terça-feira, 3 de maio de 2011

NA ROTA DO TURISMO: ANTIGO REGISTRO DE UMA CIRCUNAVEGAÇÃO NA ILHA

Autor: Augusto Meira Filho

“O litoral da Ilha do Mosqueiro, como vimos, que fronteia a Baía do Marajó é todo constituído de praias de areias claras, finas, leves, intercaladas, geralmente, de formações rochosas. Pedras negras, carcomidas pelas marés, avançam para o leito do rio, quase matematicamente, limitando os lugares, moldurando a paisagem característica do perfil litorâneo da ilha.

Assim, partindo da “Ponta do Bitar”, primitiva “Ponta do Mosqueiro ou da Musqueira”, temos a praia do Areião, a do Bispo, a Prainha, a Praia Grande, a Prainha do Farol, a Praia do Farol, a do Chapéu Virado, a Ponta Alegre (atual Porto Arthur), a Praia do Murubira, a do Ariramba, a de São Francisco, até o igarapé do Cajueiro. A partir daí vêm a Praia do Carananduba, do Iguaçu, do Maraú, do Paraíso, do Caruara. Na direção da Baía do Sol, teremos a “Praia Grande da Baía do Sol”, que nela incorpora as praias da Conceição, do Paissandu e do Anselmo. Em frente à Colares, na povoação da Baía-do-Sol, a praia ou bairro do Bacuri e o da Fazenda cujo litoral é ornamentado por uma série de belos coqueiros, próprios do lugar. Segue-se para o Barreiro, já no Furo das Marinhas, onde as margens do Mosqueiro fronteiras ao continente são totalmente de argila.

Dessa bela região norte da ilha, deixou-nos precioso relato nosso Arcebispo D. Antônio de Almeida Lustosa, na década 30-40, em sua “Visita Pastoral”:

“Carananduba é uma povoação a pequena distância do Chapéu-Virado. A enseada que lhe deu o nome é um belo semi-círculo entre as duas pontas do São Francisco e Maraú. Na preamar oferece bom abrigo as embarcações; na baixa-mar fica com pouquíssima água. Nessa enseada desembocam os igarapés Cajueiro e Carananduba. O vocábulo carananduba significa muita caranan. Caranan ou Caranã designa uma palmeira elegante (Copernida cerífera) semelhante ao assaiseiro, de cujos frutos se prepara uma bebida como se faz com o assai. A população de Carananduba é humilde, mas educada e de ótimos sentimentos.”

Ainda do eminente prelado referências sobre as Costas Mosqueirenses. Após citar as ilhas das Guaribas, a do Maracujá e a das Pombas, acima do “Paraíso” e da foz do igarapé do Sucurijuquara, D. Lustosa comenta:

“A idéia de Paraíso e a da sua serpente se associam facilmente. Esse Paraíso teve, mais ou menos, a sorte do Éden. Era outrora florescente, teve sua bem cuidada capela: hoje não é bem o Paraíso Perdido de Milton, mas tão pouco é o ameníssimo Jardim que nossos primeiros paes gozaram, nem mesmo o que os antigos proprietários conheceram. Chegamos ao Sítio Conceição onde há uma capelinha dedicada à Virgem Imaculada. Bela a situação da vivenda junto à qual se abriu o pequenino Santuário da Virgem. Que belas ondas se vêm quebrar naquela praia de areia e penhascos!”

“Na frente da casa coqueiros sinuosos e inclinados erguem suas copas e seus cachos. Original é a inclinação desses coqueiros com relação às outras árvores. Por via de regra a árvore se inclina para a qual sopram com mais constância os ventos.”

Nosso quarto arcebispo nos relata sua viagem à povoação de “Santa Bárbara”, exatamente, fixando a costa norte da Ilha do Mosqueiro quando se penetra pela Baía do Sol em direção ao Furo das Marinhas. Assim se expressa:

“A porção da Bahia que fica ao norte de Mosqueiro é desprovida de ilhas; ao invés, a parte oriental é povoada de muitas ilhas graciosas. No ponto em que estas ilhas formam o Furo da Marinhas ou pouco antes a Ilha do Sol perde o seu nome. Além desse Furo da Marinhas, outros poem em comunicação a Bahia do Sol com a de Santo Antonio que fica entre a ilha do Mosqueiro e a do Pinheiro.” (Há um pequeno equívoco de D. Antonio: em vez de Pinheiro trata-se da ilha de Caratateua.)

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Ilha do Mosqueiro – Furo das Marinhas (FONTE: GOOGLE EARTH 2011)

De acordo com a Visita Pastoral de D. Antonio de Almeida Lustosa (recordemos) na década 30-40, somente pelo rio, baías ou furos era possível chegar-se à Santa Bárbara. Em suas palavras, fixa essa entrada:

“Da Bahia do Sol passamos ao furo “Tracuateua” e deste ao “Candeua”. Em cada desses furos há uma serraria e entre as duas, a povoação. Como estamos em região de serrarias tudo se faz de madeira. A capelinha dedicada a São Sebastião é de madeira, todas as casas são de madeira, a terraplenagem dos terrenos baixos é de toros, serradura (vulgarmente moinha) e cinza: tudo de madeira. As numerosas ilhas que retalham a Bahia do Sol do lado oriental formam grande numero de furos. Deixando o de Paricatuba à esquerda, seguimos em direção ao de “São Pedro” chamado antigamente “da Vigia”. Passamos entre as ilhas “do Periquito”, de “Santa Maria”, de “Sant’ Ana” e chegamos à “Ilha do Gaia”, onde há um engenho de assucar ao lado do qual se ergue a capelinha de S. Pedro. A viagem prosseguirá pelo “Furo das Marinhas”, que nos conduzirá à Bahia de Santo Antonio.”

Esse é o retrato perfeito de uma circunavegação em torno da Ilha do Mosqueiro, observando aspectos geográficos, sociais e religiosos na região nordeste – sudeste da Ilha do Mosqueiro. Interessante, também, por ser o local de maior população tupinambá, nos idos do século XVII.”

FONTE: (Meira Filho, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978, pp 64, 67 e 68)

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