quarta-feira, 23 de setembro de 2015

NA ROTA DA HISTÓRIA: A CABANAGEM EM MOSQUEIRO

 

Autor: Prof. Eduardo Brandão

Apesar de alguns estudiosos atribuírem a eclosão do Movimento Cabano como decorrência da divisão das elites em torno da nomeação do presidente da Província do Pará, a historiografia é praticamente unanime em afirmar que o movimento foi um levante genuinamente popular contra as lastimáveis condições de vida a que eram submetidas amplas parcelas da Província. Provavelmente, a maior e mais sangrenta revolta social ocorrida no Brasil. Em artigo publicado nos Anais do Arquivo Público do Pará, Magda Rici faz a seguinte referência ao movimento:

“Entre 1835 e 1836, vários grupos rebeldes, conhecidos como ‘cabanos’ tomaram o poder na cidade de Belém do Pará, a mais importante cidade da Amazônia brasileira. Este movimento – A Cabanagem – obteve grande popularidade entre a comunidade pobre do Pará. Assim, tem sido alvo de muitos estudos desde 1835, e sua interpretação sempre tem sido alterada. ”

Os Cabanos eram constituídos por camadas sociais desfavorecidas como os caboclos, os indígenas destribalizados e os negros libertos que moravam nas ilhas e regiões próximas a Belém, além de alguns fazendeiros e comerciantes inconformados com a política do presidente da província. O termo “Cabano” é uma referência às habitações [1] daqueles que formavam os maiores contingentes que integraram o movimento.

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(Ilustração D'Arcy Albuquerque)

Com raízes fincadas nos primeiros anos da década de trinta, do século XIX, a Cabanagem alcançou seu apogeu no ano de 1835 quando o presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, foi deposto e os cabanos ocuparam Belém. Três presidentes cabanos se sucederam no poder. O primeiro foi o fazendeiro e comerciante Félix Malcher. Acusado de traição e de jurar fidelidade ao Imperador, Malcher é deposto pelo chefe militar dos cabanos, Francisco Vinagre, que assumiu o poder. Pouco tempo depois, Vinagre abandonou o posto ante aos ataques das forças do governo central, apoiadas pelo mercenário inglês John Taylor.

Após uma retirada estratégica, os cabanos procuraram reunir forças novamente, surgiram grupos de resistência em algumas regiões próximas a Belém, entre elas a ilha do Mosqueiro que era reduto cabano. Da ilha, era possível ver o movimento das embarcações legalistas [2]. Os revoltosos não se descuidavam de enviar emissários conclamando o povo à retomada do poder. O capitão-tenente e comandante da fragata Imperatriz chega a alertar para o número crescente de canoas trazendo pessoas para as praias do Mosqueiro e para a “ponta do mel” (Icoaraci).

Em dezembro de 1835 os cabanos retomam o poder e Eduardo Angelim assume a presidência. Nessa ocasião, os representantes do governo central, liderados pelo marechal Manuel Jorge Rodrigues, retiram-se às pressas para a baía de Santo Antônio e se refugiam na ilha de Tatuoca. Alta, seca, bem arejada e localizada entre a baía de Santo Antônio e a baía do Marajó, a ilha de Tatuoca passou a ser a sede do “governo legal” e núcleo da resistência legalista. Ao descrever a situação geográfica desta ilha, o historiador Domingos Antônio Raiol, o barão do Guajará faz a seguinte referência:

“... meia légua apenas decorre desta ilha a do Mosqueiro, onde se distingue a povoação deste mesmo nome com seus sítios e casas de campo, à beira-mar ou nas ribanceiras da costa, por entre palmares e arvoredos que bordam a enseada da baía de Santo Antônio, com todo o verdor luxuriante da vegetação equatorial. Por essas águas passam e repassam continuamente os vapores e navios de todas as nacionalidades, os barcos e canoas do interior da província, ou quando demandam ou quando deixam o porto da capital; e navegando em direções opostas, cortam a monotonia. ”

No litoral da ilha do Mosqueiro, os cabanos mantinham dois pontos artilhados; o da Vila, instalado nas barrancas da praia do Bispo e o do Chapéu Virado, com artilharia montada nos penedos que ali existiam. Era desses pontos que tentavam alvejar os navios que conduziam tropa de infantaria e artilharia, mantimentos, armas, munições e fardamento para o marechal Manuel Jorge Rodrigues na ilha de Tatuoca e para as tropas de Pernambuco que haviam aportado na ilha de Cotijuba. Foram atacados pelos canhões de Mosqueiro o brigue “Pirajá”, o patacho “Constança”, três cargueiros e uma charrua imperial “Carioca”.

