sábado, 28 de janeiro de 2023

AS PRAIAS DA ILHA: PRAIA DO ARIRAMBA

Ariramba é termo de origem tupi (warirámba) que os indígenas usavam para designar uma enseada na costa oeste mosqueirense (praia das arirambas), referindo-se a uma espécie pequena de pássaro mariscador, conhecido também pelo nome de martim-pescador, com frequência comum naquela área. Os colonizadores mantiveram o nome da praia e, com o passar dos tempos, essa denominação estendeu-se ao bairro que ali se formou. Localizada entre as praias do Murubira e de São Francisco, a enseada, protegida por alto barranco verdejante, é banhada pelas águas da baía do Marajó.


JANELAS DO TEMPO: O PONTO CERTO DO ARIRAMBA

Autor: Augusto Meira Filho

 Praia do Ariramba (FOTO: JCOliveira – 2012)

“Quando o bairro do Chapéu-Virado era o mais preferido do veranista ou do visitante, outros locais admiráveis da Ilha do Mosqueiro começavam a ser descobertos, não só pelo seu clima, mas, sobretudo, pela beleza de suas praias. Assim chegou o belenense às bordas do Murubira, do Ariramba, de São Francisco, Carananduba e demais logradouros e já hoje famosos da vida mosqueirense, principalmente após a construção da nossa estrada de rodagem e da discutida ponte no “Tauarié”.

Há muitos anos, as possibilidades de se chegar ao Ariramba eram remotas. O bonde a tração animal (...) depois movido a vapor, da Vila ao “Porto Arthur” – concessão de Pindobussu de Lemos, só permitiria o acesso até aquele ponto. Com esforço se alcançaria a pé as terras do Murubira.

Com o advento da rodovia beira-mar, incrementada na administração do Prefeito Abelardo Conduru, os caminhos foram se alongando pouco a pouco, até aquela penetração alvissareira ao tempo da gestão Stélio Maroja, quando os veículos da Agência Municipal poderiam chegar à Baía do Sol, via Sucurijuquara. Ainda conhecemos o “Ariramba” como lugar distante e de difícil penetração. Contudo, já se celebrizava no bairro o “Ponto-Certo” misto de mercearia e casa de hóspedes. Uma série de quartos contíguos, de madeira, seguindo a casa comercial da esquina. Seu proprietário o Oliveira – Euclides Soares de Oliveira – antigo auxiliar do Russo no Hotel, era o responsável pelo movimento da freguesia no Ariramba, pois mesmo aquele negócio pertencia ao dono do Hotel do Chapéu-Virado.

Mais tarde, Russo venderia tudo aquilo ao próprio Oliveira, outra figura histórica do Mosqueiro, com seus domínios do Ariramba, como o Russo no Chapéu-Virado e o Zacharias Mártyres, no Farol.

Com outros de nossa geração, muitas vezes visitamos o Ariramba, ao tempo em que a residência última do bairro era a do Desembargador Arnaldo Lobo, por nós construída a seu pedido. A própria linha do ônibus municipal tinha o seu término cerca de 100 metros antes da casa praiana daquele ilustre magistrado. Mas o Oliveira já ali pontificava e era ele quem abrigava a moçada que, corajosamente, se atirava para o Ariramba, então, considerada “terra-sem-fim” na Ilha do Mosqueiro. Mal se conheciam as praias de São Francisco, do Caruara, do Paraíso e, muito menos, as da Baía do Sol.

Assinalamos o Ponto-Certo por ser, realmente, um ponto notável dos velhos tempos mosqueirenses que procuramos fixar nesta contribuição.

E falar nesse antigo abrigo da estudantada sem recursos que fugia bravamente da “Porta-Larga” da Vila atrás de algum “rabo-de-saia” merecedor de tamanho sacrifício, seria injustificável deixar de exaltar o seu chefe soberano negociante do lugar, o Oliveira, cuja vida seria uma verdadeira novela se pudesse ele contar ou revelar sua permanência naquele canto do Ariramba, crescendo e vivendo com ele e por ele.”

 FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas” - ED. GRAFISA, 1978- pp. 352 e 355.

MOSQUEIRANDO: Euclides Soares de Oliveira, o conhecido Oliveira do Ariramba, faleceu há bastante tempo. Entretanto, o seu Ponto Certo ainda existe no mesmo lugar e continua atraindo seus frequentadores com o sabor inigualável dos famosos Pasteizinhos do Oliveira, marca registrada dos velhos tempos da Ilha.

