A Praia do Porto Arthur é uma enseada entre a praia do Chapéu Virado e a praia do Murubira. Sua orla, constituída no passado por um barranco não muito alto, hoje é protegida por um muro de arrimo para conter as marés de enchente.
Como, no passado, houvesse ali um lago com as águas represadas das enchentes por antiga camboa, armadilha indígena feita de pedras para a captura de peixes, o lugar era conhecido como praia do Covão. Um pequeno manguezal florescera às proximidades desse lago, cenário que não se alteraria até a década de 70.
No fim do século XIX e início do XX, muitas
casas de praia foram construídas na costa oeste da Ilha. Assim o fez Arthur
Pires Teixeira, que inaugurou seu casarão em 1905, prédio histórico ainda
existente. Ele se apaixonara pela Ilha e viria a ser um dos seus grandes
benfeitores. Grande incentivador da instalação do bondinho puxado a burro, teve
o final da linha desse veículo localizado próximo a sua residência.
Para vir à Ilha naqueles tempos remotos,
muitas vezes utilizara pequenas embarcações a vela. E, para desembarcar com
mais segurança, mandara construir um trapiche de madeira, que ficou conhecido
como Porto Arthur. Até seu casarão recebeu esse nome. Mais tarde, em justa homenagem
a Pires Teixeira, a antiga praia do Covão passou a ser chamada de Praia do
Porto Arthur.
JANELAS
DO TEMPO: Uma paixão: Mosqueiro
Autora: Juliana Oliveira
“Amor e dedicação
ao extremo. Arthur compôs músicas e escreveu artigos relatando as belezas da
ilha.
Uma época em que o
ritmo do tempo era ditado pelos apitos do navio Almirante Alexandrino, da Usina
Elétrica da ilha e pelas badaladas do sino da igreja matriz de Nossa Senhora do
Ó. Foi durante este período, que o chalé Porto Arthur tornou-se referência na
ilha, não só graças à beleza da edificação, mas pela figura responsável por
ele: Arthur Pires Teixeira.
Os amantes mais
antigos da ilha, filhos e netos dos contemporâneos de Arthur, relatam
emocionados os modos de viver daquela época, em que a cultura paraense era
tecida por meio de intercâmbio direto com a europeia, honras do advento da
borracha.
A construção do
Porto Arthur data de aproximadamente 1905, erguido a mando do comerciante
Arthur Pires Teixeira. O casarão foi um dos pioneiros naqueles lados. Filho de
portugueses, começou a trabalhar muito cedo nos negócios do pai. Ao entrar na
mocidade, apaixonou-se pela ilha de Mosqueiro, localidade a qual se dedicou,
com benfeitorias e declarações de amor.
O afeto foi
materializado em músicas, artigos escritos para conhecidos na Europa e a
publicação de um álbum de fotografias da ilha. Nas correspondências, ele
relatava todo o encanto de Mosqueiro.
De acordo com a
filha de Arthur, Dona Mariinha Pires Teixeira Chaves – hoje com oitenta anos –
o relógio francês que fica no mercado municipal de Mosqueiro pertencia ao pai.
Segundo ela, o pai era um homem muito generoso e culto, devido ao estreito
contato do Pará com o velho mundo naquela época. Arthur cedeu parte de seu
terreno para construção de uma rua nas proximidades do chalé.
A capela que fica
na praia do Carananduba foi erguida por ele. Arthur também foi o responsável
pela construção do único cinema da história de Mosqueiro: o cinema Guajarino.
Dona Mariinha lembra saudosa de quando saíam de charrete para assistir às
sessões no cinema. “Nós víamos filmes norte-americanos muito românticos ou os
famosos faroestes. Mas no final da década de trinta... início de quarenta, o
cinema não existia mais”, lamenta.
Tais gestos lhe
renderam algumas homenagens: a antiga praia do Covão recebeu o nome “Porto
Arthur”; a travessa que passa ao lado do chalé ganhou o nome “Pires Teixeira”;
a estação rodoviária da ilha e a praça do bairro do Carananduba receberam o
nome de “Arthur Pires Teixeira”.
As festas no Porto
Arthur eram memoráveis em toda a ilha. Pianistas de Belém eram levados para se
apresentar nos saraus. Dona Mariinha diz que as melhores lembranças de sua vida
estão lá: “cada cantinho daquela casa guarda lembranças muito preciosas. Meu
pai e eu sempre gostávamos de ver aquela casa muito cheia. Meus filhos a frequentavam
e meu marido adorava a ilha”, relembra.
Arthur Pires
Teixeira morreu no ano de 1961, mas seus ideais permaneceram na família. O
esposo de Mariinha, Waldemar Lins de Vasconcelos Chaves, tornou-se outro
entusiasta, herdando o fascínio pelos chalés. O pai de Mariinha deixou a casa
que morava em Belém de herança para ela. Para as duas irmãs, o chalé em
Mosqueiro. “Mas elas foram morar no Rio de Janeiro e o venderam para o meu
marido. Desde então, ele cuidou da casa com muito esmero. Depois da morte dele,
em 1994, o nosso filho mais velho assumiu os cuidados da casa”, lembra
Mariinha.”
A ILHA CONTA SEUS
CAUSOS: O PRETINHO DO PORTO
Autoria: Mosqueiro Vírgula
Entre as praias do
Porto Arthur e o Murubira, existe uma praiazinha que, algumas décadas atrás,
pescadores ancoravam canoas e faziam cabanas para passar a noite esperando a
hora da maré. Neste local, havia muitas árvores de mangue e um enorme lago que
as pessoas faziam tapagem, tarrafeavam e colocavam ¹matapi para prender o
camarão, que servia de alimento para muitas famílias. A comunidade e os
pescadores na época chamavam “CORVÃO” para aquela paragem...