Reanimado com os reforços que acabavam de chegar, o marechal tratou de tomar providências que lhes pareciam urgentes para debelar o inimigo, perseguindo os pontos mais próximos, onde o mesmo havia se fortificado. Os pontos artilhados de Mosqueiro estavam entre os mais inconvenientes. Do lado cabano, reunião que contou com representantes de vários grupos, a preocupação com um ataque a Mosqueiro era evidente o que levou os seus membros a reforçar a vigilância e abastecer de pólvora e munição aqueles pontos.

Não demorou muito para o marechal mandar atacar o ponto da Vila, em Mosqueiro. No dia 20 de janeiro de 1836 enviou uma expedição composta por dois patachós, uma dezena de batelões e igarités para desembarque e mais de cem homens que despejaram uma saraivada de ferro e fogo sobre as defesas cabanas. Impossibilitados de resistir ao ataque das forças imperiais, os cabanos retiraram-se se entranhando nas matas e indo para o ponto do Chapéu Virado, reforçando o contingente que já existia neste local.

No dia seguinte, o marechal mandou ataca-los pelo 2º batalhão de caçadores comandado pelo major Manuel Muniz Tavares, 36 voluntários civis, estes, todos naturais da Vigia, sob a proteção da esquadrilha naval comandada pelo capitão-de-fragata Ricardo Hayden e composta pelos navios de guerra, Independência e Brasília, além de lanchões artilhados e canoas de pequeno calado.

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(Ilustração D'Arcy Albuquerque)

Nesta ocasião, os cabanos que já esperavam o ataque, eram comandados por Auto Lourenço que nos combates assumia também o papel de chefe dos artilheiros. Em boa posição e entrincheirados, responderam ao ataque de forma vigorosa frustrando a primeira tentativa de desembarque da soldadesca imperial. Atingidos pela artilharia, destroços de várias embarcações são atirados na praia pelas ondas. Os imperiais insistiam e os cabanos rebatiam prolongando a batalha por cerca de cinco horas, até que a munição dos rebeldes acabou. Neste momento, foi dada a ordem para a retirada, utilizando, mais uma vez, o abrigo das matas. Ficaram no local da luta um morto, quatro feridos e Francisco Xavier Paio que, pela idade, não mais aguentaria a correria pelas matas. Raiol assim descreve este episódio:

  “... o desembarque que já era esperado no dia 21 de janeiro de 1836, foi seriamente disputado; serviu, porém, de muito a esquadrilha que o protegeu com renhido fogo de metralha sob o comando da capitão-de-fragata Ricardo Hayden. A resistência cabana tenaz cedeu por fim ao valor da perícia da força militar. Depois de algumas horas de combate, os rebeldes abandonaram as trincheiras deixando alguns prisioneiros, peças de ferro, armamento e munições. ”

Disposto a debelar o foco cabano na ilha de Mosqueiro, o marechal Manuel Rodrigues ordenou, no dia seguinte, a formação de nova expedição pelos furos das baías do Sol e de Santo Antônio com o objetivo de capturar e matar os cabanos que haviam se refugiado naquela região. Alguns estavam dispersos enquanto que outros, reunidos em pequenos grupos ainda esboçaram reação. Enquanto escapavam pelas matas e rios que serpenteiam o interior da ilha, os cabanos foram largando alguns objetos que carregavam em seu espólio; moradores da comunidade do Espírito Santo, nas margens do rio Pratiquara, alegam que o nome da comunidade advém do fato de uma coroa do divino, cravejada de pedras preciosas ter sido jogada em um poço da localidade.

