A Lei da Assembleia Legislativa Provincial nº 563, de 10 de outubro de 1868, sancionada pelo Cônego Manuel José de Siqueira Mendes, primeiro Vice-Presidente da Província do Grão-Pará, criou a Freguesia do Mosqueiro (Art. 1º: Fica criada na povoação do Mosqueiro uma freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Ó;). Os limites civis e eclesiásticos da nova freguesia foram definidos no segundo artigo da citada lei: “pelo lado do sul furo do Pinheiro em direção ao igarapé Fundão, abaixo do igarapé Piracatuba, até a Baía do Sol e pelo norte a margem esquerda do rio Tauá;”. O artigo terceiro inclui nos domínios da freguesia as ilhas de Cotijuba, Paquetá, Jutuba, Tatuoca e outras menores adjacentes. O artigo quarto define como matriz a igreja pertencente à Irmandade de Nossa Senhora do Ó e o quinto estabelece futuras providências (“O governo da Província mandará examinar e avaliar a sobredita igreja, e se for julgada apta para servir de matriz efetiva, indenizará seu valor à Irmandade, e promoverá in continenti a sua conclusão;”). Em verdade, essa igreja era uma capela localizada na parte frontal do primeiro cemitério da Vila, cuja área estava delimitada pela 2ª Rua e pelas atuais Travessas Pratiquara e Siqueira Mendes, na época simples caminhos que conduziam ao igarapé Cariacanga. É bom lembrar que não existia a 3ª Rua. O artigo sexto refere-se ao cemitério (“Outrossim, mandará o governo avaliar a obra feita no cemitério da sobredita Irmandade e a indenizará de sua importância, se o julgar conveniente”;). Tempos depois, esse cemitério seria desativado e transferido para a Travessa Pratiquara. Ao lado da igreja, uma nova travessa surgiria: antes, Rua Nova; hoje, Carlos Bentes. Não é rara a descoberta, naquela área, de antigos ossos humanos em escavações de profundos alicerces.
A denominação de Freguesia de Nossa Senhora do Ó para as terras da ilha parece revelar a imensa relação entre o Mosqueiro e a sua Santa Protetora, uma relação mais antiga – acreditamos -- que a devoção da Irmandade local ou o trabalho catequético dos jesuítas da Missão Myribira. Talvez seja oriunda dos primeiros tempos de ocupação. Sabe-se que a devoção a Nossa Senhora do Ó teve início na Espanha e, segundo o historiador João Lúcio D’Azevedo, há fortes indícios de que aventureiros espanhóis sob o comando de Francisco de Orellana estiveram na Baía do Sol, em 1545, exatamente no dia consagrado à Santa, conforme relato do Frei Gaspar de Carvajal, escrivão da viagem.
São cento e quarenta e dois anos de uma Igreja em construção: não só a edificação do templo, mas, sobretudo, o soerguimento da fé cristã abalada pelo massacre dos indígenas nos tempos iniciais da colonização ou pela matança dos cabanos durante a Regência do Império. No decorrer desses anos, inúmeros foram os padres que, com denodo e perseverança, mantiveram num crescente a devoção a Nossa Senhora do Ó, a Padroeira dos mosqueirenses.
No dia 02 de abril de 1869, o Bispo da Província do Grão-Pará Dom Macedo Costa designava como primeiro Pároco da Freguesia do Mosqueiro o Padre Manuel Antônio Raiol, que assumiu no dia 23 de abril e permaneceu no cargo até 1875.
De 1875 a 1877, ficou como encarregado da paróquia o Padre José Joaquim de Castilho, Vigário de Benfica. Em 1878, ocorreu a volta do Padre Manuel Raiol, o qual faleceu em julho desse ano e, novamente, seria substituído pelo Padre Castilho no início de 1879. Em junho, assumiu o Padre Raimundo José Fonseca Gomes, Vigário de Colares, que, parece, foi o encarregado até meados de 1890, quando tomou posse o Padre Mâncio Caetano Ribeiro à frente dos trabalhos da paróquia até 1893, passando as atribuições ao Padre Francisco Domingues Marques, que permaneceu até 1895.
No dia 06 de julho de1895, a Freguesia do Mosqueiro era elevada à categoria de Vila pelo Decreto-Lei nº 324 sancionado pelo Governador Lauro Sodré. De 1895 até 1900, segundo consta, não havia Vigário nem encarregado da paróquia. Por ocasião de festividades, os padres vinham de Belém.
No dia 26 de fevereiro de 1901, a Vila do Mosqueiro passava à condição de Distrito da Capital conforme a Lei nº 753, baixada pelo Governador Augusto Montenegro. Nesse ano, assumia a Paróquia de Nossa Senhora do Ó o Padre Manoel José Távora dos Santos.
Assim, a antiga povoação de pescadores, que fora freguesia e vila, ingressava no século XX como Distrito de Belém e assistiria, por décadas, à transformação da ilha do Mosqueiro em um dos mais preferidos balneários do Estado do Pará.
Praça da Matriz nos velhos tempos (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).
Dados disponíveis em:
http://paroquianso.hd1.com.br/crbst_1.html
Brandão, Eduardo. Mosqueiro: a história de um arquipélago singular no estuário Amazônico - parte 1 in__ Revista ILHAS amazônicas Ed. nº 01, 2006
Meira Filho, Augusto. Mosqueiro Ilhas e Vilas – ED. GRAFISA – l978.
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