sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

PRAIAS DA ILHA: PRAIA DO CHAPÉU VIRADO

 “Enseada do Chapéu Virado e Farol: foto registrada no começo do século XX, provavelmente entre 1900 e 1910.”




 









Chapéu Virado: denominação curiosamente singular para uma enseada! Essa mesma enseada, a que os índios chamavam Maiandeua (Mãe da terra), é uma das mais belas praias da costa oeste da Ilha do Mosqueiro e um dos points turísticos preferidos por banhistas e visitantes.

Esse nome foi atribuído, no início, à ponta mais saliente da Ilha, que avança sobre as águas da baía do Marajó, estando registrado em códices e mapas muito antigos, como a Planta do Porto do Pará, trabalho cartográfico não datado, talvez oriundo dos remotos tempos do século XVII.

Tal situação geográfica de grande importância como referência náutica foi o motivo que levou a Marinha a instalar ali, em 1872, o primeiro farolete, exatamente onde, hoje, se encontra o Hotel Farol. Originariamente batizado como Ponta-do-Chapeo-Virado, o local passou a ser conhecido como Ponta do Farol pelos pescadores. Assim, no final do século XIX, a enseada viu a sua extensão ser dividida, para abrigar um novo nome consagrado pela vontade do povo: praia do Farol.

Dificilmente saberemos quando a designação Chapéu Virado foi empregada pela primeira vez. Difícil também é determinar o porquê de sua origem, o seu real significado, pois não existem documentos comprobatórios, embora muitas explicações tenham surgido, todas envolvendo essa peça tão comum da indumentária em todas as épocas. Seria uma lembrança dos rústicos chapéus de abas largas dos antigos pescadores que ali labutavam ou dos usados pelos valentes cabanos, que derramaram seu sangue naquelas areias? Ou dos finos chapéus de palhinha dos senhores aristocratas que frequentavam a Ilha, naqueles tempos longínquos?

Quem sabe não foi produto da imaginação criativa de algum navegador que, aproximando-se da Ilha, vislumbrou, no formato da enseada, a silhueta de um chapéu beirado cheio de água? E, já que estamos no campo da imaginação, não teria esse viajante comparado o lugar com a praia de Copacabana, cuja ponta avança sobre a baía de Guanabara? Em verdade, guardadas as devidas proporções, ambas as enseadas se assemelham pela forma de meia-lua.  Os nomes das duas praias teriam, portanto, certa relação, uma vez que da palavra aportuguesada Copacabana lembrar-se-ia o tal navegador, pois, no sentido dicionarizado, copa é a parte superior do chapéu.

Deixando de lado a fantasia, a verdade é que o invulgar nome Chapéu Virado teve uma grande divulgação em Paris, no início do século passado, promovida por Arthur Pires Teixeira, amante fervoroso e benfeitor incondicional daquela magnífica localidade da Ilha do Mosqueiro.

 

CANTANDO A ILHA: SOUVENIR DO CHAPÉU VIRADO

(Texto transcrito do livro “Mosqueiro Ilhas e Vilas”)

Folheto impresso em Paris sob o nome de “Souvenir do Chapéu Virado”, organizado pelo Sr. Pires Teixeira, publica e divulga as principais edificações daquele bairro, citando seus locais e seus proprietários. O raro documento é datado de 1907. – Nos foi cedido pelo seu genro eng. Waldemar Chaves. O folheto tinha a função de exaltar o Chapéu Virado daqueles tempos, no começo do século. Arthur Pires Teixeira foi ali um de seus grandes pioneiros e assim se refere à beleza do Chapéu Virado:

“... é um simples suburbio da florescente villa do Mosqueiro, que, como é sabido, dista poucas milhas, apenas, da Capital do Estado. É, portanto, o que muitos conhecem: um excelente logradoiro a 20 minutos de bond da villa; a 20 minutos de bond porque é servido por uma linha desses veículos, de que é concessionário o conhecido industrial Snr. Pindobussú de Lemos. Ora, o nosso preferido retiro permaneceria como muitos, desconhecido e conseguintemente abandonado, se o homem para alli não fosse attrahido de certa forma, já pelo ardente desejo de aspirar um oxigenio puríssimo, já pela absoluta necessidade de um pouso ameno, onde se pudesse furtar ao bulício das cidades mais ou menos agitadas; se, finalmente, o homem alli não construísse elegantes e confortaveis vivendas, traçadas em chalets de multiplas e bellas formas. E o próprio elemento estrangeiro o procura, o prefere, parecendo-nos conducentes todas essas circunstancias. No “Chapeo-Virado”, emfim, parece que a natureza baila eternamente; sim, baila eternamente – ou não escutassemos ahi, a todos os momentos, o canto mavioso do passaredo em doce concerto com o mystico harpejo que emana d’esse milhão de beijos do mar sanhudo numas adoraveis areias, que dessas, muito brancas, é a longa praia do nosso sympatico “Chapeo-Virado”. E poder-se-á, ainda, negar a poesia da solidão, o encanto de uma vida docemente bucolica? Ahi ficou a descrição do Chapeo-Virado para onde machinalmente nos vamos conduzindo, onde (sem querer talvez) vamos ficando, vamos ficando...”

(Meira Filho, Augusto -- “Mosqueiro Ilhas e Vilas”, Grafisa Ed., 1978, pp 46, 49)



NA ROTA DA HISTÓRIA: CHAPÉU VIRADO

Século passado, primeiras décadas. Momentos que lá se vão carregados pela voragem do tempo. Cenas que não presenciamos e que buscamos reconstruir pelo poder da imaginação. Parece-nos ainda ver os visitantes em seus melhores trajes desembarcarem no trapiche da Vila e, ano após ano, seguirem alegremente em caleches e tilburis (carruagens de tração animal), no bondinho puxado a burro, no trenzinho conduzido por uma locomotiva a vapor apelidada de Pata Choca e nos ônibus de carroceria de madeira. Seu destino: o Chapéu Virado, lugar preferido pela elite de Belém por seu intenso bucolismo e uma paisagem de beleza paradisíaca.

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Desembarque de passageiros no trapiche da Vila do Mosqueiro, no início do século passado (Fonte: Blog H. Baleixe).

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Trapiche da Vila do Mosqueiro em armação de ferro e pista de madeira - 1.908 (Meira Filho, 1978).

 

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Bondinho puxado a burro no trajeto Vila-Porto Arthur (Meira Filho, 1978).

Primeiro ônibus da Ilha do Mosqueiro (Meira Filho, 1978).

Chapéu Virado é nome antigo em registros cartográficos (Ponta-do-Chapeo-Virado, atualmente Ponta do Farol), de origem desconhecida, talvez uma referência à forma da enseada (chapéu beirado), talvez lembrança da velha clareira ali existente, hoje praça, ontem “o lugar onde o chapéu virava” arrancado da cabeça dos caboclos pelo vento forte que ali chegava canalizado por diversos caminhos.

No final do séc. XIX e início do XX, entre os anos de 1.880 e 1.912, no apogeu da borracha, a ilha foi descoberta pelos estrangeiros que trabalhavam em Belém, nas empresas como a Pará Eletric, Amazon River, Port of Pará e outras. Ingleses, franceses, alemães, americanos, portugueses, libaneses e hebraicos estiveram na costa oeste da ilha e muitos construíram, inclusive no Chapéu Virado, vários casarões, cuja arquitetura é um misto de estilos europeus com a realidade climática local, em traços que vão desde o barroco ao neoclássico. Posteriormente, a elite da sociedade de Belém aderiu a esse movimento na busca do merecido repouso de fim-de-semana.

E eles vinham, gente ruidosa, elegante, feliz, antegozando o fim-de-semana no convívio da família e dos amigos, sentindo a magia da Ilha na fartura do verde e das águas, no beijo ardente do sol ou no aconchego do luar. Alguns se dirigiam a seus chalés, vivendas e retiros; outros buscavam hospedagem no Hotel Chapéu Virado, o famoso Hotel do Russo, prédio que ainda existe, porém como um condomínio de apartamentos.

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Família reunida em frente ao Chalé Cardoso, no Chapéu Virado antigo (Fonte: Blog H. Baleixe).

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Fachada do antigo Balneário Hotel Chapéu Virado ainda em madeira (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).

A princípio, humilde pousada em madeira e casa de pasto sob a administração do francês Monsieur Pinet, o Hotel Chapéu Virado passaria depois a ser conduzido pela firma Ferreira Gomes Cia. e pelo especialista em hotelaria Sr. Manuel Tuñas. Em 1.936, foi adquirido pelo casal português Manoel Maria Fernandes Tavares e Dona Glória Marques Tavares. O Sr. Tavares construiu um anexo em alvenaria ao antigo prédio e, com seu retorno a Portugal em 1.939, a gerência do hotel ficou nas mãos de sua filha Dona Carolina e de seu genro, o português Antônio Joaquim Ferreira, o Russo, apelido oriundo da cor de seus cabelos. Foi, então, que um incêndio destruiu a primitiva construção em madeira e os novos proprietários receberam do prefeito de Belém Abelardo Conduru e, depois, do governador Magalhães Barata, em forma de ajuda, o pagamento de três parcelas de vinte contos de réis, como financiamento para a reconstrução do hotel.

Entretanto, esse prédio não é o único marco histórico do local. Bem no meio da praça está a Capelinha do Sagrado Coração de Jesus, edificada pelo Sr. Guilherme Augusto de Miranda Filho, como pagamento de promessa por ter recuperado a saúde na ilha, e inaugurada em 17 de dezembro de 1.909 pelo arcebispo efetivo de Belém Dom Santino Coutinho. É dessa Capela que, no segundo domingo de dezembro, sai o Círio de Nossa Senhora do Ó, padroeira do povo mosqueirense, com destino à Igreja Matriz.

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O Russo e família em frente ao Hotel Chapéu Virado (Fonte: Blog HB, foto: Hermínio Pessoa).

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Capela do Sagrado Coração de Jesus e, ao fundo o Hotel Chapéu Virado (Meira Filho, 1978).

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Banhistas na praia do Chapéu Virado. Vê-se, ao fundo, a curva do Porto Arthur (Fonte: Blog HB).

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Poeta Mário de Andrade (1927), em traje de banho masculino, no Chapéu Virado (Fonte: Blog HB).

Dois outros prédios destacavam-se nos limites da Praça do Chapéu Virado com a Avenida Beira-Mar, ambos de frente para a praia. Um deles ainda existe, embora parte de seu terreno tenha sido negociado e abrigue duas farmácias: trata-se da Vivenda Porto Franco, em estilo neoclássico, antiga residência da família do Sr. José Franco. O outro era o Chalé do Coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Mota (Dr. Loló), Presidente da Executiva do Partido Republicano do Mosqueiro; depois foi transformado em casa de hóspedes, passou a ser propriedade do Dr. Cypriano Santos e, finalmente, demolido para a construção do Edifício Lilian-Lúcia.

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Vivenda Porto Franco (Foto: Regina, 1.978).

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Chalé do Dr. Loló em 1.907 (Meira Filho, 1.978).

A pracinha do Chapéu Virado (Praça Abelardo Conduru), na confluência da Avenida16 de Novembro com a Avenida Beira-Mar, ocupa um lugar privilegiado de onde, através do antigo Caramanchão, pode-se divisar a magnífica baía do Marajó e assistir a um belíssimo pôr-do-sol. Um lugar que guarda lembranças de fatos históricos como a luta heroica e sangrenta de nossos avós cabanos em 1.836; a aterrissagem na praia, em 13 de outubro de 1.927, do avião “Breguet 118” vindo de São Luís do Maranhão e pilotado por Paul Vachet; a chegada ao Hotel do Russo, em 14 de junho de 1.959, da expedição que, vinda de Belém, percorreu a pé, na mata, o trajeto da atual estrada; a primeira visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, no dia do Círio do Mosqueiro, em dezembro de 1.965; ou a presença, pela primeira vez na ilha, de um Presidente da República, Ernesto Geisel, que veio inaugurar, no dia 12 de janeiro de 1.976, a Ponte Sebastião Rabelo de Oliveira sobre o Furo das Marinhas.

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Desbravadores traçando o percurso da futura estrada Belém-Mosqueiro em junho de 59 (Fonte: A. M. Filho).

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Chegada dos expedicionários ao Hotel do Russo, na Praça do Chapéu Virado: o primeiro passo na futura estrada (Fonte: A. M. Filho).

