domingo, 7 de novembro de 2010

CANTANDO A ILHA: REMINISCÊNCIAS

AUTOR: Augusto Meira Filho

“Mosqueiro é um permanente viveiro de pássaros que cantam acordando a madrugada e não se fazem esperar, melancólicos, à hora crepuscular, quando a vida entardece e adormece sob o canto melódico dos sabiás. Em nenhuma outra parte existem sabiás como os da ilha do Mosqueiro. No verão ou no inverno, as tardes caem silenciosas, quebradas, somente, pelo seu canto de despedida, amargurado, sempre, a dar a toda gente uma nostalgia de infância, uma saudade infinita da meninice vivida ali entre o céu e a terra, solta, distraída e livre dos problemas do homem, das torturas da humanidade.

Por isso aquela ilha tem algo de liberdade que se sente respirando sua aragem, caminhando nas estradas tortuosas, vivendo seus dias de sol aberto para o mundo ou enchendo a alma de melancolia, naqueles dias chuvosos em que a ilha parece mergulhada nas ondas do rio e o silêncio ponteia soberano a nos encher a alma de paz. Paz úmida e molhada das lágrimas que vêm do céu para abastecer o chão virgem e dar renovação e vida à natureza que lhe encanta os dias na primavera e no verão!

Há uma poesia qualquer perdida na quarta rua, ou no pratiquara, na ponta do maracajá ou na pedreirinha que atrai, prende, sufoca, domina nossos desejos, conduz nossos sentimentos, guia nossos passos em busca da felicidade!

È o Mosqueiro antigo, primitivo, dos tupinambás que renasce em seus segredos, mitos e fábulas, dando-nos o fermento do passado para alimentar o presente que, ás vezes, muito pouco sabemos preservar.”

(Meira Filho, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978, p. 82)

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FOTO: Janayna Lameira

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