sábado, 22 de maio de 2021

PRAIAS DA ILHA: PRAIA DO BISPO

 

De frente para a baía do Marajó, no oeste da Ilha, a praia do Bispo localiza-se entre a praia do Areião e a praia Grande, costeando um barranco que protege as terras elevadas a 25m acima do nível do mar; sendo, portanto, um dos pontos mais altos do litoral paraense.










Ainda em criança, na década de 1950, via com fascínio a praia do Bispo, recanto encantado de cuja solidão pareciam brotar reminiscências históricas e lendárias.

Se em noites enluaradas um padre sem cabeça vagava pela praia, castigo de uma paixão proibida, e o Rei e a Rainha, as pedras encantadas, assombravam pescadores, ainda era possível ouvir a tropelia dos cabanos na guerra de 1836, testemunhada pelo canhão descoberto sob as areias, pelo vaivém das marés, às proximidades do trapiche, e que hoje, apontando silencioso para a baía, parece defender a ilha do ataque de invisíveis navios legalistas.










Como esquecer que os primeiros banhistas ali buscavam o seu lazer de fim de semana e que Alcindo Cacela mandara construir, em 1936, para proteger os barrancos, um forte quebra-mar, ladeiras e bonitas escadarias ladeadas de jambeiros e encimadas por um florido caramanchão, janela aberta para o rio-mar? Ou a imponente vivenda Canto do Sabiá, cuja arquitetura alemã parecia denunciar misteriosos túneis submersos ou contatos radiofônicos com submarinos e navios inimigos, na guerra de 45?

 











A praia tem histórias e estórias. Quem se lembra da imagem de São Pedro no pedestal erigido, em 1962, na ilhota do mesmo nome, pelo Sr. Waldemar Almeida, a qual foi destruída pelas marés? Ou do trampolim em armação de ferro, na década de 30? Ou da construção da Quadra Dr. Irawaldir Rocha, nos anos 60, pelo Bom Jardim, o primeiro time de vôlei da ilha, no qual pontificaram as figuras de Wolckmer e Beto TabosaCheiroEspanhaRaimundo PaixãoPedrinho e José Ângelo?











Nessa mesma quadra, os professores Firmino MeloCarmen Dolores de Freitas Jorge e eu realizamos, em 1972, o primeiro torneio de futsal na ilha, cujo campeão foi o time da Ponte Preta. Outros times ali fizeram jogos memoráveis: o CLUJOSA do Colégio Nossa Senhora do Ó; o ÁGUA VERDE, do Fausto Ribeiro; o SAC, do Caíta; o TIME NEGRA da família Pombo; o JUVENTUS, do Carlos Mathias; o CHAPÉU VIRADO, do Toninho Russo e o BR-3, do João Maracujá, além do 5 ESTRELINHAS e do 5 ESTRELAS R.C., do eterno presidente Tertuliano, clube que se destacou como campeão paraense da primeira divisão. E, ainda na década de 70, nesse mesmo local, nascia o futebol feminino com a participação de várias equipes.

Foi uma época de grande movimentação, em que os peladeiros se revezavam em disputas nessa quadra, nas horas de banho, e a moçada, nos fins de semana, curtia a MPB no Empata’s Phodas Bar, a seresta do Pamplona no saudoso Tabosão ou os petiscos do Ki-Caranguejo. Festas e torneios atraiam um grande e animado público para a praia do Bispo.

Muita coisa mudou com o passar dos anos, mas o barranco, avançando para o rio, com sua exuberante vegetação e rochas negras carcomidas pelas águas, continua sendo um belíssimo cartão-postal, capaz de despertar os instintos e fazer nascerem muitas paixões.











NA ROTA DA HISTÓRIA: ALCINDO CACELA E A ILHA


 
“Com a Constituição de 1934 e a marcação das eleições gerais estabeleceu-se uma dissidência entre Barata que chefiava toda a parte administrativa do Estado e Abel Chermont, que se encarregava da parte política do Partido Liberal. Em conseqüência dessa dissidência, Getúlio Vargas que estava na presidência da República nomeou o major Carneiro de Mendonça como interventor, com a missão de encontrar uma solução para a crise política. Dessa disputa acirrada pelo poder, acabou sendo eleito José Carneiro da Gama Malcher que, depois de governador, passou a ser interventor do Pará, indicado por Getúlio Vargas já na época do Estado Novo. E Malcher ficava assim no governo do Estado até 1943, governando com uma coligação provisória articulada para derrubar a influência política de Barata.”
FONTEMonteiro, Benedicto. “História do Pará”- ED. AMAZÔNIA, Belém-PA, 2005 - p. 180.
E foi o interventor militar Major Roberto Carneiro de Mendonça que nomeou Alcindo Comba do Amaral Cacela Prefeito Municipal de Belém para administrar a cidade nos anos de 1935 e 1936.



