quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

MEIO AMBIENTE: PAISAGEM E QUALIDADE VISUAL NO ARQUIPÉLAGO DE MOSQUEIRO

Autor: Pedro Leão

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Dentre os muitos elementos vinculados ao processo de ocupação e uso antrópico no arquipélago de Mosqueiro, destaca-se o de qualificação de suas paisagens inerente àquele espaço territorial no estuário amazônico.

Assim, buscaremos delinear um olhar e procurar respostas sobre as paisagens e a qualidade visual no arquipélago de Mosqueiro numa perspectiva em que as mesmas sejam potencializadas no âmbito do turismo, mas, sobretudo da garantia da qualidade de vida dos seus moradores.

Presentemente, os conceitos de paisagem e de qualidade visual são de uso corrente em diversas abordagens e estudos científicos, donde se sobressaem os pontos de vista e opiniões do observador ou analista. Dessa forma, da sua construção histórica até hoje, estes conceitos são encontrados na Geografia, na Geologia, na Antropologia, na Ecologia, dentre outros.

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Paisagens contrastantes: A primeira imagem revela o grande adensamento urbano dos bairros da Vila, Maracajá e Mangueira, porém relevam-se as áreas verdes do Parque Ambiental de Mosqueiro. Num ambiente, quanto maior a quantidade de vegetação em uma paisagem, mais as características responsáveis pela manutenção dos processos ecológicos e, consequentemente, a biodiversidade é mantida. A paisagem do entorno está muito comprometida em termos de qualidade ambiental. A preservação dos fragmentos (ilhas de vegetação na paisagem local) propicia refúgios para animais dispersores de sementes, principalmente aves. Na paisagem seguinte, trecho do São Francisco ao Carananduba, tem-se um intenso processo antrópico com as atividades de extração mineral e de ocupações irregulares.

Paisagem é uma determinada porção do espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns com os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpetua evolução.

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Praia do Carananduba, com destaque para a enseada  do Igarapé com o mesmo nome. Em algumas faixas da orla  praiana temos paisagem  diversificada, ambientes naturais ainda preservados, ora com ocupações desordenadas e atividades que causam agravos ambientais.

Modernamente, dentre os vários estudos voltados à questão, temos a Geoecologia [Ecologia da Paisagem], que possui uma  abordagem holística, integradora de ciências sociais, geofísicas e biológicas, visando, em particular, à compreensão global da paisagem e o ordenamento territorial. 

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Área do Farol: alto nível de ocupação e adensamento. A paisagem praiana e seus elementos constituintes lhe conferem beleza e encantamento.

A paisagem é definida como uma unidade heterogênea, composta por um complexo de unidades interativas cuja estrutura pode ser definida pela área, forma e disposição espacial destas unidades. A escolha de uma das formas de representar as unidades de paisagem (ecossistemas, unidades de vegetação ou de uso e ocupação das terras) é feita pelo observador.

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Na primeira imagem, temos a Praia do Bispo com destaque aos tensores em concreto ao largo do trapiche. Posteriormente, temos habitações nas margens do Rio Cajueiro. Alteração da paisagem natural ao longo das praias e das áreas inundáveis, isto é, aquelas associadas a rios e lagos, cuja força controladora é o pulso d’água.

Na Amazônia, a realidade da relação simbiótica homem/ambiente torna-se cada vez mais dramática pela força do agronegócio, do agro extrativismo e da pecuária que modificam suas paisagens naturais e no ambiente urbano pelas perturbações provenientes das construções, pavimentação, passagem de veículos, controle sobre a vegetação como plantios, podas, uso de herbicidas, ou uma consequência destas, como deslizamentos de terra e inundações, erosão e diversas formas de poluição.

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A imagem mostra erosão costeira com consequência no recuo da linha de costa ocasionando a destruição dos elementos protetores construídos na Praia de São Francisco. Na ilha, as áreas de falésias sofrem este processo erosivo, sobretudo quando das altas marés. Tal fenômeno tem ocorrência na Baia do Sol, Paraíso, Marahu, São Francisco, Ariramba/Murubira, Praia Grande, além da costa das Barreiras.

