terça-feira, 21 de outubro de 2014

MEIO AMBIENTE: TÉCNICAS DE PESCA ARTESANAIS ANTIGAS E EM USO NA AMAZÔNIA

 

Por: Pedro Leão

image

Socó: Técnica utilizada em capturas de camarões em Bragança-PA

A Amazônia, pelas suas condições geográficas, climáticas e físicas de bacia hidrográfica – composta de regiões de várzeas, lagos, rios, igarapés, paranás, foz de rios e uma extensão marítima banhada pelo Oceano Atlântico – apresenta características bem definidas: fluvial, lacustre e marítima (FURTADO, 1981).

Suas águas são ricas em nutrientes e microrganismos que contribuem para sua fertilidade, estimulando o desenvolvimento da cadeia alimentar de várias espécies da ictiofauna. Por essas razões, encontram-se variados tipos de peixes e outros organismos aquáticos bastante apreciados pelo mercado consumidor, criando assim interesse comercial por esses produtos das águas, que são importantes à subsistência das populações que vivem da exploração da pesca nessa região.

image

Matapi: Técnica utilizada na captura de camarões em  Mosqueiro

As variadas espécies de peixes em todas as regiões da Amazônia hídrica (FURTADO, 1981) contribuíram para uma alimentação saudável e abundante à base de peixes, facilitando a ocupação dessa área pelos colonizadores portugueses, segundo Furtado (1981). Foi o caso da expedição de Pedro Teixeira em sua missão de exploração, de 1638 a 1639. Nesse período, a alimentação de sua equipe era à base de produtos naturais (peixes e caças), o que aumentou a permanência dessa missão na exploração da área.

Nesse tempo não existia a pecuária no Pará, o que só aconteceu na época das comunidades civis na Amazônia, entre 1759 e 1859 (FURTADO, 1981), quando se começou a criar o boi, do qual se utiliza a carne, o leite, a manteiga, o couro, etc.

image

L. surinamens> espécie utilizada no Conambi.

A abundância de águas ricas em peixes na Amazônia favoreceu a pesca artesanal, que é realizada em quase toda a área hídrica dos 3.581.180 km2 da Bacia Amazônica, sendo que 34,3% dessa área fazem parte do Estado do Pará, composta de rios, lagos, igarapés, foz de rios, num total de 20.512 km2 de águas internas, habitat de uma fauna ictiológica em regiões pesqueiras de alta produtividade (FURTADO, 1981) e que conta também com uma costa marítima que se estende do Maranhão ao Amapá, em uma extensão de 562 km. As pescas artesanais mais praticadas no Pará são a fluvial, a lacustre e a costeira. As limitações à pesca artesanal marítima no Pará são devido às condições precárias das embarcações de madeira, à falta de recursos financeiros e à falta de tecnologias de navegação. A pesca marítima acima das 10 milhas (MANESCHY,1993) é realizada por empresas da pesca industrial, que usam barcos de ferro de tecnologia moderna de pescar, são capitalizados e recebem incentivos fiscais do governo.

O que atribui o caráter artesanal à pescaria, segundo Furtado (1981), é o uso de tecnologia simples de produção – constituída de barcos de madeira artesanal, a vela ou a motor –; alguns apetrechos de pesca serem feitos também de forma artesanal pelos pescadores; os métodos de detecção de cardumes de peixes serem realizados com base na experiência e observação dos pescadores; e a precariedade dos meios de produção na captura e na conservação do pescado.

As técnicas de pesca artesanal usadas na Amazônia, no período Colonial, ainda eram baseadas em conhecimentos usados pelos índios: a tapagem de rios, a palheta – que consistia no lançamento de flechas sobre os peixes –, a narcotização dos peixes por meio da maceração de plantas venenosas como o cipó-timbó, o cururu-timbó e o conambi. As tarrafas e as redes de emalhar que ainda são usadas foram técnicas de pescas introduzidas pelos europeus (FURTADO, 1981).

Nessa época, pescavam-se, além de tartarugas (Dermochelys coriacea), pirarucus (Arapaima gigas), peixes-boi (Trichechus manatus) e outros peixes de água doce.