“As escadarias e o muro de arrimo da praia do Bispo – uma obra valiosa do Intendente Alcindo Cacela.
MEIRA FILHO, em seu livro: “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978, relata que foi o intendente de Belém Alcindo Cacela quem mandou construir, no ano de 1936, o Muro de Arrimo que se estende da praia do Bispo até o trapiche, protegendo os barrancos da Vila da força das marés, além da construção das belíssimas escadarias do Bispo.
Nunca é demais lembrar que Alcindo Cacela era frequentador assíduo de Mosqueiro e, em especial, da praia do Bispo, já que a residência (Chalé) oficial da Prefeitura estava localizado nesta praia – Chalé que funcionou como escola conveniada: “Educandário Nazareno”, administrada por uma falsa freira na década de 1980 e que, hoje, é patrimônio abandonado e em ruínas da Prefeitura Municipal de Belém.
O senhor Wolney Vasconcelos Dias (antigo morador de Mosqueiro entre as décadas de 1930 a 1950) relatou, em entrevista particular em 2008, que o Intendente de Belém, Alcindo Cacela, vinha inspecionar pessoalmente, aos finais de semana, as obras de construção do muro de arrimo e das escadarias da praia do Bispo. Segundo Wolney Dias, o muro foi construído usando como estrutura metálica os trilhos do Ferrocarril do português Arthur Pires Teixeira. Foi Cacela quem mandou aterrar a rua que surgiu na beira-mar (área da praia entre o muro de arrimo e as testadas dos terrenos), o rampeamento do final da 2ª Rua e da Travessa Comandante Ernesto Dias para a nova rua Beira-Mar.
Tais relatos de Meira Filho e do senhor Wolney Dias foram confirmados recentemente, graças ao trabalho árduo e incessante de pesquisa na web do Cássio Silva (Bacharel em Turismo e empresário/proprietário da loja Carinha de Anjo) e do professor Alcir Rodrigues (professor de Língua Portuguesa da E.E. Honorato Filgueiras), que localizaram fotos antigas (verdadeiras relíquias da História de Mosqueiro) que datam de momentos próximos da inauguração das obras de Alcindo Cacela na orla do Bispo. Seguem abaixo as fotos das escadarias e do Caramanchão do Bispo:
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Escadarias do Bispo: perceba que, na lateral direita da foto, aparecem várias carradas (monturos) de aterro usadas para aterrar a área da atual quadra de esportes e da nova rua Beira-Mar. A foto confirma as informações descritas no texto acima do senhor Wolney Dias. Pequeno detalhe a observar, na lateral “esquerda” abaixo da foto (não podia ser “direita”, é claro!): na atualidade está localizada a famosíssima barraca “Emphata’s Phodas”.
Comentário bobo do blog: parece que o Intendente Alcindo Cacela deixou esse espaço reservado para importante espaço político-cultural no futuro! Vai  ver que o Cacela tinha inspirações de esquerda e revolucionárias.”
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Caramanchão do Bispo: vista da parte de cima com a praia ao fundo. Veja o capricho das colunas com vasos e calçada revestida com pedras da praia. Outro aspecto interessante: há três luminárias no ripamento do Caramanchão.
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Caramanchão  do Bispo: foto mais aberta que a de cima. Veja que ainda não havia o canhão! E parece que nem o traçado da atual 2ª rua, com a rua dos Escoteiros.
Os relatos do Meira Filho e do Wolney Dias, associados às fotos acima, permitem a compreensão de que, com as obras do Alcindo Cacela (em 1936), a orla do Bispo foi literalmente a primeira praia a ser urbanizada em Mosqueiro. Parabéns! Cássio e Alcir, o achado de vocês contribuiu valorosamente  para a compreensão de um trecho da História da “Bucólica”.”

FONTE: trechos de
http://ptdemosqueiro.blogspot.com.br/2013/01/as-escadarias-e-o-muro-de-arrimo-da_23.html
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Ruínas do antigo casarão da Prefeitura Municipal de Belém, que foi habitado por Alcindo Cacela, onde funcionou a Agência Distrital (provisoriamente) e o Educandário Nazareno (Foto: Christopher Bahia).