Hoje, a ideia é
crescer sem destruir o meio ambiente e sem esgotar os recursos naturais para as
futuras gerações... Na história vermos que isso foi diferente.
PRETINHO, foi esse
o apelido que recebeu o filho da Dona Benedita, natural do estado do Maranhão,
que trabalhava de lavadeira da tradicional família do Sr. Arthur Pires
Teixeira, nome que deu origem ao Bairro Porto Arthur, Terminal Rodoviário de
Mosqueiro, Prédio Porto Arthur e a Rua Pires Teixeira, onde fica a capela
Savina Petrilli, em terreno doado pela família Pires Teixeira.
O Bairro do Porto
Arthur faz fronteira com os bairros do Chapéu Virado, Murubira e Natal do
Murubira.
Num acervo
resumido da nossa história, os primeiros transportes de Mosqueiro, como carros
puxados a boi, ônibus, e até uma locomotiva apelidada de “Pata Choca”, faziam linha
Vila/Porto Arthur/Vila. Infelizmente, os registros históricos são insuetos e
fazem a nossa bibliografia empobrecida.
Era o Negrinho
mais lindo que você possa imaginar, tinha de sete para oito anos, pele limpa e
sedosa, nariz afilado, olhos tão negros que eram quase azulados e os dentes tão
alvos que, ao sorrir, seus caninos brilhavam como ouro. Não havia quem não
gostasse daquele menino, estava sempre pronto para qualquer mandado... Sapeca
assim; como qualquer criança que goza de saúde é feliz... Toda tardezinha
quando as sabiás começavam a cantar nas palmeiras dos açaizeiros e o sol ia se
pôr por trás da ILHA do AMOR, o PRETINHO pegava a varinha bordada feita de
bambu e dizia: “-- Bence mãe!” Dona Benedita sempre dizia: “-- Menino, menino,
cuidado meu filho, isso não é hora de brincar na praia, qualquer dia o tralhoto
te encanta. Lembra do Miguer?”, “-- Deus bençoe!”. E o negrinho sai correndo na
direção da praia do Corvão. Como se bailasse em êxtase, sempre sorrindo, corria
atrás dos tralhotos que ficavam descansando na areia à espera dos marouços...
Todo dia, corria atrás daqueles peixinhos, todo dia, e isso virou costume.
Naquela manhã, o
menino estava mais feliz. Fez os mandados com um sorriso que só um inocente
pode ter. Chegou a tardezinha.
Nessa tarde, por
coincidência as sabiás não fizeram sinfonia, dona Benedita, abençoou, abraçou e
beijou o menino como NÃO fazia de costume e virou-se para tempo... e não viu o
Pretinho sair... Foi triste! O menino não voltou nunca mais... Coração de Mãe
não se engana! Dona Benedita sabia que o havia perdido. Mesmo assim,
sensibilizou a todos e por dias e meses passou procurando o seu único filho e
nada. Ninguém viu! Passando-se nove meses, dona Benedita, com o coração
apertado, desistiu das buscas; pediu as contas e voltou para o Maranhão sem seu
filhinho Raimundo.
Passaram-se três
décadas...
“Confesso-lhes que
já senti vontade de perguntá-lo... Talvez já o tenha esquecido.” Até hoje, não
sabemos o motivo pelo qual o Agente Distrital de Mosqueiro, na ocasião o Sr. J.
I., resolveu destruir parte da natureza e introduziu um trator na praia
revirando árvores e devastou com o lago do Corvão. Sem dúvidas, um grande
choque para a comunidade da época, pois muitas famílias tiravam seus sustentos
daquele lago que ficava ali, deitado em berço esplêndido...
Depois que o lago
foi destruído, o Negrinho com o sorriso luminoso começou a aparecer para várias
pessoas, principalmente para os pescadores e visitou muitas casas que ficam ali
na orla... Sempre que alguém chamava por ele, ele desaparecia... Certo dia, o
pescador Anselmo, estava distraído, amarrando a canoa, e o Negrinho, com aquele
sorriso encantador... Chamou o escolhido “-- Venha, tenho um presente para
você, vou lhe dar esse pequeno tesouro”. O pescador, sem entender o que estava
acontecendo, seguiu o menino. O Negrinho apontando para uma urna de madeira semienterrada
próximo a um barranco, disse: “-- É sua!” E prosseguiu: “-- Estou indo embora
daqui, perdi meu doce lar, vou morar lá na C’ROA e agora só vou ter a permissão
de aparecer uma vez em cada mês, continuo fazendo tolices. Quando quiser me ver
é só ir lá na C’ROA DE PEDRAS em noite de lua cheia”. Deu uma pequena pausa,
baixou a cabeça e algumas lágrimas caíram... seguiu falando: “-- Sei que minha
mãe ainda vive; se puder, diga que a amo” Falou o que queria e desapareceu... O
pescador ficou todo arrepiado e mesmo assim tratou de desenterrar e carregou a
caixa... Dizem até hoje que Anselmo se tornou dono de uma grande fortuna e
desapareceu da Ilha alguns dias depois.
Pescadores juram
que é “vero”, que o Negrinho realmente aparece na C’roa de Pedras em noite de
lua cheia.
Apenas uma lagoa
rasa marca os vestígios que outra hora foi chamado; poucos pescadores ainda
aportam canoas naquela parte da praia...
Se você é curioso, visite a C’roa de Pedras de preferência em noite de lua
cheia. Quem sabe você reconhece através do “CAUSO” o famoso sorriso do
“PRETINHO DO PORTO”.
¹matapi: Armadilha feita de tala e cipó em forma de
cubo