Autor: Augusto Meira Filho
“Estávamos na Ilha do Mosqueiro, gozando o doce período das férias do mês de julho, em 1967, quando no domingo, dia 23, nos visita em nosso “Diamante”, o colega Engº. Octávio Bittencourt Pires. Era de manhã, aí pelas dez horas, quando sentamos à sombra dos nossos bambus, para um drinque. Octávio conversou muito sobre o sucesso da estrada, a situação das balsas e o desespero de quantos encontrara cedo, presos ao transporte fluvial no Tauarié.
O colega trazia um rolo de plantas e alguns papéis, que, vez por outra, colocava encostados às tabocas do quintal.
Depois de exaltar muito a obra da rodovia, comentando seus percalços e suas dificuldades, falou-nos com franqueza:
-- Companheiro! Essa travessia não pode continuar assim como está. Urge uma providência para que se pense, desde já, na possibilidade da construção da ponte sobre o Canal das Marinhas. O que vi, hoje, é de estarrecer. Um mundo de carros de todas as espécies aguardando, amargamente, a hora de atravessar.
A grita é enorme, contra tudo e contra todos. Milagre ninguém poderá fazer para atender a tantas viaturas, ao mesmo tempo. O serviço das balsas está cumprindo seu programa. Há limite na lotação das balsas e a maré baixa mais retarda a travessia. Aquilo está um inferno. Só vendo. Então?
Ouvimos o companheiro com paciência e respondemos calculadamente:
-- Meu caro, sabemos de tudo isso. Nós, dando exemplo, ficamos na espera até chegar nossa vez. Guilhon era pior. Pagava a passagem, normalmente, sem levar em conta sua posição de Governador. O problema é assim mesmo. As balsas vão saturar brevemente. Nessa altura, alguém de boa vontade deverá tomar a frente desta nova guerra. Nós já fizemos a nossa. Vinte anos no campo de batalha nos deram experiência bastante para, agora, ficarmos na plateia assistindo ao rufar dos tambores e aplaudir os vencedores. É nosso pensamento não mais interferir em qualquer coisa que se prenda às obras da ponte. Você não viu o prêmio que nos conferiram? Somos os donos de todas estas terras da estrada e, assim, para o grande público, abrimos a rodovia pelo caminho que está só para tirar proveito. Nós, os de nossa família e amigos! Então?
Pires concordou com as nossas observações e esclareceu:
-- Acredite você que a quantos falo nessa ponte todos indagam se está no meio da nova investida o colega e amigo, baluarte e pioneiro na construção da estrada. Todos confiam. Querem a ponte com sua colaboração à frente. Afinal você completaria sua obra. E não há nada de mal nessa hipótese. Que me diz?
-- Está dito, meu caro. Nossa contribuição para o Mosqueiro está concluída e sacramentada. Estamos afastados dessa segunda etapa. Não concorda?
Pires insistia no caso e, sentindo perder o terreno, recorreu para os desenhos. Abriu uma planta enorme e falou:
-- Isso aqui é um estudo prévio para a futura ponte que resolvi pedir ao Noronha – o escritório que calculou o Maracanã – sem qualquer compromisso. Já a mostrei a vários interessados e a acolhida tem sido ótima. Mas todo mundo quer ver você metido nisso...
Agradecemos aquela simpatia e apreço, mas não podíamos fugir de nossa decisão anterior. A obra da ponte deveria ficar em outras mãos.
Contudo, o colega insistia para que nós tomássemos conhecimento do projeto-estudo da firma Noronha, para sentirmos melhor as condições da obra e suas possibilidades. O escritório do Rio punha-se à disposição para apresentar um anteprojeto da obra, com alguns detalhes próprios, sem qualquer despesa. Apenas uma tomada de posição em face do problema.
A isso não nos opusemos.
Os desenhos previam o vão a vencer, as distâncias prováveis de pilares e seu dimensionamento. Um cálculo aproximado, àquela altura, fixava cerca de dez a doze milhões de cruzeiros, na dependência de orçamentos posteriores e do detalhamento da construção. Tratava-se, em verdade, de um pequeno estudo da pretendida ponte sobre o Canal das Marinhas. Raciocinamos em termos de uma Sociedade especificamente criada para esse fim, a qual seriam atribuídas as responsabilidades desse empreendimento.
