quarta-feira, 28 de abril de 2010

A ILHA DO MOSQUEIRO: NA ROTA DA HISTÓRIA

 

A ILHA DO MOSQUEIRO: NA ROTA DA HISTÓRIA

CHAPÉU VIRADO

Século passado, primeiras décadas. Momentos que lá se vão carregados pela voragem do tempo. Cenas que não presenciamos e que buscamos reconstruir pelo poder da imaginação. Parece-nos ainda ver os visitantes em seus melhores trajes desembarcarem no trapiche da Vila e, ano após ano, seguirem alegremente em caleches e tilburis (carruagens de tração animal), no bondinho puxado a burro, no trenzinho conduzido por uma locomotiva a vapor apelidada de Pata Choca e nos ônibus de carroceria de madeira. Seu destino: o Chapéu Virado, lugar preferido pela elite de Belém por seu intenso bucolismo e uma paisagem de beleza paradisíaca.

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Desembarque de passageiros no trapiche da Vila do Mosqueiro, no início do século passado (Fonte: Blog H. Baleixe).

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Trapiche da Vila do Mosqueiro em armação de ferro e pista de madeira - 1.908 (Meira Filho, 1978).

 

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Bondinho puxado a burro no trajeto Vila-Porto Arthur (Meira Filho, 1978).

Primeiro ônibus da Ilha do Mosqueiro (Meira Filho, 1978).

Chapéu Virado é nome antigo em registros cartográficos (Ponta-do-Chapeo-Virado, atualmente Ponta do Farol), de origem desconhecida, talvez uma referência à forma da enseada (chapéu beirado), talvez lembrança da velha clareira ali existente, hoje praça, ontem “o lugar onde o chapéu virava” arrancado da cabeça dos caboclos pelo vento forte que ali chegava canalizado por diversos caminhos.

No final do séc. XIX e início do XX, entre os anos de 1.880 e 1.912, no apogeu da borracha, a ilha foi descoberta pelos estrangeiros que trabalhavam em Belém, nas empresas como a Pará Eletric, Amazon River, Port of Pará e outras. Ingleses, franceses, alemães, americanos, portugueses, libaneses e hebraicos estiveram na costa oeste da ilha e muitos construíram, inclusive no Chapéu Virado, vários casarões, cuja arquitetura é um misto de estilos europeus com a realidade climática local, em traços que vão desde o barroco ao neoclássico. Posteriormente, a elite da sociedade de Belém aderiu a esse movimento na busca do merecido repouso de fim-de-semana.

E eles vinham, gente ruidosa, elegante, feliz, antegozando o fim-de-semana no convívio da família e dos amigos, sentindo a magia da Ilha na fartura do verde e das águas, no beijo ardente do sol ou no aconchego do luar. Alguns se dirigiam a seus chalés, vivendas e retiros; outros buscavam hospedagem no Hotel Chapéu Virado, o famoso Hotel do Russo, prédio que ainda existe, porém como um condomínio de apartamentos.

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Família reunida em frente ao Chalé Cardoso, no Chapéu Virado antigo (Fonte: Blog H. Baleixe).

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Fachada do antigo Balneário Hotel Chapéu Virado ainda em madeira (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).

A princípio, humilde pousada em madeira e casa de pasto sob a administração do francês Monsieur Pinet, o Hotel Chapéu Virado passaria depois a ser conduzido pela firma Ferreira Gomes Cia. e pelo especialista em hotelaria Sr. Manuel Tuñas. Em 1.936, foi adquirido pelo casal português Manoel Maria Fernandes Tavares e Dona Glória Marques Tavares. O Sr. Tavares construiu um anexo em alvenaria ao antigo prédio e, com seu retorno a Portugal em 1.939, a gerência do hotel ficou nas mãos de sua filha Dona Carolina e de seu genro, o português Antônio Joaquim Ferreira, o Russo, apelido oriundo da cor de seus cabelos. Foi, então, que um incêndio destruiu a primitiva construção em madeira e os novos proprietários receberam do prefeito de Belém Abelardo Conduru e, depois, do governador Magalhães Barata, em forma de ajuda, o pagamento de três parcelas de vinte contos de réis, como financiamento para a reconstrução do hotel.

Entretanto, esse prédio não é o único marco histórico do local. Bem no meio da praça está a Capelinha do Sagrado Coração de Jesus, edificada pelo Sr. Guilherme Augusto de Miranda Filho, como pagamento de promessa por ter recuperado a saúde na ilha, e inaugurada em 17 de dezembro de 1.909 pelo arcebispo efetivo de Belém Dom Santino Coutinho. É dessa Capela que, no segundo domingo de dezembro, sai o Círio de Nossa Senhora do Ó, padroeira do povo mosqueirense, com destino à Igreja Matriz.

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O Russo e família em frente ao Hotel Chapéu Virado (Fonte: Blog HB, foto: Hermínio Pessoa).

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Capela do Sagrado Coração de Jesus e, ao fundo o Hotel Chapéu Virado (Meira Filho, 1978).

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Banhistas na praia do Chapéu Virado. Vê-se, ao fundo, a curva do Porto Arthur (Fonte: Blog HB).

