Autor: Claudionor Wanzeller
A Praia do Areião, ao sudoeste da Ilha do Mosqueiro, é reconhecidamente um ponto histórico de relevante importância, marcado por uma festividade quase centenária.
Na baía de Santo Antônio cujas águas banham aquela praia, os índios morobiras desenvolviam a pesca, atividade milenar que, mais tarde, originaria a Vila e seu primeiro suporte econômico. Nas fartas areias, os indígenas praticavam o moqueio e, segundo alguns historiadores, ali aportara, em 1520, o navio avariado do pirata espanhol Ruy Garcia de Moschera. Na verdade, o próprio nome da Ilha surgiu naquele lugar, pois o registro cartográfico de 1680 (o mais antigo que se conhece) batiza aquela ponta de praia de Ponta da Musqueira. O local ficou depois conhecido como Ponta da Pedreira, uma vez que era uma das pedreiras do Reino, de onde muitas pedras foram retiradas para os alicerces da antiga Belém.
Praia do Areião – antiga Ponta da Musqueira (FOTO: Wanzeller)
A praia do Areião também foi palco de um fato muito interessante ocorrido no dia 20 de janeiro de 1836: a primeira tentativa de invasão das tropas legalistas vindas da ilha de Tatuoca, frustrada pela coragem e tenacidade dos cabanos sediados na Vila.
Outros fatos não menos marcantes tornam a praia um atrativo turístico: a instalação, em 1924, da Usina Santo Antônio da Pedreira, para beneficiamento da borracha, diversificando a atividade econômica da Vila; a fundação pelos seus funcionários, em 1925, do Pedreira, o primeiro clube de futebol da Ilha; a primeira greve de trabalhadores do Estado do Pará, ocorrida em 1939 e a presença folclórica da Cobra Grande no subsolo da Fábrica.
Ilustração (PROF. ALCIR RODRIGUES, 1999)
Por outro lado, os pescadores artesanais da Vila do Mosqueiro e da ilha do Marajó utilizavam a enseada como ancoradouro e, dessa convivência pacífica, resultou a ideia de festejarem juntos, ali, em 1918, São Pedro, o seu Santo Padroeiro, sendo apoiados, incondicionalmente, pela senhora Isabel Magalhães, moradora antiga do lugar e mãe da atual organizadora do evento, Profª. Maria Diva Palheta. Dois anos após, a Festividade passaria a ser promovida pela Colônia de Pescadores Z-9, fundada na praia, em 1920.
Profª. Diva Palheta, organizadora da festa (FOTO: Wanzeller)
A Festividade de São Pedro do Areião tornou-se, ao longo dos anos, uma tradicional manifestação popular quase centenária, de caráter religioso ao mesmo tempo profano e folclórico, por congregar, na atualidade, milhares de moradores e visitantes, como pôde ser observado durante as ladainhas, as missas, a romaria, a procissão fluvial e o cortejo do mastro, que compõem a programação do evento.
Procissão Fluvial de São Pedro (FOTO Wanzeller – 2013)
Obviamente, há muito esta festa deixou de ser exclusiva dos pescadores, como forma de agradecimento ao Santo pela proteção e fartura da pesca. Transformou-se numa grande manifestação cultural do povo mosqueirense, o que justifica a sua classificação como Patrimônio Imaterial da Ilha e do Município de Belém.
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