quinta-feira, 20 de maio de 2021

AS PRAIAS DA ILHA: PRAIA DO AREIÃO

A praia do Areião (termo de origem e pronúncia popular) está localizada no sudoeste da Ilha do Mosqueiro e, sem dúvida, foi uma das primeiras a receberem os visitantes vindos da cidade de Belém, no final do séc. XIX e início do XX.















Banhada pelas águas da baía de Santo Antônio, onde outrora os tupinambás pescavam e praticavam o moqueio, está limitada pela praia do Bispo e pela famosa Ponta da Musqueira (registro cartográfico de 1680). Portanto, pode-se dizer que o nome da Ilha teve a sua origem ali, embora a conservação dos peixes no moquém fosse uma prática realizada pelos nativos em várias praias.









A pesca artesanal, primeira atividade econômica da Vila, reuniu naquela enseada, durante muitos anos, pescadores do Mosqueiro e do Marajó em busca de porto seguro. Esse fato concorreu para a origem, em 1918, da tradicional Festividade de São Pedro e, em 1920, para a fundação da Colônia de Pescadores Z 9.

Outros fatos importantes marcam a história e o folclore da praia do Areião.

Dizem que, em 1520, o corsário espanhol Ruy Garcia de Moschera ali esteve com seu navio avariado e estabeleceu um contato bastante amistoso com os morobiras.

Com a fundação de Belém, a Ponta da Musqueira passou a ser Ponta da Pedreira, já que pedras dali foram extraídas para a feitura de muitos alicerces da Cidade Velha.

No séc. XIX, no dia 20 de janeiro de 1836, as forças legalistas, que ocupavam a Ilha de Tatuoca, atravessaram a baía para combater os cabanos sediados na Vila. Entrincheirados no Areião, os heróis da Cabanagem lutaram bravamente, impedindo o desembarque dos soldados inimigos.

Já no século XX, em 1924, foi instalada nessa ponta de praia a Usina Santo Antônio da Pedreira, para o beneficiamento da borracha, a produção dos primeiros pneus de carros no Brasil, do sabão Santa Helena, do óleo de cozinha Fortaleza e para a extração de diversos tipos de óleos. Com os funcionários da Fábrica que jogavam o beach soccer naquelas areias, surgiu em 1925 o Pedreira E.C., primeiro clube de futebol da Ilha. A partir daí tornou-se corrente a denominação Ponta do Bittar, em referência à firma que instalou a citada usina.









A Cobra Grande, que vive em uma caverna sob essa fábrica, é personagem relevante no folclore da Ilha e ficou famosa em contos e enredos de escolas de samba locais.












Na outra extremidade, quase no limite com a famosa praia do Bispo, está localizado o primeiro Portal da Ilha, o Trapiche da Vila, que já existia desde o século XIX, para o desembarque dos antigos moradores e forasteiros. Esse antigo porto foi reconstruído em armação de ferro pelos ingleses e inaugurado no dia 06 de setembro de 1908.









Após diversas reformas e uma tentativa frustrada de edificá-lo em cimento armado na década de 50, foi praticamente demolido, embora fosse um patrimônio histórico, para ser substituído por um terminal hidroviário mais moderno, segundo dizem.












Janelas do Tempo: A festividade de São Pedro

 

A FESTIVIDADE DE SÃO PEDRO

Na ilha do Mosqueiro, a Festividade de São Pedro, padroeiro dos pescadores, teve início em 1918, com a iniciativa e o apoio da Sra. Isabel Palheta. O evento ocorria, como hoje, na praia do Areião, sendo oficializado em 1920, com a fundação, no local, da Colônia de Pescadores Z-9. O seu primeiro Presidente foi o Sr. Luís de Oliveira, que também era professor da Escola de Pescadores e Tabelião do Mosqueiro.

Naquela época, a festividade acontecia na praia, com missa celebrada em frente à sede da Colônia, procissão fluvial, carimbó dos pescadores e todas as brincadeiras juninas que até então são conservadas.

Tradicional também é o Cortejo do Mastro no dia 28 de junho, manifestação folclórica sempre aguardada com ansiedade pela população. O Mastro, tronco de árvore carregado pelas ruas da ilha e enfeitado com folhagem, flores e frutos, além de ser sinalizador da festa, é também um símbolo fálico, que representa a fertilidade da terra. O Cortejo é uma espécie de agradecimento pelos tempos de fartura e o Mastro, encimado pela bandeira com a imagem de São Pedro, é o elemento de ligação entre o profano e o religioso, tendo o patrocínio de pessoas que são denominadas Juizes do Mastro. Em 1980, teve início o Mastro das Crianças com Luciana Alexandrino Bittencourt e, em 1997, o Mastro das Mulheres com Jane Bentes.

Também acontecem festas dançantes e apresentações de grupos juninos, além da programação religiosa que consta de novenas, ladainhas, missa, romaria luminosa e procissão fluvial, esta realizada no dia 29 de junho, dia dedicado ao Santo.

Durante todos esses anos, inúmeras pessoas têm colaborado para a realização e engrandecimento da festividade. Muitas já faleceram, mas suas ações foram decisivas para manter, através do tempo, essa manifestação popular, que se tornou marcante na vida cultural de nossa ilha. Assim, destacaram-se os senhores José Maria Palheta, Deputado Célio Sampaio, José Sampaio, Manuel Pontes, Joaquim Pereira, José Martins da Trindade, Amilton Lameira, José da Silva Pombo (ex-presidente da Colônia Z-9), Deocleciano de Matos Botelho, Dolores Botelho (de cuja residência saia a romaria luminosa), Waldemar Almeida (que, em 1963, construiu um monumento ao Santo na ilhota de São Pedro, na Praia do Bispo, o qual foi destruído pelas marés altas), o locutor e apresentador da festividade Jacinto, Gilson Cabral (Pepeca) e Roberto Carlos Cardoso (que introduziu o boi-bumbá no Cortejo do Mastro).

Atualmente, a festividade é uma tradição mosqueirense e tem a coordenação da Sra. Maria Diva Palheta Bittencourt, que foi professora e secretária da Colônia de Pescadores. Embora a sede da Colônia Z-9 tenha sido transferida para a Baia-do-Sol, a festa permanece cada vez mais viva como um fato folclórico ao mesmo tempo religioso, atraindo milhares de moradores e visitantes da ilha.



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