A proteção dos barrancos da Praia do Bispo, para impedir a ação das marés altas, foi concluída em 1936, na administração do Prefeito Municipal de Belém Alcindo Cacela, admirador e frequentador assíduo da Ilha.
Texto: Moisés Sarraf
Fotos: Oswaldo Forte
A cerca de 70 quilômetros de Belém, a paradisíaca Mosqueiro abriga cenários ainda pouco conhecidos da grande parte dos visitantes, que conhecem mais o lado agitado e festeiro do balneário-distrito da capital paraense.
“Circundado por extensas paredes de mato e água, percorremos os primeiros metros do que bem mais à frente se torna o imponente oceano Atlântico, quando o sol já atravessava um quarto do seu percurso. Com as faces contra um espetacular vento, adentramos igarapés, rios e uma baía, conhecendo uma diversidade de espécies -- animais e vegetais – que jamais havíamos visto.
Cinco minutos depois, cortando as curvas, adentramos a “Boca do Pratiquara”, confluência com a baía de Santo Antônio e o rio Murubira. No total, navegamos por 1h15, observando a imensa ilha, junto de diversas ilhotas, desconhecida, apesar de ser o destino certo dos moradores das cercanias, geralmente no período seco da região. Tudo é novo. Bem que parece a crônica de um espantado visitante que percorrera a Amazônia em séculos passados. Essa, porém, é uma outra paisagem da ilha de Mosqueiro, um dos distritos de Belém. Longe das praias agitadas pela multidão, ainda há muito o que se conhecer no lugar.
A Bucólica. Há muito tempo esse apelido se perdera na urbanização da ilha encravada no estuário amazônico, onde o rio vira mar e o mar vira um “riozão”. Isso porque a maioria dos visitantes conhece apenas o litoral, o lado que fica de frente para a praia, o que desenvolveu o turismo a partir desses balneários, como as badaladas praias do Murubira, Chapéu Virado e Marahu. Nossa equipe chegou ao porto do Pelé, no subúrbio de Mosqueiro, por volta das 7h45 de um domingo de sol ameno. Um agitado trapiche, às margens do igarapé Tamanduaquara, por onde passavam pessoas em busca de folga, estivadores esperando mercadorias e gente – muita gente – desde cedo, a jogar uma partida de bilhar nos bares erguidos sobre as pontes. É de lá que partem embarcações para diversas comunidades da chamada região das ilhas de Mosqueiro.
“Ah, chegaram!”, exclamou a turismóloga Gildelisa Cézar, a Gilda, nossa guia, ao lado de um grupo de mais de dez pessoas. Nosso passeio tinha destino certo: as trilhas abertas entre comunidade ribeirinhas das ilhotas do distrito, uma área pouco ou quase nada sob a influência do homem. Só nessa área, são sete comunidades. Nossa primeira meta era alcançar a comunidade Castanhal do Mari-Mari, nome de uma frutinha comum no interior do Estado. Estávamos a caminho da trilha Olhos d’Água, que termina na comunidade de Caruaru, onde residem 60 famílias, com cerca de 300 moradores. Por lá, os habitantes vivem da agricultura familiar, em regimes agroflorestais, típicos de comunidades tradicionais, além da pesca artesanal. Na roça, mandioca plantada e uma intensa produção de farinha.
A trilha Olhos d’Água, digamos, é antiga. Surgiu em 1987 por uma necessidade básica daqueles moradores: um caminho que interligasse as duas comunidades, a do Mari-Mari e a do Caruaru. Enquanto cruzávamos os pequenos rios a bordo do barco-motor Guerreira das Águas, Gilda dizia – quase gritava, para superar o som do popopô – que “a prefeitura incentivou o turismo de base comunitária na área, sinalizando os pontos do caminho, orientando moradores”, há cerca de uma década. Os visitantes começaram a se interessar pela conhecida modalidade de trekking – você coloca a mochila nas costas e o pé na estrada. Era só organizar um grupo de aventureiros e partir para a trilha. Com o tempo, sem tantos visitantes, a mata foi fechando o caminho.