 Os espaços naturais, antropizados ou não, desta faixa de terra do território amazônico, configurados nas clássicas paisagens “urbanas” e “rurais” menos cabocla, dentre outras, relevaram Mosqueiro como principal balneário da Grande Belém Insular e lugar onde ainda é grande a presença de visitantes e turistas à procura de conhecer sua historia e desfrutar a beleza e encantos das paisagens naturais ou espaços modificados pela ação humana, mas que oferecem desfrutes e qualidade visual. Não é à toa que “bucólica” em nossa região é sinônimo de Mosqueiro, face não só à beleza de suas paisagens, mas também à tranquilidade ali encontrada.

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Belo pôr-do-sol na orla do Bispo e vista panorâmica da praia do Ariramba. Atributos de grande qualificação visual da paisagem da ilha.

Na ilha bela, porém, vão-se, aos poucos, modificando seus atributos da beleza paisagística pelo domínio do concreto e do asfalto, das ocupações irregulares, das muitas formas de poluição e de fragmentação de habitats naturais para uso em atividades fortemente impactantes. Os atuais níveis de ocupação e adensamento  merecem ser objeto de um estudo consubstanciado num plano de ordenamento territorial participativo.

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Ambiente onde a ocupação urbana ainda não está completa convive com as áreas de mangue e de paisagem ribeirinha, como as encontradas  no igarapé Carananduba e na faixa de orla da praia.

No complexo emaranhado conceitual de paisagem, com seus cortes geomorfológico e/ou social, vê-se seu sentido ligado à ideia de percepção. Sentimentos, estéticas, valores culturais, processos ecológicos ou políticos se associam à percepção. Cada interesse revela um tipo de percepção na paisagem, dando a ela qualidades devidas.

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Imagens paisagísticas do histórico Sítio Conceição (Baia do Sol), da antiga fábrica Bitar no Areião, do centenário mercado da Vila e de um chalé na orla do Murubira (Belle Époque).

Seguindo a trilha histórica de Mosqueiro, amalgamada por muitos fatores geológicos e ação de muitos atores sociais no teatro da vida, quando de sua ocupação e uso, faz-se necessário analisar e registrar, no âmbito das percepções humanas, os efeitos estéticos (cores e formas no território), a dimensão geográfica e ecológica e as expressões culturais e humanas, potencializadoras de seu desenvolvimento local, desigual e combinado a outras escalas e parâmetros não só social e econômico, mas também ambiental e paisagístico dotado de qualidade visual.

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A imagem da paisagem do rio Pratiquara traduz além da beleza do mundo amazônico com seus rios, florestas, tranquilidade e outros elementos constituintes, contrastando com  o ambiente de praia do Farol lotada em dias de muita agitação.

Nesta perspectiva, percebe-se que, em Mosqueiro, estamos diante de um cenário beirando o dramático, onde se somam, a cada dia, impactos negativos à esfera das paisagens, na qualidade estética e sanitária dos seus recursos naturais, mas, fortemente, também marcando as atividades sociais e econômicas locais, a saúde, a segurança publica e o bem-estar da sua população. Assim sendo, muitos elementos oriundos das ações antropogenéticas já não fazem parte tanto das paisagens recém- conformadas ou das mais antigas.

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Imagens paisagísticas da tranquila Praia do Bacuri na comunidade pesqueira da Baia do Sol e do balneário Igaracoco no São Francisco.

Que indicadores de análise e qualificação se pode lançar mão no estudo e registro das paisagens naturais e antropizada na Ilha de Mosqueiro no presente momento? Estudos revelam que, dentre os muitos indicadores apresentados, basicamente a qualificação e a valorização de um ambiente paisagístico pode ser aferido pela sua diversidade, por sua representação em termo de naturalidade e pela singularidade encontrada na área. Ainda, no sentido de verificação do ambiente, temos o que chamamos de detratores, isto é, elementos constituídos pela ação humana (antrópicos) que descaracterizam ou artificializam o ambiente, distanciando-os das condições naturais da paisagem.

