Segundo alguns, Mosqueiro é o lugar onde há muitas moscas. Será essa a origem do nome de uma ilha tão bela, repleta de atrativos turísticos e um dos mais destacados balneários do litoral paraense? Parece que, no início do século passado, alguém pensava assim e até iniciou um movimento para mudar a tradicional denominação. E – pasmem! – por interesses pessoais.
O fato foi registrado pela Folha do Norte, em um artigo publicado no dia 03.08.1917 e assinado por Murubyra, pedindo a mudança do nome para Guajarina. E, nessa história, havia um tal Fausto Maciel, dono de uma fábrica de conservas, que desejava exportar o seu produto, mas se queixava de não ser comerciável escrever nele Made in Mosqueiro.
Não sei não, mas acho que esse cacique Murubyra foi muito infeliz ao trocar a flecha pela pena e acabou dando com os burros n’água lá na baía de Santo Antônio, que ele trocara por Guajará, como tantos o fizeram. Aliás, das quatro baías que formam o rio Pará, a única que não banha o Mosqueiro é justamente a de Guajará. Ou será que a inspiração veio do Cine Guajarino, o primeiro cinema da Vila, fundado em 1912 por Arthur Pires Teixeira? O certo é que essa história teve fim dois anos depois, quando o Padre Dubois, em outro artigo publicado na Folha do Norte do dia 16.11.1919, posicionou-se contrário à mudança do nome. Quanto ao Sr. Fausto, esqueceram de dizer a ele que, tempos atrás, os índios já faziam a conserva de peixes e carnes usando o moqueio e comercializavam esses produtos às proximidades do Forte, em Belém. E nenhum morobira pensou em mudar o nome da ilha.
E o nome da ilha? É mais do que provável que os índios a chamavam de “ilha do moqueio”. E Mosqueiro veio do moqueio ou das moscas que eram, possivelmente, atraídas por essa prática?
Para o historiador Augusto Meira Filho: “É muito claro entender-se que, para a remessa do peixe ou da caça para consumo na sede da Colônia, na época, somente um processo de conservação se conhecia e de origem indígena: o moqueio. Costumavam os nativos conservar os animais putrecíveis por um processo primitivo, colocando a carne da caça ou o peixe sem as entranhas, em fumeiro próprio, de calor brando, sobre o moquém, espécie de grade ou trempe própria para essa curiosa operação. Sob o calor do fogo que sobe e atinge o produto a moquear, aos poucos, ele finda por tostar o material, conservando-o perfeito por longo tempo, sem qualquer perigo de putrefação.” Sobre essa atividade largamente desenvolvida pelos indígenas nas praias mosqueirenses, Meira afirma: “Foi dessa operação curiosa e por todos os títulos admissível que o lugar, a ilha paralela e irmã da “do Sol” passaria a ser a “Ilha do Moqueio”...”. E conclui: “Vê-se, portanto, que procede nossa conclusão, achando que o nome de Mosqueiro surgiu de “Moqueio”, “Mosqueio”, “Musqueia”, “Musqueira” e Mosqueiro.”
Em seu livro intitulado Mosqueiro (1976), Wilson Amanajás concorda com Meira sobre a origem do nome da ilha, considerando-o uma corruptela do termo moqueio. Entretanto, descreve de modo diferente a prática de moquear, que os índios fazem “... cavando um buraco na areia, forrando-o de folhas, aí colocando o alimento, recobrindo-o com folhas e areia e, sobre o local, acendem uma fogueira. Quando calculam que o acepipe está pronto, desenterram-no e comem-no”. E completa: “No processo indígena, não se estripam os animais que vão para o moquém...”. Alicerçado nessa afirmação, Amanajás conclui: “Assim, a versão de que a denominação de Mosqueiro teria se originado das moscas, que avoaçam sobre as vísceras dos peixes tratados pelos índios nas praias da ilha, para nós não tem consistência e a nós parece ter sido corruptela de linguagem”.
O historiador Eduardo Brandão, que está intimamente ligado à Ilha assim como Meira e Amanajás, relata na revista ILHAS amazônicas (2006): “Nos primeiros séculos de colonização portuguesa, o litoral era responsável pelo abastecimento da cidade de Belém. Os tupinambás submissos, também conhecidos como tapuias, eram encarregados desta tarefa. Como não possuíam a cultura do sal e não dispunham de tecnologias como a refrigeração, as praias de Mosqueiro, caminho obrigatório para quem chegava em Belém, foram palco da prática intensiva do moqueio”. E explica o atual nome da ilha: “Os colonizadores não conheciam o termo Moqueio, mas conheciam Mosqueiro, nome dado a algumas localidades de Portugal e Espanha, logo concluíram era a ponta dos Moqueios, a ponta da Musqueira, a ponta do Mosqueiro.”
