segunda-feira, 31 de maio de 2010

NA ROTA DO TURISMO: AS PRAIAS MOSQUEIRENSES

 

NA ROTA DO TURISMO:

AS PRAIAS MOSQUEIRENSES

(Contribuição do Prof. Alcir Rodrigues)

2.1.1 Mosqueiro

Mosqueiro é uma ilha, mas não uma ilha comum, pois, embora banhada pelas águas fluviais (por isso, águas doces) de três baías (Baía de Santo Antônio, Baía do Marajó e Baía do Sol), suas praias recebem ondas de tamanho considerável, fato bastante incomum, só possível na foz do Amazonas, beneficiando a prática do turismo em várias ilhas que servem como balneários de Belém, como Caratateua (conhecida como Outeiro), Cotijuba, além de Mosqueiro, entre outras menos conhecidas.

Consideramos relevante lembrar que há três teses acerca da etimologia da palavra Mosqueiro: a primeira de que evoluiu de 'moqueio'[1], processo de conservação do pescado, segundo Meira Filho (1978: 31); a segunda hipótese afirma que a origem do nome é Ibérica, visto que existem em Portugal e Espanha lugares assim denominados, conforme informa Brandão [2]. Claudionor Wanzeller (2005: 13) afirma, ainda, ter a denominação vindo do nome de um pirata espanhol, chamado Rui de Mosquera, que teria aportado nas praias mosqueirenses no século XVI. Os primeiros habitantes da ilha, muito antes da chegada dos colonizadores, como informa a estudiosa Maria da Paz (2000: 75), foram "[...] os índios Tupinambá da Ilha do Sol, e os índios Morobira da aldeia de Mortiguara".

Salientamos que já existe uma bibliografia razoável sobre a ilha de Mosqueiro, no entanto quase inacessível, em vista de sua raridade, em termos de exemplares disponíveis ao público. Portanto, constitui grande dificuldade ter em mãos livros como os citados em nossas referências bibliográficas, de grande importância pelos dados relevantes por eles registrados, como Mosqueiro, ilhas e vilas, de Meira Filho; Ilha, capital Vila, de Cândido Marinho da Rocha; ou mesmo o livro Ilha do Mosqueiro: cenário de lutas amazônidas na trilha de sua sobrevivência, dissertação de mestrado da professora Maria da Paz, entre outras obras difíceis de encontrar.

Mosqueiro se localiza na foz do Rio Amazonas e tem como fonte de sustento para seus habitantes [3] as atividades da pesca, do artesanato, do comércio (com destaque para a informalidade), do serviço público estadual e municipal, da construção civil e, principalmente, do turismo. Na verdade, muitos ilhéus vivem do subemprego como 'caseiros'. Alguns, bem poucos, vivem do extrativismo, como a população ribeirinha.

Balneário, oitavo distrito de Belém [4], Mosqueiro está ligado ao município de Santa Bárbara, no Furo das Marinhas, pela ponte Sebastião R. de Oliveira, inaugurada em 12. 01.1976. Dista de Belém aproximadamente 60,5 km pelas rodovias BR 316 e PA 391 [5]. Sua extensão territorial corresponde a "[...] 234 km², segundo a Secretaria de Economia [...]", consoante informa Maria da Paz (2000: 74), exibindo a ilha um conjunto de belas praias no litoral norte, todas em forma de enseadas de extensão variada, com 17 km de extensão total: Areão, Bispo, Prainha (Praia do Lobato, para alguns), Praia Grande, Prainha do Farol, Farol, Chapéu Virado, Porto Artur, Murubira, Ariramba, São Francisco, Carananduba, Maraú, Caruara, Paraíso, do Sítio Paissandu, do Sítio Conceição, Praia Grande da Baía do Sol, Bacuri e Fazendinha. Há controvérsias entre os autores quanto ao total de praias, suas denominações e seu seqüenciamento, quando listadas.

