Autor: Salomão Larêdo
TRECHO DO LIVRO:
"Lá fora não carecia soar hora para permitir tudo fosse feito. No terreiro, cada um cuidava de fazer sua hora e tudo se permitia. Era mais saudável, a noite convidava e o rio fazia sua festa para os amantes. Tudo perfeito, tudo divino!...
Cantinflas não dava descanso e Chica não cansava. Beijos e beijos, juras de amor de tudo que Chica desejava estava ali em sua frente. Como procurou seu amado! Quem procura, acha. Encontrou!!!....
Deslumbrada ante a figura tão bela completamente perdida e totalmente apaixonada, ferida no coração por flecha possante e desejosa de carícias, pouco a pouco Chica foi-se entregando, entregando...
Quando homem a apalpava, ela suava de prazer. Quando seu homem topou as delícias daquele jeito, sentiu uma força especial e Chica uma coisa também diferente.
- Estou menstruada, amor!
Cantinflas foi lá nas alturas e voltou.
Beijos, afagos, carícias e um não sei que mais impossível de aguentar, Chica que só esperava por aquilo, que ansiara tanto tempo, que procurava, que se mantivera firme, que não abandonara a luta, poderia provar, queria provar, sonhara, sofrera por aquele amor, vivera momentos de angústias, estava com a recompensa, encontrara o homem de sunga lilás que foi assim que ele se mostrava outra vez atiçando as estranhas e todo corpo da mulher Chica e de Chica, mulher sedenta e desejada.
Chica, com todas as forças, atira-se nos braços de Cantinflas. É noite e noite de infusa beleza, dizem os poetas e se entrega com a força da total entrega...
Chica é toda ternura! Está saciada, está deslumbrada, está mais excitada e bela que nunca e repleta de sua mais vital força que é a alegria de viver e nesse estado, quase desmaia ao ver, com o clarão do dia (era o homem de sunga lilás, lindo, lindo!) que os pés de seu amante apresentam os calcanhares voltados para a frente.
Só então Chica percebe ter sido vítima do diabo sedutor das águas. O demônio existe sim e Chica está diante de sua maior tentação e pondo a memória mais que rápida pra funcionar, entende tudo e solta grito pavoroso, pedindo socorro!!!!
Imediatamente os amigos e as amigas da festa, os colegas e mais pessoas apressam-se para saber o acontecido e ainda podem ver que o homem de sunga lilás, bonito, bonito, num horrendo pitiú que sai de seu corpo, dá um pulo e mergulha, para, logo em seguida, traindo a identidade até mesmo para seus mais que amigos que o julgavam rapaz da cidade, gente mais que normal, vir à tona. E, mostrando o focinho vermelho, sopra um jato d’água na direção de Chica, numa espécie de zombaria. Havia conquistado mais uma...
A praia foi ficando lotada de gente que ouvia as narrativas com espanto e credulidade mesmo. Dizem que não existe, que não é verdade e isso vive acontecendo, todo veraneio essa coisa acontece, de modo diferente, mas acontece, existe, quem não quiser que deixe de acreditar. E os falatórios se sucediam..."
O autor:
Salomão Larêdo, nascido na Vila do Carmo em Cametá, é advogado, jornalista, professor, escritor paraense e membro da Academia de Letras com várias obras premiadas. Seu universo literário é o homem e a região da Amazônia.
OBRAS EDITADAS E PUBLICADAS:
Senhora das Águas – Poemas – Menção honrosa da Academia Paraense de Letras – 1982.
Sibele Mendes de Amor e Luta – Romance – 1984.
Guamares – Romance – 1989.
Remos de Faia – Romance – 1991.
Maraílhas – Contos – 1º Prêmio Cultural CEJUP/Academia Paraense de Letras – 1992.
Chapéu Virado – a lenda do boto – Conto – 1997.
O Prazer de Ler e Escrever - Ouvindo Histórias do Imaginário Amazônico – 1998.
Marcas D’água - aerotextos – 1998.
Timbuí - a lenda da anta – Conto – 1998.
Vera – o romance – 2000.
Moiraba – a lenda do sapo – Conto –
Capitariquara e nas Conceição dos Araguaias – Conto – 2000.
Trapiche - aerotextos – 2003.
Lâmina Mea – mulher não chora ou Suzama matriz – prosa e poesia – 2003.
Matinta Perera – conto – 2000.
Embaixo do Casco – conto – 2003.
Amor Engarrafado – conto – 2003.
Os papagaios do paruru – situação – prosa – 2003.
Moju Moju meu amor – conto – 2003.
Boiúna-me - poesia e prosa – 2003.
Matintresh – conto – 2003.
Jiboia Branca via Tapanã/ Tenoné – texto (poema) instalação – 2003.
Os Satiro de Melo – história de família musical – 2003.
Palácio dos Bares – Buate Condor -Poesia - depoimentos/ memória social e emotiva – 2003.
Lygia da Cunha Nassar – uma experiência de pobreza no interior da Amazônia – memória social e emotiva – breve história de vida – 2003.
Antônia Cudefacho – O ardente amor de um padre – romance – 2006.
A garota que tentou bater na mãe com a vassoura e ficou seca, na hora – casos visagentos – 2006.
Sarrabulho – a lenda da cobra norato – conto – 2006.
Ilha das Flores – 2006.
Fofós de Cametá – carnaval nativo – 2006.
Cametá Vila Viçosa de Santa Cruz dos Camutá – 2006.
Marabaenses – carpintaria naval – 2006.
Vila do Carmo do Tocantins – A Festa de N. Sra. do Carmo – Paisagem de Afetos - memória histórica – 2007 –
A Crença no Amor Lygia Nassar - organizador 2008 –
Os Grandes Lábios de Belém – prosa e poesia à cidade de Belém – 2009.
As Histórias de São Benedito – memória religiosa e afetiva da Amazônia tocantina –2010.
As Intolerâncias do Baratismo – entrevista com o músico Élio Satiro – 2010.
Tio David, Padre David – A vida – em fatos e fotos – do cônego David Gonzaga Larêdo – 2013.
Chapéu Virado é ficção baseada em versões da lenda do boto. O conto se passa em uma ilha, que pode ser Mosqueiro com seu Chapéu Virado que dá título ao trabalho. O livro tem formato de bolso, pra ler em qualquer lugar. Leitura gostosa e sedutora.
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