JANELAS DO TEMPO
ANTIGOS CARNAVAIS
Você, amigo mosqueirense nato ou de coração, amante apaixonado de nossa ilha e de nossas tradições; você, que vive intensamente cada momento e ama o Carnaval, essa manifestação folclórica tão expressiva que nos remete às nossas raízes; você, caro leitor, precisa saber que preservar tradições está além de interesses pessoais, financeiros ou político-partidários: preservar tradições é trabalho, é dedicação, é sangue, é coração e, sobretudo, é amor, sentimento que faz o homem exaltar as coisas de sua terra e identificar criador e criatura.
No início, o Carnaval era diferente: jogava-se água e farinha nas pessoas - o entrudo. Proibido o entrudo, apareceram as máscaras, os blocos e os tradicionais trotes. Surgiram os cordões, as batalhas de confete, o corso com serpentina, os ranchos, as sociedades com carros alegóricos, as escolas de samba, os desfiles de fantasias e os bailes. Dizem que o primeiro cordão foi o “Flor de São Lourenço” (Rio, 1885). Na história do Carnaval do Rio, ficaram famosos os blocos “Dois de Ouro”, “Flor de Abacate” e “Ameno Rosada”. Contam que a primeira escola de samba (“Deixa Falar”) nasceu no Estácio, um bairro carioca, com seus músicos tocando pandeiro, cuíca, agogô, tamborim, frigideira e com suas passistas requebrando em suas roupas de vidrilhos, plumas e rendas.
Nossa ilha, caro amigo, também viveu as fases dessa evolução carnavalesca, chegando a ser, em 1992, a terceira maior representante do Reino de Momo em nosso país, ficando atrás apenas do Rio e de São Paulo. E, nessa evolução, há muito que se registrar.
Nos remotos anos da primeira metade do século passado, encontraríamos, nas ruas arenosas de nossa ilha, cordões como o “Cordão do Siri” (1919),“Cordão da Arraia”(1920),“Cordão do Espadarte”(1921), “Cordão da Mucura”(1922), “Cordão da Pescada”, “Cordão do Jacaré”, organizados pelos tripulantes do famoso navio Almirante Alexandrino;“Pelintras da Estrada” e “Cordão dos Roceiros” do Professor Rufino Magalhães; o “Alvi-Azul” do Pedreira Esporte Clube ( com sua famosa marchinha do mesmo nome) e o “Enfeza” do Botafogo Futebol Clube, além da Marujada.
Figuras mascaradas despontam nas recordações do passado como os dominós, os marcianos, o homem de lama, o bicho folharal, o gorila (Diógenes Godinho) e seu domador (Tote) e tantas outras personagens grotescas buscando premiação nas batalhas de confete. Como exemplo, citamos o falecido França, que não teve dúvidas em se cobrir com vísceras de animais, para conquistar o título de o mascarado mais sujo do carnaval mosqueirense.
A partir dos anos 50, destacam-se os blocos como “Foliões da Vila” da turma botafoguense, “Marujos do Amor” da torcida pedreirense; o “Bloco da Vitória” de Mundiquinho Bastos, saindo da antiga Padaria Vitória com suas alegorias-de-mão luminosas; os “Peles Vermelha” (1956) de Expedito Moraes e Zezé Braga, com seus valentes guerreiros fazendo a festa na ilha dos morobiras; a “Expedição Africana” de Davi Teixeira, com seu desfile de animais selvagens e “Piratas da Titia”, oriundo do time de futebol Mato Grosso e mudando de nome a cada ano: “Os Tesourados”(1969), “Conosco Ninguém Podemos”(1970) e, finalmente, “Piratas da Ilha”(1971), bloco que congregou Agostinho Pereira (Macarrão), Diógenes Godinho, Joaquim Bentes(Quincas), Carlinhos Mathias, Chico Tripa, Cabeça, Tote, Didi do Tiduca, Lito e Emanuel Braga entre outros. Apareceram também “A Patada” da turma piratense, o “Arrastão da Ilha” do saudoso Carequinha, “Puxe o Saco, mas não me quebre o Pau” de Santino Dias, “Há Jacu no Pau” do Cintra, “Gaviões da Ilha” do Carananduba, “Unidos do Chapéu Virado” de Toninho Russo, “Tá Feio” do Empata’s Phoda Bar, “Arrastão da Baía-do-Sol”, “Periquitão”, “A Grande Família” da família Cruz e “Pirarucu nas Cinzas” de Carlos Maresia.
As escolas de samba começam a surgir na década de 70. Assim apareceram a “U. S. Piratas da Ilha”, “E. S. Avançados do Morro”, “E. S. Aliados da Vila”, “E. S. Peles Vermelha” e “Estação Primeira de Maracajá”, agremiações que já realizaram desfiles de raro esplendor, conquistando a admiração, o aplauso e a simpatia do público.
As batalhas de confete eram atrações na Praça da Matriz, na Churrascaria da Vila do Nacib e nas sedes do Pedreira e do Parazinho. Aconteciam desfiles de fantasia, tornando-se tradicional o concurso “Rainha das Rainhas do Carnaval Mosqueirense”. Os blocos de salão multiplicavam-se nos bailes realizados no Pedreira, no Botafogo, no Parazinho, no Rodagem, no Santa Cruz, no Praia-Bar e as fantasias seguiam os temas propostos: Baile do Azul e Branco, Baile do Vermelho e Preto, Baile do Havaí e assim por diante. Esses bailes atraíam a criançada, a velha e a jovem guarda com marchinhas e frevos executados pelas aparelhagens de som e bandinhas de música, destacando-se instrumentistas como Coré, Sandoval, Preguiça e Maurício. No último dia de Carnaval, os bailes atravessavam a noite e iam até o Sol raiar.
Já quarta-feira de cinzas, às seis da manhã, acontecia o “bloco da saudade”, ao som da bandinha musical, saindo da sede do Parazinho para encontrar os foliões do Pedreira. Após contornar a Praça da Matriz, o bloco dirigia-se ao coreto e lá, com muita música instrumental e animação, encerrava a quadra momesca.
Amigo leitor, o avanço tecnológico, a filosofia e estilo de vida, a interpenetração de culturas, os modismos e a globalização dos costumes mudam nossas atitudes comportamentais e até nossos gostos. Embora “os dias melhores sejam feitos de amanhãs”, não devemos esquecer o passado, pois é o alicerce dos dias que vivemos. Um povo sem memória não possui tradição nem identidade.
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Recentemente, outras agremiações carnavalescas, reunindo veranistas e mosqueirenses, surgiram com o objetivo de alegrar ainda mais o Carnaval da ilha. Apareceram, então, as escolas de samba “Mocidade Unida da Ilha”, “União da Ilha” e “Universidade de Samba do Mosqueiro” e os blocos “Banco dos Cornos”, “Calopsita”, “Bafo de Bode”, “Os Avacalhados”, “As Peruas”, “Bacu de Sunga”, “Bruxos na Folia”, “Baiacu da Ilha”, “Urso na Folia”, “Tira o Dedo Daí”, “Camarões na Folia”, “As Sapas Tão na Folia”, “Blocozinho”, “Pato na Folia”, “Chifre na Folia”, “Paparazzi”, “Jambu”,“Não Esquenta a Cabeça” e “Grande Família” da Baía-do-Sol, além de variadas manifestações coletivas e individuais em busca do bom e saudoso Carnaval popular, em que despontam os velhos mascarados, irônicos e exagerados travestis e todo tipo de fantasia, revelando a criatividade e a irreverência do povo brasileiro.
Carnaval Mosqueirense 2010
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