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Vista panorâmica e traçado esquemático sobre a área praiana  do Trapiche da Vila.

Dessa forma, pode-se através de levantamento e registro, verificar no espaço ilhéu a variedade paisagística existente. Também, constatar os elementos e estruturas humanas que integram seus espaços naturais. Busca-se, aqui, o nível de naturalidade existente na paisagem. Por último, não menos importante, temos sua singularidade. Significa a existência de ocorrências naturais no ambiente ilhéu, como as feições geomorfológicas existentes, a composição da sua cobertura vegetal e espécies florestais, a fauna terrestre e aquática e sítios paleontológicos. Que locais naturais do arquipélago de Mosqueiro receberam ações detratoras e como elas influenciam na qualidade visual e na paisagem.

Estudos no domínio da paisagem urbana afirmam que, dependendo do foco de interesse, os indicadores acima citados ganham importância ou não no processo de análises. Observa-se, porém, que um aspecto ganha dimensão no processo de percepção humana e valorização da paisagem. Trata-se da sua expressão estética concedendo um valor subjetivo.

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Imagem de  pescadores artesanais na área da vila e no Furo das Marinhas. Destaque para o  efeito simbiótico da relação/ação do homem na natureza, quando do relevo da ponte sobre os corpos d’águas, ambiente da colheita dos recursos aquáticos locais.

 Uma paisagem pode ser valorizada dentro da perspectiva do valor visual, quando, por exemplo, apresentar expressivos tipos de relevos, ilhas, estuários e baías, diversas atividades antrópicas, vistas panorâmicas com grande alcance visual, vasta e rica cobertura arbórea, variados corpos d’águas, praias, episódios atmosféricos, como nascer e pôr-do-sol, neve, fauna nativa, dentre outros.

Além das inúmeras praias de água doce com ocorrência de ondas, que marcam a presença anual dos veranistas, a Ilha de Mosqueiro detém ainda um conjunto de paisagens naturais e com presença humana construída ao longo de sua história geológica e sócio-cultural, que merecem ser mais bem interpretadas e exploradas, dentro de seus atributos e qualidades visuais.

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Área da orla Baia do Sol - Ao fundo destaque para  o coreto da pracinha.

Tais qualidades podem, cada vez mais, dependendo do observador e dos interesses, ser potencializadas dentro da esfera do turismo e qualidade da vida local, no marco do estado de conservação da integridade, originalidade ou autenticidade de tais ocorrências e manifestações sejam elas naturais ou culturais.

Além dos estudos e pesquisas voltadas para a interpretação, registro e conservação paisagística e de utilização eficiente dos recursos naturais, muitas ferramentas legais e institucionais têm sido construídas com a participação e cooperação de governos, empresas e comunidades locais. As áreas de preservação permanente (APA´s), por exemplo, têm a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, a fauna e a flora, bem como o solo, e assegurar  o bem-estar das populações humanas.

A manutenção de paisagens diversificadas com a valorização das suas qualidades visuais na ilha amazônica de Mosqueiro torna-se, nos dias de hoje, um imperativo compromisso de todos nós, na construção de comunidades ambientalmente sustentáveis para a atual e as futuras gerações.

Fontes:

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra. São Paulo, n.13, 27 p. 1972.

DOMINGOS, Thiago Augusto. Geologia e geomorfologia  ambiental, gestão ambiental V/Thiago Augusto Domingos – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.

http://holofotevirtual.blogspot.com.br/2010/11/memorias-da-ilha-reune-imagens-de.html

mosqueirando.blogspot.com.

http://marcelokatsuki.blogfolha.uol.com.br/page/2/

baiadosolsempre.blogspot,com.

http://www.panoramio.com/photo/49028793

www.ppgedam.pro.br/ppgedam/.../dissert_CELINA_MARQUES.pdf

Pescamosqueiro@yahoo.com.br

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