quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CANTANDO A ILHA CACHOS DE AÇAÍ

Autor: Graciliano Ramos

Eu te enrosco como um cipó que abraça

Me envolvendo neste corpo gentil

Um cão que rosna farejando sua caça

Um tucano fugitivo da fumaça

Sobrevoando este pedaço de Brasil.

 

Quando escuto este teu suave canto

E o chiado dos teus passos neste chão

O teu perfume seca o rio do meu pranto

A tua voz me desperta deste encanto

O teu sorriso afugenta a solidão.

 

Tu te embrenhas por esta noite calada

E a mim surges sem medo da escuridão

A mãe da lua canta para a madrugada

Chegas sorrindo como a flor desabrochada

E me estremeces com essa febre de paixão.

 

Minha morena no seio da mata virgem

Eu te espero no pé de taperebá

As retinas dos teus olhos me atingem

E teus cabelos negros de fuligem

Cachos de açaí onde canta o sabiá.

 

Mas me entristeces quando finda a madrugada

Fico pensando quando voltarás aqui

Desapareces na curva da longa estrada

A minha mente fica toda embaraçada

E amanheço com o cantar do bem-te-vi.

 

image

Açaizeiros (FOTO: Wanzeller, 2010).

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