A Lenda
do Açaí
Há muito tempo atrás, quando ainda não
existia a cidade de Belém, vivia neste local uma tribo indígena muito numerosa.
Como os alimentos eram escassos,
tornava-se muito difícil conseguir comida para todos os índios da tribo. Então
o cacique Itaki tomou uma decisão muito cruel. Resolveu que a partir daquele
dia todas as crianças que nascessem seriam sacrificadas para evitar o aumento
populacional de sua tribo.
Até que um dia a filha do cacique,
chamada IAÇÃ, deu à luz uma bonita menina, que também teve de ser sacrificada.
IAÇÃ ficou desesperada, chorava todas
as noites de saudades de sua filhinha. Ficou vários dias enclausurada em sua
tenda e pediu a Tupã que mostrasse ao seu pai outra maneira de ajudar seu povo,
sem o sacrifício das crianças.
Certa noite de lua, IAÇÃ ouviu um choro
de criança. Aproximou-se da porta de sua oca e viu sua linda filhinha
sorridente, ao pé de uma esbelta palmeira. Inicialmente ficou estática, mas
logo depois, lançou-se em direção à filha, abraçando-a. Porém, misteriosamente
sua filha desapareceu.
IAÇÃ, inconsolável, chorou muito até
desfalecer. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado abraçado ao tronco da
palmeira, porém no rosto trazia ainda um sorriso de felicidade e seus olhos
negros fitavam o alto da palmeira, que estava carregada de frutinhos escuros.
Itaki então mandou que apanhassem os
frutos em alguidar de madeira, obtendo um vinho avermelhado que batizou de
AÇAÍ, em homenagem a sua filha (IAÇÃ invertido). Alimentou seu povo e, a partir
desse dia, suspendeu sua ordem de sacrificar as crianças.
FONTE: http://www.paratur.com.br/portal/turismo-no-norte/belem/lendas-pai-degua/
O fruto que alimenta, cura e inspira!
Renan Rodrigues da
Silva é um jovem abaetetubense de 18 anos que não vive sem o açaí. Todos os
dias, no almoço e no jantar, o fruto é o alimento indispensável em sua mesa.
"Eu não consigo comer sem o açaí", diz ele. Mas, como explicar
hábitos alimentares como esse, tão presentes na cultura de grande parte do povo
paraense? O antropólogo e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA),
Romero Ximenes, que estuda o assunto há mais de 36 anos, tem a resposta.
Segundo o
antropólogo, o açaí é mais do que um hábito alimentar, ele é identidade,
comida, música clássica e popular, romance, aterro de rua, remédio, quadrinha
popular, mito, cor de gente, cobertura na agricultura, vassoura, corante,
pintura de quadro e outras novas significações que vêm surgindo. Daí a
importância atribuída ao fruto sagrado do Pará. "Trato o açaí como um
rizoma, metáfora filosófica de origem botânica que Deleuze e Guattari usaram
para definir uma raiz que cresce em todas as direções. É com essa lógica que
procuro explicar as realidades que cercam o açaí".
A pesquisa mostra,
ainda, que o açaí é o único alimento de origem vegetal que é prato principal na
comida tradicional do Pará. “Esse fruto tem, no imaginário, uma posição de
alimento especial e sagrado. Em decorrência disso, não apodrece, apenas “azeda”
e nós comemos e apreciamos o açaí azedo. É uma comida imperecível porque é
revestida de uma aura sagrada”, defende o antropólogo.
Mas, como o açaí
se tornou tão importante para a construção da identidade paraense? De acordo
com o pesquisador, quem domesticou o açaí foram os índios amazônicos, “eu diria
que, na Amazônia, os índios são os mestres do saber, porque domesticaram o
açaí, a seringueira, o tabaco, a mandioca, a batata, a baunilha e outros
vegetais de importância mundial”.
A pesquisa revela
que há uma grande incidência botânica nativa dos açaizais nas regiões dos
estuários dos Rios Amazonas e Tocantins. São nessas áreas que o fruto cria
novos significados culturais, sociais, alimentares, artísticos e econômicos.