 PASTELZINHO DO OLIVEIRA: DE MOSQUEIRO PARA BELÉM

Autora: Patrícia Ventura

Olá leitores,

 Hoje vou falar um pouco deste pastel. Pastelzinho do Oliveira. Eu tinha por volta de meus 8 anos e frequentava a bucólica Ilha do Mosqueiro com meus pais. Tenho tantas histórias para contar desta época. No Ariramba, onde ficávamos havia algumas moradoras bem idosas. Lembro do nome de uma. A dona Janoca. Parece que tem até uma ruela com esse nome. Lembro das histórias que minha avó, D. Moça, contava acerca da lenda da Matinta Pereira e a gente criança, aqui em Belém, não tinha medo. Mas ao irmos para o Mosqueiro parecia que a gente adentrava a floresta Amazônica. Parecia que lá a lenda era real. Ficávamos com muito medo, ouvíamos o xeque-xeque dos calangos verdes e azuis no telhado das casas e por cima das folhas secas que caiam ao chão. O silêncio da noite era grande. O barulho das ondas do mar quebrando aquele silêncio fazia presença marcante no entorno das vivendas da beira da pista. Sempre ficávamos na Vivenda Nossa Senhora de Fátima, chalé antigo no Ariramba. Nossa criancice não nos permitia saber por que e como estávamos ali, entretanto, estávamos, então era hora de aproveitar. Circundando a nossa vizinhança, tínhamos um vizinho muito simples, bom, alegre, carismático, que viria a se tornar famoso pelo delicioso pastel que comercializava e até hoje comercializa na bela ilha: o Sr. Oliveira.

Minha família muito amiga deste ilustre senhor. A gente criança só tem interesse para ir ao local quanto se tem um motivo tão atrativo e gostoso como esse. Nos meus cálculos estes fatos têm 42 anos. Idade que conheço e saboreio o Pastel do Oliveira.

O Sr. Oliveira foi convidado para o meu casamento; lembro-me até do presente que ganhei dele, há 32 anos, direto do túnel do tempo: uma bandeja grande de inox, que uso até hoje em minhas festas. Confesso que ia a Mosqueiro para aproveitar de tudo um pouco, mas a ideia de comer o pastel era sempre a primeirona; tudo bem eu gosto de comer mesmo rsrs!!

Também lembro do Xavico, o filho do Sr. Oliveira; éramos (somos) praticamente da mesma idade, com a diferença de um ano mais ou menos... Ainda lembro quando recebemos a notícia do falecimento do Seu Oliveira...

O pastel continuou na bela Ilha do Mosqueiro, tornou-se conhecidíssimo. Tenho 4 filhos, todos conhecem o pastel, a mais nova de 17 anos, a mais traquina, (diga-se de passagem) EXIGE todas as vezes que vai e já está a ensinar para a minha neta... Gosto de ver coisas superar décadas e gerações... Pode-se dizer que já faz parte da gastronomia turística de Mosqueiro.

O Xavico expandiu, inaugurou outras pastelarias na ilha e até mesmo aqui em Belém temos dois points onde podemos saborear a gostosura que se apresenta com recheio de carne e camarão, ao preço de $ 0,35 centavos a unidade...

 FONTE:

http://simplesmentepatrecantista.blogspot.com.br/2013/10/pastelzinho-do-oliveira-de-mosqueiro.html

MOSQUEIRANDO: Para recordar Seu Oliveira, que iniciou a produção dos famosos pasteizinhos, reconhecidamente uma tradição na história da Ilha, publicamos a foto abaixo cedida por Graciliano Ramos:










JANELAS DO TEMPO: MACEDÃO E OS VELHOS TEMPOS DO ARIRAMBA

 Autor: Augusto Meira Filho

 No “Retiro IBI” de sua propriedade, adquirido de um velho lusitano precursor no lugar, o ilustre e caridoso médico Dr. José Mariano Cavaleiro de Macedo fez a sua segunda tenda de vida e de trabalho. Mosqueirense de “quatro costados” amava sua ilha e deixava-se ficar encantado no seu Ariramba, sem perder qualquer fim-de-semana e algumas folgas, quando seus trabalhos em Belém no Instituto Médico Legal e em outras atividades profissionais o permitiam. Na sua vivenda altaneira, de porão alto, em madeira de lei, o Macedão – nome decorrente de seu corpanzil – pontificava entre os nativos, ajudando-os de todas as formas e fixara em sua casa o centro social do bairro. Amava aquele Ariramba como ninguém. Freguês do Antônio no Ponto Certo e do João Vicente Lima (O Manteiga) próximo ao seu IBI, Macedão reunia aos sábados e domingos a fina flor da elite arirambense e outros convidados de lugares mais distantes.

