terça-feira, 24 de julho de 2012

CANTANDO A ILHA: O Paraíso é um acampamento em 91.

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

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                        É noitinha ainda...

Arremesso longe a linha de pescar:

quase pesco toda a conjunção

interplanetária que no céu desenha

uma geometria triangular ―

Vênus, Marte, Júpiter e Saturno

derramando brilho nas águas

mornas da Baía-do-Sol,

onde me banho, à espera de

um improvável peixe fisgado

pelo meu azarado anzol canhoto.

Na verdade, a pinga já me fisgou

por completo, quase...

                                          ...me levando embora,

                                         ou nos calientes braços de Iemanjá

                                                (para o fundo das águas),

                   ou, quem sabe, nas asas dessa imensa

escura ave, chamada

            noite de Anhangá,

rumo aos milhares de olhos que piscam no céu...

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Por trás da fogueira,

a barraca de camping

abriga os companheiros irmãos,

talvez sonhando com a Boiuna-Luna

de Macunaíma, astro flutuando

e distribuindo sua claridade

em gotas fosforescentes pingando

que nem sereno nesta praia-paraíso,

espocando no contato com as chamas

da fogueira deste improvisado acampamento.

Além dos habitantes da barraca,

também dorme um sono dos justos

a Ilha do Maracujá, logo ali e ao largo

―na ilharga da praia―,

um arremate no recorte da enseada,

como um barco ancorado, sempre a partir,

                                                     e sempre a ficar,

encalhado na terra e na memória,

beleza de areia, pedras e vegetação:

            um oásis para os enamorados corações.

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Não vejo por aqui-agora nem Eva nem Adão,

apenas a serpente:

uma jiboia, um ofídio sem peçonha...

Inoculada em mim, sabe lá

por qual deusa ou deus,

uma outra peçonha ― um feitiço que me traz de volta

sempre ao Paraíso, e sua maçã

estampa-se no cartão postal

que me rodeia: são águas

                                          areias

               céu nem sempre azul                     com muitas nuvens

        barracas e barrancos

                                                                                                                                                                               Ilha

                       rochas

            baía

                           as canoas

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                             o verde da vegetação          e a casa colonial

                 a conversa e a pinga

                                  o dominó, o baralho

                                              as caminhadas em grupo

           a fogueira com a panela

                                                             na lenha em brasa

os banhos nas ondas a lavar

                        o corpo e extirpar o suor

                                                  do excesso de cachaça

Foi belo o dia chuvoso,

mas a noite é encantadora...

As sombras do arvoredo dançam,

como as sombras na Caverna de Platão

a emparedar em mim um ethos ou ideário

com ares de soturnidade...

Talvez porque todos dormem,

e eu nem a garrafa me conduz

ao mundo de Morfeu...

A Lua levitando

no profundo éter noturno

geometriza no olhar

um quadro de indistinta proporção

e intangível equidistância

com a conjunção dos planetas,

astros imantados atraindo

este pescadorpoeta noctívago

banhando-se na mancha láctea

fosforescente replicada do céu

no piso líquido da baía,

esta que me traz a aromática

aragem cálida como mensagem

de uma nova vida, novo princípio...

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Isso porque já amanhece o dia: a manhã beija

em brisa friazinha meu rosto insone...

As nuvens leves flutuam não só no céu,

mas muito mais em minha quase inconsciência...

Já ouço murmúrios de dentro da barraca.

Talvez agora seja o momento de levitar.

Meus pés me arrastam para fechar

os olhos e poder esquecer de quase tudo...

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FONTE: http://moskowilha.blogspot.com.br/2012/04/o-paraiso-e-um-acampamento-em-91.html#links

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