domingo, 27 de fevereiro de 2011

NA ROTA DA HISTÓRIA: A ILHA NO CONTEXTO HISTÓRICO DO SÉCULO XVIII

Autor: Augusto Meira Filho

“Notícias remotas informam de Ordem Régia da Corte em Lisboa que mandava seqüestrar “os bens de Antonio Marreiros, Capitão-Mor do Pará, e de José da Silva Távora, Provedor da Fazenda da Capitania, por terem permitido a presença de uma balandra francesa no Mosqueiro e o comércio que fez com seus moradores. Desses, os culpados deveriam ser presos.” Essas providências da Coroa datam de 10.02.1732 e por elas se conclui que outras nações da Europa, como vimos na história da própria formação de Belém do Grão-Pará, persistiam em negociar os produtos da terra com os indígenas aqui residentes, toda vez que se lhes facilitava ingresso nas correntes do rio-mar. Para que o governo português determinasse medida tão drástica contra a pessoa de dois de seus maiores representantes na Capitania, o Capitão-Mor e o Provedor da Fazenda, é porque a denúncia fixaria altos negócios dos tupinambás com alienígenas, piratas hereges que sempre os lusitanos procuravam expulsar de seus domínios.

É verdade que a Ilha do Mosqueiro, nesse tempo, não seria outra coisa senão um aglomerado de aldeias, iguais às que existiam em toda a região, havendo, ainda, pouca presença do colono em suas terras.

No começo do século XVIII, Belém, que representava o centro principal de toda a formação amazônica daqueles tempos, o era, igualmente, um simples vilarejo com seus conventos, suas capelas, suas primeiras edificações. Mas a riqueza natural da região dava, não só às terras continentais da Capitania, mas também às numerosas ilhas que a circundavam, meios de permitir trocas de mercadorias com visitantes estrangeiros ou quaisquer outros piratas que procurassem mercadejar com as tribos ali existentes.

Toda essa vasta área litorânea que compreende, atualmente, Icoaraci, Caratateua, Mosqueiro, Colares e Vigia era muito visada pelos conquistadores que não perdiam oportunidade de conhecê-la e explorá-la. A própria história fundamenta a existência nas matas próximas ao Grão-Pará (Belém) de figuras estrangeiras, emigrantes de outras terras, navegadores soçobrados, gente abandonada à sua sorte, nestas paragens amazônicas do Setecentos. Antes, mesmo, dessa época, franceses, holandeses, embarcadiços perdidos em suas piratarias aqui se alojavam em busca de um el-dourado anunciado nas cortes do Velho Mundo pelos nossos primeiros colonizadores.

Em meio dos índios, vivendo e compartilhando dos seus usos e hábitos, documentos antigos anunciam essa espécie de gente que vivia na costa imensa do país, de norte a sul, presa aos aldeamentos, muitas vezes, unida às tribos, procriando, semeando a nova raça que surgiria entre nós. Esse fato foi notório em São Luís com os soldados de La Ravardière, após a derrocada de Guaxenduba. Muitos permaneceram, no Maranhão, sem mais retornar à pátria distante.

Tal como ocorria com a Ilha do Sol que representava um centro importante de Aldeias das tribos de Tupinambás, é evidente que, nas demais ilhas do estuário do “Parauassu”, à maneira de como o mesmo fenômeno se verificava nas muitas que compunham o estuário amazônico, todo o arquipélago era habitado pelas diversas nações nativas, desde os velhos tempos anteriores à conquista lusa do setentrião.

Nas lutas pela posse da região que se realizaram logo após a chegada dos fundadores de Belém, em 1616, época em que os portugueses expulsaram holandeses, ingleses e irlandeses já instalados em suas feitorias à foz do Amazonas, no Xingu e no Cabo Norte, ficaram os remanescentes desses encontros, muitos dos quais não retornaram mais à pátria. Isso motivaria a presença de intérpretes entre os bugres facilitando, dessa forma, qualquer aproximação alienígena. Os representantes, nem sempre atentos ao domínio amazônico de tão grandes latitudes, muitas vezes viam-se impedidos de fazer cumprir as determinações da Coroa.

Nessa política de exploração de nossas riquezas, certamente, Mosqueiro, como ainda agora, possuía as mesmas possibilidades das outras regiões da Capitania em plena fase do período econômico de negociação das “drogas-do-sertão” em voga em toda parte da conquista lusitana, da qual Belém representava o pólo fundamental.”

(Meira Filho, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978, pp 85 e 86)

Nenhum comentário:

Postar um comentário