Ao citar a ponta da Musqueira, Brandão refere-se evidentemente ao primeiro registro cartográfico desse nome ocorrido em 1680. É bom lembrar que, em mapa de 1666, observa-se a designação ilha de Santo Antônio. Essa denominação, posteriormente, ficou restrita à baía que banha o território insular pelo sudoeste, enquanto a Ponta da Musqueira, que limita a praia do Areião, passava a ser Ponta da Pedreira (referência a uma das pedreiras do Reino) e, depois, Ponta do Bitar (alusão à Usina Santo Antônio da Pedreira, de propriedade da família Bitar). Essa ponta da ilha, de areias fartas, sem dúvida, foi palco da prática do moqueio, já que os morobiras pescavam na baía de Santo Antônio. E, segundo alguns relatos, esses índios teriam recebido amistosamente o espanhol Ruy Garcia de Moschera, espécie de aventureiro e corsário, que, em 1520, adentrara a baía com seu navio avariado, após enfrentar terrível tempestade à altura dos Açores e perder o rumo para o sul do Brasil. Moschera vinha da Espanha e buscava as terras do Adelantado Cabeza de Vaca, no atual Estado de Santa Catarina. Os índios ajudaram o espanhol a consertar o navio e alimentaram a tripulação. Dizem até que, entre os alimentos oferecidos, Moschera apreciou bastante a farinha d’água. O espanhol fez da ilha a sua base por algum tempo, de onde partia para as Antilhas com o objetivo de atacar e saquear naus inglesas, holandesas e francesas. Assim teria surgido o nome Ponta do Moschera, depois transformado em Ponta da Musqueira, que originou o atual termo Mosqueiro.
Parece-nos que o termo é de origem ibérica e Brandão está certo ao afirmar que o mesmo designa algumas localidades na Espanha e em Portugal. O Penedo Mosqueiro, localizado no centro de Portugal, entre Orvalho e Bogas de Baixo, é um exemplo. Esse monte belíssimo, de onde se podem descortinar paisagens deslumbrantes, é sinônimo de sossego e paz de espírito.
FOTOS DO PENEDO MOSQUEIRO (PORTUGAL):
No Brasil, além de nossa ilha, o nome Mosqueiro foi usado para designar outros lugares, como o porto do Recife antigo (“Com a construção do Cais da Lingüeta (também chamado de Lamarão, Poço, Mosqueiro, ou Laminhas), os navios de grande porte puderam atracar no porto.”). Um dos pontos turísticos de destaque no litoral nordestino é, sem dúvida, a Praia do Mosqueiro, localizada no sul de Aracaju-SE, junto à foz do rio Vaza-Barris. Suas areias são finas e claras e, na baixa-mar, surge no meio do rio a C’roa do Goré, ilhota já famosa no estado.
FOTOS DA PRAIA DO MOSQUEIRO (ARACAJU – SE):
Acreditamos que a única ilh a no mundo com tal denominação é a nossa. Seus atrativos ambientais devem ser preservados. Importante também é a referência turística: ilha do Mosqueiro!
FOTOS DA ILHA DO MOSQUEIRO (BELÈM - PA):
FONTES:
(Meira Filho, Augusto – “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa, 1978 –pp 31 e 32)
(Brandão, Eduardo- “Mosqueiro: a história de um arquipélago singular no estuário Amazônico” in __ Revista Ilhas Amazônicas: o arquipélago de Mosqueiro – parte 1, Ed. 01, JAN 2006)
(Amanajás, Wilson – Mosqueiro – 1976 – pp 5 e 6)
http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=mosqueiro
http://umportugaldesconhecido.blogspot.com/2009/05/penedo-mosqueiro.html
http://honoratofilgueiras19.blogspot.com/search?q=Mosqueiro+aracaju
http://www.tvliberal.com.br/revistas/npara/edicao8/comida.htm
Nossa linda ilha está necessitando de cuidados. Srs. políticos, vão dar um passeio por lá, comer uma tapioquinha na praça e um pastel no Oliveira, vejam o que precisa ser feito e façam, os mosqueirenses saberão ser gratos nas próximas eleições...
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