sexta-feira, 31 de maio de 2013

A OUTRA FACE DA ILHA: MAIS AUTONOMIA PARA TIRAR MOSQUEIRO DO ABANDONO.

Autor: Armando Amarante Filho

A matéria publicada na coluna do nobríssimo Guilherme Augusto que fala sobre o novo agente distrital do Mosqueiro me fez lembrar novamente que o atual modelo de gestão, Agência Distrital, é, sem sombra de dúvidas, fator determinante para a falência de nossa fantástica e abençoada Ilha do Mosqueiro, retratada na referida matéria, pois as obras e os serviços dependem da boa vontade e até da disponibilidade das secretarias municipais, ou seja, o agente, independente de sua qualificação profissional, nada poderá realizar, pois não dispõe de autonomia administrativa, financeira e política. Ele apenas cumpre ordens de quem lhe indicou ao prefeito de Belém e, como na política brasileira o que interessa é a manutenção do poder dos grupos políticos, infelizmente, só nos resta a triste condição de morar em uma ilha abandonada, sem turismo, sem emprego para seus moradores, suja, sem água, sem transporte público e em processo de erosão de toda sua orla, o que lamentavelmente acaba afastando os turistas e visitantes, contribuindo ainda mais para o empobrecimento dos desassistidos socialmente, a falência do empresariado e da própria economia.

Mas o digno prefeito Zenaldo, que esteve pelo menos duas vezes em Mosqueiro durante sua campanha, não pode ficar alheio às gravíssimas necessidades da Ilha e precisa adotar medidas urgentes e saneadoras para começar a minimizar esse estado de “vergonha pública”, buscando um novo modelo de gestão.

Venho já há algum tempo sugerindo a criação do Distrito Municipal do Mosqueiro, que assim passaria a ter dotação orçamentária própria, instalaria as cinco secretarias básicas, possibilidade de realizar convênios e parcerias com o poder estatal e a iniciativa privada, instalação da Guarda Municipal e da Amub, com estrutura e efetivos suficientes para atender toda a Ilha, além de outras ações de fundamental importância para resgatar nossa outrora bucólica. Finalmente, a Ilha do Mosqueiro, por suas belezas naturais, é com certeza um presente de Deus.

FONTE: ESPAÇO DO LEITOR- A 2- Diário do Pará – Belém-PA, 30/05/2013.

MOSQUEIRANDO: Há poucos dias foi normalizado o abastecimento de água nos bairros da Vila e do Maracajá, problema que vinha atormentando a população fixa da área e afastando os veranistas. Entretanto, não devemos esquecer que a água doce, potável é um bem finito e que, apesar de nossa ilha pertencer ao grande estuário amazônico, precisamos conservar impolutos os nossos rios e suas nascentes, pois deles será retirada a água que beberemos num futuro bem próximo. Aliás, chegou a hora de o governo municipal e as autoridades competentes empreenderem estudos e ações nas áreas de conservação previamente já delimitadas, com o objetivo de resguardar os recursos hídricos da Ilha e elaborar projetos para a instalação de estações de tratamento de água.

Outro ponto de suma importância que deve ser lembrado é o Projeto de Esgotamento Sanitário há oito anos não concluído, enterrado, abandonado e esquecido sob as ruas da Ilha – talvez até poluindo as águas dos lençóis freáticos superficiais. As autoridades devem avaliar tais instalações, assim como as chamadas “lagoas de contenção”, atualmente abandonadas.

Por outro lado, o lixo não é apenas um problema governamental (e que problema!), mas um problema social e, sobretudo, cultural. Acreditamos que a Prefeitura deve promover maciças campanhas educativas – inclusive nas escolas – orientando a população, realizar fiscalizações efetivas e fazer funcionar o Código de Posturas do Município. No entanto, a coleta de lixo e de entulhos e a limpeza das vias urbanas devem estar plenamente regularizadas.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

NA ROTA DO TURISMO: O TURISMO E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA: A PRAIA DO PARAÍSO.

Autores: Maria Goretti da Costa Tavares, Kleber dos Santos Gomes, Maria Augusta Freitas da Costa e Williame de Oliveira Ribeiro

Trecho do Trabalho “Turismo e desenvolvimento local em uma ilha fluvial na Região Metropolitana de Belém: o caso da ilha de Mosqueiro na Amazônia brasileira”, produzido em 2007 e publicado na Revista Universitaria de Geografia – versión impresa ISSN 0326-8373.

Em Mosqueiro, expressão da particularidade amazônica, as preocupações com os ecossistemas não se concretizaram. Houve sim uma intensificação ferrenha dos recursos naturais transformando parte considerável das características naturais do local. Os processos de apropriação espoliativos se expandiram alcançando áreas cuja fragilidade ecológica requer manejo adequado, como as faixas de domínio dos rios e igarapés, metamorfoseando as formas preexistentes, definindo novas estruturas e funções, construindo meios ecológicos que aviltaram a qualidade de vida dos moradores dessa ilha (Cardoso, 2000).

Exemplo disso é a praia do Paraíso, que vem passando por intensas transformações nos últimos anos. Ressalta-se que a especulação imobiliária é um processo que reúne uma série de motivações que estão associadas a fatores de desenvolvimento industrial, comercial, urbanístico e turístico; com isso o processo de especulação imobiliária que vem ocorrendo na praia do Paraíso está diretamente motivado pela valorização turística da referida praia, já que a mesma recebe grande número de turistas principalmente nos meses de férias escolares, mês de julho, período denominado na região Norte como de veraneio, e nos dias de feriado ou fins de semana prolongados; sendo esse fluxo, portanto, considerado um dos elementos essenciais para as transformações verificadas na ilha.

A dinâmica especulativa imobiliária na orla fluvial da praia do Paraíso possibilitou a valorização do solo nesse espaço por intermédio de seu uso, o qual passou a ter significativa importância para o processo de produção e reprodução de capital, pois assume sentido de consumo (casas de veraneio). Villaça (1993) argumenta que a terra, a partir de sua valorização em um mercado especulativo imobiliário, passa a se caracterizar como terra-capital ou terra-localização, que assume um caráter urbano; enquanto que a análise através do aspecto de produção análoga da terra-fertilidade assume caráter agrícola.