Helena Silva, de 43 anos, conhece bem o caminho há dois anos. Ela participou de um projeto para capacitação de guias através da Fundação Escola Bosque, a partir do qual diagnosticou o que há de melhor naquele caminho e, principalmente, sabe muito bem como apreciar sem devastar. Sua função primordial é essa: mostrar a trilha, apreciar as belezas, mas não deixar lixo nem levar nada do lugar. “A caminhada é muito boa, tem uma planta linda naquele lugar”, disse a guia. Todas, a toda hora, falavam sobre uma espetacular espécie de samambaia azul, que superaria a beleza de bromélias e orquídeas. Uma espécie que muitos comentam por Mosqueiro com desdém, como se fosse uma “conversa de caçador”. Os bandos de macacos-de-cheiro também são conhecidos do passeio, mas não fomos agraciados com a curiosidade dos bichos.
Selma Monteiro, outra monitora, lamentava, ainda na embarcação, o desconhecimento dessa área, “porque as pessoas só vão às praias de Mosqueiro” nos dias de julho, dezembro e feriados.
À medida que avançávamos, os lugares pareciam ainda menos com as conhecidas paisagens da, agora sim, Bucólica. Nenhum ser humano à vista. “Aqui, bem perto de Belém, temos um ambiente rústico, uma área pouco tocada pelo homem”, disse Gilda. Atravessamos águas barrentas de áreas pouco exploradas e, ao fundo, somente o rio Pará se alargando até formar o imenso delta que deságua no Atlântico. No local, são fortes as marcas do estuário. A vegetação característica do mangue, com raízes altas, bifurcadas, tomadas por flores brotando, ainda minúsculas nos troncos; a lama preta, com toda a variedade de crustáceos e moluscos, principalmente os pequeninos sararás; e, à frente, somente o verde emoldurando o límpido céu da ilha, com os amarelos, os vermelhos e os verdes concedidos por tucanos e araras. Tudo junto, no solo, dos milhões de antrópodes, platelmintos e anelídeos, além de fungos, bactérias e protozoários responsáveis pelos ciclos de vida. À medida que adentramos a ilha, na região meridional, baixa a salinidade das águas e começa a várzea. Fosse como fosse, a viagem já valera a pena.
Depois de 1h30, chegamos ao porto do Canavial. Lá, começava uma charmosa ponte de madeira de uns 500 metros, passando por cima de braços de igarapé, até chegar em terra. Tomamos o barco, atravessamos o rio, caminhamos sobre a ponte e pisamos em solo firme.
Há um bom espaço para caminhada na trilha, mas as árvores se fecham em arco, ao alto, transformando o lugar em um corredor coberto, praticamente livre do sol, cujos raios se espalham em alguns pontos. O clima é agradável, quase frio. Passamos pelo primeiro sítio, uma casa de farinha à espera de mandioca. Mais à frente, em uma espécie de praça da comunidade do Mari-Mari, lugar de comunhão, havia um campo de futebol e também espaço para devoção. Santa Maria do Castanhal do Mari-Mari é o título da imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em fins de maio, acontecia a festividade da santa, ao redor de uma aconchegante capelinha, com cinco fileiras de bancos. Em frente à igreja, um imenso arranjo de flores amazônicas, confeccionado pelos moradores. “Hoje ainda é o segundo dia. Todo dia tem novena ao final da tarde”, contou Vera Lúcia Fróes, 52 anos, que cuida da limpeza da capela.