Quanto a esse fato, pensamos que sejamos capazes de apresentar uma possível solução às controvérsias:

1) Os autores, como mencionamos, não estão de acordo em relação à quantidade de praias no litoral norte do Mosqueiro, nem em relação às suas denominações (inclusive estas apresentam problemas quanto à grafia), nem em relação à sua enumeração em listagem seqüencial, começando do Areão, até a Fazendinha. Por exemplo, Maria da Paz (2000: 74) enumera 15 praias, omitindo Maraú e Paraíso. Já Lairson Costa (2005: 10) cita 20 praias. Cândido Marinho Rocha (1972: 25) conta 17 praias. Meira Filho (1978: 64) aponta 21. No site mosqueiro.com.br [6]aparecem listadas 23 praias. Com relação à seqüência, alguns autores, por exemplo, localizam Caruara [7] antes do Maraú, ou após o Paraíso: de fato, fica entre uma e outra, e é grafada como paroxítona, ou seja, sem o acento agudo. Meira Filho cita Ponta Alegre, que seria o Porto Artur. Lairson Costa acrescenta entre o Areão e o Bispo uma praia, que chama de Praia da Ponte. No site já mencionado aparece a praia denominada de Menino Jesus (a qual ignoramos por completo).

Outra questão a ser discutida é a seguinte: após o Carananduba, antes do Maraú, alguns autores, e o povo também, apontam as seguintes denominações para aquela praia: Caruará (concluímos, já, que é um erro de localização, além de erro de prosódia/grafia), Iguaçu, Praia da Primavera e Praia do Bosque. Talvez um plebiscito resolvesse a questão.

Nossa proposta de seqüenciamento, para tentar solucionar a questão, é esta: Areão, Praia da Ponte, Bispo, Prainha (ou Praia do Lobato), Praia Grande, Prainha do Farol, Farol, Chapéu Virado, Porto Artur, Murubira, Ariramba, São Francisco, Carananduba, Praia do Bosque (Iguaçu ou Primavera, ou seria já Maraú mesmo, constituindo o início dessa praia), Maraú, Caruara, Paraíso, Praia do Sítio Conceição, do Sítio Paissandu, Praia Grande da Baía do Sol, Bacuri (ou do Anselmo), Camboinha e Fazendinha, perfazendo um total de 23 praias, portanto. Contudo, como dissemos, é uma proposta. Deve, e tem, de ser discutida.

2) Outra questão de discórdia é a grafia da palavra Maraú/Marahú. Tal denominação, de praia tão bela ─ Marahú ─, sugere certo modismo um tanto bizarro, já que, com o 'H', o 'U' não necessitaria de acento agudo. Todavia, a solução mais prática está em buscar luz, digamos assim, em autores mais antigos e consagrados, como Meira Filho e Cândido Marinho. Nos livros destes, a palavra surge grafada assim: Maraú. Em nossas pesquisas, encontramos o município de Maraú, na Bahia (esta, sim, com 'H', por causa de uma tradição bem explicada e bem aceita), a 440 km de Salvador. O vocábulo é de origem tupi [8] e significa "luz do sol ao amanhecer", originando-se da palavra mayarahú, esta, sim, grafada desse modo, com 'H'. Não sabemos se daí é que surgiu a "idéia" de Marahú, palavra que, de tempos para cá, tem sido usada para denominar a bela e longa enseada banhada pela Baía do Sol.

Rodrigues, A. de V. A.: Narrativas Orais da Ilha de Mosqueiro. Publicado em 19/11/2008 WebArtigos.com. Acesso em 28 de mai/2010, disponível em URL: < http: //WWW.webartigos.com/articles/11521/1/Narrativas-Orais-da-Ilha-de-Mosqueiro/pagina1.html>

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No sudoeste da ilha, a praia do Areião (Preferimos

essa grafia por reproduzir a pronúncia popular).