Ficara famoso pela excelência do “aperitivo” que sabia preparar com maestria, dando-se ao luxo, muitas vezes, de exigir frutas especiais para uma aguardente de primeira ordem que recebia em botijões de amigos e clientes. Uma personalidade curiosa do eminente médico e a do mosqueirense simples, amigo da gente humilde do Mosqueiro, prestativo e generoso, dando de tudo de si para atender qualquer caso, mesmo nos pontos mais distantes, no Carananduba, no São Francisco, no Sucurijuquara, na Baía do Sol. Ele porfiava com Oswaldo Medrado nessa caridade coletiva prestada aos habitantes da Ilha naquelas lonjuras da Vila propriamente dita.

Grupos e mais grupos se formavam em sua casa, no barranco fronteiro, na praia para desfrutarem do ambiente feliz que reinava em torno do Macedão, saboreando o mais notável aperitivo do bairro. Juntavam-se ali, prazerosamente, os Fontes, os Azevedo, os Bisi, os Andrade, os Santos, os Costa, os Machado, os Bentes, os Leite. Famílias inteiras, tradicionais, do “bairro alto” comungavam da festa que culminava numa alegria coletiva, secando bojões e bojões do aperitivo sortido e delicioso do grande Macedão. O Ariramba, realmente, reunia clãs antigos e respeitáveis, velhos admiradores do local e que não o trocavam por qualquer outro na Ilha, mesmo com os que se gabavam de estar mais perto da Vila, da ponte, do navio, do mercado, etc. A verdade é que, hoje, pela estrada, são os primeiros beneficiados. E merecem!

Além do antigo e conhecido Colégio de Santa Catarina, retiro das Irmãs da mesma Ordem, residiam no Ariramba muitas famílias tradicionais vinculadas àquele recanto admirável do Mosqueiro. Os Chalets famosos dos Sarmento, dos Lobo, de dona Alzira, o “Vergel” de dona Flor (Florzinha), dos Pereira dos Santos, dos Dawer, dos Machado, dos Leite são memoráveis vivendas que povoaram o Ariramba quando Mosqueiro era somente servido do vapor Almirante Alexandrino. Pela dificuldade de transporte, precariedade nos serviços de ônibus entre a Vila e aquele ponto do Mosqueiro, realmente, tempo houve em que era uma temeridade residir-se tão longe da Vila que, por si só, centralizava toda a vida da Ilha. Passageiro do barco da Companhia, dependendo dos veículos da Prefeitura para chegar em casa, não só seria o último a desembarcar em sua residência depois de haver sofrido duras penas na viagem trôpega da viatura sempre defeituosa, como, na recíproca, era o primeiro a despertar, pela madrugada, para tomar o transporte que cedíssimo passava pela estrada apanhando a gente mal dormida que se dirigia à capital. Por isso, dizemos com propriedade, era uma verdadeira temeridade edificar ou adquirir uma vivenda no Ariramba. Por isso, também, heróis, os que suportaram tantos anos essa adversidade e não se afastaram um só momento da brisa amena e da paisagem gostosa, que os barrancos do Ariramba proporcionam aos seus olhos. Há que se exaltar os que viveram ali ao tempo em que Mosqueiro vivia insulada, dependendo, inteiramente, do navio da linha. E o nosso Macedão liderou esse grupo de abnegados que agora desfruta das vantagens proporcionadas pela nova rodovia.

No Farol, durante algum tempo, exerceu um poder catalisador da boemia e adeptos da delícia regional dos preparados, das batidas, o odontólogo Jairo Barata. Um médico, no Ariramba; um dentista, no Farol, irmanados pela mesma simpatia e a mesma habilidade nessa química dos aperitivos à base de aguardente. A residência de Jairo, no Farol, teria a função paralela daquela do Ariramba a cargo do bom Macedão. Dizem que, um dia, encontram-se os dois, acidentalmente, no retiro do primeiro. Um dia amargo, sem banho de maré cheia, sem reserva de frutas e somente um resto de carne estava à disposição dos dois. Macedão correu à despensa sempre farta de cítricos, mel de abelha, chocolate, baunilha e outros ingredientes, estava seca, dolorosamente sem condições de atender à afamada técnica de ambos na elaboração das suas famosas “biritas”. E, na falta do material essencial ao preparo de uma boa batida, não tiveram dúvidas: adicionaram à caninha açúcar com pasta de dente, em quantidades próprias. Bateram o caldo, sacudiram a mistura e, espumosa, perfumada, foi servida à moda alemã, isto é, beber de um só gole! Assim firmou-se uma nova fórmula, privativa do Ariramba e em homenagem ao outro craque do Farol. Jairo ficou na história e foi um doloroso acontecimento sua morte, vítima de um trágico acidente. Macedão, no Ariramba, é figura legendária. Ganhou seu nome numa rua e é sempre lembrado.

FONTEMEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas” - ED. GRAFISA, 1978- pp. 429, 430 e 433.


CANTANDO A ILHA: MURIRAMBA

Autor: Prof. Alcir Rodrigues

 




 








Vista parcial da enseada do Muriramba


Acolá, como pequenos tsunamis,                                                                      vêm vaticinando, lépidos,                                                                                   

os rugidos do mar-baia,

em forma de ligeiros tigres

―com garras e dentes espumantes ―
que atacam e dilaceram
a carne da indefesa falésia
da charmosa enseada do Muriramba...











Outra vista parcial da enseada do Muriramba

 

Sangrando, a tabatinga vermelha
se desmancha, manchando
o pardo plasma do mar,
lavando e tingindo areias e rochas,
deslocando devagar as pedras da camboa,
remota lembrança ali deixada
por nossos ancestrais, pedaços
da história viva em pedras,
mixados ao fantasma dos peixes,
siris e camarões, afugentados todos
pela predatória captura industrial...











Mais uma vista parcial da enseada do Muriramba

 

As garras e dentes espumantes
na verdade sorriem e gargalham,
com sarcasmo
lembrando da afamada máxima:

                “Água mole,
                                 em pedra dura,
            tanto bate,
                                             até que fura”...

Mas os rugidos espumantes, ali,
não só dilaceram e arrancam nacos,
também lambem e acariciam,
transmudando-se em canções
barcarolas de ninar, alimentando os devaneios
de quem vê e ouve, além de tudo o mais,
a fantasia e a beleza
de uma perenidade
de
          vaivém e enche-vaza, ondas
       de seres e sombras,
úmidos sons e ecos líquidos
                                  da dança da infinitude do devir...











Camboas no Ariramba, com vista da barraca Boêmios,

próximas da Embratel. São resquícios do tempo passado,

vestígios ancestrais que se recusam – ainda bem! — a

desaparecer, apesar dos apelos massivos e cruéis do

“progresso”.                                             

“Aproveitando a temática evocada pelo poema, vale a pena conversar sobre duas palavras: ‘Muriramba’ e ‘camboa’. A primeira é tratada hoje como um ‘amálgama’ lexical; ou seja, uma fusão de partes de vocábulos (dois ou mais), originando um híbrido vocabular. Por isso, alguns estudiosos do idioma materno (o português, na expressão brasileira da língua de origem lusa), também usam a terminologia ‘palavra-valise’, por conter dentro de uma palavra outras delas; ou ‘palavra-centauro’, neste caso, acentuando-se, mais ainda, o hibridismo vocabular. Fiquemos com o primeiro. ‘Muriramba’, na Ilha (do Mosqueiro), dá nome à enseada singela que intersecciona as enseadas das praias do Murubira (onde habitaram os indígenas da tribo dos ‘Morobiras’; daí sua denominação) e do Ariramba (espécie pequena de pássaro mariscador, conhecido também pelo nome de martim-pescador, com ocorrência comum naquela área, de onde vem a denominação da praia).

Já a palavra ‘camboa’, de origem tupi, consultando o Vocabulário terminológico cultural da Amazônia paraense (OLIVEIRA, Maria Odaissa Espinheiro de. Belém, EDUFPA, 2005. v. 2, p 70), tem a seguinte entrada no verbete:

Camboa: s.f. Lago artificial à beira-mar, no qual durante a maré alta o peixe miúdo entra. Esteiro que enche com o fluxo do mar e fica seco com o refluxo.

[Vejamos este exemplo dado no livro citado]

“[…] O Coló simplesmente desapareceu da popa da canoa na camboa, no pesqueiro, e até hoje ninguém sabe que fim levou o Coló …] (C.C.Onde está Coló? Histórias de Cobra Grande. f. 273. Informante – Agripino Almeida da Conceição. Pesquisadora –Ana Cristina Lopes Borges).”

Em dicionário eletrônico Aurélio, encontrei o seguinte:

Camboa (ô): [Do tupi] S. f.

1. Cercado armado em pequena depressão, junto ao mar, onde, na maré baixa, fica retido o peixe miúdo que ali penetra na preamar.