NA ROTA DO TURISMO: Bispo: o nome de uma praia

 Autor: Prof. Alcir de Vasconcelos A. Rodrigues

Bem, faz bastante tempo atrás (umas cinco ou seis décadas, por aí assim, pró­ximo à praia localizada entre Areão e Praia Grande, no Mosqueiro [1], passaram a residir ali alguns religiosos da congregação dos maristas. Até hoje ainda fazem retiros espirituais naquela propriedade, que é imensa, bela e arborizada. Alguns religiosos tinham o hábito de, esporadicamente, fazer passeios naquela tímida enseada. Inclusive, a juventude, em sua imensa maioria, desconhece o fato de que o Círio de Nossa Senhora do Ó (padroeira dos mosqueirenses), em tempos agora remotos, saía da propriedade desses religiosos e seguia pela Beira-Mar, Rua Nossa Senhora do Ó, até a Praça Cipriano Santos, onde se localiza, até hoje, a Igreja de Nossa Senhora do Ó, destino lógico da imagem da Virgem.

É, das praias da Ilha, a que mais ostenta seculares e enegrecidas rochas, que, segundo quem professa fé afro-brasileira, emitem bons fluidos para a prática de rituais do candomblé, por exemplo. É lamacenta, pedregosa e dominada por verdejantes capinzais, refúgios de hostis arraias, que aterrorizam os banhistas. Essa praia apresenta algumas peculiaridades, como um extenso muro de arrimo ─ o mais antigo do balneário ─ a impressionante verdura dos vegetais das falésias, onde, um pouco próximo, ficam as imensas pedras Rei (a maior) e Rainha (a menor). Alguns moradores mais antigos da Ilha dizem que os nomes das legendárias pedras foram dados em homenagem ao imperador e à imperatriz (Pedro II e Teresa Cristina). Outra curiosidade é que, "dizque", se uma maré alta de março cobrir a enorme Pedra Rei, é sinal de que o mundo se acabará.

Na outra extremidade da praia fica a Ilha de São Pedro, onde existia uma monumental imagem do Santo Pescador. No centro, as escadarias duplas (à direita e à esquerda), com três lances de degraus ladeados por pilastras, com pracinha, com caramanchão (derrubado, para uma reforma jamais concretizada) e um velho e inativo canhão, além da extremamente exótica arquitetura germânica da mansão Canto do Sabiá.

Naqueles tempos quase imemoriais, contam, um dos religiosos, um tanto introvertido, solitário e esquisito, costumeiramente fazia passeios ao crepúsculo ali naquela praia, bem na beira, mesmo que fosse na vazante, quando as águas recuam por uma linha de, mais ou menos, uns duzentos metros. Para pescadores, ou quaisquer outras pessoas que por ali passavam, aquilo parecia-lhes sombrio e sinistro. Ficavam assombrados com aquele vulto negro a passear da Ilha de São Pedro às pedras Rei e Rainha. Segundo dizem, um clima desconfortante e constrangedor tomava conta deles.

Foi aí que em certa tardinha, em recuada época ─ quem sabe lá por uns vinte ou trinta anos após a morte do padre esquisitão ─ uma moça chamada Clarinha, que trabalhava em uma casa de família em frente à praia, como empregada doméstica, foi recolher a roupa do varal. Era de noitinha, já, o tal lusco-fusco, a chegada do claro-escuro confuso da hora da Ave-Maria. E foi aí que aconteceu: Clarinha, ao divisar no escuro uma estranha silhueta, ficou atônita, como que narcotizada, a ponto de um torpor enregelar-lhe corpo e mente. Apavorada, vislumbra uma aterradora aparição. Parecia flutuar. Era enorme, vestia como que uma batina, com chapelão típico de um clérigo. Ele foi passando, passando... e ela, estupefata, congelada, imóvel. Só minutos depois pôde recobrar o controle sobre si. Então, a história/estória se espalhou. Muita gente comentava. Talvez, principalmente em vista de não ser a moça a primeira a relatar essa aparição. Só que o estado em que ela se achava no momento, ao tentar contar para a patroa o "causo", concorria para dar veracidade ao seu relato.

De lá para cá, muitos afirmam ter deparado nas horas mortas com o sinistro clérigo. Daí, de padre a bispo, foi um pulo. E, com o passar das décadas, em vez de bispo, o que se passou a ver foi um bispo sem cabeça, mais apavorante, portanto.

Assim, a bela e melancólica enseada entre as praias do Areão e Praia Grande passou a ser conhecida como Praia do Bispo, ou, simplesmente, Bispo. "Vou lá na Praia do Bispo!" Ou : "Vou lá no Bispo!" ─ É o que dizem hoje os moradores do Mosqueiro.

(Este texto foi adaptado por nós a partir de conversa informal com três pessoas, a quem somos extremamente gratos: Joana Maria de Vasconcelos Rodrigues, Wolney de Vasconcelos Dias e Clarice Cabral Bahia.)

