sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A ILHA CONTA SEUS CAUSOS: MATINTA PERERA

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André Penha Azevedo – Turma 222 – CB II 2º ano.

A transformação da Matinta Perera

Texto de Márcia de Jesus Neves da Cruz – Turma 213 – CB II 2º ano.

Como é que se transforma em uma Matinta Perera?  

Depois de três luas novas, numa quinta e sexta-feira ela sai por sete cidades, volta para a casa dela e se transforma de novo em gente. Ela tem asa e tem cabelo na cara, é que nem um pássaro, todo cabeludo. A minha tia Júlia vira Matinta Perera. Uma vez eu fui para a casa dela passar as minhas férias; depois de muito brincar de noite eu fui dormir com a minha tia. Quando eu olhei para o rosto dela ela estava com um bocado de cabelo no rosto e eu me assustei e corri para o quarto de minha prima e falei para ela e ela foi ver o que estava acontecendo. Quando ela foi olhar a mãe dela não estava mais na rede, ela já tinha ido se transformar em Matinta Perera.

Eu vi uma Matinta Perera.

Texto de Aliny Tayany da S. Nascimento e Milena Thaiane dos Santos – Turma 224 – CB II 2º ano

Um dia desses eu vi uma Matinta Perera; ela assobiou para mim e quando eu olhei para trás ela se transformou em pássaro.

O cabelo dela estava para a frente, a roupa toda rasgada, a unha muito grande, como uma mendiga.

Todo dia de lua cheia entra uma senhora dentro do mato e se transforma em Matinta Perera; ela sai de dentro do mato, vira pássaro e voa para cima das casas.

Um dia meu pai foi para o mato; quando ele menos esperava apareceu uma Matinta Perera e pediu tabaco para ela fumar e café.

Quando eu estava na minha casa ela assobiou assim: Fit, Matinta Perera!

FONTE: (Lima Gama, Rosangela C. e Santos Andrade, Simei. “Mosqueiro Conta em Prosa e Verso o Imaginário Amazônico”. PMB, 2004, pp. 105, 106 e 107)

SOBRE A MATINTA:

Trecho do PAINEL DE LENDAS & MITOS DA AMAZÔNIA, trabalho premiado (1º lugar) no Concurso "Folclore Amazônico 1993" da Academia Paraense de Letras, escrito por FRANZ KREÜTHER PEREIRA.

Maty-Taperê, Matinta Pereira, Maty, Çaci, Saci, Pererê, Saci Pererê, Cererê.

O mito do "Çaci" assume diversas denominações. podendo ser SACI PERERÊ no Sul do país, KAIPORA no Centro e MATINTAPEREIRA ou MATY-TAPERÉ ao Norte. No Pará e Amazonas sua imagem é a de um curumi que anda numa única perna e tem os cabelos cor de fogo. Parece que através do sincretismo luso-africano, ele ganhou o barrete vermelho -comum em Portugal - e os traços negroides, mais o cachimbo.

Dizem que o Saci tem por companheira uma velha índia - ou uma preta velha, maltrapilha, cujo assobio arremeda seu nome: Mati-Taperé. Creem alguns que ele é filho do Curupira; outros identificam-no como um pequeno pássaro que pula numa perna só; há também aqueles que dizem ser as mãos dele furadas no centro.

Existem os que estudam para "virar Matinta”, segundo uns; já outros afirmam que Matin(ta) é uma maldição que a pessoa carrega por toda vida, como a licantropia*.

Nos interiores paraenses muito se crê nessa versão. Em muitos lugarejos a existência dessa bruxa cabocla que se transforma em gato, cachorro, bota, morcego, porca, pássaro, é tida como inconteste e até encarada com normalidade; falam dela com a naturalidade do caboclo: "... é Matinta, sim senhor! ..." Dona Luísa, Dona Lia e outras pessoas da localidade de Getúlio Vargas, distrito de Curuçá, contaram-me histórias interessantes sobre vizinhas e conhecidas que viraram Matinta; Dona Luisa, inclusive, teve oportunidade de presenciar, quando pequena, a transformação de... em Matinta. Noutro relato, recolhido em Ponta de Ramos, pequena povoação pesqueira às margens do rio Curuçá, no distrito do mesmo nome, garantiram-me que um certo senhor vira(va) lobisomem e é portador de estranhos poderes, os quais são devidos ao fato dele possuir a Oração da “Cabra Preta” (sic) e o Livro de São Cipriano.

Uma história análoga me relataram em Igarapé Miri, onde o acusado de ser lobisomem tinha também o condão de tornar-se invisível encostando-se em um simples "pé-de-pau", agachando-se ao lado de uma touceira ou mesmo por detrás de uma única estaca de cerca. Este, também, possuía a oração e o grimório de São Cipriano.

Por todos os lugares por onde se passa nesses interiores, ouvem-se casos a respeito de Matinta ou Lobisomem. O de Ponta de Ramos eu conheci e até fui apresentado - infelizmente não me foi permitido, pela pessoa que nos apresentou, interrogá-lo sobre sua estranha fama e sequer dar a entender que a conhecia-, nos outros casos citados e não citados, seus narradores temem revelar os nomes, e os que eu omito aqui é por uma razão óbvia: São pessoas ainda vivas.

A pesquisadora e antropóloga do Museu Emílio Goeldi, Adélia Engrácia de Oliveira registra que uma pessoa é Mati quando "possui diversos calombos no pescoço, como um colar", uma espécie de caroço que cresce na costa da pessoa que está para transformar-se em Matinta. Esse caroço não é percebido por ninguém, mas a pessoa "sente", e quando ele "amadurece", abre-se e dele sai asas e a pessoa pode voar.

O assobio da Matinta, atestam todos que já o ouviram, "é coisa de outro mundo"; "arrepia até a alma"; "a gente sente como se estivesse levantando do chão", etc. Dizem ainda que ao ouvir o assobio a pessoa disser: - "Vem buscar tabaco amanhã ", pode contar como certo que na manhã seguinte encontrará, à porta de sua casa, uma velha ou uma pedinte, em busca do que lhe foi prometido. Também, pode ser a primeira pessoa que aparecer na casa pedindo um inocente cigarro...

Matintapereira é um dos mitos mais interessantes e menos estudados, até porque as pessoas sentem verdadeiro temor ante a possibilidade da checagem das informações: o pesquisador não pode simplesmente confirmar, colher o depoimento direto, sequer sondar o indivíduo supostamente tido como Lobisomem ou Matinta, sob o risco de revelar seus informantes ou que sabe da fama que corre entre os vizinhos e conhecidos.

FONTE: http://siabi.trt4.jus.br/biblioteca/acervo/Biblioteca/ebooks/pereira_painellendasamazonia.pdf

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