Villaça (1993) ainda enfatiza que a renda diferencial da terra é diretamente fundamental para a especulação imobiliária, pois extrai da terra o seu valor nas seguintes formas: a) absoluta, quando corresponde ao valor pago pelo uso da terra matéria, ou seja, o valor que ela apresenta dentro de um espaço ainda não modificado; b) como juro ou amortização do capital, sendo fruto de investimentos sobre a terra (loja, banco, escritório etc.); e c) juro e amortização da terra-localização, a qual corresponde à parcela de capital disponibilizado pela funcionalidade da localização, no caso, o exemplo pode ser atribuído à orla fluvial da praia do Paraíso, pois a valorização de seu espaço se dá principalmente pelo fator turístico, devido, sobretudo, à acessibilidade.

Apoiados em Guerra (1995), pode-se entender a orla fluvial da praia do Paraíso como um ambiente predominantemente físico, estando situada aproximadamente em uma zona litoral, onde os efeitos da maré são visíveis e o contato com as amenidades naturais ainda encontra-se bastante presente. Além disso, a diversidade de ocupação espacial do Paraíso possui, como já mencionado, valor de troca, podendo ser entendida através da relação de aspectos que envolvem elementos naturais (ex: a praia) e artificiais (ex: infraestrutura hoteleira).

O Hotel Fazenda Paraíso implantado durante a década de 90, vem provocando várias transformações na área de orla da praia e é o responsável por fazer do Paraíso um local de atrativo turístico.

Outra categoria de agente identificada como grande motivadora das transformações na praia do Paraíso são os corretores imobiliários, e especialmente, a corretora imobiliária Moradia & Imóveis. Esses agentes começaram a desenvolver os seus empreendimentos na área a partir do ano de 1992, quando passaram a vender um loteamento com 350 m² de frente por 1.200 m² de fundo de proprietários particulares, dentre estes os Travassos, família bastante conhecida e tradicional que possuía residência no Paraíso.

Estes agentes utilizam como estratégia de ação para a venda dos loteamentos no Paraíso, a paisagem natural e exótica da praia fluvial; estratégia esta nitidamente observada em anúncios de jornais, nas faixas espalhadas pelo ramal de acesso à praia e em toda a extensão da orla fluvial. Torna-se fundamental enfatizar ser essa corretora imobiliária o agente de maior especulação imobiliária no Paraíso e responsável pela abertura de ruas e alamedas que possibilitaram a consolidação do bairro do Paraíso.

É importante lembrar também que a possibilidade de impacto ambiental decorrente desses loteamentos é iminente, seja pela extinção de espécies animais ainda existentes nessa parte da ilha, seja pela a ausência de cobertura vegetal, e mesmo pela extração mineral de areia, barro e pedras que se destinam às estâncias de materiais de construção; sendo esta última uma atividade que cresce cada vez mais na ilha.

Tanto o proprietário do Hotel Fazenda Paraíso, como os corretores imobiliários são estritamente favoráveis à emancipação de Mosqueiro, pois acreditam que o distrito reúne condições suficientes para se tornar um município, uma vez que possui receitas decorrentes de impostos, como o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), licenciamentos para estabelecimentos de empreendimentos e comércios, licenças especiais em meses de veraneio, ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), dentre outros, que possibilitam arrecadar recursos para iniciar em Mosqueiro uma possível administração municipal autônoma de Belém.

Na visão da administração distrital na época, o Paraíso é uma área problemática devido ao intenso mercado imobiliário que desestruturou, de certa maneira, a paisagem natural dessa parte da ilha. Portanto, qualquer projeto urbanístico a ser realizado no Paraíso necessitaria de um processo de reorganização espacial completo, que envolveria: a reestruturação de barracas de sua orla, de legalização de loteamentos, estudos técnicos da CODEM e SEURB (Secretaria Municipal de Urbanismo), construção de infraestrutura adequada.”

FONTE:

http://bibliotecadigital.uns.edu.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0326-83732007000100005

segunda-feira, 27 de maio de 2013

MEIO AMBIENTE: NAS ÁGUAS DA ILHA, O PEIXE DE QUATRO OLHOS.

Autor: Pedro Leão

O tralhoto (Anableps anableps), também chamado carinhosamente de "quatro-olhos", é um peixe originário das Américas Central e do Sul - onde vive em águas quentes e levemente salobras, com pH alcalino, como as molinésias - de médio e grande porte, comprido e meio achatado, cinza com o ventre claro, com gonopódio (os machos), sempre nadando rente à superfície d'água e que tem uma peculiaridade rara: seus dois olhos estão posicionados acima da cabeça e têm a retina bipartida, servindo tanto à visão subaquática quanto fora d´água, e muitos pesquisadores acreditam que ele pode enxergar os dois ambientes simultaneamente. Eles são grandes saltadores e também podem sobreviver por curtos períodos fora d'água, embora não sejam adaptados para a vida em terra. Alimentam-se de uma vasta gama de animais (insetos, etc...) abaixo ou acima d'água.

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Local de origem: Águas salobras e marinhas do sul do México e América do Sul.

Comprimento: 30 cm

Reprodução: vivíparo

Água: alcalina com um pouco de sal (7.2 a 7,5),

Temperatura: 24 a 28c.

Aquário: médios e grandes

Comportamento: são excelentes saltadores e vivem também em água salgada.

Alimentação: insetos, peixinhos, patês, aceita bem flocos (onívoro), alconBASIC, alconSHRIMP, Blood Worms F.D:, Tubifex F.D.

O gênero Anableps inclui três espécies popularmente conhecidas como tralhotos ou peixes-de-quatro-olhos, assim chamados por terem os olhos elevados acima do topo da cabeça e divididos horizontalmente por uma membrana, permitindo-lhes enxergar acima e abaixo d’água (Bone et al., 1995; Miller, 1979; Santos, 1987).       As três espécies de Anableps são: A. dowi (costa do Pacífico), que ocorre do sudeste do México até a Guatemala, e A. anableps e A. microlepis ambas da parte leste da América do Sul, da Venezuela à costa do Pará (Baughman, 1947; Burns & Flores, 1981; Ghedotti, 1998; Knight et al., 1985; Parenti, 1981).

Melhores informações podem ser encontradas nos trabalhos abaixo:

http://www.museugoeldi.br/editora/bn/artigos/cnv3n3_2008/ecologia(nascimento_assuncao).pdf

http://repositorio.museu-goeldi.br/jspui/handle/123456789/206

FONTE: http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/p/

sábado, 25 de maio de 2013

A FiCÇÃO E A ILHA: SERENATAS NO TRAPICHE

Autor: Cândido Marinho Rocha

Carlindo gostava de falar a Estrela sobre episódios da vida de Paulo Ney, Emílio de Menezes, José do Patrocínio, Castro Alves e outros. Reconhecia no amigo interessado ouvinte. Paulito vinha também, de mansinho, bagana de cigarro pendurada aos beiços. Encostava-se. Ouvia, silencioso, confirmativo. Uma que outra vez lembrava detalhes, que Carlindo aceitava como corretos. Paulito sabia ler, isto é, leituras, na mocidade. Readquiria-se com a palavra do cronista.

A cabeceira da velha ponte de madeira definia-se como sítio adequado porque era afastado do movimento da Praça Matriz. Poucos casais ficavam ali, nas bolinagens e, portanto, indiferentes ao grupo de amigos. Sempre com o violão a tiracolo, Estrela vibrava com as anedotas dos famosos boêmios.

Se a lua descia para os lados da Ilha de Tatuoca, do outro lado da baía, esta, larga e profunda e deserta, parecia enorme plateia de um teatro vazio. Terminadas as piadas, Paulito exibia-se, interpretava os boêmios que, na sua opinião, eram apenas inteligentes vagabundos sociais.

As reuniões não se alteravam, todavia, porque logo moças e rapazes, descobrindo o violonista, rodeavam-no, em alegrias, pedindo canções. E valsas, modinhas antigas. Catulo, Canhoto, Bem-Bem, Aluízio, nos lamentos do instrumento, se reproduziam. A baía dava original acústica e o som de violão viajava sobre as águas como mãos de artista em harpa invisível.

As luzes da Usina do Tio Jorge piscavam para, em seguida, se apagarem. Na total escuridão, o luar espelhava a baía, a serenata crescia, melhorava a acústica e já era então partitura da natureza.

A olorosa madrugada era recebida com a canção do Santa Cruz também conhecido por Zé Nome Feio.

Assim:

             Ai ai ai

             Ai ai ai

             A madrugada que já passou

             não volta mais.

Animavam-se. Palmas assustavam as pirararas marisqueiras e cardumes de pratiqueiras fugiam para longe do barulho. Um que outro peixinho descuidado ficaria ali embaixo esperando migalhas de pão, pedaços de bolachas, restos de roscas.

Quem sabe o Boto estaria também mundiado pela música, ele que, príncipe e amoroso, embora encantado, sabia cantar as cunhãs para o exercício do amor à beira d’água.

De certo a Iara descera dos rios, onde reside, para incorporar-se aos ouvintes do mágico violão daquele que tinha uma estrela na testa.

Quem sabe a Cobra Grande estaria, mais uma vez, calculando a quem daria sonhos de amor, levando para os leitos mulheres belas e novas, proporcionando ilusões?

Quem sabe o Baiacu astucioso, a míope Pirapema, o Tralhoto de quatro olhos, a gorda Piramutaba, a Tainha-mãe, as Corvinas dentuças, o belo Filhote, a multicolorida Dourada, o Capitão Bagre e o Dr. Xaréu estariam, em sociedade, deslumbrados, silenciosos, ouvindo Estrela?

FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALÂNGOLA EDITORA. Belém-Pa. 1973- pp. 144 e 145).

quinta-feira, 23 de maio de 2013

CANTANDO A ILHA: MOSQUEIRO EM TEMPO DE MARÉ ALTA

Autora: Celeste Proença

Mosqueiro, Mosqueiro, que canta e se espalha
em grande aguaceiro, morrendo de rir...
Mosqueiro do verde, do verde esperança
do branco empoando as folhas bem altas
de esguias imbaubeiras que dançam e se miram
se viram e reviram
segredando à brisa que é tempo de amar.
Não importa, meu bem, se chove ou faz sol.
Carinho tem hora, beleza tem dia, amor tem lugar?...
Vem vindo bem perto o beijo esperado
o abraço apertado de quem se quer bem!
Vem vindo ditoso, bem agasalhado
na boca da noite que a lua embrulhou.
Se chove de dia, se chove bem forte
aguarda que a noite é só de luar.
Lavaram as calçadas, banharam as estradas
e até o céu cinzento já mudou de cor!
É céu azulado, todo acolchoado
de algodão bordado, pra lua passear.
E quando ela surge no céu tão limpinho
o mar com carinho começa a cantar.
Ah! Mosqueiro engraçado, de tanto contraste
em que até os insetos
se organizam em filas para sarava dar (saravá)
É grilo, é mosquito
é tanto bichinho saindo das tocas
que a gente se esconde, se embrulha e reclama
porque ninguém pode mais
sair de casa para passear!
Violões aparecem contando vantagens
em acordes que vibram a causar sensação.
E a gente se anima e os sons vão chegando
num balanço doce em suave oração...
Tudo isso é Mosqueiro em paisagem de inverno
em tempo de chuva, pra falar melhor.
Deixem que ela venha, ora forte, suave
revirando a ilha, sem temer ninguém!
Derrubando muros, arrancando plantas
remexendo areia pra jogar ao mar.
Todo mundo sabe que chegou seu tempo
que não adianta nada a gente se zangar.
A brisa azougada bloqueia os caminhos
e enxágua o infinito pra o sol se deitar.
E a gente aproveita pra ver maré alta
crescendo e cantando pra nos alegrar
voltando a ser jovem, de novo criança,
amando a esperança dos dias que virão.
Ó Deus da beleza, ó Deus das crianças
eu amo esta ilha de sonhos formada
cheinha de afeto, tão apaixonada
qual doce feitiço que faz tanto bem!
Te quero cantando, mais nova, mais bela
como Cinderela, sorrindo a dançar.
Trazendo nas mãos punhados de areia
das praias formosas, das terras sem fim.
Guardando o mistério, a beleza e a denguice
toda a faceirice de cunhã mirim...
Com chuva ou com sol, no inverno ou verão
tristonha ou sorrindo eu te quero feliz.
Mosqueiro moreno, de doce veneno
cantando em surdina no meu coração!

Celeste Proença
Louvação ao Mosqueiro
... e outros escritos
Editora Grafisa, 1983
Belém - Pará

FONTE: http://poesiasparamosqueiro.blogspot.com.br/2010/06/mosqueiro-em-tempo-de-mare-alta.html

terça-feira, 21 de maio de 2013

CURIOSIDADES: A ESTRADA E O INVENTOR

 

Na Ilha do Mosqueiro, a antiga Estrada ligando a Vila ao Chapéu Virado era, a princípio, uma estreita faixa de terra batida aberta na mata, por onde deslizaram lentamente, durante as primeiras décadas do século passado, um bondinho puxado a burro e um trenzinho conduzido pela locomotiva Pata Choca. No início dos anos 70, essa estrada foi alargada e a pista asfáltica, que já existia desde 1962, duplicada.

Conhecida atualmente como Avenida 16 de Novembro, a histórica artéria da Ilha poderia ter recebido outra denominação, conforme registro jornalístico da “Folha do Norte” de novembro de 1901, no qual consta que “José Cardoso Cunha Coimbra, inspetor municipal do Mosqueiro, juntamente com Manoel Baena sugeriram ao Conselho de Belém, através do Intendente Antonio Lemos, que a Rua 16 de Novembro passasse a ser denominada “Santos Dumont”, devendo as placas serem doadas, sem ônus para os cofres municipais. O Senador Lemos achou excelente a ideia. Mosqueiro seria o primeiro lugar do Brasil onde haveria uma via pública com o nome do inventor da aviação.”

Entretanto, tal não aconteceu e ainda não sabemos por que o projeto foi abandonado.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 439 e 440.

domingo, 19 de maio de 2013

A IMAGEM E O TEMPO: O CARAMANCHÃO DO BISPO

 

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FOTO: Carlos Estêvão – Museu Estadual de Pernambuco (da UFPE).

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FOTO: Claudionor Wanzeller – 2013.

A foto histórica do Caramanchão da Praia do Bispo, encontrada pelo pesquisador Cássio Silva na Coleção Etnográfica Carlos Estevão, nome do ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, advogado, poeta e folclorista, pertence ao arquivo do Museu Virtual do MEPE. Segundo o pesquisador, o referido acervo registra o período entre 1908 e 1946. É provável que essa foto tenha sido feita em 1936, ano em que o Prefeito Alcindo Cacela – um admirador apaixonado pela Ilha – inaugurou o muro de arrimo e as bonitas escadarias do Bispo, protegendo os barrancos da Vila do Mosqueiro. Observe que a proteção do mirante era feita por tubos metálicos (hoje, alvenaria), não havia o canhão, mas já existia a planta trepadeira que, nos anos 50, cobriria de flores todo o caramanchão, o qual, infelizmente, se foi com o tempo.

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FOTO: Carlos Estêvão – Museu Estadual de Pernambuco (da UFPE).

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FOTO: Claudionor Wanzeller – 2013.

Nota-se que as colunetas intervalares encimadas por vasos de cerâmica foram, depois, cortadas e substituídas por assentos. O canhão, introduzido nos anos 60, simboliza a resistência dos cabanos impedindo a primeira tentativa de invasão das tropas legalistas, em 20 de janeiro de 1836. Segundo informações, a referida peça de artilharia fora encontrada sob as areias da praia, às proximidades do Trapiche, desenterrada pela ação das marés.

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FOTO: O canhão da Praia do Bispo (WANZELLER, 2013)

FONTE: http://moskowilha.blogspot.com.br/2013/01/praia.html#links

sexta-feira, 17 de maio de 2013

MEIO AMBIENTE: MEIO BIÓTICO NO PARQUE MUNICIPAL DA ILHA DO MOSQUEIRO

Autor: Pedro Leão

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Imagem extraída do RCA

A Unidade de Conservação denominada Parque Municipal da Ilha do Mosqueiro (PMIM) foi criada pela Lei 1.401/88, englobada pelo Plano Diretor do Município de Belém, Lei nº 1.601/93 e ratificada pelo Decreto nº 26.138/93 – PMB, e delimita uma área de 190 há, localizada na referida ilha.

O Parque de Mosqueiro é formado por um conjunto de ilhas: do Cotovelo, Terra Alta e Carará e ladeado pelos rios Murubira e Tamanduá. Possui 3.000m de trilhas.

Na relação homem-natureza nestas faixas do ambiente ilhéu destacam-se as comunidades do Parque Municipal da Ilha de Mosqueiro – Margens do Rio Murubira, Tamanduaquara, Pratiquara e comunidade do Espírito Santo, Caruaru, Tucumandeua, Itapiapanema, Castanhal do Mari-Mari e Tabatinga ou Cantuário.

Dentre os principais documentos empregados em Processos de Avaliação e Licenciamento Ambiental no Brasil,  estão o EIA/RIMA gerados a partir dos denominados estudos ambientais em conformidades com as legislações e órgãos ambientais.

O EIA/RIMA denominado Estudos de Impactos Ambientais acompanhado do Relatório de Impacto Ambiental são aplicados aos empreendimentos e atividades impactantes citados no segundo artigo da Resolução CONAMA 001/86.

O Relatório de Controle Ambiental-RCA é um documento ser apresentado por exigência e constituir-se-á numa série de informações, levantamentos e/ou estudos, destinados a permitir a avaliação prévia dos efeitos ambientais resultantes da instalação e funcionamento do empreendimento proposto.

A elaboração do mesmo deverá ocorrer de forma objetiva, ordenada e clara, procurando dar maior enfoque à(s) área(s) que sofrerá(ão) maior modificação ambiental, sempre delineado pela legislação ambiental vigente. No ano de 2011 a PETROBRAS, através de consultoria da IFC- International elaborou um Relatório de Controle Ambiental (RCA) com o objetivo de fornecer as informações necessárias para subsidiar o licenciamento ambiental da Atividade de Perfuração Marítima no Bloco BM-PAMA-8, na Bacia do Pará-Maranhão, localizado a sudeste do Cone do Amazonas, na área limítrofe entre o talude e o sopé continental, em área oceânica adjacente ao Estado do Pará. O Bloco está situado a uma distância mínima de aproximadamente 186 km da costa, tendo como referência o município de Viseu/PA, em lâmina d’água que varia entre 800 e 3.400 m.

A implantação da atividade de perfuração de poços exploratórios no Bloco BM-PAMA-8, segundo o relatório, possibilitaria a obtenção de dados mais precisos sobre a possível presença de hidrocarbonetos, identificada em levantamentos sísmicos prévios, além de permitir a avaliação técnico-econômica do potencial de produção destes poços exploratórios.

No Relatório de Controle Ambiental (RCA) o item II. 5.2 - Meio Biótico elenca as Unidades de Conservações de ecossistemas e biodiversidade brasileira donde aparece o Parque Ecológico Ilha de Mosqueiro (Parque Municipal da Ilha do Mosqueiro) como área sob influência da atividade proposta.
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Biótico: refere-se àquilo que é característico dos seres vivos ou que está vinculado a estes. Também é aquilo pertencente ou relativo à biota (o conjunto da flora e da fauna numa determinada região).

Para conhecer melhor o documento acesse: II.5.2 - MEIO BIÓTICO - Ibama

FONTE:http://mosqueiroambiental.blogspot.com.br/2013/04/meio-biotico-no-parque-municipal-da.html

quarta-feira, 15 de maio de 2013

CANTANDO A ILHA: ESCORREGANDO NO TEMPO.

Autora: Celeste Proença

O luar está filmando a gente. Que lindeza!
É Mosqueiro. É Verão. É maresia garota:
É o tempo em que, de repente
a lua se esconde entre nuvens malandras
e amarra a brisa inquieta na ilharga do céu...


Há música no ar que se dilui sorrindo.
Até a preamar chegou bem de mansinho
desafiando o vento em marombas de amor.
Mas é Mosqueiro! É beleza na bênção que o sol manda.
É saudade, é grandeza nas praias sem fim
que se desnudam para serem amadas...
E eu escorrego no tempo
num céu azulado a cantar desafios
a ouvir serenatas de imensa poesia
em acordes sem fim, vestindo beleza!


Por isso eternizei Mosqueiro
nesta paz que é só minha
que me enfeita feliz no silêncio da brisa
onde a saudade, às vezes, fica ausente,
porque o presente é o passado versejando
a trazer alegria ao coração da gente!


A madrugada se espreguiça no arvoredo
sob um céu de ninguém, embrulhado de estrelas
sacudindo a ilusão do orvalho que adormece.


Escorrego no tempo entre nuvens sem sombras
neste céu infinito, neste céu do Mosqueiro
que nunca está sozinho porque é amor presente
é o passado a cantar vendavais de beleza
de ternura e de sons, saudando a ilha morena!

FONTE: http://poesiasparamosqueiro.blogspot.com.br/2010/06/escorregando-no-tempo.html

segunda-feira, 13 de maio de 2013

JANELAS DO TEMPO: PADRE DUBOIS

Autor: Augusto Meira Filho

Uma figura curiosa e muito estimada em nossa terra esteve, também, na paróquia mosqueirense. Embora admirador profundo de Salinas, o Padre Florêncio Dubois prestou grandes serviços à vida religiosa da Ilha do Mosqueiro. Coube a ele entregar os cuidados do Templo de Nossa Senhora do Ó ao Sr. Miguel Mansour, que, juntamente com sua esposa, foram os grandes zeladores daquele templo, durante muitos anos.

Dubois foi um intelectual, figura eminente do clero e que aqui serviu durante quase toda a sua vida. Funcionava na Basílica de Nazareth, escrevia nos jornais da capital, polemicava, discutia, sorria e se encantava com a terra paraense. Francês de origem, estimava visitar o Velho Meira, quando palestravam horas a fio em nossa antiga residência na Av. Nazareth, nº. 73 e onde o pai escreveu seu poema épico “Brasileis”. Reuniam-se, mais o reitor Paulo Domingues do Colégio Nazareth, Ignácio Moura e Carlos Nascimento, aquele engenheiro civil e historiador e este, admirável filólogo. Recordamos, ainda, tais encontros, encontros do saber, que mal compreendíamos em nossa infância descuidada.

Pois foi o mestre Florêncio Dubois um dedicado vigário na Vila do Mosqueiro. Homem forte, volumoso, sempre alegre, parecia possuir dez vidas em só uma.

Ficou-nos o testemunho de seu labor traduzido na dedicação do velho Mansour e de sua esposa que cuidaram da Matriz como se fora sua própria casa.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- p. 405.

 

MOSQUEIRANDO: Segundo, ainda, pesquisa do autor na “Folha do Norte” do dia 16.11.1919, o Padre Dubois posicionou-se contrário à mudança do nome da nossa Ilha para Guajarina, como algumas pessoas, visando a seus próprios interesses, pretendiam desde 1917.

                                                      * * *

Florence Dubois nasceu no berço de uma família modesta, no dia 12 de novembro de 1878 em Aix’ d’Aigillon, norte da França. Iniciou seus estudos no colégio dos Lassalistas de Bouges, e ingressou no seminário Menor do Barnabitas, aos 15 anos. Formou-se bacharel em Retórica na Sorbonne de Paris aos 19, e ordenou-se sacerdote aos 19, no dia 10 de março de 1902, em Bruxelas.
Sua primeira visita ao Brasil aconteceu aos 25 anos. Acompanhado por um grupo de religiosos, veio às terras brasileiras, após a expulsão dos Barnabitas do território francês. Naquele momento, o destino do missionário eram as terras mais difíceis do sertão pernambucano. Seu trabalho pastoral, no estado de Pernambuco, durou cerca de um ano e meio. Após grandes dificuldades evangelizadoras, em janeiro de 1905, Padre Dubois entrega a missão ao bispo e aos padres, e segue para o mais novo destino: a capital paraense.
Em 1905 o religioso chega ao Pará, lugar em que desejava continuar o trabalho missionário no município de Gurupi, que faz divisa entre o Pará e o Maranhão. Na chegada, Padre Dubois conhece a aldeia dos índios Tembés do Alto-Guamá, Bragança e depois o Rio de Janeiro, onde realizou a fundação dos Barnabitas na então Capital Federal.

Em outubro do mesmo ano, Padre Dubois se junta à comunidade de Nazaré, no momento em que acontecia o lançamento da primeira pedra fundamental da futura Basílica de Nazaré. O religioso participou de toda a cerimônia. A partir de então, Belém se tornara o seu grande destino, escolhido para desenvolver suas atividades pastorais, interrompidas em 1915, período em que fora convocado para servir no front, como capelão e padioleiro (maqueiro) na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), durante quatro anos.”

Padre Florence Dubois tornou-se um religioso muito popular no Estado. Bispos de vários estados do País o convidavam para conferências, pregações e retiros. Vigários dos mais distantes lugares faziam questão de sua presença para presidir festas de santos e ouvir suas reflexões. 

Sobre o fundador do Jornal “Voz de Nazaré”, Padre José Ramos conta que foi um religioso que possuía muitas qualidades. “Era um homem sábio e com uma formação erudita muito grande, e um enorme preparo sobre a cultura, a política e a literatura, e que trabalhava com dedicação as informações e questões da Igreja”, resumiu.

Sua dedicação à vida dos paraenses se destacou principalmente no auxílio aos doentes. Na época em que aconteceu o surto da lepra, no estado, lá estava ele disposto a serviço dos leprosários, em diversos distritos de Belém. Suas visitas aconteciam em dias de festa, na companhia de Frei Daniel Samarate, nas quais os assistia espiritualmente e na ajuda do que necessitassem. O resultado do trabalho missionário fora divulgado em diversos jornais da cidade, a pedido dos hansenianos, resultando na grande doação de alimentos e medicamentos à Basílica de Nazaré, em prol dos doentes.

FONTE: http://www.fundacaonazare.com.br/novoportal/action=Canal.interna&oCanal=1&id=1592&classe=N

                                                       * * *

O Padre Florêncio Dubois em seu livro ‘Intercessão dos Santos na Bíblia’, dá-nos conta do seguinte:

“Átila, flagelo de Deus, arrasara Milão e tomara Pávia. Valentiano II fugira de Ravenna para refugiar-se no Vaticano. O senado romano tremia, mas o povo confiava no S. Papa Leão I, o Magno. O Santo Padre reveste os ornamentos pontificais, e os sacerdotes os paramentos litúrgicos. Átila mostra-se cordato. Mediante um tributo anual do império romano, suspende as hostilidades e sai da Itália, rumo à Gália, onde o esperava a derrota.

            - Por que foste tão atencioso com o Papa? perguntou um dos generais.

            - Junto ao Papa estava outra personalidade, venerável pelas cãs, e de porte majestoso. Estava de pé, em hábitos sacerdotais, porém manejava uma espada nua, com ares terríveis.

            A aparição seria de S. Paulo ou S. Pedro? A tradição e o sábio Barônio pensam que era de S. Pedro”. (págs. 89/90)

FONTE:http://aron-um-espirita.blogspot.com.br/2011/07/ak-fenomenos-espiritas-4-por-calligaris.html

quinta-feira, 9 de maio de 2013

NA ROTA DA HISTÓRIA: O INTERVENTOR, O PARÁ E A ILHA NOS ANOS 30

Autor: Cândido Marinho Rocha

O ano de 1931 anunciava para o Estado do Pará uma alegre compreensão do povo no sentido de admitir as intenções do não muito jovem tenente Interventor, chegado nas asas da revolução, figura literária perfeita porque desceu em Belém de um avião no dia 11 de novembro de 1930, em companhia de Landry Sales, José Américo de Almeida e Juarez Távora.

O povo recebeu o tenente, paraense da gema, portador da auréola de herói de outras campanhas, com entusiasmo incomum. A esperança era então uma flor sem perfume, mas era bela porque era uma flor.

Instalado no Palácio Lauro Sodré, comprometeu-se o Interventor Federal a recuperar a confiança do povo nos governantes, através do uso de uma constante manifestação da Verdade, expressa corajosamente e representada por fatos e atos governamentais. O povo não estava acostumado a saber de tudo, muito pouco lhe chegava aos ouvidos, em cochichos, muito menos o que se passava lá por cima.

Assim, começou a simpatizar com aquele desaforado soldado, que dizia, de repente, como a coisa era realmente. E dizia em linguagem popular, às vezes usando gíria, expressões comuns, corriqueiras, humorísticas, sarcásticas e violentas.

Ria-se a multidão da forma como o Interventor expunha, em seus discursos, ângulos da administração e da maneira como prometia fazer voltar tudo à normalidade administrativa.

Seus gestos incisivos, sua voz rouca, sua constante comunicação com a gente humilde, como crianças, velhos, doentes, asilados criaram-lhe uma atmosfera de geral simpatia.

Acreditavam todos na sua sinceridade, nos seus propósitos, embora nem sempre concordassem com as medidas que tomava.

Eram-lhe as palavras repassadas de indignação e desprezo pelo passado descuidado e teimoso em que insistiam os oligarcas, que aproveitavam muitas vezes pais, filhos, irmãos, primos, cunhados, sobrinhos, compadres e homens de papel para os acompanhar nos postos principais da vida pública. A cada gesto, a cada discurso do Interventor, respondiam palmas notadamente dos humildes. Apesar das lutas surdas que se instalam em tais ocasiões, tudo corria bem. A esperança marchava à frente dos acontecimentos.

Ainda hoje, ouvem-se os tambores da sua ascensão e o crocitar da sua queda.

Decorria o ano de 1931.

Mais ou menos a mesma esperança acompanhava o povo em geral pelos demais Estados da Federação. O Governo Provisório começava a disseminar uma série de Decretos de conteúdo realmente revolucionário, que visavam a modificar a estrutura social, política e econômica do país e isto representava uma enorme esperança. Havia crise de autoridade antes da Revolução, certa predominância de alguns círculos mais inteligentes, que exploravam sorridentemente os menos capazes.

Não foi, todavia, exatamente para a salvação do humilde e do explorado que se ergueram os chefes, mas, isso sim, para evitar que se prolongasse por mais tempo a política nacional do “café com leite”, isto é, de Minas-São Paulo-Minas, substituindo-a pela do “churrasco-café com açúcar e leite”.

O Pará, onde se dispensaria de pensar em modificações, pois estava de certa forma satisfeito com o seu governante, recebeu os novos homens do lenço vermelho como portadores de mais alta responsabilidade na condução dos negócios públicos.

Os novos governantes utilizavam-se suficientemente da palavra “trabalhador” em lugar de se referirem simplesmente ao homem. Este, em largo e antigo estado de pobreza, largo, antigo e fundo, alegrava-se.

E criou fileiras em torno da nova ordem.

A aristocracia política periclitava. Dava-se lugar à popularização, através das classes. Foi um instante perigoso para o destino do país, transposto por mera coincidência, oriunda de fatos internacionais que colaboraram no sentido de evitar que a terra se tornasse tumultuada. O povo, na ignorância dos acontecimentos políticos internacionais, orientado erradamente no sentido de que “nada temos a ver com os outros”, deixava os dias decorrerem confiantes na operosidade administrativa daqueles felizes anos seguintes à vitória da Revolução.

Os prefeitos, nomeados pelo Interventor, seguiam-lhe de perto a linha de trabalho, procurando melhorar o Orçamento para ampliar frentes novas de operação.

Um prefeito de Belém, de nome Abelardo Leão Conduru, velho veranista mosqueirense, que apreciava passar os fins de semana, a semana santa, os feriados ligados, os dias de carnaval, na calma da Ilha do Mosqueiro, começou a oferecer-lhe melhores atenções. Além do administrador da comuna de Belém, outros revolucionários como Eurico Romariz, Fenelon Perdigão, João Botelho e Lameira Bittencourt também apreciavam as tranquilas praias e remansada vida que a Ilha proporcionava aos veranistas.

A Ilha naqueles tempos quase que se resumia à Vila, onde casas nobres floresciam como as dos senhores Frazão, Comandante Solano, Souza Filho, Inácio Nogueira, Prisco dos Santos, Batista Moreira, Alcindo Cacela, Ó de Almeida e outras menores.

À Praia do Chapéu Virado ia-se em bondinhos puxados a burros, a cavalo ou acionando as próprias pernas.

FONTE: MARINHO ROCHA, Cândido. “Ilha Capital Vila”- GRÁFICA FALÂNGOLA EDITORA. Belém-Pa. 1973- pp. 18, 19, 20 e 21.

MOSQUEIRANDO:

O Interventor Federal é o ex-governador do Pará, General Magalhães Barata, mito da política paraense, que, na foto, está sentado ao centro.

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FONTE: MONTEIRO, Benedicto. História do Pará – Editora Amazônia – 2005 – p. 177.

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terça-feira, 7 de maio de 2013

NA ROTA DA HISTÓRIA: UM ITALIANO JÁ FOI DONO DA ILHA.

Autor: Augusto Meira Filho

“A Srª. Moema Leite contou-nos, colaborando com os fatos históricos da Ilha do Mosqueiro, que é neta do General Jacintho Botinelli e de D. Antonica (Antônia) Carneiro Botinelli. Ele, italiano de nascimento, conheceu sua futura esposa em Roma, em visita a uma irmã que ali estudava piano em curso de aperfeiçoamento. Resolveu vir ao Brasil, aqui consorciando-se. Dona Antonica foi uma das 10 irmãs e um irmão da família Carneiro, que residia na Rua das Flores (hoje, Rua Ó de Almeida), em uma Rocinha famosa conhecida por “Onze Campainhas”.

Do casal Botinelli, viera: Clemência (casada com Aniceto Carneiro, seu primo), Maria da Glória (casada com Pindobussu de Lemos), Dolores (casada com José Ignácio de Medeiros) e Antônia Augusta (casada com Raimundo da Costa Soares).

O Sr. Jacintho Botinelli serviu na Guerra do Paraguai, onde foi promovido diversas vezes. Incorporou-se como voluntário e teve decisiva participação com o grupo do Pará naquele conflito. Retornou Coronel e reformou-se como General.

Em homenagem a seus feitos e a outro notável paraense, Francisco Xavier da Veiga Cabral, o governo provincial concedeu-lhes mercês de terras dividindo a ilha do Mosqueiro em duas partes, cabendo cada uma a esses heróis. Mais tarde, essa mesma área seria devolvida ao domínio da Província, que, regular e legalmente, iniciaria as doações em léguas de sesmarias e em outros sistemas próprios daquela época.

Veja-se, portanto, que após a Guerra do Paraguai, no séc. XIX, esteve a nossa Ilha do Mosqueiro, temporariamente em mãos de duas figuras históricas: o italiano Botinelli, raiz de numerosa família paraense, e o discutido Cabralzinho, o Bravo do Amapá. Ambos faleceram em Belém. O primeiro está sepultado no Cemitério da Soledade e o segundo, no de Santa Izabel.

FONTE: MEIRA FILHO, Augusto. “Mosqueiro Ilhas e Vilas”- ED. GRAFISA, 1978- pp. 440 e 441.

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domingo, 5 de maio de 2013

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: UMA LUZ NA ESCURIDÃO

Autor: Claudionor Wanzeller

O casarão espia a praia naquela madrugada de julho. É um casarão muito, muito antigo, mesclando estilos arquitetônicos ainda mais remotos e recordando a imponência dos áureos tempos da borracha. Velho casarão, morada de lembranças latentes em cada canto!

O ano, um dos últimos da década de 80, porém o mês é de férias, de intenso movimento, que, naquele instante, pelo adiantado da hora, diminuía rapidamente, nas ruas da Ilha. A brisa esfria a madrugada, que a lua ilumina fracamente, e ouve-se o marulho suave das ondas nas areias desertas. Um que outro carro passa veloz na beira-mar.

A casa havia sido alugada para a equipe que coordenava a Feira de Verão instalada no campo do Independência, mas, naquela noite de sábado, ninguém dormiria lá. O motorista, contudo, resolvera o contrário e, sozinho, parado diante do escuro e estranho prédio, hesitava receoso. Espanta o leve temor e decide entrar.

Retirando o cadeado, o portão é aberto em rangido, denunciando o abandono. Pega no carro a rede, o lençol, a lanterna e sobe a escada de poucos degraus, que conduz a uma ampla varanda. Em poucos minutos, está dentro da casa, tentando acionar o interruptor. Mas as luzes não se acendem. Estranho, pela manhã tudo parecia em perfeita ordem!

Liga a lanterna e olha a sala imensa, cheia de móveis e quadros antigos. Fotografias de outros tempos, de pessoas desconhecidas, de outras vidas. O sono, entretanto, é maior que a curiosidade e o homem, sempre orientado pela lanterna, segue pelo corredor até o primeiro quarto, amplo, escuro e frio. Lá, busca um lugar para armar sua rede, tira os sapatos, deita-se, cobre-se com o lençol e, sem demora, dorme profundamente.

O casarão, sempre triste, sombrio e fechado, ilumina-se todo com a profusão de candelabros dourados. Abrem-se, de par em par, as imensas portas e janelas. É uma noite festiva, embalada pelos acordes mágicos do piano e uma afinada voz feminina entoando modinhas. Pessoas circulam pelos cômodos, elegantemente vestidas em seus trajes da época. Uma jovem bonita, em seu vestido rosa de rendas e muitos babados, adentra a sala, atraindo os olhares de todos. Sorri com timidez, mas parece feliz em seus quinze anos. É o seu aniversário, o seu primeiro baile, naquela noite longínqua, perdida no início do século passado.

No meio da noite, volteia alegremente, ao som da valsa, nos braços dos garbosos rapazes. A princípio, são passos incertos, inseguros; depois, tornam-se ritmados e leves, revelando a graciosidade da menina-moça. Lucinha* sorri feliz!

No entanto, essa expressão de felicidade logo desapareceria de seu rosto e lágrimas sentidas inundariam seus lindos olhos azuis, ao saber que haviam esquecido o bolo de aniversário, o sonhado símbolo daquele momento único em sua vida, tão impacientemente aguardado. Cantariam o “Parabéns a Você”, mas não haveria o bolo nem as velas seriam apagadas. Lucinha, triste e desiludida, retira-se para o seu quarto, levando, em suas mãos, um presente que acabara de receber.

O homem acorda sobressaltado. E, na escuridão do quarto, pela porta aberta, vislumbra uma luminosidade bruxuleante que vem da sala. Paralisado pelo medo, vê a pequena luz amarelada entrar e, lentamente, atravessar o aposento, sumindo na parede ao fundo. Livre do torpor que o aprisionara, o homem acende a lanterna e nada encontra. Assustado, pega os sapatos debaixo da rede e sai da casa, às pressas.

Ao amanhecer, Lucinha acorda muito triste. Sente-se irremediavelmente só. Pouco fala, quase nada diz, porém sua fisionomia revela a marcante desilusão da noite anterior. Os dias sucedem-se e ela, cada vez mais triste e silenciosa, atravessa a rua, para olhar, durante horas, a praia deserta, as ondas, a baía, o céu. Um dia, desaparece. Encontram-na morta, afogada!

O motorista e os outros voltam ao casarão, pela manhã. O homem contara a história da luz na escuridão, entretanto ninguém queria acreditar. Na parede ao fundo do quarto, onde a luz sumira, encontram pendurado um pequeno e antigo candeeiro de vidro azul. Alguém, sorrindo incrédulo, brinca:

-- Veja! Com certeza, foi isso que você viu na escuridão!

Retira da parede o candeeiro e, em tom de galhofa, imitando um fantasma silencioso, entra pela porta e atravessa o quarto.

Mas, quando tenta devolvê-lo à parede onde estava, observa, no anteparo de metal presa à haste que o sustenta, uma inscrição:

           “Uma lembrança de seus 15 Anos. Que esta luz ilumine

                sempre as suas noites! Com amor, para Lucinha!”

Narrativa baseada em relato antigo. * Lucinha: nome fictício.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

EVENTO CULTURAL: LANÇAMENTO DE LIVRO

 

 

Ontem, dia 02 de maio, às 19h, aconteceu no Hangar Centro de Convenções, Estande da Imprensa Oficial do Estado, XVII Feira do Livro Pan-Americano, o lançamento do livro “Mosqueiro Uma Viagem ao Passado”, escrito pelo Prof. Francisco Antônio Almeida Pereira, tendo a coautoria da Profª. Maria Beatriz Pacheco Mendes.

A obra, com base em pesquisas bibliográfica, documental, eletrônica e de campo, além de rico material fotográfico, é um registro histórico-social do Mosqueiro antigo, dos velhos tempos de Freguesia, Vila e Distrito, retratando as transformações da Ilha. Indubitavelmente, é mais uma fonte de pesquisa para os que desejam conhecer melhor a nossa ilha-paraíso.

Os autores merecem os nossos aplausos por mais esta iniciativa.

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