2. Bras.  NE Esteiro que enche com o fluxo do mar e fica em seco com o refluxo. [Var., nesta acepção: gamboa]

3. Bras. MA Processo de pesca em que diversos pescadores, armados com a tarrafa, cercam com as suas canoas o cardume de peixes. `

Para nós, válidas são as duas primeiras acepções.

Aproveitando o ensejo em que nos referimos à praia do Ariramba, reproduzimos abaixo uma grande passagem, muito bem-humorada, da Apresentação do livro Ilha, Capital Vila (ROCHA, Cândido Marinho. Ilha, capital Vila. Belém: Falângola, 1973, pp. 12-13):

“Recentemente, [naquela época, 1973] um cronista social de Belém passou a citar a Ilha com o adorável adjetivo de bucólica, no sentido de inocente, simples, graciosa e não, certamente, como pastoril ou campestre. Considerando injusta a generalização do título, porque a Ilha não é totalmente pastoril, inocente, simples, graciosa e campestre – resolvemos modificar a qualificação. Assim, consideramos bucólica a área abrangida pelos bairros e praias do Chapéu Virado e do Farol por serem os mais prestigiosos pelo elevado nível financeiro dos seus frequentadores, constituída a nomeação assim como uma espécie de sofisticação daqueles bairros. À Vila, em cujo mercado municipal é vendida uma indefinível sopa, demos o título de cólica. Ao bairro Morubira [SIC!], cujas praias apresentavam-se crivadas de pedregulhos, com raras casas de valor e de reduzido movimento social, coube a designação de melancólica. A bela praia do S. Francisco, assim titulada em homenagem a insigne santo da igreja e onde começam a surgir os primeiros prédios custosos, passou a ser católica. Ariramba é bem desenhada e graciosa enseada, de larga praia e limpas areias. Há lá o frequentadíssimo bar e botequim “Ponto Certo”, propriedade de um obsequioso Oliveira. A praia torna-se ainda mais simpática porque é orlada por alcantiladas ribanceiras, sobre as quais imponentes árvores se erguem, em vistoso balisamento [SIC!]. Em cima, na pista, jardins públicos e quadra iluminada de vôlei [SIC!], frequentados pelos veranistas, em desfile de beleza e saúde. Uma cabana chamada “Matapy” – em forma de guarda-sol coberto de palhas – é curiosa “boite” [boate, em português] e sede de tertúlias e serenatas, drincagens elegantes. Merece tudo isso justificado capítulo. Os arirambenses fundaram a “Sociedade dos Amigos de Ariramba”, que promove o bairro em tempo de férias e das festas da igreja local´. É Ariramba – nome de pássaro que é o mesmo “Martin-Pescador” – pela atração do “Ponto Certo”, onde se bebe, recita e canta, e por sua frequência de gente sem preconceitos, gente natural e fraterna, muito procurada pelos banhistas de todos os outros bairros. À porta e ao balcão do despretensioso bar, aglomeram-se crianças, jovens, senhoras, cavalheiro, em qualquer traje, sem inibição alguma, para amplo relax, em variados tipos de bebidas. Por tudo isso, Ariramba é conhecida como a alcoólica.

Areião, velha e abandonada praia, possuiu grandeza n’outros tempos. Seu prestígio foi exageradamente aumentado pelos episódios decorrentes do rapto de Mainha pelo nosso personagem Zozó. Às vezes desce de prestígio, também exageradamente, pelo acúmulo dos detritos da maré que nela encostam. Consequência: é a hiperbólica.

Em suma, é assim a Ilha. Nem muito autêntica, nem muito irreal.

Tal como no livro.

                             Belém, dezembro de 1972.

(Palavras do próprio Cândido Marinho Rocha, no fundo, um admirador de Mosqueiro, mas também um grande gozador)”

                                         *          *          *

Retomemos as palavras de Marinho Rocha: Ariramba é bem desenhada e graciosa enseada, de larga praia e limpas areias. Há lá o frequentadíssimo bar e botequim “Ponto certo”, propriedade de um obsequioso Oliveira. A praia torna-se ainda mais simpática porque é orlada por alcantiladas ribanceiras, sobre as quais imponentes árvores se erguem, em vistoso balisamento [SIC!]. Em cima, na pista, jardins públicos e quadra iluminada de vôlei [SIC!], frequentados pelos veranistas, em desfile de beleza e saúde.

Vejamos essa beleza, nas fotos a seguir, mesmo numa manhã chuvosa:

 



 

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