segunda-feira, 26 de julho de 2010

JANELAS DO TEMPO: O TESOURO DOS CABANOS

(Transcrição de autoria do Prof. Alcir Rodrigues)

2.2.2 Transcrição da narrativa oral do Sr. José Bentes Bahia (Popularmente o Brôa, já Falecido)

Em meio a uma conversa informal, na sua propriedade, bem na beira de um igarapé (chamado de Tamanduaquara) o entrevistado, entre outras histórias, umas sobrenaturais, outras relatando fatos do cotidiano de outrora, algumas jocosas, relatou-nos esta:

Se eu for te contar história, meu irmão, é o dia inteirinho te contando história daqui do Mosqueiro. Tem história bonita e tem história feia.

Esse negócio de achar dinheiro, isso não é mentira, não. O pessoal já acharam muito dinheiro. Porque no livro mesmo diz que a maior fortuna tá enterrada na Baía do Sol, dos cabanos, que aqui tinha o maior forte cabano. a maior. soldado, exército. O Angelim que veio pra cá, o Eduardo Nogueira Angelim, ficou na Baía do Sol, né. Então, lá eles fizeram a camboa. Tem camboa na Baía do Sol que fica a cobra grande, entendeu? Tem até hoje.

Então, lá que eles conseguiram sustentar, né. Tinha 4 mil homens. Quando eles fracassavam em Belém, que eles saía daqui, eles ganhavam a guerra em Belém. Tinha muita gente, soldado.

Então diziam que aqui tá todo o dinheiro, dinheiro vivo. Diz que aqui tá todo o dinheiro enterrado da cabanagem, que eles pegavam todo o dinheiro dos caras, tomavam o dinheiro.

Inclusive, tem uma história do velho Ângelo, do velho Ângelo da Baía do Sol, pai do Beca. Tinha um preto que ficava lá dentro da taberna dele, (.) com ele. Tinha uma parte que vendia peixe que só, peixe. Tinha peixe salgado, que ele mandava praí pro Moju, pra trocar com farinha, milho. Encheu canoa pra lá. E tinha um cupuaçuzar lá, tem um cupuaçuzar. Aí ele pegou e disse pro preto assim:

Preto chamou lá o nome do preto vai roçar, vai cair cupuaçu, vai logo roçar lá debaixo do cupuaçuzeiro, pra quando começar a cair não dar trabalho.

Aí o cara pegou o terçado e saiu pra lá, e ainda levou o filhozinho dele. Aí, tinha umas árvores dentro do mato. Ele pegou e disse assim:

Vai lá naquelas árvores lá.

Aí, quando ele viu, o preto velho, o moleque chegou com o pote.

Olhe, pai, esse pote que eu achei no cupuaçuzeiro.

Aí, o velho disse assim:

O que deixaram aí nesse pote? Destampa.

Destampou o pote. Tava cheio de moeda de ouro. Era grego. Que naquela época era libra, libra esterlina, né, libra. Era em grego, italiana, né? Aí ele pegou, botou a porra do pote no ombro. Chegou lá, entrou pelo lado assim, que era separado o peixe, era separado do comércio. Aí, ele botou o pote em cima da banca lá. Aí, chegou lá. O velho Ângelo, ele tomava uma cachaça, o velho Ângelo também tomava uma; tomava uma, ele tomava uma.

Aí, ele pegou o velho Ângelo assim pelo braço e disse:

Olha, português filha da puta, tu deixa de sacanagem comigo, viu? O preto velho dizendo pro velho Ângelo.

Aí ele:

Por que, já?! Que é?!

Vem cá.

Ele se levanta, chega:

Olha lá, vê, foste bota, foste bota o pote cheio de dinheiro lá, pensando que eu sou ladrão. Eu não sou ladrão. Te manca comigo! Te manca comigo, português, viu? Te manca comigo!

Aí, o velho Ângelo disse pra ele:

É. Agora eu to satisfeito, que deu pra ver que tu não é ladrão. Vai botar isso debaixo da cama.

Ele pegou e foi botar debaixo da cama. O filho do preto é que tirou uma moeda, entendeu? Ele usava, usava diz que lá na Baía do Sol, usava com um fio amarrado no pescoço, a moeda.

Pra tu ver. Aí que o velho Ângelo ficou rico demais, ficou. Essa história todo mundo conta lá na Baía do Sol. Não sou eu, não.

Tem enes histórias que tem no Mosqueiro. Eu te falei outro dia que não tá fazendo 10 anos, não tá fazendo 10 anos, o cara achou aqui no Mari-Mariaçu? Já ouviste contar essa?

Não.

Palavra! Tá ali! Se tu quiser entrevistar o cara, tu vai. Tá vivo o cara! Olha, é mais ou menos assim. Eu não sei bem como é a história. Mas é mais ou menos. Uma vez fui pegar tucunaré, que lá tem muito tucunaré, tem uma mangueira...

E, com uma expressividade contagiante, seu José quase não me deixava partir para casa, de tanta história que conhece e queria me contar.”

(Rodrigues, A. de V. A.: Narrativas Orais da Ilha de Mosqueiro. Ebah.com. Acesso em 22 de jul/2010, disponível em URL: http: //www.ebah.com.br/ narrativas-orais-da-ilha-de-mosqueiro-memoria-e-significado – doc- a 17099. Html).

MOSQUEIRANDO: Fomos atrás do dinheiro dos cabanos e não o encontramos. Achamos, porém – e isto deve interessar aos colecionadores – algumas moedas antigas que circularam na ilha, na época do Império e nos primeiros tempos da República.

Moedas dos tempos do Império:

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Moedas dos primeiros tempos da República:

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