tem o seu lado divino e Santos são os homens que sobrepujam as forças do mal, ultrapassando as barreiras do egoísmo, da ganância, do vício, da omissão, do materialismo, do ódio, do preconceito, da falta de amor e do falso moralismo.
Igreja de N. Srª do Ó e Pe. José Maria Ribeiro.
FONTES:
http://www.fundacaonazare.com.br/voz/ler.php?id=1418&edicao=4 http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_(m%C3%A3e_de_Jesus) http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_do_%C3%9 Augusto de Lima Júnior, 'História de Nossa Senhora em Minas Gerais', Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1956, pp. 255-265. Nilza Botelho Megale, 'Invocações da Virgem Maria no Brasil', Editora Vozes, Petrópolis, 1998, pp. 351-356.
Participe do CÍRIO DE NOSSA SENHORA DO Ó (Ilha do Mosqueiro), no dia l2 de dezembro de 2010.
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