DESCOBERTAS
Seguindo a trilha, a cada residência, um aceno da janela. No meio do caminho, como nos alertou Gilda, o “carro-chefe” do local, o tal vegetal famoso, conhecido, propalado: a samambaia azul. É realmente impressionante. Primeiro apenas alguns exemplares e, então, centenas de samambaias com as folhas brilhando em azul, quase roxo. Um espetáculo só não maior que a disciplina de uma tropa que cruzou, interminável, nosso caminho. Eram cinco “faixas” de formigas atravessando a trilha, em milhares – quem sabe milhões – de taocas, que saíam de um tronco de árvores transmutado em ninho. Lá pelo meio do caminho, quase 2,5 quilômetros de caminhada, pudemos nos refrescar. Pegamos um desvio, levando a outra trilha que desemboca no igarapé da Casa Grande, berço do rio Mari-Mari, onde se amontoavam dezenas de matapis e rabetas.
Retornando ao nosso caminho, seguimos em linha reta. Com a mata ainda mais fechada, restando apenas o espaço para duas pessoas emparelhadas, ninguém sentiu o cansaço. O que dá nome à trilha aparece apenas quando a aventura está próxima do fim. Por estarmos no término do chamado inverno amazônico, quase perdemos a atração, que, por sorte, ainda estava lá. O olho d’água cruzava a trilha – ou a trilha o cruzava – com a fonte gelada, quase transparente, brotando das pedras, da terra. “Já tem só um restinho do olho d’água. No verão, ele some e só volta com as chuvas do final do ano”, disse Gilda. Depois de experimentar a água, já podíamos encerrar a visita. Alguns tronos pelo caminho – como se derrubados propositalmente para caracterizar a trilha – e, então, um novo clarão na mata, a comunidade do Caruaru, com seu campo de futebol, sua capela e dezenas de casas circundando a “praça”.
Igarapé, praia e bem-estar
Outras opções se apresentam ao visitante que quiser fugir do passeio badalado em Mosqueiro. Ao terminarmos nossa trilha, na comunidade do Caruaru, tomamos uma embarcação novamente. Desta vez, fomos ao sítio Pratiquara, cujo proprietário Nonato Marques também organiza trilhas. Das margens da baía de Santo Antônio partem duas trilhas, uma com um quilômetro e outra com um quilômetro e meio. “A pessoa me liga, eu agendo tudo”, adianta o proprietário.
Com poucos visitantes, a tranquilidade ecoa no silêncio do lugar. No cardápio, o mais fresco dos peixes de Mosqueiro, se gaba Nonato, mostrando a todos as suculentas postas de filhote e dourada prestes a irem para a panela. Construído sobre um trapiche, como uma palafita, o restaurante possui dezenas de objetos feitos em artesanato com madeira e cipó, e uma atração maior ainda: um píer que flutua sobre centenas de garrafa pet. “Eu fui coletando, pedindo doações. Não demorou ficou pronto” contou Nonato, apontando para onde estavam alguns clientes observando o rio.
Antes do portal de entrada de Mosqueiro, na rodovia PA-391, há também opções para famílias e amigos em busca de trekking ou de moutain bike.
No lado direito da via, sentido Belém-Mosqueiro, procure a placa “Balneário Belezinha”. O igarapé vem da cabeceira do rio Mari-Mari, conta o dono, Evandro dos Santos, 32 anos, O Belezinha segue até hoje os preceitos para os quais foi criado, só que em escala maior. A área foi comprada em 1992, por Floriano dos Santos para ser um refúgio familiar, lugar de sossego para fins de semana e dias de folga. Já em 1995, uma obra ampliou as dimensões, formando uma piscina natural. Aí as visitas cresceram. “Sempre tinha um amigo da família pedindo para vir aqui, a gente sempre deixava”, contou Evandro dos Santos, filho de Floriano. Só que “amigo invoca amigo”; o negócio cresceu. No balneário, há variadas opções. Através do campinho de futebol, começam duas trilhas. A primeira é para o trekking, a segunda, para o moutain bike. Com uma hora de duração, a caminhada na trilha tem pontos de descanso e faz um semicírculo pela mata, até chegar à barragem que forma a piscina natural. Já de bicicleta o percurso é maior, totalizando 2h30. E tem mais: quiosques, sombras e água geladíssima.