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/10394/1/Bispo-O-Nome-de-uma-Praia/pagina1.html#ixzz14Y7WeaFx

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Praia do Bispo (FOTO: Eduardo Anselmo-2010).

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Praia do Bispo (FOTO: Christopher Bahia, 2010).

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As pedras encantadas do Bispo (Foto: Edivaldo Caldeira, 1999)


A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: A LENDA DO “CAPA PRETA”

Autoria: Mosqueiro Vírgula

(PRAIA DO BISPO)... o nome tem que permanecer...

Essa história aconteceu há muitos e muitos anos atrás na Vila do Mosqueiro... Seu Antônio jurava de pés juntos e se benzia com a mão esquerda toda vez que contava o ‘causo’... Ele que trabalhou como guarda noturno, vigiando as casas, principalmente dos endinheirados que moravam na capital. Esses vigias não usavam armas de fogo, usavam apenas um cacete de madeira e um apito para fazer alarme e a comunicação com outros vigias.

Nessa época, já havia sido inaugurada a estação que distribuía energia elétrica para parte do vilarejo... Era um motor-- gerador de última geração importado, ‘Caterpillar’ de Ignitor Diesel... Havia uma caldeira onde colocavam pedaços de lenha (madeira) para elevação da Usina Termelétrica e equilíbrio da energia. Moradores da Vila que vivenciaram, comentam que a caldeira servia também para incinerar cachorros que eram pegos na rua pela famigerada carrocinha... A Usina era popularmente chamada de (Force-luz da companhia Cia Força e Luz) e funcionava na Rua 15 de Novembro, esquina com a Travessa Pratiquara no bairro da Vila. Neste local, havia uma chaminé que tinha aproximadamente 115 metros de altura e soltava fumaça no ambiente... Sabe-se também, que lá do alto da chaminé era possível ver a ilha de Outeiro nitidamente e a vista do pôr-do-sol mais lindo do mundo. Quando a usina foi desativada, demoliram a famosa chaminé. Infelizmente nessa demolição teve uma vitima fatal. Atualmente no endereço, “funciona” o prédio da Agência Distrital de Mosqueiro. Se o patrimônio houvesse sido conservado, hoje a CHAMINÉ poderia ser um símbolo histórico da nossa Mosqueiro e um atraente ponto turístico.

As luzes ficavam acesas até as 23 horas... Uma sirene soava melancólica. Era o momento de desligar os motores e Mosqueiro ficava no escuro. Contam os mais antigos que nessa escuridão era que as coisas estranhas aconteciam. Gente que virava porco, Matintaperera apitava, “O Assobiador” assobiava, almas penadas gritavam e transitavam livremente pelas ruas... Havia um lugar pior que tudo isso. Depois que as luzes se apagavam, ninguém se aventurava passar por lá... A CURVA DA “VILA FANECA”, que fica à Beira Mar no final da Praia do Bispo. Nesse lugar aparecia um ser misterioso e fazia qualquer marmanjo correr... Seu Antônio, homem ranzinza e metido a corajoso, era daqueles “cabras” que diziam não ter medo de nada; era igual ao São Tomé, “queria ver para crer”. Ele afirmava já ter dormido no cemitério várias vezes, assustado Matintaperera e posto Lobisomem para correr... De tanto ouvir falar nas assombrações que apareciam na “Vila Faneca” resolveu constatar o fato e trabalhar como guarda noturno. Certa noite, daquelas escuras como um “breu”, resolveu caminhar em direção à famosa curva assombrosa... Tudo aconteceu numa sexta-feira próximo à meia-noite. Era verão. Os pensamentos obsessivos de seu Antônio deixavam sua mente confusa, e meio resmungando, perguntava para si mesmo: “-- Será verdade o que falam dessas assombrações?” Como estava ali por perto, resolveu tirar a dúvida que tanto lhe perturbava. Somente algumas estrelas cintilavam no céu... No mar, as luzes de dois navios que estavam fundeados no rumo da “C’ROA de PEDRAS”... Olhou para trás e viu a luzinha verde do “Farol” que piscava à distância... Apesar de ser verão, a noite estava muito fria, devido à brisa que vinha do mar. As folhas secas rolavam no chão e faziam aquele som, como se alguém o estivesse seguindo. Com a maior naturalidade, seu Antônio caminhava em direção ao maior e último desafio sobrenatural de sua vida. Seu Antônio resolveu não levar o apito para não fazer barulho. E com toda calma, tirou o *¹“abade de onça” do bolso, o tabaco que trazia em uma latinha com um furinho amarrada por um pedaço de punho de rede que pendurava na cintura. Enrolou um *²“porronca” e acendeu... Quando ia pegar a lanterna que estava pendurada no outro lado da cintura, a lanterna caiu... Seu Antônio já estava em frente da ‘famosa vila’. De repente, à sua frente surgiu àquela criatura sombria e assombrosa com mais de dois metros de altura e possuía uma capa preta que cobria todo o vulto. Seu Antônio permaneceu adormecido, não podia mover-se. Faltou-lhe o ar e a voz. Seus cabelos arrepiados da cabeça à ponta dos pés, seus olhos embaraçados em pânico. Chegou a pensar que havia chegado a hora de partir para a “Cidade do Pé Junto”. Sua perna ficou trêmula... “-- O porronca?”, dizia ele: “-- Não sei até hoje, onde foi parar a purra”.
Agora eram somente eles dois... Ele e aquela criatura inanimada, no meio da escuridão. Aquele Dito-cujo ficou ali à sua frente inerte como que esperando uma reação do vigia que dizia ser corajoso; porém, o mesmo permaneceu calado e perplexo. Então, o ser estranho se manifestou com uma voz rouca e grave e disse: “-- Faça um serviço! Mine a notícia!”