Dias após os combates em Mosqueiro, o marechal Manuel Rodrigues envia um relatório ao ministro da guerra, datado de 6 de fevereiro de 1836 contendo o seguinte trecho:

“...no dia 21 de janeiro mandei atacar o ponto do Chapéu Virado sendo encarregado deste ataque o 2º batalhão de caçadores de Pernambuco, comandado pelo major Manuel Muniz Tavares, e 36 cidadãos da Vigia e Pará, protegidos da barca de guerra Independência, paquete Brasília, igarités e botes de desembarque. O resultado foi tomarem os rebeldes 5 igarités, e destruírem-lhes outras cinco grandes que ficaram encalhadas por causa da maré, encravarem uma peça de ferro de calibre 12, tomarem outra de calibre 3 também de ferro e já muito velha, fazerem cinco prisioneiros, dos quais um é o capitão da extinta legião do Marajó, Francisco Xavier Paio, que era o diretor e secretário do comandante do ponto, antigo sócio do cônego Campos, e um tal Filipi Joaquim, que, fazendo-se da legalidade tinha estado em Cametá espiando e em outros  pontos, e se retirava com as munições que podia haver.

Soubemos depois que tiveram muitos feridos, porque no combate só um morto se viu, o qual não puderam recolher tão rapidamente. Os caçadores se portaram valorosamente, entrando no mato onde lhe fizeram os feridos. A marinhagem desembarcou para a tomada das canoas e também sofreu fogo. Tivemos 3 soldados gravemente feridos dos quais morreu 1; 5 soldados levemente feridos e um soldado contusos. ”

Meira Filho ao escrever sobre o episódio faz questão de emitir o seguinte comentário:

“Imaginemos, em plena praia do Chapéu Virado, esta linda região balneária que hoje desfrutamos, há um século e meio sendo invadida por forças militares armadas, para expulsar, à base de metralha, os cabanos entrincheirados, defendendo a sua liberdade e própria libertação da Província. Ainda por ali há sangue bravo alimentando a terra e lhe dando o viço que enobrece as grandes causas.

Mosqueiro, pois, participou do sonho daqueles bravos cabanos, em seus anseios de levar a felicidade a seus lares e seus filhos. ”

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(Foto: arquivo Eduardo Brandão)

Apesar da campanha que procurou classificar os rebeldes como violentos e sanguinários, responsáveis pelo estado de abandono que se encontrava a Província e ter sido considerado oficialmente extinto em 1940 quando Gonçalves Jorge de Magalhães, o último líder cabano, se rendeu, o movimento permaneceu latente na memória do povo do Pará. Nas areias da praia do Chapéu Virado, da praia do Areão e nas matas, furos e rios do Mosqueiro ficaram os rastros, os sentimentos e o espírito cabano.

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 (Foto: D'Arcy Albuquerque)

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(Foto: D'Arcy Albuquerque)

[1] . As cabanas eram casas de taipa cobertas de palha, talvez uma mistura entre as ocas indígenas e as casas dos portugueses, resultado do grande caldeirão de influências culturais que surgiu na região. As cabanas predominavam nas vilas e freguesias mais modestas.

[2] . Legalistas era o termo utilizado para definir as tropas leais ao governo central.

FONTE:

http://mosqueirosustentavel.blogspot.com.br/2014/12/a-cabanagem-em-mosqueiro.html#links

PESQUISAR NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2010/02/ilha-dos-cabanos.html

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2014/05/na-rota-da-historia-tropas-imperiais.html

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terça-feira, 22 de setembro de 2015

CANTANDO A ILHA: SALVE! MOSQUEIRO.

 

Autor: Cláudio Baião Cardoso

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Mosqueiro, terra sempre querida,

Da nossa infância e mocidade;

A mais feliz de nossa vida,

Da qual sentimos saudade.

 

No seu primitivo grupo escolar,

Aprendemos a nossa única instrução,

Hoje tudo desejamos recordar,

Como a mais justa consolação.

 

Na Matriz de Nossa Senhora do Ó,

Fizemos a nossa 1ª comunhão,

Diante do festivo Altar-Mor,

Recebemos Jesus-Hóstia no coração.

 

Gaivota da Marinha Mercante Nacional,

O navio daquele tempo saudoso;

Comandante Colombo, o velho lobo naval,

Sempre alegre amável e generoso.

 

O trenzinho do Chapéu Virado,

Os bondinhos de tração animal;

Conduzindo passageiros com cuidado,

Satisfazia todos de modo geral.

 

Tudo ali farto, bom e barato,

Comércio, Mercado, cinema distração;

Música alegrava o povo pacato,

De querosene era sua iluminação.

 

Mosqueiro, hoje vive na história,

Teus encantos naturais continuarão;

Através dos séculos na tua glória,

És flor desta recordação.

 

                                       Mosqueiro, 02 de maio de 1969.

O autor: Cláudio Sebastião Cardoso era filho de Francisco Xavier Dias Cardoso, dono da primeira "Pharmácia" de Mosqueiro, localizada na Rua Pratiquara. Quando jovem, sentou nos bancos escolares do Colégio Inglês de Souza.

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FONTE: http://mosqueirosustentavel.blogspot.com.br/2015/02/salve-mosqueiro.html

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

CURIOSIDADES: O NOME MOSQUEIRO

 

Em fevereiro de 2011, fizemos uma postagem sobre o nome Mosqueiro intitulada “O Nome da Ilha”, a qual expõe diferentes explicações para a origem do termo. Entretanto, as opiniões dos autores que estudaram o assunto convergem somente para um ponto: o moqueio (prática indígena de conservação do peixe e da caça). O Prof. Eduardo Brandão afirma, inclusive, que, por desconhecerem a palavra indígena, os portugueses substituíram-na por Mosqueiro, topônimo largamente usado em Portugal e na Espanha.

Mas, afinal de contas, qual o sentido mais remoto da palavra Mosqueiro?

Após pesquisar sobre o tema, o Prof. Alcir Rodrigues apresentou em seu blog a seguinte postagem:

UMA CURIOSIDADE SOBRE O NOME MOSQUEIRO, EM ALGUNS LUGARES EM PORTUGAL

Postado pelo Prof. Alcir Rodrigues

Para quem tem fixação pela etimologia, e a primeira ideia que se passa pela cabeça da pessoa quando ouve uma palavra que nomeia um lugar (diz-se tecnicamente que é um topônimo), é descobrir seu sentido mais remoto, pode se sentir motivado a ler o que segue abaixo:

Para quem desconhece, a palavra ‘mosqueiro’ também pode ter o sentido de olmo, ulmo, ulmeiro, mosquedo ou negrilho (todos nomes da mesma espécie de vegetal).

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Disponível, esta imagem, em:

http://dias-com-arvores.blogspot.com.br/2009/07/negrilho-sem-saida.html. Acesso em: 24 ago. 2015.

Em Portugal, também dá nome a vários lugares. É, existem, no mínimo, em torno de 40 lugares ou localidades por lá.

Vejamos o verbete em dicionário online:

mos·quei·ro

Substantivo masculino

1. Lugar onde há muitas moscas.

2. Utensílio para apanhar ou afugentar moscas.

3. Artefato ou cobertura de arame para preservar a comida do contato das moscas.

4. Ninho de moscas.

5. Mosquedo.

6. Negrilho (árvore).

7. [Gíria] Casa.

8. [Brasil]. Hospedaria ordinária. = FREGE

Adjetivo

9. Que se inquieta e foge (quando perseguido pelas mosca).

   Sair a alguém o gado mosqueiro
•  Suceder a alguém o contrário do que esperava.


"mosqueiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,

http://www.priberam.pt/DLPO/mosqueiro [consultado em 25-08-2015].

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O escritor Leonel Neves (1921-1996) escreveu um livro intitulado O cão, o gato e a árvore (1987).

Transcript of "A Arvore - Leonel Neves":

1. In O CÃO, O GATO E A ÁRVORE de Leonel Neves (Manuela D. L. Ramos Outubro 2010)

2. Mesmo no centro da vila e no meio do jardim, perto do rio estreito e de uma pontezinha, há um ulmeiro. É uma árvore tão alta que pode ser vista de qualquer ponto da vila, cujas casas mais altas não chegam a ter metade daquela altura; uma árvore tão grossa e de copa tão larga que a sua sombra cobre quase todo o jardim, um grande quadrado de terra com uma moldura de canteiros de flores e de bancos verdes; e tão velha que o mais velhinho dos velhos da vila conta que já falava dela o seu avô e que este lhe tinha dito que já também dela falava o avô dele, e acrescenta: Fotografia do célebre ulmeiro de S. Martinho de Anta, imortalizado por Miguel Torga no poema “A um negrilho”. Imagem reproduzida do livro de Ernesto Góes, Árvores monumentais de Portugal (Portucel, 1984)

3. — Viu-nos nascer a todos. É tão velha como o mundo e parece sempre nova. Ora vejam: eu tive o cabelo preto, mais tarde da cor das cinzas, depois branco e hoje nenhum. Mas ela tem sempre aquela linda cabeleira verde... E toda a gente da vila de Mosqueiro sentia muita satisfação em a sua terra pequenina possuir uma árvore tão grande. Imagem: Ulmeiro em Almeida (distrito da Guarda) antes de ser escandalosamente mutilado. Fotografia de Pedro Nuno Teixeira Santos in Árvores de Portugal

4. Ora um dia tal satisfação transformou-se em orgulho. Foi quando lá apareceu, de propósito para ver aquele ulmeiro, o sábio Doutor Pafúncio, então a fazer uma cura de águas nas Termas, uma aldeia pendurada na encosta da serra próxima da vila. O Dr. Pafúncio da Silva era professor de Zoologia (o estudo dos animais), de Botânica (o estudo das plantas) e Mineralogia (o estudo do que não é animal nem planta, como as pedras e as rochas). Imagem: flores, folhas e frutos do ulmeiro in Flora von Deutschland Österreich und der Schweiz (1885)

5. Esteve mais de dez minutos a andar à roda da árvore, a olhar para ela, muito calado, e por fim disse: — É um belo ulmeiro, talvez o maior ulmeiro português. Devia ser considerado monumento nacional. E deu o nome à tua vila, como sabes. O senhor Presidente da Câmara, que tinha sido colega do sábio na Universidade de Coimbra e o levara junto da árvore, ficou de boca aberta e gaguejou: — O... o quê!? — Ulmeiro... Mosqueiro — disse o doutor Pafúncio. Estás a perceber — Não — respondeu o senhor Presidente. Ora explica lá isso. Imagem: detalhe de uma alameda de 11 ulmeiros, na Guarda, classificados de interesse público em 2008. Fotografia de Pedro Nuno Teixeira Santos in Árvores de Portugal

6. — Ulmeiro ou ulmo é o mesmo que olmo ou olmeiro. Mas também pode ter outros nomes: negrilho, lamegueiro ou... mosqueiro. Se não acreditas, vai ver a um bom dicionário. Com certeza esta árvore, há algumas centenas de anos, é que deu o nome a esta vila. Donde julgavas tu que vinha o nome da tua terra? — Eu... eu... E achas que isto é um monumento nacional? — perguntou o senhor Presidente. — Devia ser — respondeu o sábio. — Mas, pelo menos, é de interesse público, o que quer dizer que, sendo como é uma árvore tão antiga, tão alta e tão bonita, ninguém lhe pode fazer mal, ninguém a pode cortar. É da lei! Encontras tudo isso num decreto* publicado há muitos anos no “Diário do Governo” (hoje Diário da República). As plantas, os animais e os minerais para além do seu nome comum, vulgar ou vernacular (da língua própria de um país) também têm um nome científico, em latim, que se escreve em itálico. O ulmeiro mais comum em Portugal é o Ulmus minor (carregar para aceder à ficha desta espécie no ARBORIUM, Atlas das árvores de Leiria (on line) •Trata-se do Decreto-Lei nº 28468 de 15 de fevereiro de 1938 ver aqui. • Esta lei está em processo de revisão. >

7. O senhor Presidente da Câmara ia quase desmaiando de alegria. E, passada uma hora, todas as pessoas da vila sabiam daquela conversa com o doutor Pafúncio, toda a gente estava muito contente; e a satisfação de haver na sua vila pequenina uma árvore tão grande, um ser tão importante, transformou-se em orgulho. E até havia razão para esse contentamento e para esse orgulho, porque para os mosqueirenses era como se lhes tivessem tirado de cima um grande peso: a troça que deles costumavam fazer as outras pessoas quando, longe da vila, eles diziam que eram de Mosqueiro. Mais ou menos isto: — Ah! Você é de Mosqueiro? Terra feia e suja, sítio de moscas, não é? — Nada disso. É até uma vila muito branca e muito limpa. — Pois sim, está-se mesmo a ver: Mosqueiro... E, afinal, Mosqueiro era o nome do ulmeiro do jardim!

8. Os mosqueirenses ficaram por isso muito contentes, orgulhosos e comovidos. Assim aconteceu com Zé Pataco, vendedor de jornais, poeta popular e repentista, tão comovido que não conseguiu, nem quis dizer de repente uma quadra, como costumava fazer a propósito de qualquer pessoa ou de qualquer caso engraçado. Dessa vez, Zé Pataco resolveu pensar muito bem... e escreveu uma poesia, até com título, que foi publicada na primeira página do jornal da vila, por baixo de uma fotografia do ulmeiro tirada por Quim Santos e ao lado das declarações do sábio doutor Pafúncio sobre a árvore. Era assim:

9.                A Madrinha

Se em Mosqueiro há casas toscas,

a vila é limpa e decente.

Mosqueiro é terra de gente,

nunca foi terra de moscas.

 

Tem um orgulho profundo

no seu nome: assim se chama

o seu ulmeiro de fama,

que é o maior deste mundo.

 

Viste, ó árvore velhinha,

nascer este povo inteiro

e a todo o povo pertences.

 

Tu és a nossa Madrinha,

pois deste o nome a Mosqueiro

e a todos os mosqueirenses.

 

10. O Sr. Presidente da Câmara enviou logo às autoridades competentes do Governo, em Lisboa, com esse número do jornal “A Voz de Mosqueiro”, uma carta a pedir que o enorme ulmeiro fosse considerado monumento nacional. E, passado algum tempo, recebeu de Lisboa a resposta, com um exemplar do “Diário da República” que dizia respeito ao caso... e um letreiro com vidro e moldura, uma placa que devia ser colocada na árvore e em que, a seguir ao seu nome em latim e antes do número do decreto que nela falava, estava escrito: Árvores de Interesse Público – Monumentos Vivos «O que são árvores de interesse público? São árvores que pelo seu porte, desenho, idade e raridade se distinguem dos outros exemplares. Também os motivos históricos ou culturais são factores a ter em conta. » aqui Av. João Crisóstomo, 28 1069-040 LISBOA Tel.: 213 124 800 E-mail: info@afn.min- agricultura.pt Ulmus minor ULMEIRO (Mosqueiro) Considerado de interesse público. Decreto-Lei nº 28468 de 15 de fevereiro de 1938. Imediatamente foi combinado fazer-se uma grande festa para a colocação da placa. E assim se fez... e foi uma festa muito bonita. (…)

11. ž “A árvore” in O cão, o gato e a árvore de Leonel NEVES. 2ª ed. Lisboa: Asa, 1987 Nota: este livro encontra-se esgotado. Alguns links de Interesse Árvores de Interesse Público - Monumentos Vivos (Autoridade Florestal Nacional) Base de Dados das Árvores Classificadas de Interesse Público (id.) Árvores classificadas (Dias com Árvores) Árvores classificadas (Sombra Verde) Classificação de Árvores de Interesse Público (Árvores de Portugal) Registo Nacional de Árvores Notáveis (Árvores de Portugal) Manuela D.L. Ramos Outubro 2010

Disponível em: http://pt.slideshare.net/manueladlramos/a-arvore-leonel-neves. Acesso em: 24 ago. 2015.

FONTE:

http://moskowilha.blogspot.com.br/2015/08/uma-curiosidade-sobre-o-nome-mosqueiro.html

PESQUISE NESTE BLOG:

http://mosqueirando.blogspot.com.br/2011/02/curiosidades-mosqueiro-o-nome-da-ilha.html

MOSQUEIRANDO:

O interessante é que o soneto “A Madrinha”, homenageando a árvore que originara o nome da pequena Vila portuguesa, foi publicado no jornal daquela localidade. E o título do jornal, A Voz do Mosqueiro, seria, nos meados do século XX, utilizado por Joanílson Baker Agrassar para nomear a sua Rádio a Cabo, a qual interligava diversos pontos da nossa Vila (na Ilha do Mosqueiro/PA), levando música e informação ao povo mosqueirense e aos veranistas que usufruíam das belezas paisagísticas do lugar.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

EVENTO CÍVICO: DESFILE ESCOLAR DA SEMANA DA PÁTRIA

 

Fotos postadas por E.E. Honorato Filgueiras, Beto Messias e Jorgeane Oliveira

O Desfile Escolar alusivo às comemorações da Semana da Pátria, na Ilha do Mosqueiro, foi realizado na manhã de sexta-feira, dia 04, e contou com a presença de diversas unidades de ensino das redes pública e privada. Como não podia deixar de ser, a apresentação dos participantes foi marcada por momentos de

CIVISMO

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DESCONTRAÇÃO

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GARBO

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MÚSICA

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PROJETOS

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CULTURA POPULAR

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PROTESTOS

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e DESPEDIDAS

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