:
MOSQUEIRO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
Autor: Augusto Meira Filho
“A verdade é que, até a metade do século, Mosqueiro se comportava com ( ) arrumação urbana precária, muitas vezes ainda em plena fase desenvolvimentista. A zona habitacional destinada ao nativo, essa se manteve quase sem modificação, no mesmo período de meio século que Mosqueiro viveu na dependência da navegação fluvial entre a Vila e a capital.
Devemos assinalar, nessa hipótese, a situação de todas as praias que seguem a partir do Carananduba em direção da Baía do Sol. Poucas pessoas revelaram interesse em edificar suas residências de veraneio na extensa zona e das mais belas do Mosqueiro. Além disso, alta, seca, sadia e própria ao fim a que se destina. A ausência dos serviços públicos, rodovia, água, eletricidade, transporte fácil, acesso à Vila, etc., contribuiria para essa posição de esquecimento que “Paraíso”, “Caroara” e o próprio “Maraú” e mais: “Conceição”, “Paissandu”, etc., tivessem permanecido isoladas de qualquer investimento novo, capaz de suprir suas necessidades urbanas e comunitárias. Durante muito tempo, Mosqueiro era a Vila; depois, estendeu-se. Passou a incorporar o Chapéu-Virado e, mais tarde, Murubira e Ariramba.
Mosqueiro estava dividido em duas partes: uma – a primeira – que recebia os fluxos e influxos da navegação pública e particular que dava vida à Vila balneária, ainda em termos de “Areião”, “Bispo” e “Praia Grande”. Daí se irradiava até ao Chapéu-Virado à época do bondinho puxado a burro e, depois, a vapor, alcançando as áreas do Chapéu-Virado e do Murubira; a segunda se limitava às barbas da Vila de Carananduba e prosseguia pelo interior insular, na direção de todas as outras praias com frente para o norte, em demanda da Baía do Sol.
Poder-se-ia, por extensão, dizer que as duas bahias (Santo Antônio a oeste e do Sol a leste ou nordeste) pontos extremos da Ilha do Mosqueiro, comandaram o crescimento da ilha, em função de sua conquista pelo braço do homem, inicialmente, todos bugres e, posteriormente, pelos colonos participantes da tarefa de contribuir com seu esforço no trabalho comum e civilizador do luso aqui instalado em 1616.
Marcada pela presença do belemita levando consigo o progresso do lugar, construindo e valorizando aquelas áreas distantes de Belém, a primeira zona do Distrito tornar-se-ia verdadeiro prolongamento da cidade, tendo em vista aquele êxodo do paraense em busca do lazer, depois da longa experiência alienígena demonstrada pela gente estranha à terra que aqui viveria em função de seu trabalho nas novas empresas de investimentos como estudamos, anteriormente. A continuidade desse interesse proporcionaria um permanente avanço da população de Belém, aproximando, sempre, o balneário, das afetividades e dos desejos dos paraenses moradores da capital.”
“Uma situação geográfica excepcional faria da Ilha do Mosqueiro uma dependência natural da vida urbana de Belém. Ontem, a “Ponta-do-Mel”, depois Pinheiro e, hoje, Icoaraci, também distrito importante de Belém, contudo, sob o aspecto de estação balnear, talvez pela sua posição continental (que deveria ser uma razão ponderável, positiva) ou razões imperiosas tivesse distinguido o Mosqueiro de quantas mais existem próximas a Belém. Claro que talvez a inexistência de praias no antigo Pinheiro, nesse caso desvinculado da ilha de Caratateua que lhe é anexada ao distrito, muito contribuísse para a total simpatia da população de Belém por uma ilha mais distante e de mais difícil acesso, sobretudo, pela sua circunstância de ilha.
Desde os tempos mais longínquos da formação social, política e urbana da cidade, seus habitantes e visitantes tiveram, sempre, uma natural tendência para aceitar o Mosqueiro como a Ilha Balneária por excelência do paraense e, por extensão, de todo amazônida.
As famílias residentes em Belém, excetuando-se aquelas que possuíam raízes no interior do Estado, à época da libertação escolar nos regimes das férias semestrais e anuais, não tinham outro caminho a seguir. Possuindo ou não residências na Ilha do Mosqueiro, para lá se atiravam com “armas e bagagens” a bordo de velhas embarcações da “Companhia do Amazonas”, do “Serviço de Navegação do Estado”, nos navios da primitiva “Port of Pará”, depois SNAPP, e hoje ENASA. Vapores particulares de grandes firmas comerciais aviadoras do alto Amazonas, igualmente, quando em recesso, na capital, proporcionavam viagens Belém-Mosqueiro. E em casas próprias, alugadas, hotel ou hospedaria similar, a gente boa de Belém se transferia para o balneário, numa luta enorme para se dar às crianças belemitas um pouco de liberdade, ar puro, folguedo e outras distrações indispensáveis a quem vivia no centro comunitário do Estado.
E quantas vezes, mesmo fora desse período, veríamos muitos casais procurarem o Mosqueiro, com os filhos enfermos, mediante conselho ou ordem médica. Cedo a meninada recobrava as forças, passavam-se os males, por milagre, voltava o apetite, a confiança, a alegria de viver. Valeria muito mais uma semana no Chapéu-Virado ou na Praia Grande, no Murubira ou no Ariramba, do que todos os medicamentos receitados. E o velho “Almirante Alexandrino”, de repente, enchia-se de sarampentos, de crianças com catapora e coqueluche, para sua cura total e miraculosa sob os ventos do Marajó!
Nem todos podiam desfrutar das águas do mar, em Salinas, pela distância e os incômodos da viagem com crianças. Ninguém poderia escolher uma fazenda no Marajó que também era difícil a quem não possuía propriedade naquele lugar.
O mesmo ocorreria a quem pretendesse ir mais longe, mesmo nas férias, a Santarém, por exemplo, ou a Bragança, a Soure, a Monte Alegre, belos recantos do interior, igualmente deliciosos, mas de acesso penoso e caro. Não havia outro rumo, outro caminho, outra escolha: Mosqueiro.”
(FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 74, 75, 76 e 79)
Nenhum comentário:
Postar um comentário