quinta-feira, 5 de maio de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: POLÍTICA À PARTE, UMA ALIANÇA PELO SONHO: PA-17

Autor: Augusto Meira Filho

“No nosso escritório particular de engenharia, no 2º andar – conj. 223-225 no Edifício Importadora, no expediente da tarde, procurou-nos Romariz:

-- Acabo de falar ao Octávio sobre essa estrada Belém-Mosqueiro que ele como interventor mandou apurar, depois que você levou seus planos ao governo fixando novos rumos para sua abertura ou qualquer coisa parecida. Disse-me o velho companheiro de Constituinte que esse assunto era com você, já que insistia na exeqüibilidade da obra aqui por Benevides. Desci de seu escritório aqui no 3º andar e estou desejoso de saber o que há sobre a matéria. É que o Governador Assunção deseja tocar esse serviço e autorizou o Prefeito a iniciar, quanto antes, a obra em projeto. Não é isso? Preciso dessas informações com autenticidade para levá-las a ambos os governantes. Então?

Recebemos, alegres, o antigo deputado liberal, nosso conhecido das lutas liberais de 1935.

-- Não há nenhum segredo, amigo Romariz. O que fizemos foi amplamente divulgado nos jornais de Belém. Estudamos o problema sob novas modalidades, completamente opostas e diferentes de tudo quanto se tem cogitado nesse sentido.

Nosso plano prevê a estrada Belém-Mosqueiro pelo continente, partindo de Benevides. Os primeiros estudos estão feitos e confirmam sua viabilidade por esse caminho, muito menos oneroso que qualquer outro. Desde 1946, amigo Romariz, lutamos para que o governo comece a abertura da rodovia, para comprovar sua posição, no plano rodoviário do Estado; você poderá, até, solicitar ao recém-fundado organismo rodoviário confirmação ou não do que insistimos em dizer: a rodovia entre Belém e a ilha do Mosqueiro deverá ser executada pelo interior do continente e, nunca, pelo litoral. Temos esses trabalhos executados por técnico abalizado e empenhamos nossa fé de ofício profissional no sucesso dessa obra se tomar o rumo que desejamos.

Romariz ouviu essas expressões convictas e seguras, indagando, surpreso:

-- Você poderia colaborar com o novo governo, nos indicando e orientando o início desses trabalhos? Afinal eles serão um benefício para toda a cidade...

Respondemos, sinceramente, com estas palavras:

-- Nada há negar, meu caro Romariz, apesar de agora se considerar um baratista como um indesejável. Nós continuamos a mesma coisa.Mas nunca a nossa convicção política trairia um interesse coletivo desta terra. Estou pronto a cooperar com a administração Assunção-Lopo e mostrar a você, quando quiser, o caminho a seguir. Ainda forneceremos dados técnicos necessários para que essa abertura logo se concretize. É de interesse público e nós não misturamos a ordem política com a administrativa, e você sabe disso. No auge da vitória coligada, entregamos nossa repartição com balanço financeiro em mãos, um grande plano em execução, com discursos, refrigerantes e palmas. Quem não deve, não teme. Você sabe, não é isso mesmo? Vimos desde 1935...

Romariz, satisfeito de sua missão, agradeceu muito a acolhida e a disposição de ajudarmos, independentemente da posição partidária de cada um, aquela obra pioneira de abertura da estrada Belém-Mosqueiro. Marcamos encontro e em dia e hora aprazada, o fato ocorreu.

Partimos pela manhã no veículo de propriedade dele, nós, o irmão Rui e o velho Meira, convidados para o passeio. Conversamos muito na viagem e, na Vila de Benevides, paramos o carro. Saltamos na estrada, em frente à matriz do lugar. Nessa altura, mostramos a Romariz o que fazer:

-- Você manda que o chefe dos serviços parta deste ponto, sempre dando as costas para o nascente. Seguir a turma de desmatamento esse rumo, como se fossem todos para o poente. Não há nada a errar. Procure aqui, em Benevides, a rapaziada que constitui a Família Salomão, muito conhecida e de prestígio, desde aqueles nossos velhos tempos do Partido Liberal. Vários dessa gente amiga estiveram participando do trabalho de reconhecimento da futura estrada que vai ligar a Vila ao Canal das Marinhas. Todos, sem exceção, estão interessados nessa obra. Ela, certamente, virá beneficiar o Município de Ananindeua, do qual faz parte. Se você quiser, poderemos orientar os encarregados do serviço assim sejam determinados. Saiba, amigo Romariz, que deste lugar vai-se direto à margem do continente, em frente ao Mosqueiro, separados apenas pelo Canal ou Furo denominado “das Marinhas”. Não há problema. Vamos tocar o serviço e você ficará merecendo todo o nosso apreço por essa inestimável compreensão.

O terreno a percorrer já foi todo levantado topograficamente e não é mais segredo para nós. Possuímos a planta e demais informações sobre a natureza do solo, as condições climáticas, a natureza da floresta, os pântanos, os rios e igarapés e tudo mais quanto existe nessa travessia que não vai além de 20 quilômetros. O serviço está fácil, necessitando, é certo, de um bom capataz e de mateiros experimentados. Quanto ao pagamento, é evidente que você já tomou suas providências. Aí está o segredo. É seu, e do governo. Não há mais nada.

Voltamos ao veículo e fomos, ainda, visitar uma bela plantação de pimenta-do-reino que, nessa época, começava a se difundir no meio rural paraense.

Passado algum tempo, novamente nos apareceria Romariz com a auspiciosa notícia de que tanto o Governador do Estado como o Prefeito de Belém haviam recebido com satisfação as nossas idéias e os nossos planos. A estrada do Mosqueiro partiria, mesmo, de Benevides, e do local por nós indicado. Os serviços deveriam começar imediatamente. Recebemos, certamente, essa confirmação, pensando muito no destino das coisas, “não ser quimera”, como disse o poeta, ao vermos os adversários políticos de ontem tomar a frente da execução de um nosso plano, tão mal ouvido pelos próprios companheiros militantes do mesmo partido. Sim, senhores. Da Coligação, ou pelo menos, de seus líderes a primeira grande iniciativa para que o Mosqueiro ganhasse a sua rodovia. Essa é a verdade dos fatos. Projetada, concebida por um baratista tradicional e seus amigos, a obra da Belém-Mosqueiro haveria de ter seu principal suporte pela gente da Coligação que tanto lutara para derrubar Barata e a seus seguidores.”

F0ONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 165, 166 e 167)

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