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No noroeste da ilha, a praia Grande da Baía-do-Sol.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CANTANDO A ILHA: MARAÚ

 

CANTANDO A ILHA

MARAÚ

(AUTORIA: PROF. ALCIR V. ALVAREZ RODRIGUES)

As línguas dos marinhos

dragões vibram e tão líquidas

bailam, suavemente psicografando,

nas areias da selvagem praia do Maraú,

divulgando mensagens, vozes codificadas

de místicas ancestrais línguas doces.

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Max Martins, como um Anchieta

moderno, versifica sua imaginação

no bege macio das areias, sob um céu

às vezes nem tão inspirador, a não ser

para quem de chuva seja amante inconteste.

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As escuras pedras vigiam seu passeio,

escrevilendo (com ele) o inscrito poema do vagamundo

que na praia encontra um Paraíso muito próximo dali.

As Guaribas da Ilha ora silenciam, ora em grupo guincham,

quando de longe veem o poeta se perder nos longes da distância

sumindo desaparecendo dos olhos dos símios vigilantes e frustrados,

tristes,

sem entender seus caminhos, novos caminhos

traçados por um trilho dele próprio,

inaceitáveis para os velhos tempos?

Ou tão respeitáveis, apenas

uma novidade,

inapreciada,

até então?

Os marinhos dragões rugem,

Maaaax, Maaaaaaaaaaaaxxxxxxx,

Ma... Ma... Maaaaxxx... &#8213; uivos líquidos

lavam a areia e ecoam um canto/pranto

nas melancólicas tardes da solitária

enseada da praia de Mayarahú, esta

“luz do sol ao amanhecer”, segundo os tupinambás.

Ele não volta, está em seu porto,

Porto Max, cabana de devaneios.

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As pedras escuras da praia lamentam

A ausência de seu cantor, por isso

se submetem às surras das línguas

do mar: Maaaaaxx... Maaaaaxxxxxxx...

Ele já se foi... Mas estará presente, sempre

estampado seu nome na paisagem, sempre

a lembrá-lo nas vozes a ecoar: &#8213; Maaaaaxxxx...

Maaaaaxxxx, Maaaaaxxxx, Maaaaaaaaaaaa.

Alcir

Publicado no Recanto das letras em 05/05/2010.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Janelas do Tempo: A praça é do povo

JANELAS DO TEMPO

A PRAÇA É DO POVO

Um dos mais significativos logradouros públicos na vida de cada um de nós é, sem dúvida, a praça. É nesse espaço singelo ou monumental e, antigamente, chamado de “largo”, que estão registrados os fatos marcantes do cotidiano de uma comunidade e as nossas mais caras recordações.

Se buscarmos a origem das cidades e povoações, vamos encontrar a praça como ponto de partida, em torno do qual notaremos as marcas irrefutáveis dos aspectos sócio-culturais e econômicos de uma época. Lá, geralmente estão a igreja, o comércio com seus mercados formal e informal, casas de espetáculo como cinema e teatro, salões de dança, prédios e monumentos históricos e o tradicional coreto, elementos que nos remetem ao passado e nos possibilitam uma análise da dinâmica do tempo e do progresso.

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Praça da Matriz em Mosqueiro, nos tempos de Vila (Fonte:

Blog Haroldo Baleixe).

A praça é o lazer das famílias e crianças, o ponto de encontro de amigos e namorados, o nascedouro de muitas paixões, o púlpito para os religiosos, o palco para os artistas, o palanque dos políticos, o lugar ideal onde o povo, com a vibração que caracteriza as massas, protesta, reza, aplaude, dança, festeja, comemora.

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Praça da Matriz na ilha, em dia festivo (Fonte: Blog HB).

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Coreto da Praça Cypriano Santos em Mosqueiro.

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Igreja de N.Srª do Ó, em 1.943: Círio do Mosqueiro (Foto

cedida pela família Mathias)

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A igreja de N. Srª do Ó em 2.010.