Mosqueiro é imenso formigueiro humano durante os meses de férias escolares, principalmente aos finais de semana. Basta olhar do alto. São milhares de pessoas sob barracas, disputando a areia. Ainda assim, esse setor pode ser de tranquilidade, sem carros-som, sem muita gente.
A praia da baía do Sol esconde belezas pouco vistas devido a distância. Os banhistas preferem as mais procuradas, como Murubira, Chapéu Virado, Farol, Ariramba e outras. Na tarde de nossa visita, apenas uma família se banhava sob o pôr-do-sol amazônico, por volta das 16h, com o horizonte infinito à frente. Só na volta entendemos o nome da baía. Um sol manso dourava as águas, o vento forte, incessante no ar e, então, a dimensão da vida ribeirinha toma conta de qualquer visitante.
“Sempre venho aqui trazer o bebê”, disse a dona de casa Joanes Lira, 28, com o cabelo ao vento, segurando o carrinho do filho de três meses. Ao deixar a praia, pegando a estrada de volta para Belém, só restou uma dúvida cruel, crudelíssima, por que não ficamos para ver o que a noite tem a oferecer?”
FONTE: Sarraf, Moisés. Do outro lado da ilha. “AMAZÔNIA VIVA”. Ed. ORM – O LIBERAL- VALE. Belém/PA. Julho 2013. Edição nº. 23. Ano 2. pp. 30,31,32,33,34,35,36,37,38 e 39. ISSN 2237-2962.
IMAGENS: cópias das fotos da revista
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Sabor de tradição. Assim pode se definir os 90 anos de história das famosas tapioquinhas de Mosqueiro. Quem vai à ilha, seja num simples final de semana ou nas agitadas férias de julho, não resiste a uma parada na Vila para comer as deliciosas tapioquinhas com café. O toque especial fica por conta da paisagem da ilha, carinhosamente chamada de Bucólica pelos paraenses.
A variedade é enorme. É tapioca com creme, com ovo, presunto, queijo e até cupuaçu com chocolate. Uma riqueza de gostos e sabores que faz a população e visitantes da ilha se encontrar ao amanhecer para a primeira refeição do dia ou no agradável fim de tarde, com direito a vista da Orla da Vila. Mesmo passados nove décadas, as tapioqueiras de Mosqueiro continuam a receber inúmeros elogios e contabilizar novos clientes. É assim que Elizeu Barbosa, fala dos seus 50 anos de trabalho junto à sua esposa na "Barraca da Vovó". O trabalho começou com sua sogra, que foi uma das quatro pioneiras que começaram a vender tapiocas na Praça Matriz da Vila. "Naquela época não havia emprego e foi uma forma de sustento para a minha sogra", contou Elizeu, lembrando que o número subiu para as 19 depois atuais.
O trabalho das tapioqueiras é uma tradição, que passa de mãe para filhas e netas, enfim de geração para geração. "É algo que não pode ser vendido. É a raiz da nossa família que já está firmada", diz Catarina Barbosa, que mora e trabalha em Belém, e em época de pico colabora na barraca dos pais, Adriana e Elizeu Barbosa, com as vendas.
Nos períodos de maior demanda, a fila cresce e o trabalho dobra, às vezes triplica. "Todas as 19 barracas chegam a vender três mil tapioquinhas por dia, o que dá uma média de 200 kg de goma por mês", diz Catarina. É um trabalho pesado, que merece dedicação e esforço. "Acordo bem cedo para ajeitar a barraca e receber o material que é fornecido por produtores do interior", garante Elizeu.
Tudo é programado com antecedência para o dia seguinte. O material é comprado com antecedência e, quando é preciso, até novas contratações são feitas. A Associação das Barraqueiras de Venda de Tapioca e Comidas Típicas da Ilha de Mosqueiro (ASBAVETIM) é que escala e chega a pagar R$ 30,00 a diária de trabalho.
