quinta-feira, 18 de novembro de 2010

NA ROTA DA HISTÓRIA OS PRIMEIROS VERANISTAS

(Texto extraído do livro Mosqueiro Ilhas e Vilas, de Augusto Meira Filho)

Autor: Augusto Meira Filho

“Foi desse grande amor, quantas vezes, de amor estranho aos fundamentos da região, que Mosqueiro recebeu seus primeiros impulsos de progresso. De velhos lusitanos, teria, exemplarmente, na povoação que se formava, a mão carinhosa, a dedicação singular de um luso trabalhador e admirável: Arthur Pires Teixeira. Liderou movimento para a construção do ferro-carril à tração animal, edificou Cinema, Mercado, Lojas e várias casas de praia no correr do velho Chapéu-Virado! Editou jornal, imprimiu revistas de divulgação do Chapéu-Virado, em Paris, deu tudo de seu e de sua fortuna, a favor do desenvolvimento do Mosqueiro. Sua residência e de sua família, ainda hoje é uma das mais belas construções da Ilha: o “Porto-Arthur”. E quantos outros, em paralelo, de procedência igualmente portuguesa, deixaram ali marcada a sua contribuição pessoal a favor do crescimento da Vila e de outras plagas da Ilha. Construindo hotéis, edificando casa de negócios, mantendo sítios, instalando empresas, todos, em um só pensamento, serviam ao Mosqueiro e à sua prosperidade.

Esse esforço fundamental precisa ser lembrado com eloquência!

Antes de sua era moderna, propriamente dita, Mosqueiro desfrutava do prestígio de diversas famílias importantes de Belém que, além de possuírem suas residências nas praias da Ilha, carreavam muita gente da elite para conhecer e passar alguns tempos, no doce convívio que o Mosqueiro permitia desfrutar. Dessa forma crescia o interesse da população e novos freqüentadores procuravam se fixar, também no correr do Chapéu-Virado, na Vila ou em lugares mais distantes.

O transporte fluvial de velhas companhias particulares e do Estado, mais tarde, supridas pelas embarcações mais novas da “Port of Pará”, dariam chance a que o belenense tomasse melhor conhecimento do Mosqueiro. Este, por sua vez, atraía o povo nos dias facultados, nos fins-de-semana, nos feriados, permitindo, assim, um crescente fluxo de gente para as praias, que começavam a ser as preferidas do paraense fixado na capital.

Cedo, famílias numerosas e de destaque se instalaram na Ilha. Na Vila, por exemplo, os Frazão, os Cacela, os Condurú, os Bitar, os Fechter, os Coró, os Canelas e muitos outros seriam, realmente, a representação da Vila. Na residência Coró, ou melhor, do Sr. Antonio Sousa Filho, far-se-iam as mais belas serenatas, os mais concorridos saraus, ao tempo em que o bondinho estava em voga e “ir à chegada do navio às seis horas”, na rampa da ponte, era ponto obrigatório da mocidade e de quantos desejavam receber veranistas que chegavam cansados, aborrecidos, fatigados da viagem penosa, sob o calor equatorial dos trópicos!

Palmas e assovios, gritaria e vaia recepcionavam, diariamente, todos que aportavam no trapiche e avançavam para a cidade em busca de transporte que os levasse ao Chapéu-Virado, ao Farol, ao Murubira e Ariramba. Oitenta por cento dos passageiros permaneciam na Vila. Principalmente gente nova. Rapazes e moças tinham, ali, seu éden!

Longe, pontificavam no Chapéu-Virado os Castro, os Dantas, os Franco, os Paiva, os Santos, os Marques, os Cardoso, os Kós e muitas famílias que formavam clãs inteiros, hoje disseminadas por toda parte.

No Murubira, após o núcleo dos Pires Teixeira, em Porto-Arthur, viviam, em suas mansões praianas, os Acatauassú Nunes, os Martins, os Chase, os Medrado, os Passarinho e tantas outras pessoas ligadas à elite paraense. Mais adiante, quando o mato ainda dominava a orla de Ariramba, marcava a sua presença, ali, religiosamente, os Lobo e os Cavaleiro de Macedo, os Andrade e os Costa, além de muitos que procuravam, naquelas regiões esquecidas, o prazer de um merecido repouso. Era o Ariramba a última estância que os ônibus da Prefeitura alcançavam, em sua linha normal.

No correr da praia do Bispo, às proximidades da “Praia Grande”, ficavam os Lúcio Amaral, os Kós, os Proença, os Cacela e, ao topo do velho caminho, a “Vila Faneca” onde se realizavam festinhas da juventude, serenatas, pastorinhas, de inesquecível lembrança. Mais adiante, as instalações dos Irmãos Maristas, verdadeiro parque em torno da moradia central onde os mestres repousavam às grandes férias ou aos dias de folga no Colégio, em Belém.

No “Clube Recreativo” cuja fama chegara às atenções da mocidade belenense, os jovens da época se misturavam com a nata mosqueirense e os folguedos, ali entravam pela madrugada, despertando pescadores e vigilengas que, no Areião ou na Ponte, começavam a gingar fora da costa em demanda do alto-mar ou da Baía do Sol, para os serviços rotineiros da pesca diária.

Sinos do velho templo da Senhora do Ó já chamavam os fiéis para a santa missa domingueira, quando notívagos seresteiros cantavam ainda, na Praça, ou se perdiam pelas ruas que os levavam à praia Grande. Mosqueiro sempre foi uma ilha romântica, principalmente, para uma população encharcada como a de Belém, presa entre suas baixadas e seus igarapés ribeirinhos, sem a facilidade que a Ilha do Mosqueiro proporcionava em sua paisagem e em sua beleza!”

(Meira Filho, Augusto“Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, PP. 80, 81, 82).

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Praia do Chapéu Virado, 1907 (FONTE: “Mosqueiro Ilhas e Vilas”).

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Vivenda Porto-Arthur (FOTO: Regina, “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, 1978).

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Veranistas em 1940 (FONTE: Blog Haroldo Baleixe).

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Veranistas na praia – 1940 (FONTE: Blog Haroldo Baleixe).

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