A empreitada, agora, como antes, era temerosa. Meter-nos, outra vez, em um movimento que, por certo, iria culminar com as mesmas características da trabalhosa rodovia: uma realização oficial sem o reconhecimento público a quem realmente iria comandar esse novo conflito, conflito de ideias e de interesses sub-reptícios e indesejáveis. A experiência rodoviária revelava, a todo instante, a nossa dúvida, o nosso desejo de colaborar, mesmo que a contragosto.
Finalmente, após o diálogo histórico, aceitaríamos participar da campanha destinada a realizar a construção da ponte para o Mosqueiro, sobre o Canal das Marinhas.
Combinamos com Octávio Pires uma reunião de “amigos do Mosqueiro” naquela mesma tarde e no mesmo local. Antes do meio-dia, procuraríamos vários companheiros mosqueirenses e seriam todos convidados a participar do encontro vespertino para aquele fim específico.
Recordamos que, já pela tarde, sob uma chuva fina e renitente, conversávamos com os amigos e vizinhos Lauro Brandão e seu filho, o colega Ives, sobre o acontecimento daquele dia.
Nesse domingo, dia 23 de julho de 1967, decidiu-se a organização de uma empresa particular que iria chefiar a nova luta para a construção da ponte do Mosqueiro.
Indicamos, na ocasião, Rodolfo Chermont para seu Presidente; Luiz Vitório Bisi, para seu Vice-Presidente; Edmundo Moura, para seu Diretor Financeiro; Expedito Fernandes, para Diretor Secretário. Coube-nos a direção técnica e, para o Engº. Raul Rodrigues Pereira, a Assessoria Técnica da primeira Diretoria.
Em reuniões subsequentes, adotaríamos o nome de “Mosqueiro Empreendimentos e Turismo S/A” com a sigla M.E.T.A. para a novel instituição que teria o encargo de construir a Ponte Belém-Mosqueiro, no Tauarié.
Nesse mesmo dia histórico, à noite, o “Netuno Iate Clube” iria eleger a Miss Veraneio do Mosqueiro, de 1967 com a presença de Miss Pará – Sonia Ohana a quem fizemos “madrinha” do empreendimento, lançando-o publicamente, naquela bela festa da sociedade paraense, ali presente, prestigiando o acontecimento.
Para a criação inicial da M.E.T.A., tivemos muitos colaboradores e que ficaram como instituidores do empreendimento. Foram eles, os companheiros: Octávio Pires, Angenor Penna de Carvalho, Luiz Vitório Bisi, Teófilo Conduru, Fernando Guilhon, Dias Ferreira, Expedito Fernandes, Rodolfo Chermont, Wady Chamié, Arnaldo Morais Filho, Octávio Mendonça, Horácio Coelho, Roberto Jares, Domingos Silva, Benedito Mutram, Acácio Sobral, Cécil Meira, Giórgio Falângola, Rui Meira, Rainero Maroja, Arruda Câmara, Rui Coral, Manoel Pereira dos Santos, Nilo Franco, Fernando Velasco, Adelino Simão, Luiz Lima, Radir Amaral, Lauro Brandão, Celso Malcher, Carlos Mendonça, Ajax Carvalho de Oliveira, Argemiro Tobias, Feliciano Santos, Raul Rodrigues Pereira, Octávio Meira, Pedro Direito Álvares, Joaquim Bastos e muitos outros.
Nos estudos iniciais para a ponte, já estavam previstos dois sistemas 0de concreto protendido: o Freysinet, mundialmente conhecido e, mais tarde, seria parcialmente incluído o sistema Lozinger, de origem belga. O primeiro era francês.
A sociedade precisava, então, instalar-se e organizar-se definitivamente, para o lançamento de uma sociedade anônima local e privada, destinada exclusivamente a dar vida à M.E.T.A., em bases ainda informais para sua definição pública.
Isso provocou uma reunião convocada pela M.E.T.A., provisória, para um encontro de todos os mosqueirenses instituidores da empresa, nos salões da Assembleia Paraense, gentilmente cedida para esse fim.”
FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 249, 250, 251 e 252.
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