Essa associação foi estabelecida como utilidade pública desde o dia 8 de janeiro/2007 depois de um decreto assinado pelo prefeito Duciomar Costa. "Lutamos desde 1996 para que nossa associação fosse reconhecida e só agora na atual geração é que conseguimos", diz Elizeu, que é o presidente da ASBAVETIM.
A atual administração municipal contribuiu com o trabalho das tapioqueiras em várias formas, oferecendo cursos de manipulação de alimentos através do Departamento de Vigilância Sanitária (Devisa) e gerenciamento de balcão pela Agência Distrital de Mosqueiro. O programa Ama Belém também já colaborou com esta atividade da culinária paraense, entregando duas camisas e pares de calças para cada pessoa que trabalha nas barracas.
O poder mágico da Tapiocaria reúne as famílias para um delicioso café da manhã.
Tapiocaria da DORA - Atendimento Nota 10
Imagens: JCSOliveira_Uema@hotmail.com
FONTE: http://tapioquinhadavilademosqueiro.blogspot.com.br/
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MOSQUEIRANDO: As primeiras tapioqueiras, com seus tabuleiros atraentes, vendiam seus deliciosos produtos no interior do Mercado Municipal: Dona Biló (a mais antiga) e as senhoras Elvira, Helena, Lourdes, Alzuíla e Adriana.
Autora: Profª. Doralice Araújo
Sábado, 13 de julho de 2013.
A neblina nas manhãs de inverno deixa as nossas ruas curitibanas desse jeito – Mercês, Curitiba, arquivo pessoal.
Estamos nessas primeiras horas da manhã de sábado e o nevoeiro faz parte do cenário, mas, afinal, é inverno e a aparência do tempo surpreenderia caso estivesse diferente. Na minha memória de migrante em Curitiba emergem, entretanto, as temporadas do verão amazônico, em contraste exemplar do convívio das estações climáticas em um país continental como o nosso Brasil. Na capital paranaense, a mínima é de10ºC e a máxima de 23ºC, segundo o Simepar.
Na Amazônia, as manhãs acordam sob o verão, em contraste curioso da estação climática em um mesmo país – Praia do Paraíso, Ilha de Mosqueiro, PA, arquivo pessoal.
Outrora, lá em Belém, a minha família, assim como as demais, desembarcávamos nas praias para o desfrute de um final de semana ou temporada mais longa na inesquecível Ilha de Mosqueiro, lugar do qual já tratei em postagem anterior.
Até a próxima!
FONTE:http://namiradoleitor.blogspot.com.br/2013/07/no-sul-inverno-na-amazonia-verao.html
O folclore amazônico conta que, nas noites quentes de junho, o boto cor-de-rosa emerge faceiro dos rios na forma de um elegante rapaz. Vestindo trajes sociais e um chapéu branco enorme (para disfarçar o narigão), sai em busca de senhoritas indefesas. Seu toque galanteador é implacável. Ele seduz as jovens e as convence a acompanhá-lo num passeio até o fundo do rio. Ali, o boto costuma engravidá-las.
Para quem vê de fora, é só uma lenda presente no imaginário popular. Para quem mora na região Norte, o boto cor-de-rosa é realmente um inimigo. Não só porque “tira a virgindade” das moçoilas. Ele também é acusado de ser um entrave à pesca, uma das principais atividades comerciais da região. Os pescadores dizem que esta espécie específica de boto (Inia geoffrensis), o maior dos golfinhos de água doce do mundo, ajuda a soltar os peixes das armadilhas. E ainda estraga as redes de trabalho.
Esse pensamento arraigado está ameaçando a existência do boto cor-de-rosa, segundo um estudo da Associação Amigos do Peixe-boi (AMPA), com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A população da espécie corre risco de sofrer uma drástica redução nos próximos anos, devido aos impactos da pesca.