O guarda noturno, neste momento, sentia-se o mais infeliz de todos os homens e totalmente arrependido do dia que veio à luz. Tentando se refazer do susto, abaixou-se, e apalpando, conseguiu pegar a lanterna e tentou focar o rosto da indivíduo. Nisso, pela roupa da criatura, percebeu que se tratava de um vigário sem cabeça. Seu Antônio, com a voz muito trêmula e abafada replicou: “-- Diz o que tu qué alma penada”. “-- Tava pa mi cagá nessa hora sô!”, comentava seu Antônio toda vez que relatava a história.

Nisso, a criatura anunciou com uma voz como se vindo das profundezas do inferno:
-- Quero que digas para todos, que esta Praia nunca mudará de nome e sempre será chamada de “PRAIA DO BISPO”. Caso tu não espalhes a notícia, morrerás em sete dias. Se tu fizeres tudo certo, plantarei na praia uma árvore que terá forma de *³SOLIDÉU para que saibam que o que falaste é verdade.

Nessa hora, sem explicação, um vento norte muito forte soprou e a figura do BISPO foi levada e desapareceu nas trevas. O vigia caiu no chão hipnotizado, retornando a si somente às seis horas da manhã... Pois o sol já vinha raiando. Dali para frente seu Antônio aprendeu a lição e nunca mais quis ficar de frente com o sobrenatural. Espalhou a notícia na Vila toda. A última vez que viram seu Antônio foi entrando no navio Presidente Vargas que fazia a viagem Mosqueiro-Belém (Belém-Mosqueiro). E ainda lá, ele falava sobre o “causo”...
A cem metros da curva da Vila Faneca fica o “Terreno dos Padres”. Até hoje, religiosos fazem encontros espirituais nesse terreno que fica localizado na Beira-Mar, atrás dos dois reservatórios elevados do sistema de abastecimento de água na Praia do Bispo. Foi lá que viveu um sacerdote misterioso, provavelmente da congregação dos maristas, que, apesar de falar pouco, gostava de dar ordens... Ninguém nunca descobriu o nome dele; atendia somente pelo título de Bispo... Este beato adorava passear todas as tardes pela orla da praia fazendo preces próximo às pedras “o REI e a RAINHA”; essas pedras ficam nas proximidades da curva entre a praia Grande e a Praia do Bispo. Existem comentários que este religioso viveu uma paixão platônica. Dizem que, quando ele morreu, seus companheiros atenderam um “pedido”: fizeram seu sepultamento ilegítimo na praia, provavelmente onde tem uma árvore em forma de boina muito bem podada pela natureza.
Se você visitar a praia do Bispo, é verdade! Realmente existe essa árvore em forma de um Solidéu que permanece no tempo e sustenta a narração...
Até hoje, quando falta energia, pessoas afirmam ver o “Capa Preta” e outras marmotas “por aquelas bandas”.

-- Eu é que não duvido!!!!!!!! Como já dizia o finado “Caboquinho”, “todas as cruzes!”

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*¹ Abade: Papel bem fino que serve para enrolar o tabaco migado e fazer o cigarro.

*² Porronca: (Regionalismo) cigarro feito de fumo na palha.

*³ Solidéu: Pequena boina usada pelos clérigos católicos e pelos judeus, significando o temor a Deus, que estaria acima de tudo.

 

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FONTE: https://www.facebook.com/mosqueiro.virgula/posts/1423554747897916







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