quinta-feira, 24 de maio de 2018

NA ROTA DA HISTÓRIA: PRIMEIRO CINEASTA A GRAVAR FILMES EM BELÉM

Autoria: BELÉM ANTIGA

A polêmica e desconhecida história do primeiro cineasta a gravar filmes em Belém. De um lado, teria feito a proeza de ser o primeiro, ou um dos primeiros a registrar a procissão do Círio de Nazaré em película, para o cinema.
Por outro, chocou a cidade ao apresentar para plateias de quase 1000 espectadores, filmes pornográficos. No primeiro dia, 900 espectadores foram a um cinema na Praça Justo Chermont. Quase conseguiu transformar Belém em um polo desse cinema de pouca moral, mas o negócio naufragou porque sobravam mulheres para os papeis, mas faltavam homens dispostos a contracenar. Com vocês Ramon de Baños.. .
Ramon de Baños nasceu em Barcelona na Espanha em 1890. Viveu por aqui entre 1911 e 1913, onde produziu no curto período, inacreditáveis 30 filmes documentários. Boa parte deles para a produtora The Pará Films, que pertencia a Joaquim Llopis, outro espanhol que trabalhava como chefe de compras em Belém da firma Suárez Hnos. Ltda., que pertencia ao barão da borracha boliviano Nicolás Suárez.
Comprou cópias de filmes de produtoras europeias, filmes virgens e equipamentos da inglesa The Prestwich Manufacturing Cº, e equipamento completo de filmagem à firma Prevots de Paris. As primeiras imagens foram feitas na viagem até Belém, no vapor Rio Negro, que resultaram no documentário Viagem de Lisboa ao Pará que, na terceira parte, mostravam o interior de um bonde que percorreu algumas das principais avenidas e ruas de Belém.
Em 10 de novembro de 1911, a cidade parou para ver no Teatro Odeon, no quintal da casa de Llopis, os primeiros documentários em Belém: um deles retratava o “Cyrio”. A curiosidade era grande dos belemenses em ver as suas próprias imagens reproduzidas, pela primeira vez, na tela de um cinema. “Foi tanta a gente que queria ver as nossas empolgantes fitas que a policia teve que intervir diversas vezes para conter alguns espectadores (...) que não conseguiam conter a sua impaciência” contou o cineasta em uma autobiografia.
A “The Pará Films” foi a primeira produtora de filmes e documentários de Belém. Atrás de mais lucros, que Joaquim Llopis, comprou na Europa mais de 20 películas erótico-pornográficos que chegaram a Belém escondidas em caixa de filmes cujos títulos não tinham nada que ver com o seu real conteúdo. Também mandou trazer uma dúzia desses filmes eróticos, também classificados como verdes ou picantes, da Argentina e comprou outras tantas películas no Brasil.
Em dezembro Llopis conseguiu autorização das autoridades para a projeção das películas eróticas, para “Homens Adultos”. Na noite de estreia, convites dobrados e que pediam sigilo levaram quase 1000 espectadores ao Teatro Odeon como dizia o texto nele gravado. “Reservado: Queira ler e guardar sigilo, e nas páginas interiores: Theatro Odeon (Praça Justo Chermont). Instituto de Artes Novas. Sessões livres só para homens maiores de 20 annos. Espectáculos sicalyticos.
Dão vigor aos fracos. Deleitam os solteiros. Educam os tímidos. Extasiam os casados e viúvos. Viva o amor! ... a ... a... A ultima palavra em cinematografia (...). Todas as Quintas-feiras, Sábados e Domingos! AVISO: É expressamente proibida a entrada a mulheres i menores (BAÑOS, 1991, p. 85)” Em uma carta à namorada, Baños contava que precisava pedir que os espectadores se contesem na euforia para não incomodar a vizinhança.
Na mesma carta, Baños fazia questão de destacar que em nenhuma outra parte do mundo há tanta liberdade como nesse país: “Mira tu que dar sesiones inmorales con teatro abierto al público y billetería a la puerta, como si fuese un espectáculo honesto, es el colmo!” Tal liberdade durou até a campanha que a Província do Pará fez contra os filmes “imorais” exibidos no Odeon solicitando a intervenção da polícia. Indicava que a polícia, entretanto, tinha interesses “econômicos” no negócio. Entenda isso como quiser. Baños era amigo do Chefe de Polícia. Mas cerca de um mês depois, recebeu a notícia que os filmes seriam confiscados.
Escondeu tudo em um restaurante da sua confiança. A “ The Pará Films também tentou produzir películas erótico-pornográficas em Belém. Com essa finalidade, Baños e alguns dos seus amigos foram em busca de mulheres que se prestaram a servir de artistas nessas fitas de caráter pornográfico, mas tiveram que desistir do projeto, segundo Baños “por falta de artistas masculinos que se presten a ello” (Carta a Rosita),
Assim, encerrava a passagem de um dos pioneiros do cinema mundial por Belém. O primeiro a gravar na cidade, o primeiro a ofender a moral na tela grande. Um gigante desconhecido que morreu em 1980.

Fontes : Ramon de Baños, um pioneiro do cinema catalão em Belém do Pará nos tempos da borracha (1911-1913) - Pere Petit; BAÑOS, Ramon. Un Pioner del Cinema Català a l’Amazònia. Barcelona: Íxia Llibres,1991. - _____. Notas íntimas de un “cameraman español” [manuscrito original da sua autobiografia]. Barcelona: 1970 (disponível na Filmoteca de Catalunya). Leia mais no artigo disponibilizado pelo site UFPa 2.0 emhttp://issuu.com/ufpa…/…/un_catal__n__pionero_del_cine_en_br
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