terça-feira, 23 de novembro de 2010

JANELAS DO TEMPO: Uma paixão: Mosqueiro

Autora: Juliana Oliveira

“Amor e dedicação ao extremo. Arthur compôs músicas e escreveu artigos relatando as belezas da ilha.

Uma época em que o ritmo do tempo era ditado pelos apitos do navio Almirante Alexandrino, da Usina Elétrica da ilha e pelas badaladas do sino da igreja matriz de Nossa Senhora do Ó. Foi durante este período, que o chalé Porto Arthur tornou-se referência na ilha, não só graças à beleza da edificação, mas pela figura responsável por ele: Arthur Pires Teixeira.

Os amantes mais antigos da ilha, filhos e netos dos contemporâneos de Arthur, relatam emocionados os modos de viver daquela época, em que a cultura paraense era tecida por meio de intercâmbio direto com a européia, honras do advento da borracha.

A construção do Porto Arthur data de aproximadamente 1905, erguido a mando do comerciante Arthur Pires Teixeira. O casarão foi um dos pioneiros naqueles lados. Filho de portugueses, começou a trabalhar muito cedo nos negócios do pai. Ao entrar na mocidade, apaixonou-se pela ilha de Mosqueiro, localidade a qual se dedicou, com benfeitorias e declarações de amor.

O afeto foi materializado em músicas, artigos escritos para conhecidos na Europa e a publicação de um álbum de fotografias da ilha. Nas correspondências, ele relatava todo o encanto de Mosqueiro.

De acordo com a filha de Arthur, Dona Mariinha Pires Teixeira Chaves – hoje com oitenta anos – o relógio francês que fica no mercado municipal de Mosqueiro pertencia ao pai. Segundo ela, o pai era um homem muito generoso e culto, devido ao estreito contato do Pará com o velho mundo naquela época. Arthur cedeu parte de seu terreno para construção de uma rua nas proximidades do chalé.

A capela que fica na praia do Carananduba foi erguida por ele. Arthur também foi o responsável pela construção do único cinema da história de Mosqueiro: o cinema Guajarino. Dona Mariinha lembra saudosa de quando saíam de charrete para assistir às sessões no cinema. “Nós víamos filmes norte-americanos muito românticos ou os famosos faroestes. Mas no final da década de trinta... início de quarenta, o cinema não existia mais”, lamenta.

Tais gestos lhe renderam algumas homenagens: a antiga praia do Covão recebeu o nome “Porto Arthur”; a travessa que passa ao lado do chalé ganhou o nome “Pires Teixeira”; a estação rodoviária da ilha e a praça do bairro do Carananduba receberam o nome de “Arthur Pires Teixeira”.

As festas no Porto Arthur eram memoráveis em toda a ilha. Pianistas de Belém eram levados para se apresentar nos saraus. Dona Mariinha diz que as melhores lembranças de sua vida estão lá: “cada cantinho daquela casa guarda lembranças muito preciosas. Meu pai e eu sempre gostávamos de ver aquela casa muito cheia. Meus filhos a freqüentavam e meu marido adorava a ilha”, relembra.

Arthur Pires Teixeira morreu no ano de 1961, mas seus ideais permaneceram na família. O esposo de Mariinha, Waldemar Lins de Vasconcelos Chaves, tornou-se outro entusiasta, herdando o fascínio pelos chalés. O pai de Mariinha deixou a casa que morava em Belém de herança para ela. Para as duas irmãs, o chalé em Mosqueiro. “Mas elas foram morar no Rio de Janeiro e o venderam para o meu marido. Desde então, ele cuidou da casa com muito esmero. Depois da morte dele, em 1994, o nosso filho mais velho assumiu os cuidados da casa”, lembra Mariinha.

(Oliveira, Juliana- “Uma paixão: Mosqueiro” in __ Revista Ilhas Amazônicas: o arquipélago de Mosqueiro – parte 1, Ed. 01, JAN 2006)

Um comentário:

  1. excelente matéria de história, estou à procura desse livro. sou mosqueirense também.

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