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Construção da estrada Belém-Mosqueiro (Fonte: A. M. Filho).

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No Furo da Marinhas (1.965), uma placa que entrou para a História (Fonte: A. M. Filho)

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Recepção à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré em 1.965 (Fonte: A. M. Filho).

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A Imagem Peregrina é conduzida em andor no Círio do Mosqueiro de 1.965 (Fonte: A. M. Filho)

Os tempos mudaram, no entanto a pracinha do Chapéu Virado continua sendo atraente, embora sem o “glamour” do passado que levou Arthur Pires Teixeira a torná-la famosa em Paris e sem o Hotel do Russo, o Ponto Chique, onde a nata da sociedade de Belém se reunia em festas de caridade, bailes, concursos e jogos.

E a praça recebe os visitantes da ilha com uma linda visão da Copacabana Mosqueirense e despede-se deles com a certeza de que, em breve, estarão ali novamente, vivendo as alegrias de momentos inesquecíveis.

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Visão aérea da antiga Ponta-do-Chapeo-Virado, hoje Ponta do Farol (Fonte: A. M. Filho)

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Visão panorâmica da antiga praia do Chapéu Virado ( Fonte: Blog Haroldo Baleixe)


NA ROTA DA HISTÓRIA: O POUSO DOS AVIÕES


Em seus relatos sobre a história do Chapéu Virado e do Farol, o Dr. Zacharias Mártyres e sua esposa Dona Adelaide de Almeida sempre mencionavam a chegada, naquela ponta da ilha, de hidroaviões e, até mesmo, de um Zeppelin, por ocasião da Segunda Grande Guerra. Seus tripulantes, geralmente oficiais ingleses, não raras vezes se hospedavam no Balneário Farol, ali aos pés do rio-mar. Entretanto, outros relatos existem sobre o assunto que revelam a presença de aeronaves naquela praia em tempos mais remotos, quando não havia aeroporto nem na Capital do Estado. Acreditamos que o primeiro avião monomotor a pousar naquela faixa de areia foi o “Breguet 118”, segundo as pesquisas do historiador Augusto Meira Filho:

“Em 13 de outubro de 1927, procedente do Rio de Janeiro com várias escalas, inclusive em São Luís, aterrissou na praia do Chapéu-Virado o avião “Breguet 118”, pintado de alumínio, da Companhia “Latecoère”, dirigido por Paul Vachet, tendo como engenheiro mecânico Michel Goull e mecânico Marcel Gaffé. Sobrevoou Chapéu-Virado às 09:10 horas e às 10:25 horas aterrissou na praia do mesmo nome. O Comandante foi recebido pelo Dr. Innocêncio Bentes representante do Prefeito Crespo de Castro e outras autoridades. Em caminhão a comitiva seguiu para a Vila onde embarcou na lancha “Lisboa Serra”, desembarcando na escadinha (do cais do porto), ficando a tripulação hospedada no Grande Hotel. No Chapéu-Virado o avião foi amarrado próximo à chácara do Dr. Innocêncio Bentes. O voo de São Luís a Belém levou quatro horas e a finalidade era fazer estudos, para estabelecer uma linha regular. No local onde aterrissou o avião, o Dr. Paulo Eleuthério em nome do intendente de Belém indicou aos representantes da imprensa o local onde seria erguido um pequeno monumento comemorativo à chegada do “Breguet 118”.” (MEIRA FILHO, 1978).

Interessante, não?! Bem que o Paul Vachet e o “Breguet 118” mereciam esse monumento que nunca existiu. E por falar no assunto, um segundo monumento deveria ter sido erguido naquele mesmo local, porque, no dia 16 de janeiro de 1929, ali pousava o avião “Peru”, pilotado por Carlos Martinez de Pinillos (1895-1947), tendo como navegador o tenente da Marinha peruana, Carlos Zegarra Lanfranco, conforme o site do AEROCLUB DEL PERU – ACP – SOCIOS:

“En la ciudad de Belem do Pará no existía aeropuerto y el aterrizaje se efectuó en un campo improvisado en la playa "Chapeu Virado" en la isla de Mosqueiro y esto significó un entrampamiento para el viaje, puesto que no tenían permiso oficial para el vuelo sobre la Guayana Francesa y no había una pista suficientemente larga para despegar con la cantidad de combustible necesario para llegar hasta Venezuela. Para empeorar las cosas, una crecida del río Amazonas redujo aun más el espacio disponible.Como resultado de esto, Pinillos y Zegarra iniciaron el retorno a la patria por vía fluvial después de desarmar el "Perú" y despacharlo por barco hacia Nueva York.”

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O avião “PERU” na praia do Chapéu Virado (1929).

“Na cidade de Belém do Pará não havia aeroporto e o pouso ocorreu em um campo improvisado na praia "Chapéu Virado", na ilha de Mosqueiro e isso significava uma armadilha para a viagem, pois eles não tinham permissão oficial para o vôo sobre a Guiana Francesa e não havia uma pista longa o suficiente para decolar com a quantidade de combustível necessário para chegar à Venezuela. Para piorar a situação, uma cheia do rio Amazonas reduziu ainda mais o espaço disponível. Como resultado, Pinillos e Zegarra começaram o retorno à pátria por via marítima, após desarmar o "Peru" e enviá-lo de barco até Nova York.”

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Carlos Martinez de Pinillos.

Durante alguns anos, o aviador peruano Carlos Martinez Pinillos realizou vôos comerciais da companhia Air Co. Pinillos, viajando por todo o país, transportando passageiros e fazendo voos de demonstração nas cidades onde eles nunca tinham visto um avião. Em 1927, iniciou o projeto de um voo internacional que culminaria com uma volta completa na América do Sul. Para realizar o voo, foi escolhido um Bellanca CH-300 Pacemaker, monoplano de asa alta alimentado por uma Wright J-5-220 HP, que lhe permitiu atingir uma velocidade de cruzeiro de 150 km / h, com um máximo de 185. Ele tinha três tanques de combustível com capacidade para 345 litros de gasolina que permitiu uma autonomia de voo de 25 horas (aproximadamente 3,800 milhas) e uma válvula de liberação rápida em caso de emergência. Pinillos solicitou o reforço do trem de pouso para cargas pesadas e dos freios das rodas e iluminação completa para voo noturno. O avião foi denominado "Peru” e teve a fuselagem pintada de verde-escuro e as asas, de amarelo-alaranjado.

O “Peru” alçou voo da cidade de Lima na manhã de 11 de dezembro de 1928 e, para chegarem à ilha do Mosqueiro, os destemidos aviadores realizaram as seguintes escalas: Ilo, Santiago do Chile, Buenos Aires, Montevidéu, Rio de Janeiro, Bahia, Natal e São Luís. Da ilha do Mosqueiro até Nova York, viajaram por mar e, finalmente, no dia 27 de maio, partindo de Nova YorK, iniciaram a segunda etapa da aventura, que terminaria no dia 25 de junho de 1929, quando o pequeno avião pousou na Capital do Peru, às 9h e 20min..

A recepção aos aviadores no final da viagem foi grandiosa. Carregados nos ombros pela multidão, foram condecorados e receberam muitos prêmios e felicitações. Na fuselagem do avião, foram pintados os escudos de todos os países que os peruanos visitaram durante a viagem.

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Recepção aos aviadores peruanos em Lima.

Infelizmente, esse aparelho, que deveria estar em um museu, não existe mais. Após ter sido vendido ao aviador civil Juan Pardo de Miguel, que, por sua vez, o negociou com o piloto Fiurman Herman, o “Peru” teve um fim trágico, levando à morte o seu terceiro dono. Ao ver os destroços do histórico avião, Pinillos declarou: "Cuando ví al que había sido el "Perú", convertido ahora en pedazos desgarrados de violencia, en fierros retorcidos de indignación, en cenizas de aburrimiento y de pesar, la tierra se abrió a mis pies...”.

  
  

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Do histórico avião, só restam as fotos.

Disponível clip_image009m

MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- p 439. clip_image010

http://moskowilha.blogspot.com/2010/06/carlos-martinez-de-pinillos-1895-1947.html#links

http://www.aeroclubperu.org.pe/socios/pinillos.html. Acesso: 07 jan. 2011.