Porém, essas significações não se estendem a todo o Pará.
Romero Ximenes
mostra que, no século XIX, ele era considerado uma praga, as pessoas atribuíam
à bebida o surgimento de doenças, como a febre amarela, a tuberculose e a
lepra. “Hoje, o açaí é a ‘solução’ para todas as doenças. Isso é uma construção
do imaginário, pois, dos pontos de vista físico, químico e sanitário, a cura
não ocorre”, afirma o antropólogo.
O estudo também
aponta a pluralidade do uso do açaí. As pessoas utilizam-no, da raiz ao fruto,
para fazer contraste radiológico, curar doenças circulatórias e tirar placas
bacterianas da gengiva. “Tanto a medicina acadêmica como a popular estão
criando uma série de medicamentos a partir do açaí. É a farmacologização do
fruto”, informa Romero Ximenes.
“Há cerca de um
ano, detectei o uso do açaí como cor de gente ao ouvir as pessoas dizerem:
‘você é uma morena açaí’. Então, as pessoas não seriam mais brancas, negras,
mulatas, amarelas. Teríamos um tipo paraense definido como “morena açaí”, diz o
professor. Para ele, isso é um desdobramento do rizoma.
“Chegou ao
Pará, parou; tomou açaí, ficou"
Romero Ximenes
afirma que a identidade paraense é construída a partir do padrão alimentar regional,
simbolizado, principalmente, pelo açaí. Porém, durante muito tempo, os
pesquisadores pensavam que não havia uma identidade paraense, porque procuravam
identidade na etnia e na raça, “a identidade é, portanto, construída pela
comida e não pela etnia”.
De acordo com o
antropólogo, a comida do Pará seria nacional por excelência, porque é
“autêntica” e de origem indígena, segundo o imaginário regional. “Há uma
reivindicação de autenticidade e do caráter único da cozinha paraense, que
seria a única brasileira”, explica.
E o provérbio
paraense “Chegou ao Pará, parou; tomou açaí ficou”, quer dizer o quê?
Segundo o pesquisador, significa afirmar que o Pará tem uma comida tão
fascinante que, ao prová-la, o visitante fica fascinado e assume a identidade
paraense.
Alimento é
cercado de regras, perigos e rituais
Dependendo de cada
região, os habitantes atribuem novos significados ao açaí. Segundo o estudo do
professor Romero Ximenes, o açaí tem um sentido de comida sagrada na cultura
paraense. Não o sagrado que se relaciona simplesmente a Deus, mas àquilo que é
cercado de regras, de interditos, de perigos. “Nas comunidades tradicionais,
ninguém toma açaí com cupuaçu, com laranja, com limão ou com qualquer fruta
azeda. Ele é um alimento cercado de rituais e de cerimoniais. É um alimento que
se toma para, posteriormente, “jibuiar’, ou seja, descansar e dormir”,
esclarece. De acordo com ele, esse termo é fundamentado no comportamento da
jiboia, que, após se alimentar, fica quieta e acomodada para digerir o
alimento.
Porém, quando a
comida migra para outras regiões, acaba assumindo novos significados. Romero
Ximenes diz que, em Ipanema, no Rio de Janeiro; no Guarujá, em São Paulo ou em
San Diego, na Califórnia, as pessoas tomam o açaí como um energético. Nesses
locais, o açaí é misturado com frutas vermelhas, com chocolate ou com iogurte.
Segundo o
pesquisador, o açaí assume posição central na cultura do povo paraense já que
nos identifica, “o açaí é o produto de maior valor na região amazônica. Ele é a
via de acesso mais ampla para o imaginário e a cultura paraenses, para os
processos de classificação e de visão do mundo e, certamente, de identidade.
Portanto o açaí é o rizoma da cultura local”.
FONTE:http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2013/05/acai-fruto-que-alimenta-cura-e-inspira.html