domingo, 5 de julho de 2015

EVENTO FESTIVO: O ANIVERSÁRIO DE MOSQUEIRO

 

Autor: Prof. Eduardo Brandão

image

Quando é comemorado o aniversário de um lugar, seja ele um país, uma cidade ou um simples um vilarejo, a data em que isso acontece é uma referência de um acontecimento relevante para quem nele habita. No caso do Brasil, 22 de abril representa a data em que a esquadra de Pedro Alvares Cabral desembarca no litoral da Bahia. Para Belém, 16 de janeiro corresponde á chegada de Francisco Caldeira Castelo Branco na região para dar prosseguimento ao projeto de conquista territorial dos colonizadores portugueses. E em Mosqueiro? O que ocorreu em 06 de julho de 1895? Este texto pretende lançar algumas luzes sobre estas questões.

image

A ocupação do território mosqueirense é muito antiga, historiadores apontam a presença da Companhia de Jesus em Mosqueiro, já nos primeiros anos do século XVII, onde mantinham uma tribo de índios submissos denominados de “Morobiras”. Mapa de 1680, da costa das Capitanias do Pará e do Maranhão registra, entre outras localidades, Mosqueiro e I. Morobira. Nos fins do século XVIII, planta hidrográfica da Costa, em longa relação de lugares litorâneos, assinala a Ponta do Mosqueiro entre a baía de Santo Antônio e baía do Sol. Sabemos que no início do século XIX, a Vila do Mosqueiro era o lugar onde existia uma Irmandade responsável pelo culto à Virgem do Ó. Nessas e em outras situações é possível identificar a presença do colonizador em território mosqueirense, porém não se encontra o registro de alguma data correspondente à fundação de algum vilarejo ou mesmo a chegada dos colonizadores.

image

(Recorte do Mapa contido na publicação de João Lúcio D’Azevedo tratando dapresença da Companhia de Jesus no Pará)

Sob o aspecto político, Mosqueiro pertenceu à antiga freguesia de Benfica, onde eram registradas as concessões de terrenos localizados na Ilha. Quando vice-presidente da Província do Pará, o Cônego Manoel José de Siqueira Mendes sancionou a Lei da Assembleia Legislativa Provincial que recebeu o no 563, de 10 de outubro de 1868, em seu artigo 1º lemos Fica criada na povoação do Mosqueiro uma freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Ó, e no 2º, que... seus limites civil e eclesiástico serão: pelo Sul o furo do Pinheiro em direção do igarapé do Fundão, abaixo do igarapé Paricatuba, até a baía do Sol, e pelo Norte a margem do rio Jauá. A freguesia do Mosqueiro incluía também as ilhas de Cotijuba, Paquetá, Jutuba e Tatuoca. No período republicano, os Registros de Terra passaram a ser feitos em Mosqueiro com a vigência do decreto no 410, de 8 de outubro de 1891 e da Lei no 82, de 15 de setembro de 1892. Em 6 de julho de 1895, a Lei no 324 deu a Mosqueiro foros de Vila. No governo de Augusto Montenegro, com a Lei no 753, de 26 de fevereiro de 1901, Mosqueiro passou a ser Distrito da Capital paraense, condição que permanece até hoje, apesar de algumas alterações territoriais. O decreto no 1.109, de 14 de janeiro de 1902, determinou que fossem recolhidos ao arquivo de Belém todos os livros e documentos referentes ao Distrito de Mosqueiro.

image

(Cônego Manoel José de Siqueira Mendes)

Por aqui, todos sabem que o “aniversário” de Mosqueiro é comemorado em 06 de julho. Como vimos acima, esta data corresponde a mudança da condição de freguesia para a condição de vila. Neste ponto é que eu gostaria de oferecer algumas reflexões. Qual a relevância desta data para Mosqueiro? Existem outras datas mais relevantes? A irrelevância da atual data fica evidente quando constatamos que, hoje, Mosqueiro não é uma Vila. Restariam os momentos em que Mosqueiro foi reconhecido como unidade territorial e administrativa, ou seja, na criação da freguesia de Mosqueiro, em 10 de outubro de 1868, ou quando é criado o Distrito de Mosqueiro, em 26 de fevereiro de 1901. Em minha opinião, preferiria comemorar os 147 anos de Mosqueiro no dia 10 de outubro, mas um plebiscito ou mesmo uma ampla consulta popular trará a resposta que precisamos.

Longe de mim querer ser o dono da verdade, conforme o que externei no início desse texto, minha intenção é lançar algumas luzes para uma discussão que me parece necessária. Inequivocamente, 06 de julho representa muito pouco para Mosqueiro. Alguém resolveu eleger esta data e todos concordaram sem refletir ou oferecer qualquer questionamento, talvez por se tratar de um momento em que se inicia a alta estação e o famoso marketing falou mais alto. Mesmo assim, me parece muito pouco diante de outras datas que trazem consigo fortes raízes culturais e históricas de Mosqueiro. Sinta-se à vontade para deixar seu comentário dando a sua opinião.

FONTE: http://mosqueirosustentavel.blogspot.com.br/2015/01/o-aniversario-de-mosqueiro.html

MOSQUEIRANDO: Realmente, considerando a importância histórica do 10 de outubro de 1868, comungamos da opinião do Prof. Eduardo Brandão, que justifica por que essa data deveria ter sido escolhida como o marco temporal da fundação do Mosqueiro, embora seja incontestável a importância da Vila (antigo povoado de pescadores e, hoje, um bairro da ilha-cidade). Em outra oportunidade, escrevemos:

Mosqueiro-freguesia lembra a antiga devoção que, desde os primórdios, o povo da Ilha tem à Virgem Padroeira. Mosqueiro-distrito é o resultado da íntima relação que a Ilha sempre manteve com a cidade de Belém. Mas foi o Mosqueiro-vila que revelou a ilha-paraíso como recanto bucólico, alcoólico e turístico, abrindo seus portais para receber os primeiros visitantes, estrangeiros e belenenses, ávidos para desfrutarem os prazeres de uma vida mais natural”.

Entretanto, a própria Vila tem a sua origem anterior ao 6 de julho de 1895, quando foi reconhecida como tal. E tudo começou na Praça Cipriano Santos, como relatamos em outra ocasião:

Mas a Vila tem um símbolo: a Praça da Matriz. Ali, tudo começou: o primeiro portal da Ilha (o Trapiche), a religião (a Igreja de Nossa Senhora do Ó), o comércio (mercado municipal, mercado informal, bares, bazares), o lazer (Cine Guajarino, Praia Bar, bilhar, futebol na praça), a cura (posto médico, farmácia), o descanso eterno (cemitério). Muita coisa também mudou, porém a Praça tem algo de irresistível que, através do tempo, vem atraindo um público especial. São pessoas de todas as idades e de todas as classes, que desfrutam aquele espaço democrático. Andando ou sentados à vontade em suas cadeiras de praia, jogando conversa fora ou saboreando variadas iguarias como a tapioquinha mosqueirense ou o saboroso tacacá, sempre estão presentes”.

Podemos dizer que a Praça da Vila tem o seu público cativo.

Um comentário:

  1. Venho questionando a muito tempo essa questão, e não concordo que comemorem o aniversário de Mosqueiro em julho, pra mim é e sempre será em outubro!

    ResponderExcluir