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Comício na Praça da Matriz em 1.936 (Foto: família Mathias)

E foi na Praça da Matriz, em nossa ilha, que se comemorou, no dia 15 de agosto de 1.923, o Centenário da Adesão do Pará à Independência, quando o Intendente Municipal era o Dr. Cypriano Santos, grande admirador do Mosqueiro. Seu nome ficou como permanecem, na memória coletiva, outros tão intimamente ligados à Praça: Antônio Aguadeiro e José Maria Ribeiro, primeiros donos do Bar Elite, réplica de um prédio parisiense inaugurada em 1.934; Raimundo Assunção da Cruz (o Cecy), proprietário do primeiro carro de aluguel da ilha e do posto de gasolina; Mário Pontes de Carvalho (o Mário Maracujá), cujo bar se destacava pelo sabor inigualável da “batida” de maracujá servida em taça de cristal e pela presença ilustre do poeta Rodrigo Pinagé; João Santos com sua animada Casa Santos de muitos pagodes; Seu Cardoso, Marieta Contente Melo e Rosa Custódio com suas farmácias; o velho Maringá e depois Franklin Peralta com suas sorveterias; Mimosa Bechara, Orlando Vaz, Manuel Favacho e Mestre Theodomiro (o Tiduca) com seus bazares muito frequentados; o famoso Dom Buratio e seu bilhar; o inesquecível Sebastião de Deus e Silva (o Padre Serra), que, ajudado por sua esposa Carmen Fernandes e Silva e pelo impagável Luís da Sopa de muitas ressacas, comandava o restaurante da Praça; as primeiras tapioqueiras com seus tabuleiros atraentes: Dona Biló (a mais antiga) e as senhoras Elvira, Helena, Lourdes, Alzuíla e Adriana.

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A Praça da Matriz no final da década de 70 (Foto cedida

pela família Ferreira)

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A Praça da Matriz nos anos 70 (Foto: família Ferreira).

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Anos 70: A praça já teve um chafariz (Foto: família Ferreira).

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Antigo Bar Elite: prédio histórico descaracterizado pela

propaganda. Ao lado o bilhar do Dom Buratio (Foto: Gerlei).

Mas o tempo passa e, na vida, tudo se transforma. Na Praça da Matriz, essas mudanças são evidentes. Como as velhas mangueiras, sumiram os quiosques onde se vendiam os sonhos, a tapioca, o cuscuz, o mingau, o café com leite de todas as manhãs. Também desapareceu o Cine Guajarino, que lembrava a intenção de alguns, em 1.917, de mudar o nome da ilha para Guajarina. Parece vermos ainda, na frente do único cinema, em seu impecável paletó de linho branco engomado, o velho Teóphilo Duarte de Araújo Lameira, Tabelião e Juiz de Menores, impedindo inapelavelmente a entrada destes nas sessões de filmes censurados. Os prédios onde funcionavam a Sub-Prefeitura e a garagem da locomotiva Pata Choca e depois dos ônibus municipais foram desativados, tornando-se anexos ao Mercado, cuja imponente fachada ainda ostenta o velho relógio, presente de Arthur Pires Teixeira. O Bazar Guiomar e a sede do Botafogo, clube tradicional e lugar de festas memoráveis, foram demolidos.

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Aqui existiam o Restaurante Padre Serra (à esquerda) e o

Cine Guajarino (à direita).

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Fachada do famoso Mercado Municipal da ilha do

Mosqueiro.