A associação pesquisou a interação de duas espécies com a pesca na região do Médio Solimões, no Amazonas: do boto cor-de-rosa e do tucuxi (Sotalia fluviatilis), aquele semelhante ao golfinho do mar. A situação do tucuxi, diz o estudo, não preocupa. As estimativas de mortalidade ainda estão abaixo do nível definido como sustentável. Mas a perspectiva para o boto cor-de-rosa não é nada boa. Cerca de 360 animais são mortos todos os anos. A média é pelo menos seis vezes acima do limite considerado razoável para não haver redução populacional.
Embora as duas espécies se enrosquem acidentalmente nas redes de pesca, só o boto cor-de-rosa morre depois da captura. Bem quistos pelos pescadores, os tucuxis geralmente são soltos nos rios – e conseguem se salvar. “O boto cor-de-rosa poderia facilmente ser libertado sem maiores danos quando malhado em uma rede”, afirma Sannie Muniz Brum, responsável técnica pelo projeto. “Mas a antipatia que este golfinho provoca nos pescadores é um grande empecilho para seu salvamento”.
O boto cor-de-rosa sofre com outro tipo de pressão: a pesca do piracatinga (Calophysus macropterus), um peixe muito apreciado na culinária colombiana. A carne do golfinho é usada como isca para facilitar a captura do peixe. “O projeto estudou áreas em três colônias específicas, mas tanto a pesca quanto a captura com isca ocorrem em muitas localidades da Amazônia”, diz Sannie.
Há alguns caminhos para reduzir a mortalidade. Desde os mais óbvios, como ações de educação ambiental, ecoturismo e a criação de regras de manejo pesqueiro. Até os mais sofisticados, como um fundo para compensar os prejuízos financeiros causados pelos golfinhos aos pescadores. A associação começa a trabalhar com parte deles. “As comunidades que integram o projeto estão mais conscientes de sua relação com os recursos naturais”, afirma Sannie.
(Aline Ribeiro)
FONTES:
http://colunas.revistaepoca.globo.com/planeta/2011/09/02/pesca-ameaca-populacao-de-boto-cor-de-rosa/
http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/p/curiosidades.html
Autor: Salomão Larêdo
TRECHO DO LIVRO:
"Lá fora não carecia soar hora para permitir tudo fosse feito. No terreiro, cada um cuidava de fazer sua hora e tudo se permitia. Era mais saudável, a noite convidava e o rio fazia sua festa para os amantes. Tudo perfeito, tudo divino!...
Cantinflas não dava descanso e Chica não cansava. Beijos e beijos, juras de amor de tudo que Chica desejava estava ali em sua frente. Como procurou seu amado! Quem procura, acha. Encontrou!!!....
Deslumbrada ante a figura tão bela completamente perdida e totalmente apaixonada, ferida no coração por flecha possante e desejosa de carícias, pouco a pouco Chica foi-se entregando, entregando...
Quando homem a apalpava, ela suava de prazer. Quando seu homem topou as delícias daquele jeito, sentiu uma força especial e Chica uma coisa também diferente.
- Estou menstruada, amor!
Cantinflas foi lá nas alturas e voltou.
Beijos, afagos, carícias e um não sei que mais impossível de aguentar, Chica que só esperava por aquilo, que ansiara tanto tempo, que procurava, que se mantivera firme, que não abandonara a luta, poderia provar, queria provar, sonhara, sofrera por aquele amor, vivera momentos de angústias, estava com a recompensa, encontrara o homem de sunga lilás que foi assim que ele se mostrava outra vez atiçando as estranhas e todo corpo da mulher Chica e de Chica, mulher sedenta e desejada.
Chica, com todas as forças, atira-se nos braços de Cantinflas. É noite e noite de infusa beleza, dizem os poetas e se entrega com a força da total entrega...
Chica é toda ternura! Está saciada, está deslumbrada, está mais excitada e bela que nunca e repleta de sua mais vital força que é a alegria de viver e nesse estado, quase desmaia ao ver, com o clarão do dia (era o homem de sunga lilás, lindo, lindo!) que os pés de seu amante apresentam os calcanhares voltados para a frente.
