Autor: Augusto Meira Filho
“Voltando a governar o município da capital, eleito pelo povo, o Sr. Lopo de Castro retorna às suas atividades em prol da rodovia Belém-Mosqueiro. Cuida, agora, de realizar a abertura da estrada na ilha do Mosqueiro.
Na área federal, pelo DNER, haviam aberto concorrência para a feitura do levantamento total da rodovia PA-17 conjugada à BL-19 e coube, por decisão legal, ao escritório R. Luiz de Almeida a execução desse trabalho. Finalmente, a velha estrada começada pelo trabalho de Delbim, em 1946, tomava seu caminho certo. Ganhava seu conhecimento global, de Belém à Vila do Mosqueiro.
Cinco cadernetas de campo que ainda possuímos em nosso arquivo constatam, desse serviço, admirável contribuição do engenheiro Rui Luiz de Almeida. Vem dessa oportunidade a marcação da rodovia em três fases: de Benevides à margem do continente (Canal das Marinhas), do Canal à Vila de Carananduba e o Ramal projetado direto à Vila, encurtando o caminho cerca de seis quilômetros, para o centro mais importante da ilha.
Rui Luiz de Almeida, por sua firma especializada, ganharia, à mesma época, a construção (inclusive abertura da estrada) a partir do Paricatuba e a execução desse serviço nos trouxe bastante dor-de-cabeça, apesar de ser feito sob concorrência normal do DNER, quando esse organismo era dirigido pelo colega Engº Gasparino.
É que toda essa região, quase em sua área total, que a rodovia cortaria em dois pedaços, pertencia ao Sr. Alberto Engelhard. Homem difícil, pôs mil dificuldades para que a topografia entrasse em suas propriedades e, sobretudo, a maquinaria destinada à construção da obra.
A solução nos veio em palestra com o saudoso Octávio Franco, amigo do Mosqueiro, em uma de nossas viagens de volta a Belém, pelo Vargas. Resolvemos criar uma “Sociedade dos Amigos do Mosqueiro” e lançá-la contra a teimosia do velho Engelhard. Dito e feito. Em dia memorável e histórico, reunimos um grupo nos salões do “Pará Clube” e constituímos a Sociedade. Elegemos Octávio Meira – Presidente; Octávio Franco – Vice; Lobato de Abreu – Secretário e nós ficamos na segunda secretaria, encarregada de atas e outras providências.
Sabíamos que Engelhard só precisava de gente séria a seu lado, para se obter o permiso, cujo fim único era o de permitir acesso às suas terras no Paricatuba, para a continuação das obras da rodovia Belém-Mosqueiro. Concordou, finalmente, com esse grupo à frente, mas fez exigências, entre as quais a de o executor do serviço cercar de arame, em ambos os lados, o corte necessário ao leito da estrada. E tudo isso foi feito. Mesmo assim, o velho casmurro, mas de excelentes qualidades, mandou seu capataz soltar búfalos brabos no interior da mata.
Com esse ‘“salvo-conduto”, a Firma R. L. de Almeida meteu máquinas e gente que, para surpresa de muitos, logo alcançaria as proximidades do Furo das Marinhas.
Enquanto isso acontecia no Paricatuba, nessa luta para derrubar tranquilamente o velho Alberto Engelhard, sem qualquer interferência oficial no caso, prosseguíamos em busca de uma solução para as “balsas” que atravessariam o furo, levando os veículos de Belém até as praias do Mosqueiro. Em mãos, tínhamos os projetos desse serviço em Guarujá. Tentávamos, então, obter uma unidade já pronta, adquirindo-a desde logo. A presença de uma balsa para seu fim específico seria de uma segurança enorme na conclusão da rodovia. A pergunta generalizou-se: “Para que balsa, sem estrada? Para que estrada, sem balsa?” “
“Finda-se o ano de 1958 e nós tínhamos em mãos enorme acervo técnico sobre construção de balsas. A rodovia caminhava normalmente e o Prefeito Lopo de Castro dava curso às obras da estrada na ilha do Mosqueiro. Fora transformado o SMER em DMER e, dada essa modificação, foi criado o Conselho Rodoviário Municipal. Para presidi-lo, convidou-nos o Prefeito. Havíamos indicado o colega Engº Fernando Guilhon, por todos os títulos merecedor daquela distinção. Ele próprio colaborara na regulamentação do novo órgão do município e conhecedor da política rodoviária do país, apresentou um trabalho admirável aprovado pelo Chefe do Executivo. Foi intérprete de todas essas providências o colega Engº Evandro Bonna, então Diretor do DMER, recentemente fundado, originário do SMER, cujo primeiro diretor foi o colega Engº Alírio Cezar de Oliveira.
Começa o ano de 1959 que teria grande influência e participação na construção da rodovia Belém-Mosqueiro.
O desenvolvimento da obra não era mais segredo a ninguém. Muita gente começava a aderir ao nosso movimento. Uns, acreditando com dúvidas, outros duvidando, sem acreditar muito. Mas o serviço avançava. A Prefeitura contratara por intermédio do DMER os trabalhadores da firma Rodofranc, de propriedade do Eng.º Efraim Bentes para que se ocupasse da abertura e construção da BL-19, no correr do que já existia pelo lado continental.
A proposta desse profissional foi aceita e, assim, deslocou-se com seu equipamento, para a ilha do Mosqueiro. Nós próprios fornecemos a ele a caderneta de campo (levantada pelo Engº Rui Luiz de Almeida), na zona referida entre o Furo das Marinhas e Carananduba. Foi com base nesse levantamento que a obra teve início a partir da igrejinha da Vila de Carananduba, seguindo reto, em demanda da borda do rio. Fiscalizava o serviço o Engº Luiz Baganha e lá estivemos muitas vezes em caravanas de amigos que desejavam conhecer a obra miraculosa. Efraim Bentes desmatou, abriu a rodovia, construiu obras d’arte e colocou-a em situação de receber tráfego normal. Sua proposta não previa o acabamento com empiçarramento, bordaduras, pavimentação, que só mais tarde seriam efetuados. Da mesma forma como a firma R. Luiz de Almeida tinha paralisado no continente a construção da estrada, cerca de 800 metros antes do Furo (local super-pantanoso e de influência das águas de marés grandes), a Rudofranc fez a mesma coisa. Paralisou as obras na mesma distância, no interior da ilha. Foi ao seu término que uma árvore caiu sobre um de seus operários, matando-o cruelmente. Efraim foi desvelado com a família desse servidor da estrada e esse fim funesto nos serviu para escrever um artigo sobre o 1º mártir sacrificado na estrada Belém-Mosqueiro. Era a verdade histórica. Precisava ser assinalada com ênfase!”
(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 184, 185, 190 e 191).
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