O primeiro Posto Médico, onde o habilidoso enfermeiro Contente socorria qualquer pessoa sem dó nem piedade, deu lugar a uma agência do BANPARÁ. Construiu-se o Terminal Rodoviário. Enquanto continua abandonado o prédio da antiga Delegacia de Polícia, onde reinava o sisudo Delegado Potiguara, temido pela molecada e pelos veranistas em trajes sumários, o Praia-Bar, que já foi salão de dança aberto ao público, continua com seu uso indefinido (espaço cultural, mercado de artesanato, camarim, auditório, local de reuniões?), além de abrigar uma agência bancária, que ali não deveria estar. A praça foi transformada em duas ao ser cortada por uma rua, que agora é um improvisado (?) camelódromo. O antigo estacionamento virou uma Tapiocaria, bonita obra arquitetônica em estilo francês, que nos recorda os velhos tempos da ocupação da ilha. Surge o insólito Banco dos Cornos, assento que alguns criaram e idéia absorvida pela cabeça de muitos, originando um bloco carnavalesco.

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No centro, prédio abandonado onde funcionava a primeira

Delegacia de Polícia do Mosqueiro.

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Praia-Bar: Com bailes memoráveis, alegrou a ilha por várias

décadas do século XX.

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Camelódromo improvisado divide e descaracteriza a praça.

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Tapiocaria em estilo francês onde se pode saborear

uma das melhores iguarias amazônicas: a tapioquinha

mosqueirense (Foto: Gerlei).

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O insólito Banco dos Cornos: a irreverência está na praça.

Mesmo não se tratando da Praça Castro Alves em Salvador, é para a Cypriano Santos que, durante o Carnaval, convergem todos os blocos e escolas de samba, pois afinal de contas a Praça é do povo e “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. É lá que, por meio de manifestações populares, todos buscam certa igualdade social tão bem simbolizada em nossa Praça pelo monumento em homenagem à Princesa Isabel.

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Princesa Isabel: nosso monumento à IGUALDADE.

Há tempos o Idelfonso Favacho perguntou-me por que a Princesa Isabel está de costas para a Praça. Respondi-lhe que a posição do monumento é histórica: a Redentora está voltada para o rio, para o Trapiche, o primeiro portal da ilha.

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A rampa do Trapiche: na subida, alegria; na descida, saudade.

Em verdade, mais importante que a beleza ou a posição da estátua é a sua mensagem, tão bem sintetizada na epígrafe de seu pedestal: SOMOS TODOS IRMÃOS. Se assim entendermos, respeitaremos o direito constitucional ao espaço e por ele zelaremos, para que a Praça seja cada vez mais democrática, bonita, limpa, segura, agradável, enfim, um lugar de paz, de confraternização e de alegria.

terça-feira, 11 de maio de 2010

CANTANDO A ILHA: MINHA ILHA ENCANTADA!

CANTANDO A ILHA

MINHA ILHA ENCANTADA!

(AUTOR: AUGUSTO MEIRA FILHO – Mosqueiro – Diamante, 3/11/1.966)

Depois que ela morrer

talvez não morra!

Sob sol ardente

uma flor despertará para a vida!

De madrugadas frias

novas manhãs tristes surgirão

e de alegrias incandescentes

tardes narcotizadas

nascerão com as maresias!

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Ondas de rio

deixarão queixumes brancos sobre a areia

de espumas embebida. Pássaros antigos

velhos cânticos entoarão

descendo no remanso!

A mata será rude

rudes os homens como barrancos de argila!

Longe, a aldeia

lembrará paisagem agreste quase sem sentidos!

Sei quando as sombras de árvores amigas

e este curvo céu azul

refletirão

o enlevo de meu sonho findo!

Nascerá talvez um mundo morto!

Certo virá saudade nessa doce aragem

fixar na terra selvagem

seu único alimento

o firmamento:

lágrimas?

lamento?

talvez pranto

que o coração do artista vai partindo!

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JANELAS DO TEMPO

DONA MAROCA E O SANTO

Era uma esplêndida manhã de maio. Sol forte, nuvens branquinhas ao sabor do vento, céu azulado, maré vazante e um barco grande todo enfeitado de bandeirinhas multicoloridas e apinhado de alegres romeiros, cruzando a baía em busca do Marajó.

Comandando os peregrinos fluviais, sorridente e feliz, ali estava Maria Benedita SoaresMaroca Soares para os conhecidos – e, sobre o toldo negro, em um andor ornamentado com flores de papel crepom, a imagem de Santo Antônio, trazida de Lisboa pelos bisavós da devota.

Para Dona Maroca tornara-se uma tradição festejar o Padroeiro dos Namorados e, já no mês de maio, atravessava do Mosqueiro, sempre acompanhada de muitos fiéis, com o fim de angariar donativos para a grande festa junina.

No outro lado da baía, a imagem era aguardada com ansiedade pelos marajoaras, principalmente na fazenda de Dona Benedita, devota do Santo e sempre escolhida como Juíza da Festa.

Na chegada, o Juiz da Banda autorizava o folguedo e todos tocavam e cantavam animando a folia marcada pelo foguetório, que anunciava ao longe a presença de Santo Antônio.

Dona Benedita, uma das maiores proprietárias da região, preparava sua fazenda todos os anos, para receber o Santo de sua devoção e hospedar os romeiros, os quais eram homenageados com um lauto churrasco, pois a fazendeira em pessoa escolhia um boi bem gordo no rebanho de muitas cabeças.

Por vários dias, aconteciam festas e ladainhas e os romeiros percorriam diversos pontos da ilha, tirando donativos e recolhendo muitos animais para a festividade.

Já no Mosqueiro, na véspera e no dia do Santo, com o apoio do Juiz dos Namorados, todos bebiam e comiam de graça e rezavam e cantavam e dançavam e participavam das brincadeiras da época. Enfim, divertiam-se com fé, fazendo inúmeras promessas ao Santo Casamenteiro, na procura do par ideal.

No terreiro, o barracão, após a invariável ladainha, era só alegrias e o pau-e-corda, substituindo vez ou outra os acordes da banda e da sanfona sertaneja, animava velhos e moços no ritmo do carimbó. Enquanto os homens saboreavam o aluá de milho fermentado em potes de barro ou a aguardente azulada vinda de Abaeté, a criançada e as comadres fartavam-se de mingau de milho ou chocolate quente com ovo, acompanhamento indispensável aos duros mas deliciosos biscoitos da padaria do Mundiquinho Bastos, participante assíduo da festa.

À meia-noite, moças esfaqueavam bananeiras procurando, nas lâminas virgens, a inscrição dos nomes de seus príncipes caboclos ou rezavam aos pés do Santo a “prece das treze moedas”, fórmula infalível para arranjar marido. Outros “passavam a fogueira” assumindo compromissos eternos.

Também marcante era o Dia da Varrição após a festa. Para esse momento especial, Dona Maroca preparava sua tradicional camisola branca e três anáguas em crochê, tecidas por ela mesma. Enquanto os devotos tocavam e cantavam, os “mordomos” varriam o barracão e colocavam sobre a saia de Dona Maroca todo o lixo recolhido, o qual seria queimado na fogueira. Logo após, Dona Maroca pegava a imagem, dava três voltas sobre a fogueira e, então, a reconduzia para o altar. Todos beijavam as fitas em sinal de despedida, rogando ao glorioso Santo Antônio que lhes desse vida e saúde por mais um ano.

Dona Maroca faleceu em 1.939 – e lá se vão tantos anos – mas aquela imagem ainda existe. E a tradição de festejar o Santo continua bem viva na ilha do Mosqueiro.

É sempre emocionante a viagem de barco entre as ilhas do Mosqueiro e do Marajó.

ATRAVESSANDO A BAÍA EM BUSCA DO MARAJÓ:

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PASSANDO PELA C’ROA GRANDE:

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NO RIO URUBUQUARA:

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NO ARANAÍ:

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NO PORTO DE CAMARÁ:

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NA CIDADE DE SOURE:

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NA PRAIA DO PESQUEIRO (SOURE-MARAJÓ):

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