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Poeta Mário de Andrade (1927), em traje de banho masculino, no Chapéu Virado (Fonte: Blog HB).

Dois outros prédios destacavam-se nos limites da Praça do Chapéu Virado com a Avenida Beira-Mar, ambos de frente para a praia. Um deles ainda existe, embora parte de seu terreno tenha sido negociado e abrigue duas farmácias: trata-se da Vivenda Porto Franco, em estilo neoclássico, antiga residência da família do Sr. José Franco. O outro era o Chalé do Coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Mota (Dr. Loló), Presidente da Executiva do Partido Republicano do Mosqueiro; depois foi transformado em casa de hóspedes, passou a ser propriedade do Dr. Cypriano Santos e, finalmente, demolido para a construção do Edifício Lilian-Lúcia.

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Vivenda Porto Franco (Foto: Regina, 1.978).

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Chalé do Dr. Loló em 1.907 (Meira Filho, 1.978).

A pracinha do Chapéu Virado (Praça Abelardo Conduru), na confluência da Avenida16 de Novembro com a Avenida Beira-Mar, ocupa um lugar privilegiado de onde, através do antigo Caramanchão, pode-se divisar a magnífica baía do Marajó e assistir a um belíssimo pôr-do-sol. Um lugar que guarda lembranças de fatos históricos como a luta heróica e sangrenta de nossos avós cabanos em 1.836; a aterrissagem na praia, em 13 de outubro de 1.927, do avião “Breguet 118” vindo de São Luís do Maranhão e pilotado por Paul Vachet; a chegada ao Hotel do Russo, em 14 de junho de 1.959, da expedição que, vinda de Belém, percorreu a pé, na mata, o trajeto da atual estrada; a primeira visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, no dia do Círio do Mosqueiro, em dezembro de 1.965; ou a presença, pela primeira vez na ilha, de um Presidente da República, Ernesto Geisel, que veio inaugurar, no dia 12 de janeiro de 1.976, a Ponte Sebastião Rabelo de Oliveira sobre o Furo das Marinhas.

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Desbravadores traçando o percurso da futura estrada Belém-Mosqueiro em junho de 59 (Fonte: A. M. Filho).

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Chegada dos expedicionários ao Hotel do Russo, na Praça do Chapéu Virado: o primeiro passo na futura estrada (Fonte: A. M. Filho).

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Construção da estrada Belém-Mosquiro (Fonte: A. M. Filho).

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No Furo da Marinhas (1.965), uma placa que entrou para a História (Fonte: A. M. Filho)

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Recepção à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré em 1.965 (Fonte: A. M. Filho).

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A Imagem Peregrina é conduzida em andor no Círio do Mosqueiro de 1.965 (Fonte: A. M. Filho)

Os tempos mudaram, no entanto a pracinha do Chapéu Virado continua sendo atraente, embora sem o “glamour” do passado que levou Arthur Pires Teixeira a torná-la famosa em Paris e sem o Hotel do Russo, o Ponto Chique, onde a nata da sociedade de Belém se reunia em festas de caridade, bailes, concursos e jogos.

E a praça recebe os visitantes da ilha com uma linda visão da Copacabana Mosqueirense e despede-se deles com a certeza de que, em breve, estarão ali novamente, vivendo as alegrias de momentos inesquecíveis.

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Visão aérea da antiga Ponta-do-Chapeo-Virado, hoje Ponta do Farol (Fonte: A. M. Filho)

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Visão panorâmica da antiga praia do Chapéu Virado ( Fonte: Blog Haroldo Baleixe)

5 comentários:

  1. Gostaria de observar que após os ônibus de madeira uma nova linha de ônibus, chamados "coronados", passou a atender a linha interna de mosqueiro.Isso representou um novo marco na história da Ilha.

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  2. silvia helena baars miranda13 de outubro de 2011 às 06:46

    ACHEI MUITO LEGAL ESTE PASSEIO PELA BUCOLICA .PARABENS AO AUTOR QUE TEVE A INICIATIVA DE DAR O PONTAPÉ INICIAL. SUGIRO AS PESSOAS QUE FAZEM PARTE DESTA HISTORIA, QUE DEEM CONTINUIDADE A ESTE PASSEIO. NOSSA HISTORI NAO PODE MORRER. SILVIA HELENA BAARS MIRANDA ( sobrinha neta do GUILHERME AUGUSTO.

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  3. cara!!.. muito bom viu? já revirei toda á internet á procura de fotos antigas da história de mosqueiro e me parece que vc foi o grande felizardo, são coisas que eu numca iria saber, moro á 18 anos aqui e numca ouvi falar dessas histórias de mosqueiro, bondinho, trem, á ponte de mosqueiro etc. etc. nem á prefeitura conta sobre isso, vc ta de parabêns viu? eu queria sua permissão para coloca essas fotos no meu blog se assim fosse possivel, claro que vc iria levar todo o mérito, meu blog é esse http://cidinhadailha.blogspot.com.;br/ ( mosqueiro á ilha do amor)...

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  4. Parabéns, minha família e eu adoramos este passeio pela história de crescimento e desenvolvimento da nossa ilha, muito obrigado!!!

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  5. Na verdade, qual a real data do aniversário de Mosqueiro? 6 de julho ou 6 de outubro?

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