Só então Chica percebe ter sido vítima do diabo sedutor das águas. O demônio existe sim e Chica está diante de sua maior tentação e pondo a memória mais que rápida pra funcionar, entende tudo e solta grito pavoroso, pedindo socorro!!!!
Imediatamente os amigos e as amigas da festa, os colegas e mais pessoas apressam-se para saber o acontecido e ainda podem ver que o homem de sunga lilás, bonito, bonito, num horrendo pitiú que sai de seu corpo, dá um pulo e mergulha, para, logo em seguida, traindo a identidade até mesmo para seus mais que amigos que o julgavam rapaz da cidade, gente mais que normal, vir à tona. E, mostrando o focinho vermelho, sopra um jato d’água na direção de Chica, numa espécie de zombaria. Havia conquistado mais uma...
A praia foi ficando lotada de gente que ouvia as narrativas com espanto e credulidade mesmo. Dizem que não existe, que não é verdade e isso vive acontecendo, todo veraneio essa coisa acontece, de modo diferente, mas acontece, existe, quem não quiser que deixe de acreditar. E os falatórios se sucediam..."
O autor:
Salomão Larêdo, nascido na Vila do Carmo em Cametá, é advogado, jornalista, professor, escritor paraense e membro da Academia de Letras com várias obras premiadas. Seu universo literário é o homem e a região da Amazônia.
OBRAS EDITADAS E PUBLICADAS:
Senhora das Águas – Poemas – Menção honrosa da Academia Paraense de Letras – 1982.
Sibele Mendes de Amor e Luta – Romance – 1984.
Guamares – Romance – 1989.
Remos de Faia – Romance – 1991.
Maraílhas – Contos – 1º Prêmio Cultural CEJUP/Academia Paraense de Letras – 1992.
Chapéu Virado – a lenda do boto – Conto – 1997.
O Prazer de Ler e Escrever - Ouvindo Histórias do Imaginário Amazônico – 1998.
Marcas D’água - aerotextos – 1998.
Timbuí - a lenda da anta – Conto – 1998.
Vera – o romance – 2000.
Moiraba – a lenda do sapo – Conto –
Capitariquara e nas Conceição dos Araguaias – Conto – 2000.
Trapiche - aerotextos – 2003.
Lâmina Mea – mulher não chora ou Suzama matriz – prosa e poesia – 2003.
Matinta Perera – conto – 2000.
Embaixo do Casco – conto – 2003.
Amor Engarrafado – conto – 2003.
Os papagaios do paruru – situação – prosa – 2003.
Moju Moju meu amor – conto – 2003.
Boiúna-me - poesia e prosa – 2003.
Matintresh – conto – 2003.
Jiboia Branca via Tapanã/ Tenoné – texto (poema) instalação – 2003.
Os Satiro de Melo – história de família musical – 2003.
Palácio dos Bares – Buate Condor -Poesia - depoimentos/ memória social e emotiva – 2003.
Lygia da Cunha Nassar – uma experiência de pobreza no interior da Amazônia – memória social e emotiva – breve história de vida – 2003.
Antônia Cudefacho – O ardente amor de um padre – romance – 2006.
A garota que tentou bater na mãe com a vassoura e ficou seca, na hora – casos visagentos – 2006.
Sarrabulho – a lenda da cobra norato – conto – 2006.
Ilha das Flores – 2006.
Fofós de Cametá – carnaval nativo – 2006.
Cametá Vila Viçosa de Santa Cruz dos Camutá – 2006.
Marabaenses – carpintaria naval – 2006.
Vila do Carmo do Tocantins – A Festa de N. Sra. do Carmo – Paisagem de Afetos - memória histórica – 2007 –
A Crença no Amor Lygia Nassar - organizador 2008 –
Os Grandes Lábios de Belém – prosa e poesia à cidade de Belém – 2009.
As Histórias de São Benedito – memória religiosa e afetiva da Amazônia tocantina –2010.
As Intolerâncias do Baratismo – entrevista com o músico Élio Satiro – 2010.
Tio David, Padre David – A vida – em fatos e fotos – do cônego David Gonzaga Larêdo – 2013.
Chapéu Virado é ficção baseada em versões da lenda do boto. O conto se passa em uma ilha, que pode ser Mosqueiro com seu Chapéu Virado que dá título ao trabalho. O livro tem formato de bolso, pra ler em qualquer lugar. Leitura gostosa e sedutora.
Autor: Claudionor Wanzeller
A Praia do Areião, ao sudoeste da Ilha do Mosqueiro, é reconhecidamente um ponto histórico de relevante importância, marcado por uma festividade quase centenária.
Na baía de Santo Antônio cujas águas banham aquela praia, os índios morobiras desenvolviam a pesca, atividade milenar que, mais tarde, originaria a Vila e seu primeiro suporte econômico. Nas fartas areias, os indígenas praticavam o moqueio e, segundo alguns historiadores, ali aportara, em 1520, o navio avariado do pirata espanhol Ruy Garcia de Moschera. Na verdade, o próprio nome da Ilha surgiu naquele lugar, pois o registro cartográfico de 1680 (o mais antigo que se conhece) batiza aquela ponta de praia de Ponta da Musqueira. O local ficou depois conhecido como Ponta da Pedreira, uma vez que era uma das pedreiras do Reino, de onde muitas pedras foram retiradas para os alicerces da antiga Belém.
Praia do Areião – antiga Ponta da Musqueira (FOTO: Wanzeller)
A praia do Areião também foi palco de um fato muito interessante ocorrido no dia 20 de janeiro de 1836: a primeira tentativa de invasão das tropas legalistas vindas da ilha de Tatuoca, frustrada pela coragem e tenacidade dos cabanos sediados na Vila.
Outros fatos não menos marcantes tornam a praia um atrativo turístico: a instalação, em 1924, da Usina Santo Antônio da Pedreira, para beneficiamento da borracha, diversificando a atividade econômica da Vila; a fundação pelos seus funcionários, em 1925, do Pedreira, o primeiro clube de futebol da Ilha; a primeira greve de trabalhadores do Estado do Pará, ocorrida em 1939 e a presença folclórica da Cobra Grande no subsolo da Fábrica.
Ilustração (PROF. ALCIR RODRIGUES, 1999)
Por outro lado, os pescadores artesanais da Vila do Mosqueiro e da ilha do Marajó utilizavam a enseada como ancoradouro e, dessa convivência pacífica, resultou a ideia de festejarem juntos, ali, em 1918, São Pedro, o seu Santo Padroeiro, sendo apoiados, incondicionalmente, pela senhora Isabel Magalhães, moradora antiga do lugar e mãe da atual organizadora do evento, Profª. Maria Diva Palheta. Dois anos após, a Festividade passaria a ser promovida pela Colônia de Pescadores Z-9, fundada na praia, em 1920.
Profª. Diva Palheta, organizadora da festa (FOTO: Wanzeller)
A Festividade de São Pedro do Areião tornou-se, ao longo dos anos, uma tradicional manifestação popular quase centenária, de caráter religioso ao mesmo tempo profano e folclórico, por congregar, na atualidade, milhares de moradores e visitantes, como pôde ser observado durante as ladainhas, as missas, a romaria, a procissão fluvial e o cortejo do mastro, que compõem a programação do evento.
Procissão Fluvial de São Pedro (FOTO Wanzeller – 2013)
Obviamente, há muito esta festa deixou de ser exclusiva dos pescadores, como forma de agradecimento ao Santo pela proteção e fartura da pesca. Transformou-se numa grande manifestação cultural do povo mosqueirense, o que justifica a sua classificação como Patrimônio Imaterial da Ilha e do Município de Belém.
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