Segundo Furtado (1981), as técnicas de pesca artesanais antigas e até hoje em uso na Amazônia são:

Pesca com timbó (Paullinia pinnata L. Sapindaceae) – timbó-açu e timboí: é realizada com esses cipós venenosos que, ao serem batidos nos rios, narcotizam os peixes, fazendo-os virem à superfície, tontos, o que facilita a sua captura.

Pesca com conambi (há duas plantas ictiotóxicas com este nome: Phyllanthus conami (Aubl.) Muell. Arg. (Euphorbiaceae) e Libadium surinamensis L. (Compositae): consiste em preparar iscas de conambi com pirão de farinha de mandioca. Quando os peixes as ingerem, ficam dopados e sobem à superfície d’água, facilitando a sua captura.

Pesca com cacuri: é a pesca que utiliza um tipo de cesto chamado cacuri, manufaturado com talas de jupati (Raphia taedigera). O cesto possui uma entrada afunilada por onde os peixes entram sem possibilidade de fuga.

Pesca de tapagem – Pode ser feita com linha de nylon ou com o pari, uma espécie de esteira feita de talas de marajá (Pyrenoglyphis maruja). A técnica consiste em cruzar um igarapé com estas linhas ou com as esteiras, fixando-as a varas cravadas (paritás) no chão, impedindo a fuga dos peixes (tapagem do igarapé).

Pesca com matapi: armadilha de forma cilíndrica, fechada por dois cones por

onde entram os peixes e ficam presos. Assim como o cacuri, o matapi é confeccionado com talas de jupati (Raphia taedigera), porém este é mais alongado.

Pesca com gapuia: consiste em vedar um igarapé com aninga e tijuco (de argila) encostado em paus cravados a prumo no fundo do igarapé, para não deixar escapar a água e peixes; em seguida, bate-se o timbó para narcotizar os peixes e pegá-los com a mão ou com o puçá.

Pesca com maçará: consiste em colocar uma porta no pari para que os peixes

fiquem presos ao entrarem por elas.

Pesca com pessá: consiste em agitar uma pequena rede (tipo puçá) armada em um arco de pau e depende de uma vara para prender os peixes dentro do pessá.

Pesca maponga: consiste em alvoroçar as águas, fazendo barulho para direcionar os peixes para a rede de pesca e fazer a gapuia ou mucuoca (prender os peixes nas malhas da rede).

As maiorias das pescarias citadas acima são do tipo predatória, se realizadas em larga escala, porque não são pescarias seletivas de tamanhos (podem pescar alevinos ou peixes ovados).

A pesca artesanal no Pará ainda hoje é praticada com técnicas e práticas antigas, com o uso de redes ou espinhel, que não são consideradas práticas predatórias quando não usadas em épocas de desovas de peixes, não causando impactos ambientais, pois são seletivas, ou seja, podem-se selecionar os peixes adultos pelo tamanho da malha da rede ou pelo tamanho do anzol do espinhel.

Fonte:

Informações extraídas e condensadas da Tese de Mestrado (Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia PPGDAM, Universidade Federal do Pará (UFPA), Núcleo de Meio Ambiente (NUMA), de autoria de Carlos de Souza Arcanjo.

----------

ARCANJO, Carlos de Souza. Segurança Ambiental: Mapa de Riscos Ambientais da Pesca Artesanal com Espinhel, Litoral Nordeste do Pará.  Carlos de Souza Arcanjo; Orientador Sérgio Cardoso Moraes. _2010, 123 p, Dissertação (Mestrado) _ PPGEDAM/ NUMA/Universidade Federal do Pará, Belém, 2010. Disponível em:http://www.ppgedam.pro.br/ppgedam/attachments/article/79/disserta%C3%A7%C3%A3o-CARLOS%20ARCANJO.pdf. Acesso em:  20 nov. 2013.

Imagens

http://www.labohidro.ufma.br/upload_art/vol21_artigo08.pdf.

MOSQUEIROAMBIENTAL
http://herbario.up.ac.pa/Herbario/herb/vasculares/view/species/559

Postado por

http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2013/11/tecnicas-de-pesca-artesanais-antigas-e.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário